Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

30.8.08

PENSAMENTO (1)

Por
Ângela Rodrigues Gurgel
(Prosas poéticas)
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Tinjo o papel com a tinta que nasce em minha alma
e faço de meu coração um útero onde gesto as palavras
que tentam traduzir o que penso, o que sou, o que sinto...
Vã tentativa, eu não estou nas palavras, mas nas entrelinhas...
No silêncio das palavras cantadas...
No grito das palavras ditas em silêncio.
Meus pensamentos não se deixam capturar em frases já pensadas,
embora esteja definido em tudo que já se pensou.
O que sinto não se traduz – sente-se, apenas.
E meu viver é a exata expressão de meu sentir.
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Foto: Cachoeira do Frade em Ubajara-Ce, do site portalubajara.com.br
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Ângela M. Rodrigues de Oliveira P. Gurgel, poetisa, nasceu em Mossoró-RN, tendo vivido em outras cidades do Rio Grande do Norte (Almino Afonso, Caraúbas, Caicó e Natal) e do Pará (Tucuruí e Marabá). Atualmente mora em Mossoró-RN. Graduada em Ciências Sociais, cursa atualmente Filosofia na UERN (Universidade do Estado do RN) e Direito na UnP (Universidade Potiguar). Já exerceu o cargo de Secretária de Educação em Caráubas, onde também foi Diretora de uma escola de Ensino Médio.

27.8.08

ABOIOS E VAQUEIROS

Por
Dalinha Catunda

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No sertão eu me criei,
Vendo a boiada passar.
Os aboios dos vaqueiros
Sempre gostei de escutar
A boiada seguia em frente
Seguindo o canto dolente,
Do vaqueiro a aboiar
.
Meu coração sertanejo
Transborda de emoção,
Quando vejo uma boiada,
Tirando poeira do chão
O som firme do berrante
Sai do boiadeiro amante,
Que gosta da profissão.
.
Ai como ainda me lembro
Dos encantos de outrora,
Eu, debruçada na janela.
A boiada passando lá fora.
Dói demais meu coração
Boas lembranças do sertão,
Que na alma saudosa aflora.
.
Vaqueiro trajando couro,
Com perneiras e gibão,
Esporas e botas nos pés
Como manda a tradição.
Assim eu via os vaqueiros,
Passando em meu terreiro,
E me acenando com a mão.
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Da lembrança não me sai,
O velho Chico Carmina.
Vaqueiro de seu Esmeraldo,
O esposo de dona Joelina.
Por minha rua ele passava,
E tangendo o gado aboiava
Cumprindo a sagrada rotina.
.
Eita tempo velho malvado,
Que abusa da judiação.
Maltrata essa nordestina,
Que deixou o seu sertão.
E feito um bezerro apartado
Bem longe do seu estado
Chora querendo seu chão.
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Foto: Imagem retirada do site oficial de Ipueiras

Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

24.8.08

AS CARNAÚBAS DE IPUEIRAS

Por
Bérgson Frota


No começo eram só carnaubeiras, crescendo entre os morros que cercavam aquele vasto vale cortado por um tímido rio.

De longe ouvia-se o farfalhar dos leques quase imperiais da “árvore da vida”.

Depois chegaram os homens, mulheres e animais.

E o sítio que era um terreno de áreas empoçadas e farto barro-de-louça virou fazenda, até uma capela ganhou.

E as carnaubeiras ?

Diminuíram, mas ainda eram em grande número. Tinham serventia em quase tudo na região, parecia que delas nada se perdia.

As esbeltas árvores de porte tão elegante quanto festivo, formavam um bucólico panorama quando ao sabor do vento forte que dobrava o vale em direção à Ibiapaba azul, ensaiavam uma dança bela, movendo sem rumo ao arrepio do vento, desafiando o tempo com seu verde gaio, inverno e verão inalterado.

Assim era nos primeiros anos Ipueiras, uma fazenda que tornava-se com o tempo cada vez mais povoada.

Logo, mais e mais moradores chegavam, e não demorou para virar vila.

As carnaubeiras continuaram, embora em menor número, porém mais numerosas nos arredores.

Quando a vila se tornou cidade, a “cidade das carnaúbas” começou a transformar-se. As parcas ruas ainda mantiveram como adorno algumas carnaúbas soltas no meio do tempo, até mesmo as que por necessidade pediam o corte, foram mantidas.

Sentia-se no povo um instinto antigo em preservá-las.

O progresso trouxe calçamentos, e na cidade só restaram enfim as carnaubeiras que por sorte se situavam nas nascentes pracinhas, o resto era derrubado, e somente na lembrança dos mais velhos ficou os vultos das árvores já ausentes.

Lá longe porém, onde as luzes da cidade parecem estrelas, como uma tribo de território perdido ainda restam muitas delas. E nas suas copas como no passado, aninham-se lépidas graúnas.

O tempo passa e a “árvore da vida” resiste, como se lembrando o passado distante, longe da cidade que outrora foi sua. Desafiando o sol tórrido do sertão, resistindo aguerridamente na terra mãe que lhe gerou a semente.
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* Foto site seagri.ce.gov.br/carnaúba.htm :
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

23.8.08

TOMARA QUE ESTE MÊS PASSE LOGO

Por
Tereza Mourão (Co-gestora do blog)
Amigos,

Por informação de Cesar Feitosa hoje através do msn, me informa que será celebrada na Igreja N. Sra. da Conceição em Ipueiras às 18:30 hs deste sábado (23-08-08) a missa de 7° dia de D. Dolores Aragão Matos. Peço aqueles que têm familiares ou conhecidos que lá residem que comuniquem a seus amigos e façam oração por sua alma. Que Deus e a espiritualidade maior juntamente com os que a ela precederam que continuem amparando-a conduzindo-a para a Paz que ela tanto merece.
Outro comunicado:
Cesar me falou também que faleceu ontem em Ipueiras, um taxista de 71 anos de idade vitima de uma parada cardiaca fulminante o Sr. GENÉSIO MATOS MOREIRA que o pai dele que se chamava Quintino ou a mãe era primo do Major Sebastião Matos, talvez Jean Kleber saiba de quem se trata por ser parente de seu pai o Sr. Mattos. Ele era um senhor simples, trabalhador e muito pacato e como por ser uma pessoa humilde e não ter ninguém da familia disputando eleições, nenhum politico apareceu somente muitas pessoas que realmente gostavam dele como ele era acompanharam seu enterro, pois era querido por elas.

