Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

21.10.11

Junto com Kadhafi quem mais morre?

Por

José do Vale Pinheiro Feitosa

De todas as conveniências e soluções que o assassinato de Muammar Kadhafi resultar, uma é inegável. Existe uma população armada pelas potências ocidentais, Europa, mais a Inglaterra e os EUA. A morte de Kadhafi foi uma ação de intervenção estrangeira na Líbia.

A intervenção estrangeira foi executada pelos povos mais envolvidos neste tipo de ação desde o século XV. A base do colonialismo é Européia e a estrutura do imperialismo é da junção pós-segunda guerra dos EUA com a Europa ocidental, até o fim da União Soviética.

A destruição física da Líbia promovida pela OTAN e com o armamento entregue aos rebeldes por ela não é um capítulo terminal de uma ditadura. Pelo contrário é o capítulo mais evidente do princípio de guerras em consequência da crise do capitalismo. Quem acompanhou o fim das colônias na África e os movimentos de libertação da Ásia bem sabe o quanto são processos destrutivos e pendulares. Situações políticas contraditórias se sucedem em hegemonia em questão de horas.

A morte de Kadhafi já deu o réquiem deste momento: o assassinato dos inimigos políticos do império. Só em 2011 os EUA e a Europa estiveram envolvidos em três grandes e evidentes assassinatos. Esta prática pode se ampliar de modo a tornar a política algo parecido com as máfias em luta. Nada impede, por exemplo, que um presidente americano ou europeu sofra atentado.

O outro lado é o cinismo que todo assassinato “mafioso” trás e o quanto afasta a sociedade da democracia e da construção de síntese nos ambientes contraditórios. Ora a morte comemorada do inimigo é a mesma comemorada pelo inimigo sobre nossos mortos. Quem não tem medida para evitar tais assassinatos, sabe disso tudo, resta-lhe o cinismo.

Querem observar algo cínico? A Arábia Saudita e o Marrocos, alguém tem visto alguma catilinária televisiva ou jornalista contra tais regimes? Está bem podem alegar que o povo não se encontra nas ruas, mas o Yemen? Qual a razão da sobrevivência do regime? Há uma aliança entre EUA e o regime, tai a morte eleitoral daquele líder da Al Qaeda. As imagens na televisão são absolutamente cínicas: a multidão na rua e o presidente restabelecido dos tiros levados, cercado por uma enorme assembléia de membros do regime.

Retornando ao efeito pendular e instável desta ordem. Como ficam os interesses da China, do Brasil e de muitos outros países que foram estimulados a investir na unidade territorial e produtiva da Líbia? Vão ter que pagar pedágio para Europeus e Americanos? E aí todo mundo vai aceitar barato tais medidas?

Quem acompanhou toda emergência do fim destes regimes fechados e a longo prazo, especialmente em populações ávidas por uma boa qualidade de consumo, sabe o quanto são instáveis. Existe em todo o norte da África, a rondar as forças em luta, a possibilidade que desta primavera logo surja um outono, com o crescimento de regimes religiosos fundamentalistas. A possibilidade de regimes autoritários de viés fascista aumenta muito nestes momentos. Além, é claro, uma desagregação nacional como ocorreu na Somália, por exemplo.

José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003. Assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura. Colabora no Blog da Cidade do Crato.

17.10.11

O ENTARDECER NO SERTÃO

Por
Gonçalo Felipe

O entardecer no sertão
Vale a pena contemplar
Já no final, as galinhas
Começam se agasalhar
O cenário é tão bonito
Que Jesus no infinito
Se debruça para olhar.

Se escuta o mugir do gado
E um bezerro berrando
Um cavalo na porteira
Fica escaramuçando
E pela brecha da porta
Uma restiazinha se nota
Com o Sol se retirando.

O sertanejo chegando
Da labuta do roçado
A criançada brincando
Correndo prá todo lado
Um pula e outro grita
Na brincadeira se agita
No seu "cavalo" montado

Um carneiro afastado
Do outro que o espera
Ele parte disparado
Em uma briga de vera
No outro dando marrada
Com uma força danada
E o furor de uma fera.

