Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

28.5.09

OLHOS DE QUEM QUER SORRIR

Por
Luiz Alpiano Viana
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Com olhos de quem quer sorrir,
Olhos que só você tem;
Um canto de mim existe que não ocupa ninguém.
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Caminho à beira da praia, piso descalço na água...
Ah! Que lindo é o por do sol! Tem poesia, areia e mar!
Também tem concha, alga e maresia,
E o sabor da sensibilidade.
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Meu sonho é de ser feliz numa praia bem distante;
Numa cabana indígena ao lado de quem sempre quis
Ter um minuto de descanso.
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Tenho ciúme do sol, da lua e das estrelas
Que têm - sem intervalo - seu corpo, seus lábios,
Seu cheiro, as plantinhas da varanda e as do córrego, à noite, inteiro.
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Seguro firme suas mãos que me desnudam em paixão.
Os olhos que mais quero ver me encantam e perco a noção!
Sem querer penso em você que vive em meu coração!
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Procuro no firmamento a estrela mais brilhante,
E com seus olhos comparo, mas não existe,
Nem encontro uma de brilho envolvente
Igual ao de seu encanto!
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Foto principal: site imotion.com.br
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Luiz Alpiano Viana, é um ipueirense apaixonado por sua terra natal. As suas memórias e saudades de Ipueiras estão sempre presentes em suas crônicas, a exemplo de “Saudade” e “O astuto cirurgião”, narrativas que trazem de volta velhas e boas recordações. Tendo morado na cidade de Crateús/CE e em Brasília/DF, atualmente reside em Forteleza/CE e é funcionário aposentado do Banco do Brasil.

23.5.09

ZÉ RODRIX, MESTRE JONAS E O ROCK RURAL

Por
Jean Kleber de Abreu Mattos


Dia 22 de maio de 2009. A notícia me chegou pelo rádio. Zé Rodrix, um dos maiores músicos do Brasil falecera a poucas horas. Artista, músico e maestro.
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Um gênio. Sua música cujo estilo ele denominava Rock Rural tinham um ritmo, um balanço todo especial. Aprendí a admirar seu talento desde os tempos em que formava um trio com Sá e Guarabira o qual voltou recentemente à cena, num show memorável.
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Depois da infausta notícia, mais outras, mais tarde, com os detalhes. Foi um infarto. Um check up feito recentemente o havia dado como saudável. Coisas do destino. Compôs músicas lindas, uma delas imortalizada na voz de Elis Regina: "Casa no Campo".
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Mas a minha preferida era "Mestre Jonas". Talvez porque eu a tenha ouvido pela primeira vez quando jovem, num momento da minha vida em que a revolta contra costumes e convenções governava meu desempenho. Para mim a baleia de Mestre Jonas era uma clara alusão às convenções, especialmente ao casamento.
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Transcrevo a letra de minha música preferida:
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MESTRE JONAS
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Dentro da baleia mora mestre Jonas
Desde que completou a maioridade
a baleia é sua casa, sua cidade
dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho
e ele diz que se chama Jonas
e ele diz que é um santo homem
e ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
e ele diz que está comprometido
e ele diz que assinou papel
que vai mante-lo preso na baleia até o fim da vida
até o fim da vida.
Dentro da baleia a vida é tão mais fácil
nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas
quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora
a baleia é mais segura que um grande navio
e ele diz que se chama Jonas
e ele diz que é um santo homem
e ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria
e ele diz que está comprometido
e ele diz que assinou papel
que vai mante-lo preso na baleia até o fim da vida
até o fim da vida
até subir pro céu
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VÁ EM PAZ GRANDE ARTISTA!!!
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Foto: site parana-online.com.br

21.5.09

EM HOMENAGEM A GESSY MOREIRA

Por
Helder Sabóia

Não poderíamos silenciar nossos sentimentos de pesar pelo inesperado falecimento da conterrânea que, agora, os externamos com essas sucintas e sinceras palavras que brotam do fundo do coração; afinal, contemporâneo dos áureos anos de 1950/60 tão festivamente vividos na Ipueiras daquele tempo, onde, ainda saindo da adolescência para o alvorecer da maioridade, compúnhamos a turma da memorável rua 15 de novembro, da praça da Matriz, que a Gessy tanto exaltava em saudável competição com as greis de outras praças.

Era assim a Gessy: comunicativa, alegre e festiva e a sua maneira peculiar de ser a todos cativava, irradiando alegria onde estivesse, vez que fazia da vida uma festa permanente. Pessoas assim, ao partirem para o Mundo Maior deixam cada vez Menor o em que vivemos.
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O círculo afetivo dos amigos, que nos dá sustentação emocional para o viver do dia-a-dia, vai-se fechando com a ausência de pessoas ímpares como a Gessy que, com seu sorriso fácil e espontâneo, sem veicular mágoas, ressentimentos e lamentações, nos fazia ver tudo melhor e nos sentíamos, naqueles momentos, mais fraternos, isto por que a velha Ipueiras estava sempre presente nos encontros programados ou ocasionais e a relembrança de tantas histórias, revividas, onde éramos personagens, tinha o condão de irmanar a todos no cenário da daquela inesquecível convivência.

A Gessy era, em vida, uma referência para os ipueirenses. Assídua freqüentadora das programações sociais promovidas pelo Cardoso era a presença que simbolizava a intenção de sermos uma irmandade. Querida dos irmãos com quem mantinha saudável e harmoniosa convivência, que, como nós conterrâneos e amigos, iremos padecer a amargura de sua reclamada ausência.