Que o Sr. Genésio, este taxista pacato e ainda trabalhando para sustentar a familia, encontre a Paz merecida em seu retorno a Pátria espiritual.

Pois é amigos, como se vê neste mês de agosto, vários Ipueirenses que trabalharam por engrandecer nossa cidade faleceram. Tomara que este mês passe logo. Já chega de mortes de nossos conterrâneos, parentes e amigos.

Muita Paz e muita Luz e um ótimo final de semana.

Teresinha Mourão (a do Seu Tim)
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NOTA DO BLOG: O SENHOR GENÉSIO É SIM PRIMO DO GESTOR DESTE BLOG, JEAN KLEBER. MAIS UMA PERDA.
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22.8.08

A MINHA MESTRA

Por
Kideniro Teixeira

"Possa ao menos sentir tua presença
nestes versos que escrevo, amargurado,
ante a profunda, ante a sombria e imensa
saudade de teu vulto idolatrado."
Homero de Miranda Leão



Foi minha mãe a minha Mestra
que me ensinou a ler, em nosso humilde ninho;
eu era um menininho,
uma criança...
De minha mãe, exímia trovadora,
é de quem guardo esta divina herança.

Recordo agora,
que a sua voz se erguia,
branda e sonora,
como se fosse um sino
tangendo na alvorada fria
do meu Destino:

- Lê! Estuda! Lê, menino!
Era este o heróico estribilho
de cada dia:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

Como era bela a minha Professora,
no seu vestidinho branco!
O coque alto, olhos castanhos
e esguias mãos da Virgem Redentora!

Somente agora sinto, e guardo, e tranco
no peito esta saudade imorredoura,
como se ouvisse ainda a sua voz sonora:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

E eu que jamais velara o meu Destino,
quanto sofro e me deploro
para cantar minha procela...

E nem sabia, que um dia,
eu sentiria,
tanta saudade dela!

20.8.08

KIDENIRO TEIXEIRA: AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Por Tereza Mourão (Co-gestora do blog)

Antes de dormir abri o computador e vi a noticia do Marcondes sobre a morte do Dr. Kideniro. Por estes dias estávamos a lembrar dele, de seus escritos etc. Daí procurando mais noticias a respeito do assunto, encontrei uma nota no Jornal O Povo na Coluna Fala Cidadão do dia 02/08/2008 de Sinésio Cabral a qual transcrevo aqui para vocês.
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"KIDENIRO TEIXEIRA
Recentemente, por conta de uma pneumonia, às vésperas de completar cem anos de idade, a 16 de agosto próximo, vi Kideniro Teixeira na UTI do Hospital Gênesis “resistindo e morrendo, morrendo e resistindo”...(na feliz expressão do saudoso jornalista e primoroso poeta - Dr. Demócrito Rocha, fundador deste tradicional jornal das multidões - no seu grande e inesquecível poema sobre o Rio Jaguaribe). “Enquanto há vida, há esperança” - diz o adágio antigo e, “para Deus”, consoante o texto bíblico, “nada é impossível”. Nossas humildes preces, no sentido de que se recupere, sob as bênçãos de Deus, o estimado colega e grande amigo: Kideniro Teixeira.
Sinésio Cabral. Fortaleza-CE."
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Vejam só como são as coisas. Neste sábado passado, (16/8) quando estávamos a comemorar, no salão da Igreja N. S. das Graças em Brasília o aniversário de Nely, o Dr. Kideniro estaria a completar 100 anos de vida, pelas informações de Sinésio Cabral. Realmente é uma grande perda. As noticias que tinhamos dele através mesmo de jornal ou de pessoas ligadas a ele, é de que estava a escrever ou já tinha escrito mais um livro.
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Que Deus e a espiritualidade maior o amparem em seu retorno a Pátria Mãe, e para nós é mais um que precisamos manter sempre na lembrança, para que os conterrâneos que vivem hoje em Ipueiras não esqueçam da importância do Dr. Kideniro para nossa cidade.
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HOMENAGEM PÓSTUMA AO POETA KIDENIRO TEIXEIRA


Kideniro Teixeira. Nos braços, Claudio (neto de Wencery)
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NOTA DO BLOG: EM HOMENAGEM AO POETA KIDENIRO TEIXEIRA O BLOG SUAVEOLENS PUBLICA A PRESENTE MATÉRIA DO SITE DE ANTÔNIO MIRANDA PUBLICADA ANTERIORMENTE AO FALECIMENTO DO POETA. Foto do acervo do professor Marcondes Rosa de Sousa.
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O poeta Kideniro Flaviano Teixeira nasceu em Águas Belas, município de Ipueiras, no Ceará, em 16 de agosto de 1908. Morou por longos anos em Manaus, Am. Naquela cidade diplomou-se em Direito, advogou, foi jornalista em A Tarde e professor na Escola Técnica Federal e no Colégio D. Bosco.Posteriormente, retornou ao Ceará, onde passou a atuar como Promotor de Justiça.
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Reside atualmente na cidade de Santa Quitéria, em seu Estado natal. Do alto de seus quase noventa e nove anos permanece lúcido e em atividade literária, tendo antecipado que finaliza mais um livro de poesia, que se intitulará CARDOS-SANTOS. Obra poética publicada: LANTERNA AZUL (1944), MANDACARU (1976) e ILUMINURAS DA TARDE (2000). (...)
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Quero destacar (em Iluminuras da tarde) alguns poemas que considero admiráveis: "Tristeza", "Aos que Vêm", "Aniversá­rio", "Meu Grande Anseio" (uma obra-prima em dois sonetos) e "A Espera” sem demérito para os demais.
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(O poeta Kideniro Teixeira faleceu recentemente conforme notícia dada pelo professor Marcondes Rosa de Sousa)

18.8.08

COMO GHEGAR LÁ


NOTA DO BLOG: AINDA VIVENDO SOB O IMPACTO DAS RECENTES PERDAS, RECEBEMOS E PUBLICAMOS A PRESENTE REFLEXÃO DE LUIZ ALPIANO.