No curral, a vaca "pantera"
junta com mais um magote
Separadas dos seus filhos
Alguns já quase garrote
Nisso o Sol já perde o brilho
Ainda se escuta um novilho
E um mocó no serrote.

Agora eu vou encher o pote
Com água do cacimbão
Na rede eu vou me deitar
Vou fazer minha oração
A Jesus agradecer
Por me inspirar escrever:
O ENTARDECER NO SERTÃO
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Foto de Nadia e Nando do Facebook Ipueiras Ceará, intitulada "Por do sol na volta de Fortaleza para Ipueiras"

Gonçalo Felipe é o poeta de Nova Russas que colabora com o blog "Suaveolens" mediante seus poemas bem atualizados e sensíveis sobre nossa civilização, nossas vidas e nossos sentimentos.

15.10.11

A PROFESSORA

Por
Bérgson Frota

Ali estava ela, a apresentar-se no primeiro dia de aula. A classe cheia, e a sua presença imponente a impor um respeito brando e obediente aos alunos.
Depois de escrever na lousa, ainda quadro negro, a matéria, explicava com mansidão, mas firmeza, o que deveria ser copiado e do copiado o que precisava ser respondido.
O tempo parecia não passar. Alguém a perguntar levantando primeiro o braço, lá entre as várias carteiras escolares um não entendido.
Ela, a professora respondia. Respondendo também a outras dúvidas, e explicando os vários não entendidos que sempre se seguiam.
Se era para nota o trabalho ?
Se poderia ser feito em grupo ?
Se haveria dever de casa ?
A professora movida pela “digna vocação” a tudo esclarecia.
Depois do intervalo, as anotações finais a serem feitas em casa, e noutro dia obrigatoriamente trazidas.
Assim era a professora, na sua labuta diária a ensinar e passar aos alunos o seu conhecer. Criando neles uma curiosidade que os levava a querer mais e mais saber.
Talhando-os no ensinar e finalmente a aprender o que lhes seria útil no futuro e porque não dizer na vida.
Assim como uma mãe segunda, cumpria sua missão, a de “educar”.
A professora que um dia foi mestra de muitos passou, mas deixou no que plantou o conhecimento, e muitos que com ela estudaram, continuaram com outras e outros mestres a alargar os seus conhecimentos e assim fazer sua história.
Mais que uma profissão, um sacerdócio, uma missão, uma santa e sublime “vocação”.


Foto: Sra. Ruth Frota (do acervo do cronista Bérgson Frota)
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
NOTA DO BLOG: No dia 15 de outubro comemora-se o dia do professor. A Sra. Ruth Frota no fim da década de 50, formou-se na Escola Normal Rural (Ipueiras-Ceará), capacitando-se com isso a ensinar durante 25 anos.

12.10.11

O Cavalinho de Balanço

NOTA DO BLOG: COMEMORANDO O DIA DA CRIANÇA NESTE 12 DE OUTUBRO OFERECEMOS O CONTO DE NOSSO COLABORADOR PROFESSOR BÉRGSON FROTA.
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Por Bérgson Frota

Quando o menino ganhou o cavalinho de balanço foi a maior festa. Não deixava de balançar-se.

Era um cavalo branco de crina e rabos negros, sela avermelhada e olhos bem vivos. Estava montado em cima de dois balançadores ligados ao meio.

O garoto não cansava-se de montar e balançar-se no cavalo que o avô dera de presente.

Então cansou-se, depois de dias muito brincar, o cavalinho de balanço foi deixado isolado num canto do quarto, o brinquedo não mais lhe chamava a atenção.

Não demorou os pais notarem, e como é natural, perceberam que o garoto tinha cansado do brinquedo.

Como era grande para o quarto pequeno, acabaram tirando-o e levando-o para uma dispensa cheia de móveis, objetos quebrados e cheios de poeira.

Passou um ano, dois e três.

O cavalinho de balanço ficou encardido e de cores descascadas. No quarto sujo e escuro o cavalinho antes alegre agora chorava pelo abandono. Rezava para a fada dos brinquedos, pedia ajuda.

Um dia a porta abriu-se, uma luminosidade o ofuscava, entrou um velho senhor começando logo a procurar algo, enfim encontrou, era ele. E assim o levou.