Por
Luiz Alpiano Viana

A folha se solta do galho e desce bailando em forma de círculo. No espaço, como a leveza de um dançarino, o vento se encarrega de levá-la para algum canto. E vai para um lado e para o outro até chegar ao solo. Cai sobre outras folhas já secas. Não se ouve nenhum barulho porque o ouvido humano não tem capacidade de captar o som produzido. O vento vem e varre tudo como um empregado doméstico bem treinado. Leva para bem longe, a mando de quem, não sei.

Outras folhas repetem o mesmo processo. O ritmo normal da vida é nascer e morrer. Naquele instante que se desprendem da árvore, elas estão morrendo. A vida chegou ao fim. No solo, iniciam outra fase que é a de virar adubo e fortalecer a terra para o nascimento de novas espécies.

Uma folha seca parece tão simples, mas não é. Já ocupou espaço, fez sombra e pertenceu a uma grande família de vegetais. Serviu de abrigo aos pássaros e insetos e alimentou vários seres. Assim também somos nós: uns vão e outros vêm; uns cantam e outros choram; uns morrem e outros nascem; uns gritam e outros emudecem.

Quando conheci o uso da razão, Ipueiras crescia sob a administração da família Matos. Em seguida, Pedro Aragão, o homem mais rico da cidade tocava com brilhantismo administrativo seu patrimônio de fazendas, comércio e imóveis. Sempre muito elegante e bem vestido, tinha ao seu lado Dona Dolores, mulher de fibra, bem conceituada. Formavam um belo casal e eram respeitados como homens de valores, não só por serem bem sucedidos financeiramente, mas também por representarem com responsabilidade o povo ipueirense.

Hoje sofremos a falta de filhos ilustres como eles que muito fizeram pelo progresso da cidade. Foram-se deixando saudade e não poderia ser diferente.

A pergunta que se faz é se vale a pena viver e depois morrer. Sinceramente eu digo que sim, porque é o Pai que os quer de volta, mesmo que para alguns a morte signifique o fim. Nós, como cristãos, fazemos nossas preces, e desejamos que essas pessoas tão queridas e inesquecíveis tenham no sossego eterno o paraíso com que tanto sonharam. Eu creio que esse lugar tão comentado e também desejado por todos, e dominado pelos santos do céu, seja mesmo o que propagam os livros sagrados.

Se esse paraíso não for mesmo maravilhoso e divino, e, se a morte for realmente o fim de tudo, certamente seria uma utopia fazer comentários positivos a esse respeito. O melhor mesmo é acreditar no ensinamento do Mestre e ter a certeza que aqui é bom e lá será bem melhor. Cremos que as pessoas que atenderam ao chamado de nosso Pastor aguardem-nos com festa. Mas aqueles que ainda não foram convidados a voltar à casa paterna vivam com intensidade o que de melhor a vida oferece.

Sei que a casa onde mora o Pai é um verdadeiro encanto, mesmo que a morte seja a porta de chegada até lá. Todos nós passaremos por esse processo e não há como evitar. Convencemo-nos disso. A certeza que temos é que logo estaremos também a caminho.
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Foto maior: Cristo de Ipueiras do site ipueiras.ce.gov.br
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Luiz Alpiano Viana, nascido e criado em Ipueiras, morou mais tarde em Crateús. Atualmente é funcionário aposentado do Banco do Brasil. Morou no Distrito Federal até meados de 2007 quando finalmente voltou a morar no Ceará, em Fortaleza.

17.8.08

NOSSA “GUERRA DOS MENINOS”

NOTA DO BLOG:
ESTA CRÔNICA É PUBLICADA HOJE EM TRIBUTO A D. DOLORES ARAGÃO

(D. Dolores Aragão faleceu no dia 17 de agosto de 2008)

Por
Walmir Rosa de Sousa


Há pouco, no Supermercado, fui reconhecido por uma conterrânea que há muitos anos não via, a Conceição Mourão (já avó), filha de Moacir e Fransquinha Mourão, nossos vizinhos. Falei-lhe do ipueiras.com, do grupo e fiz-lhe o convite para comparecer.

Ao voltar para casa, afloraram-me recônditas lembranças de coisas e fatos dos meus tempos de criança/adolescente.

Vi-me no portão de casa arrumando a carga de caixas de fósforos no meu caminhão Ford ’55 (herdado do Marcondes, por ocasião de sua ida para o seminário) para conduzi-lo pelas calçadas da Rua Padre Angelim, juntamente com outros conterrâneos (Vavá Mourão, Zé Adair Farias; Bebeto e Bernardo Pinho; Miraugusto Farias e Melquisedec Cavalcante (que infelizmente nos deixaram tão precocemente) e outros, todos motorizados e devidamente habilitados.

Estacionávamos nossos veículos no canteiro central defronte à casa do Seu Quincas Moreira, vizinha à Prefeitura, e íamos dar expediente no nosso escritório – um vetusto fícus benjamim que deve ter sido sacrificado por conta da peste dos “lacerdinhas”. Lá ficávamos a conversar “miolo de pote”, planejando brincadeiras e estripulias. Recebíamos (no alto) visitas de amigos que se associavam, formando uma turma grande e eclética, conhecida como a “Turma da Padre Angelim”, que rivalizava com a “Turma da Rua 15” formada por Helder Sabóia, Zé Maria e Zé Hélio Catunda, Zé Almir Terto, Wellington Esmeraldo, Moacir Catunda, Fernando Fontenelle e outros.

Das brincadeiras muitas, aflora-me à lembrança uma que só acontecia de ano em ano. Bérgson Frota, cronista por vocação e por berço (filho do Jeremias Catunda e sobrinho do Frota Neto, que é), inspirado, descreveu a Guerra dos Meninos, onde cavaleiros, montados em talos de carnaúba, disputavam, armados de baladeira (estilingue, para os estrangeiros), munidos de carrapateiras (para nós caroços de mamona) o domínio da Rua das Flores, dos tempos dos lampiões a querosene.

Nós (com sua licença e do Jorge Amado) também tínhamos a nossa Guerra dos Meninos. Como os tempos eram outros, mais modernos que os da crônica, nossa cidadela era outra - o jardim da casa do Seu Pedro Aragão - homem mais rico da cidade. A amurada do “Castelo”, com três frentes, se prestava integralmente para tal mister. Nossos exércitos eram de infantes; combatíamos a pé, escondíamo-nos por trás dos muros, empunhando nossas baladeiras, mas com outro tipo de balas. (Eram frutos de carnaúba, que a Prefeitura, de tempos em tempos mandava retirar a golpes de foice, atendendo a apelos dos donos de imóveis da cidade, que tinham os telhados danificados por pedras que jogávamos para derrubar e comer as carnaúbas “pretas”). Era a carnaúba caindo e indo para o bisaco.

Nossas batalhas agora eram diurnas. Nosso escudo, o muro. Devidamente providos de munição estatal, liderados pelo General Neném Pereira (posto que mais velho e grande estrategista), combatíamos contra os meninos da Praça da Igreja até a munição acabar. Não havia vencedores, nem vencidos. No fim, era confraternização geral, sob as vistas indulgentes da Dona Dolores Aragão, que, estrategicamente, não se dava conta de tal batalha em seu território familiar...

Obrigado, Dona Dolores, em nome de todos, por nos emprestar seu “Coliseu”, onde todos, daquele tempo sem tv, sem som e sem muita coisa, praticávamos jogos de guerra (sem violência e seu traumas) sem nos dar conta de que valores como organização e companheirismo ajudavam a moldar nosso caráter.

Post Scriptum - Em visita à cidade, por ocasião da volta da Santa, em agosto de 2004, vi que o Fícus em frente à casa do Seu Quincas e a vetusta carnaubeira defronte à casa de Dona Brígida, cenários de nossas guerras, haviam tombado, infelizmente. Eram símbolos da nossa rua.

(A foto maior mostra a casa de D. Dolores Aragão na cidade de Ipueiras no Ceará)
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Walmir Rosa de Sousa, é ipueirense e procurador de justiça no Estado do Ceará além de grande cronista da cidade de Ipueiras. Este é um currículum provisório, devendo ser complementado oportunamente para uma adequada apresentação.

16.8.08

SHOW DE LUIZ GONZAGA EM IPUEIRAS VERSÃO DE TADEU FONTENELE

Por
Tadeu Fontenele
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Com a devida permissão do Zequinha, por ele ser, juntamente com o Luís Gonzaga, protagonista do evento, quero relembrar, e nisso minha memória em nada foi deletada, aquele grande acontecimento, que tive a felicidade de participar, nos meus quase 14 anos de idade.
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Uma tarde de domingo, por volta das 14:00 horas, depois da abordagem do Zequinha e convicto da venda dos 5 livros, Luís Gonzaga sobe ao banco de madeira, improvisado como palco, coloca a sanfona, dá umas mexidas no fole, olha com aquele olhar de Rei toda a multidão e comenta alto para um dos seus acompanhantes: - Toim, tu já notou que aqui de NÊGO só eu e tu?
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Em seguida fez referências a Delmiro Gouveia, dizendo que o grande empreendedor do Nordeste teria nascido na nossa região entre Ipu e Ipueiras. E aí, silêncio total. O Rei começava a cantar. "Peguei o trem em Teresina pra São Luis do Maranhão, atravessei o Parnaíba, ai ai que dor no coração...comendo lenha, soltando brasa, tanto queima como atrasa..." essa e outras músicas iam sendo cantandas acompanhadas de emoção, respeito e delírio da platéia.
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E aí tive a idéia: vou lá em casa buscar a Dona Ineizita, minha mãe, para ela ver o show. Peguei a bicicleta pedalando à toda, desci o Alto da Estação voando e cheguei gritando em casa: - Mamãe, o Luís Gonzaga está cantando lá na Estação. - Vamos lá, monte na garupa da bicicleta. Ela montou e fizemos o caminho de volta. Quando chegamos no pé do Alto, para desilusão nossa, a Rural Wills vinha descendo. Mamãe, pelo menos, viu o Rei do Baião dentro do carro. O show terminara. O trem também partira, com Zequinha, Miraugusta e Dalvinha mais uma vez voltando para Nova Russas.
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Agora o Zequinha pode contar a 2a. parte da história, quando ele, naquela mesma tarde, tendo chegado em Nova Russas, de trem, teve tempo ainda de recepcionar o Rei, que, por ter feito o percurso entre Ipueiras e aquela cidade, de carro, o trajeto foi mais demorado.
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Abraços do Tadeu Fontenele
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Foto 1: site adorocinemabrasileiro.com.br/filmes; Foto 2: D. Ineizita, mãe de Tadeu Fontenele; Foto 3: Figura de bicicleta com alguém na garupa, do site
educativa.org.br/.../imagem/bicicleta9.
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Francisco Tadeu Fontenele, casado com Maria de Fátima Medeiros Fontenele, nasceu em 28 de outubro de 1952, em Ipueiras-Ceará. Filho do seu Zeca Bento, tabelião, tendo trabalhado com o seu pai na adolescência. Estudou em Fortaleza onde se formou Administrador. Construiu uma invejável carreira na Caixa Econômica Federal, onde ocupou todos os cargos de uma superintendência regional, vindo a aposentar-se em 2000. Com espírito empreendedor, investiu, ao lado de sua esposa Fátima e dois dos seus quatro filhos, no mercado de perfumes e cosméticos. Hoje, Tadeu e sua família ocupam posição de destaque no ramo em todo o Ceará, expandindo suas fronteiras para outros estados brasileiros.Nas horas de lazer, gosta de cantar. E sua voz convence, especialmente em músicas de Nelson Gonçalves. (dados obtidos do blog grupos.com.br/blog/ipueiras postado por Marcondes em 01-12-2006).