O homem tirou sua sujeira, pintou suas cores originais e depois de secar deu-lhe um banho de óleo, esfregando-o bem o deixando brilhoso como novo.

Dois dias passaram, então ele o pôs num carro e o levou para um orfanato.

As crianças correram ao vê-lo e com ele passaram a brincar, cada uma esperando a sua vez. Para aquele cavalinho o sol voltou a brilhar, foi a resposta de suas preces, agora nunca era desprezado, sempre havia uma criança na fila, para com o balançar ele logo fazer sorrir.

(Muitas coisas ganham novo valor quando divididas)

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(Desenho do jornal Diário do Nordeste para o conto acima publicado em 18 de setembro.)

Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

9.10.11

No tempo em que se via jumento

Por Bérgson Frota

Imagine hoje você numa cidade do interior, com ruas calçamentadas, praças arborizadas e uma igrejinha branca, cercada de um jardim com um longo patamar em frente, e mais adiante um cruzeiro.

De repente passam a riscar as pequenas ruas uma, duas e três motos. É dia, e logo param na rua central do mercado, próximo à calçada, juntando-se a outras mais, lá já estacionadas.

Bicicletas poucas são vistas. Artigo raro de outros tempos.

Agora se anda de moto, para onde quer que se vá.

Antes se via jumentos. O homem trazia os seus produtos neles, ou puxados por carroças por eles. Eram em grande quantidade, apinhando há tempos atrás às feiras sempre com cangalhas abarrotadas de frutas e outros produtos.

Hoje tudo se difere. O povo precavido pensa com cuidado ao atravessar uma rua. O ronco das motos parece um som ameaçador na vinda, no passar e na ida, até sumir em alta velocidade.

As cidades do interior já se habituaram aos carros e motos, muitas, diria mais a motos do que a carros.

Deste moderno meio de transporte se multiplicam em cada cidade mais e mais “pilotos” quase todos os dias. As motos servem como táxis se da rodoviária o passageiro levar pouca bagagem, e se muito, duas viagens. O transporte é feito de várias maneiras, criatividade é o que não falta.

É o “progresso”, talvez, mas preferia ainda ver pelo menos um jumentinho que no meu tempo de criança não raro se deparava com um, dois ou três, a trazer ou levar lenha, leite, palha ou mesmo a transportar pessoas indo e vindo da serra grande ou para qualquer outro lugar.

Hoje a bucólica imagem daquele ingênuo e pitoresco interior, que não conhecia parabólicas, que enchia as calçadas à noite de cadeiras para as conversas a varar madrugadas, some rápido.

E aquela gente que sabia na calma enganar o relógio, esticando o dia e alargando à noite, ah! Meu amigo, não verás jamais, é como se diz e ouve hoje, “isso era no tempo em que se via jumento”.

Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

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NOTA DO BLOG: a foto que ilustra a crônica do ipueirense Bérgson Frota mostra uma figura folclórica da Ipueiras antiga, o Famoso Santu e seus jumentos de carga, ditos amestrados. A foto foi colhida no Facebook Ipueiras-Ceará .

4.10.11

OITICICAS CENTENÁRIAS


Por
Dalinha Catunda
*
Árvores de minha terra,
Que me chamam atenção
Oiticicas Centenárias
Fincadas naquele chão
Resistindo bravamente
A grande devastação.
*
Nas margens do Jatobá
De águas bem cristalinas
Do galho da oiticica,
Junto com outras meninas
Nas águas daquele rio
Nos jogávamos traquinas.
*
As antigas oiticicas
Naqueles tempos de então.
Tinham seus frutos colhidos
Era grande a produção,
Era para o camponês
Com certeza o ganha pão.
*
Oiticicas centenárias
Farta sombra do sertão,
Numa delas tem meu nome
Desenhei num coração
Misturando-me a flora
Tão rica do meu torrão.
*

*21 de setembro dia da árvore.Não basta amar a natureza é preciso preservar.

Maria de Lourdes Aragão Catunda, nascida em Ipueiras-Ceará, é conhecida nos meios literários como Dalinha Catunda, é poetisa, cordelista e cronista, sendo membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Também tem blog próprio - cantinhodadalinha.blogspot.com.