15.8.08

LUARA UMA LENDA

Por
Dalinha Catunda

Contam que, há muito tempo atrás, numa cidadezinha no interior do Ceará, às margens do Jatobá, rio que corta Ipueiras, nasceu Luara, uma linda menina de olhos e cabelos cor de mel.

Luara foi crescendo, crescendo... E, em pouco tempo, transformou-se numa bela jovem. Reza a lenda que era filha do rio e afilhada da lua, protegida das duas entidades.

Não eram poucos os que diziam que, sempre em noites de plenilúnio, Luara aparecia entre oiticicas e ingazeiras, vestida em gotas de orvalho, que, refletidas à luz do luar, davam-lhe um ar de divindade. Por onde passava, o cheiro de flores silvestres tomava conta do ar. Era assim que Luara atraía jovens incautos ao seu leito de amor.

Um dia, por falta de chuvas, o Jatobá secou por completo. E, para o azar de Luara, a lua andava triste por não poder mirar-se nas águas do velho rio. E, em sinal de protesto, ocultara-se então atrás de uma nuvem negra, deixando a bela jovem entregue a seu próprio destino.

A bela da noite, porém, desprotegida sem se dar conta, prosseguia em sua jornada, distribuindo amor, carinho e, acima de tudo, prazer nas trilhas das aventuras. E foi assim que Luara, da noite para o dia, tornou-se cheia.

Ao perceber a situação, a lua sentiu-se responsável pela sorte de Luara. E, tentando minimizar o dano causado por seu descuido, terminou por resgatar sua pupila, conduzindo-a, no dorso de um alado cavalo branco, por entre raios e raios de luar, até seu próprio reino.

Passaram-se nove luas e não se ouviu falar de Luara. Apenas se ouvia o lamento triste dos jovens apaixonados, que, reunidos, choravam as saudades de sua amada. Tantas as lágrimas, que o Jatobá terminou por roncar forte outra vez, chegando a transbordar.

Feliz, a lua terminou por voltar a se ver no espelho das águas. Tanta a felicidade que, radiante, a madrinha não tardou em devolver, às margens do velho rio, sua bela afilhada para a alegria dos jovens apaixonados.

Contam os que sabem da lenda que o filho de Luara não quis acompanhar a mãe. E a bela da noite ganhou mais um protetor – São Jorge, o guerreiro que vive no seio da lua, montado em seu cavalo, podendo ser observado a olho nu.

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NOTA DO BLOG: a autora tem duas versões para esta lenda. Esta é a versão atualizada.
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Foto Cachoeira: site baixaki.ig.com.brimagenswpaper
Foto Lua: site g1.globo.comNoticiasCienciafoto
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

11.8.08

MAS NÃO TEM OUTRA MAIS BONITA NO LUGAR

Por
José Bento Neto (Zequinha)

O maior representante da música nordestina, Luis Gonzaga, em uma tarde de domingo, dia em que o trem vinha de Fortaleza para Crateús, como sempre atrasado, para não fugir à tradição da Rede de Viação Cearense (R.V.C.), mais conhecida com “Rapariga Velha e Cansada”, permitiu-me a oportunidade de ver o Rei do Baião transitando por Ipueiras. Foi no dia 19.06.1966.

Eu trabalhava, na época, no Banco do Nordeste, na vizinha cidade de Nova Russas. Infalivelmente, aos sábados, eu, a Miraugusta e minha filha Dalvinha, ainda com menos de l ano, passávamos o fim de semana na nossa querida terra, Ipueiras. Voltávamos no domingo, sempre de trem, já que era o único transporte "confortável". De jeep, nem pensar, já que a duração da viagem de Ipueiras para Nova Russas era de 3 horas. Isto quando não chovia. (Os não muito recentes se lembram da PASSAGEM DAS COBRAS, depois do Charito? Depois de uma chuva forte, não passava ninguém).

Fomos avisados pelo Rodolfo, agente da estação, de que o trem atrasara, mais uma vez. Logo em seguida (coisa rara), vimos uma Rural Wills se aproximando da Estação, vindo das bandas do Ipu. Pela quase inexistência da estrada, diríamos que era um RALLY. O carro parou em frente à banca da Dona Maria Capoeira. Desceu Luis Gonzaga com seus acompanhantes. Vinham com fome. O Rei foi logo pedindo que a Dona Maria preparasse bastante "orelha de porco" (era assim que ele chamava aquele gostoso bolo de milho feito pela Dona Maria. Walmir, sei que você ainda não esqueceu do sabor daquele bolo). Tinha pressa, já que deveriam, ainda naquela noite, se apresentar em Crateús.

Comeram bastante. Eu me antecipei e paguei a despesa. Quando ele pediu a conta, a Dona Maria lhe informou que eu já havia pagado. Fazendo-se de surpreso, ele perguntou por que eu pagara, se eu nem sabia quem era ele e o que era que eu estava querendo. Respondi que eu sabia quem era ele e pediria que ele cantasse um pouco para nós. Recebi uma proposta: ele cantaria, mas eu teria de conseguir vender 10 exemplares do livro "O Sanfoneiro do Riacho da Brígida”, de autoria de Sinval Sá, que relata a sua vida. Comprei logo um, que tem a seguinte dedicatória: "Para José Bento Neto, com um abraço do "Véio Macho". Luis Gonzaga. Ipueiras, 19.6.66”.

A duras penas, consegui cinco compradores. Lembro-me de que um deles foi o Cláudio Catunda, hoje falecido. Vendo que eu não conseguiria vender mais, ele convocou a turma que o acompanhava (fazia parte o Meio Quilo), subiram em um banco de madeira que existia na Estação e cantou: O Xote das Meninas, Asa Branca, A Volta da Asa Branca, Ô Veio Macho. Finalizou, aproveitando o fato de eu estar com a minha filha nos braços e, apontando para ela, cantou: “Vai boiadeiro que a noite já vem (...) MAS NÃO TEM OUTRA MAIS BONITA NO LUGAR”...

Na despedida, ele perguntou qual a minha profissão. “Bancário” - respondi-lhe. Então ele, com toda aquela simpatia, brincou: “Bento Bancário, coitado, nasceu p’ra BB”!
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Fotos e texto obtidos nos blogs: grupos.com.br/blog/ipueiras/ e cantinhodadalinha.blogspot.com em matérias postadas, respectivamente, por Marcondes Rosa em 22/04/2006 e Dalinha Catunda em 10 /09/2007.
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José Bento Neto, nascido em Ipueiras, Ceará, realizou os estudos fundamentais na Escola Apostólica Franciscana, em Tianguá (CE); no Seminário Seráfico de Ipuarana, em Campina Grande (PB), vindo a ser concluinte do Colégio Marista Cearense, em Fortaleza (CE). Prestou serviço militar na Base Aérea de Fortaleza nos anos de 1959 a 1962, tendo sido atleta profissional do Calouros do Ar - time de futebol da Aeronáutica. Trabalhou em seguida como escrevente no Cartório Bento Filho, em Ipueiras (CE). Foi bancário concursado do Banco do Nordeste do Brasil, aonde dedicou a maior parte de sua carreira profissional, vindo a aposentar-se no ano de 1990. É casado com Miraugusta Maria Campos Fontenele, pai de 3 filhos (Dalva, Bemiro e Gustavo) e avô amado de 4 queridos netos (Aline, Amanda, Júlia e Vitor).

10.8.08

PAI NÃO PODE SER QUALQUER UM

Por
Ângela Rodrigues
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Há um adágio popular que diz: “mãe só existe uma, pai pode ser qualquer um”. Nunca gostei dele. Não consigo aceitar nenhum tipo de rótulo. Sei que a sabedoria popular nos ensina muitas coisas, mas sempre evitei acreditar em coisas do tipo “homem é tudo igual” ou, “todo político calça quarenta”, etc.
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Gosto de acreditar nas pessoas. Em seu potencial. No que cada uma pode fazer diferente, apesar da semelhança. Por isso não gosto de rotular. Sempre achei injusta a forma como as mães são colocadas num pedestal e, aos pais, é relegado um papel secundário. Vocês já perceberam a grande diferença entre a festa que as escolas preparam para o dia das mães e a dos pais? A movimentação no comércio também é diferente. Não há como negar. O dia das mães é um dia especial. O dos pais é apenas mais um dia no calendário.
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Quando vamos falar sobre mães nos esmeramos em adjetivos, metáforas, hipérboles, palavras doces, suaves e tudo mais que a linguagem nos permite, mas para falar de pai bastam algumas poucas palavras, objetivas... Claro que há exceções, há textos belíssimos homenageando os pais e dando a eles a devida importância e valor que merece.
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Não quero aqui diminuir o valor das mães, este é inquestionável, mas das mães verdadeiras, que assumem dignamente seu papel. O que estou questionando é a “desvalorização dos pais”. Não acho que pai pode ser qualquer um. Eu escolhi a dedo o pai dos meus filhos, não daria a eles qualquer pai. Minha mãe também nos deu um pai adorável: não no modelo pai herói, mas um homem íntegro, honesto, severo, que nunca nos falou de amor, mas que revelava este amor ao nos pegar no colo e até mesmo quando nos punia.
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Um homem que não possuía conhecimentos acadêmicos, mas procurou nos ensinar sobre valores e honestidade; que não cantava para nos colocar para dormir, mas trabalhava arduamente para que nunca nos faltasse o pão; que dizia: “basto em besta e estudo em mulher não tem nenhuma serventia”, mas fazia questão que estudássemos. Um sertanejo de olhar duro, pouco sorriso, mas que chora de emoção ao ser abraçado por um filho. De mãos calejadas, mas de coração generoso.
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Há pais e mães maravilhosos, pessoas que cuidam de suas crias como verdadeiros tesouros, que encaminham, apóiam, amam e protegem. Pais que assumem o papel de pai e mãe, e vice-versa. Pais, assim como as mães, são construídos na luta diária, são humanos, erram, acertam, amam, pecam, sonham, sofrem.
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O filho é resultado do encontro de dois seres, claro que à mulher cabe um papel mais presente, afinal ela gera, carrega no ventre, amamenta, mas a presença do pai é importante em todos esses momentos. Eu não consigo imaginar a minha vida sem a presença de papai, mesmo de seu jeito distante, mesmo separado de mamãe, assim como não imagino o que seria de cada um de nós sem a força extraordinária de minha mãe.
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Eu ainda acredito que pai e mãe são aqueles que estão presentes na vida do filho, são aqueles que cuidam e dão amor, carinho, afeto, mesmo que não possuam laços sanguíneos. Há pais e mães afetivos que são muito mais pais/mães que os biológicos. O amor é que cria afinidades, respeito, cumplicidade e não a consangüinidade. Que todos os homens e mulheres que criam seus filhos, com amor, e os encaminham para uma vida digna, possam ser chamados de pai e mãe, recebendo de seus filhos, todo o amor e respeito que merecem.
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A cada um desses homens e mulheres que assumem este papel fundamental na vida dos filhos, meu afeto sincero, e meu desejo de longos e felizes dias de convivência ao lado de seus rebentos. FELIZ DIA DOS PAIS a cada um que se sentir digno de ser chamado PAI. Parabéns!
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Foto: do site belasmensagens.com.br/.../paistop16.jpg
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Ângela M. Rodrigues de Oliveira P. Gurgel, poetisa, nasceu em Mossoró-RN, tendo vivido em outras cidades do Rio Grande do Norte (Almino Afonso, Caraúbas, Caicó e Natal) e do Pará (Tucuruí e Marabá). Atualmente mora em Mossoró-RN. Graduada em Ciências Sociais, cursa atualmente Filosofia na UERN (Universidade do Estado do RN) e Direito na UnP (Universidade Potiguar). Já exerceu o cargo de Secretária de Educação em Caráubas, onde também foi Diretora de uma escola de Ensino Médio.

9.8.08

TRIBUTO AO MEU PAI

Por
Bérgson Frota

A figura paterna nos evoca um grande respeito e amor, seja dos pais ainda presentes entre nós seja dos ausentes, cuja lembrança e saudade se fazem mais que presentes a cada dia nos nossos corações.
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Assim ao falar desta tão importante figura, queria prestar também uma homenagem a todos os pais.
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Na lembrança dos que se foram, àqueles cuja alegria nos fazia renovar o dia pela simples presença, novos ou velhos, pois a velhice paterna se assemelha mais a santidade.
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Aos pais então, cuja providência divina levou para junto do Senhor, os respeitos e as louvações devidas neste dia, e nos muitos que nos serão permitidos lembrar.
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Diz a Santa Bíblia que as últimas palavras de Cristo se dirigiram a seu genitor --- “Tudo consumado Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito”. E estas palavras têm ecoado por séculos no inconsciente coletivo humano.
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Aquele que por nós veio dar sua vida recorre antes novamente no Jardim de Getsemani, ao seu criador --- “Pai afasta de mim este cálice”. Numa súplica muda quando o suor já lhe descia o rosto transmutado em sangue.
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As duas citações servem a um propósito claro, nos últimos momentos de vida Jesus chamou pelo Pai, e somente no desespero em que a carne revolta gritou mais forte diante de tanta insuportável dor ele disse --- “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes ?”. Mas foi ao Pai a quem dirigiu “ele” seus dois últimos pedidos.
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Jesus é para nós o guia, um exemplo, e seu exemplo em relação o respeito ao Pai nos toca, esta figura santa destaca em seus atos o sagrado valor da paternidade.
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Tocar o coração humano com palavras é algo difícil, e ele o fez, tocar-lhes o coração com este texto é o que busco, sem ter a confiança de fazê-lo.
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Queria junto a uma homenagem coletiva aos pais lembrar de um nobre senhor que com sobriedade e coragem, nos seus 82 anos ainda anima com sua presença o lar de minha família.
Meu pai, Jeremias Catunda Malaquias.
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Nascido em Ipueiras, no dia 28 de julho de 1926. Foi o primogênito de uma família de cinco filhos. Casado, pai de três filhos, os quais pelo exemplo nos deu um norte, a correta direção de seguir em frente.
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Ao referir-me de forma sutil e rápida, ao meu genitor, e parecer perder-me num texto ao Dia dos Pais, retorno aos pais presentes, aos que entre nós estão, aos que são e sabem com justiça e integridade exercer a função paterna, aos pais futuros, e aos que iniciam este difícil, mas grande e prazeroso exercício.
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Ao concluir deixo como tributo ao meu Pai no seu dia, meu eterno agradecimento. Deixo a todos àqueles cujas determinações maiores já não permitem contar mais com a presença física de seus genitores, minhas saudações e respeito, e aos pais que iniciam sua caminhada os parabéns, pois a paternidade não é e nunca foi uma obrigação, constitui este posto numa das mais nobres bênçãos que Deus permitiu aos homens, ser pai como Pai de todos “Ele” também o é.
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(Publicado no jornal O Povo em Fortaleza - Ceará, em 09.08.2008)
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

CARTA AO MEU PAI

Por
Dalinha Catunda
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Meu pai não fique triste,
Porque o tempo passou.
Você fez seu melhor
Pelos filhos que criou.
É dever de cada um de nós
Sempre ser seu protetor.
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Quisera eu fazer mais,
Contudo moro distante.
Longe de minha cidade
Sou sua filha retirante.
Quisera guiar seus passos
Como os meus guiara antes.
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Não pense que lhe esqueci,
Não quero em você tristeza.
Você é minha segurança,
Minha maior fortaleza.
Sua presente fragilidade
Passa ser minha fraqueza.
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A idade lhe permite
Uma teimosia atroz.
Quer viver do seu jeito,
Não como gostaríamos nós.
Mas estou sempre ligada,
Para atender sua voz.
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Não se esqueça de deixar
Ligado o seu celular.
Estarei sempre ligando
Pra saber como você está.
Saiba que em meu coração
Eterno será seu lugar.
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Nessa cartinha que faço
Usando rimas e versos,
A sua benção meu pai,
Como aprendi eu lhe peço.
Beijando a sua mão
Com carinho me despeço.
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

6.8.08

CINE SÃO LUIZ, O DIA DA INAUGURAÇÃO

Por
Bérgson Frota

Parece que foi ontem, para repetir já uma velha introdução dos que narram coisas passadas. Mas sim, parece que foi ontem que num anoitecer de um dia calmo e cheio de expectativas, a sociedade fortalezense se preparou para testemunhar e usufruir o que de mais moderno em termos de sétima arte era inaugurado em Fortaleza.
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O Cine São Luiz.
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Quem dera estar eu presente lá e ver pela primeira vez o luxo que ainda ostenta hoje, porém um pouco gasto, forças do tempo, mas na época novinho. As formas arquitetônicas clássicas, os gigantes lustres tchecos e as belas paredes de mármore carrara na monumental sala de espera. Internamente os desenhos e esculturas de baixo relevo com as luminárias originais da sala de projeção.
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A emoção de pela primeira vez ver aquelas duas cortinas abrirem-se indo uma para cada lado, mas antes quando fechadas formarem uma só, e finalmente depois de algum tempo, para iniciar a projeção, quando já recuadas exibirem a gigantesca tela branca.
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Foi pensando assim que neste artigo, vencendo o tempo e espaço, baseado em filmes e textos da época, tendo inclusive assistido ao primeiro filme exibido, que retrocedi e recriei em texto Fortaleza, no que foi a noite do dia 26 de março de 1958, uma quarta-feira.
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A cidade tinha na época cerca de 500.000 habitantes, havendo desde cedo grande movimentação, comum no antigo centro da cidade. Resolvi passar em frente ao cinema, lá se lia em placa grande São Luiz – Inauguração hoje, às 20 horas – Anastácia, com Ingrid Bergman. Era fim de tarde e observava com curiosidade, as pessoas, suas roupas e os prédios hoje já não mais existentes.
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Tinha que esperar até as oito horas. Com sorte havia me lembrado de mandar fazer meu paletó, típico do fim da década de 50, e consegui um convite conservado de alguém que por azar não pode ir, sem o mesmo seria barrado.
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Logo a noite avançava. Começaram a chegar os carros com autoridades, o governador Flávio Marcílio e sua esposa desceram, e a multidão observava já fazendo um círculo em torno do vistoso edifício.
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As mulheres de saias longas, típicas da década de 50, e meia luva. Os homens todos empaletozados e prontos para assistir a glamorosa inauguração.
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Muitos populares, adolescentes em geral, não vestidos a rigor observavam comportados, num misto de orgulho e admiração aos expectadores que com luxo desciam de carros e bem vestidos entravam no cinema, entre o círculo de isolamento que se formou em torno da entrada do cine-teatro e eles a distancia era pequena.
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Consegui romper o cordão, e logo me aplumando aproximei-me da entrada. Mostrei o convite, e entrei.
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Que maravilha era aquele cinema.
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Só para dar uma idéia, a maciez do tapete era tanta, que parecia fazer os sapatos sumirem. O ar refrigerado trazia logo um bem-estar em quem entrava, um clima diferente como se saíssemos de Fortaleza e em alguma temperada cidade européia adentrássemos.
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O filme tratava-se de uma princesa russa, que havia escapado do massacre da família imperial na época da Revolução Socialista Soviética.
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A sala estava lotada, na parte superior da mesma, ficaram as autoridades.
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Não demorou e as luzes foram aos poucos se apagando e finalmente a fantástica tela se iluminou.Também o som era inovador, nunca antes visto em cinemas de Fortaleza. A platéia repleta de pessoas bem vestidas, até parecia a entrega do Oscar, pensei. Assim, comportados assistíamos o início da história de um cinema que hoje, se não detém o título de o mais antigo da capital alencarina, certamente é com merecimento o melhor e mais belo até hoje aqui construído.
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E lá se foram 50 anos.
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Um dia na metade dos anos setenta um garoto do interior o conheceria e se deslumbraria pela primeira vez, não com o drama de Anastácia, mas com as peraltices dos Trapalhões. Quem era este garoto é um mistério, mas daquele dia em diante para ele o São Luiz tornou-se um rico palco de diversões que até hoje, passado tanto tempo, jamais foi superado.
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Foto : Cine São Luiz, o dia da inauguração. ( Arquivo Aba Film )
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

2.8.08

TRIBUTO A ISA CATUNDA

Por
Marcondes Rosa de Sousa

Morre, em Ipueiras, onde, vivi minha infância, a professora Isa Catunda. Dela, a mim e a gerações muitas, que por ela passamos, ficaram-nos as pacientes lições de caligrafia e as atraentes estórias que nos contava. Isa abria-nos a cadeia dos que marcavam a educação em Ipueiras - lembro-me de Ester Mourão, Mundita Mattos, Dario Catunda que de lá sairiam para as Oropa, França e Bahia. De mim, a base para que, nas brumas da Serra dos Órgãos, em Petrópolis, e em Campinas (SP), abrisse a mente para um mundo mais largo. Assim, foi para muitos: políticos, empresários, clérigos, artistas, poetas...

Em nós alunos, traço comum nos ficou. Ali, nas Ipueiras das águas retiradas, berço da fratricida luta entre mellos e mourões, a se metamorfosear nos embates de então entre os velhos PSD e UDN, quem nos educava, infundia, em nós , a lição da pacificação.

De Ipueiras, saíra impulsionado por Dona Ester, sua mãe, Gerardo Melo Mourão, que, na expressão de Carlos Drummond de Andrade, é o nosso Dante, poeta maior. Mas, por ironia, nem mesmo esse poeta maior alça-se a ícone, em sua terra, onde bustos, placas de ruas, praças e monumentos outros cultuam os feitos dos coronéis de outrora... E, nesse tom, é a própria vida política que reedita, de surda forma, os fratricidas conflitos entre melos e mourões.

Hoje, quando vemos mais claro o papel de indústria sem chaminé a gerar capital humano, sob a atmosfera da responsabilidade social, é hora de revermos a galeria dos ícones nas retiradas águas. E, de mim, escrevente compromissado do cartório ali de meu pai, aponho, com vibração, a minha rubrica: Dou fé e assino. O tributo, pois, a Isa Catunda! Que ela abra tal galeria para quantos, pelas vias do educar, vêm construindo a convivência social em Ipueiras!

E-mail: marcondesrosa@gmail.com.br
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Artigo publicado originalmente no jornal O POVO de Fortaleza - Ceará em 04-08-2008.
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FOTO: Isa Catunda (esq.) almoçando com o poeta Gerardo Mello Mourão (dir.) sob o abraço do amigo Vavá, filho do histórico prefeito Tim Mourão.
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.