Mas, hoje, estamos unidos, familiares, amigos e conterrâneos neste ato religioso em que reverenciamos sua memória, para, em oração, pedir a Deus que a tenha sob o esplendor de vossa luz, iluminando seu caminho na eternidade rumo ao lugar reservado aos que, aqui na Terra, souberam preservar sua fé, vivendo cristamente.

16.5.09

CRÔNICA DE INVERNO

Por
Bérgson Frota

O céu escurecia de repente. Do nascente da cidade, um azulado escuro se assomava com o vento que tornava-se mais frio.
Os morros daquela cidade, amarronzados pelo muito tempo de sol, ostentavam sua seca e imóvel vegetação.
Pássaros voavam em grupos para direções incertas.
De repente um forte relâmpago que tornou o dia mais iluminado, logo em seguida um trovão fazia tremer toda a cidade, feito uma explosão vinda de alguma região celestial.
Começava uma ventania forte, que varria com força folhas e areia nas ruas ainda calçamentadas.
Longe da época das parabólicas, a cidade parecia ter em cada casa uma longa haste. Eram as antenas de TV, que por terem um cabo muito comprido começavam a dançar feito um bambuzal de ferro, não resistindo a força dos ventos e da chuva que já caía em grossos pingos.
A terra do rio seco, porosa e ainda quente, pois o sol partira há pouco, recebia e emanava um mormaço cheiro de coisa aquecida, que aos poucos cedia e logo tímidas as primeiras e rasas cacimbas formavam-se.
Era preciso esperar um pouco.
Quando a chuva já caía a cântaros na cidade, sua primeira parte atingia as cabeceiras do rio, na serra próxima.
Então grossas e rápidas ondas de água começavam a descer pelo rio outrora seco, vindas de longe, trazendo águas barrentas que com velocidade pareciam querer ocupar com pressa seus antigos espaços.
A chuva caía forte na cidade, agora já escurecida. O vento, os relâmpagos e os trovões acompanhavam-na.
O rio recebia a sua primeira cheia.
Era o inverno que chegava.
E todo este espetáculo regido por sábias mãos trazia para o povo do sertão uma tão grande alegria que mais parecia cair do céu neste dia, todas as lágrimas de sofrimento longamente represadas no peito da brava gente sertaneja.

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Foto : site proascg25.pbwiki.com
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
( Foto : proascg25.pbwiki.com )

14.5.09

DESI(ÁGUA)LDADE - PARTE II

Por
Lin Chau Ming

O Brasil possui a maior reserva de água doce potável do mundo, acho que detém cerca de vinte e tantos por cento, incluído aí o Aqüífero Guarani, uma coisa assombrosa de boa.

Boa parte desse manancial encontra-se na Amazônia. Porém, a despeito desse mar de água doce, no Acre, por exemplo, no interior daquele estado amazônico, as populações seringueiras não contam com água potável de boa qualidade. Cada família obtém uma melhor água das cacimbas, locais onde brotam do chão pequenas fontes e são protegidas dos animais para garantir sua pureza. Essa proteção, contudo, não é tão eficiente, pois não consegue evitar a entrada de insetos, pequenos animais e também de outros elementos biológicos da floresta.

À semelhança com os posseiros do Mato Grosso, os seringueiros também usam as tinas de barro para armazenar água dentro das casas. Ajudei a conservar e limpar duas cacimbas. Uma era formada por um pequeno olho d’água, que brotava do chão, perto de um igarapé. A terra era bem barrenta, clara, e se misturava facilmente com a água, deixando-a turva. Quatro pedaços de madeira serrada, grossa, delimitavam seu tamanho e ela tampada com folhas de açaí. Não tinha muita água, mas mesmo na época de seca, mantinha sempre volume parecido, dava para o consumo da casa. O banho era tomado no igarapé, para economizar a água boa. Não era cercada porque ficava no meio da floresta, animais domésticos não iam até ela.

Já a segunda cacimba era bem maior, mais água, que brotava de uma pequena nascente com mais força. A família do seringueiro fez um pequeno dique com um tronco com cerne e controlou as frestas com barro. De tão boa que era a fonte, até alguns pés de pachiúba tinham crescido das sementes plantadas por eles. Era cercada com três fios de arame farpado, para evitar a entrada de animais domésticos, pois ficava ao lado do caminho que chegava na casa. O banho era tomado ali mesmo, ao lado do tronco, com uma pequena panela velha de alumínio servindo de cuia. Refrescante e maravilhoso após um dia de trabalho, ninguém duvida.

No Nordeste brasileiro, somente há poucos anos atrás tive contato com um leito de rio seco, visto na caatinga bahiana. Acostumado a andar em ambientes úmidos amazônicos, causou-me espanto ver apenas pedra e areia em um lugar que deveria também ter água. Nesses lugares, a luta para se conseguir água potável é imensa, a partir de locais improváveis e todas as estratégias são utilizadas para se obter o líquido vital.

Tecnologias adaptadas são essenciais nesses locais. Como garantir água de boa qualidade e em quantidade necessária para a família? Vi algumas iniciativas interessantes, como a captação de água de chuva, abertura de pequenas cacimbas nos leitos dos rios, dessalinização de águas subterrâneas. Para a agricultura, a construção de mini-diques ao longo de pequenos cursos d’água ajuda a conservar esse precioso líquido e a instalação de sistemas de irrigação via “potejamento” pode ser alternativa para pequenos agricultores.

Por incrível que pareça, encontrei também em outros estados brasileiros, não nordestinos, o sistema de captação de água de chuva, como nos estados do Rio Grande do Sul e Amazonas. No primeiro, a desertificação é um fenômeno real, se nada for feito, teremos terra inóspita nas planícies sulinas, e, no segundo caso, a falta de saneamento nas casas afeta diretamente a qualidade da água disponível, apesar de estarem cercadas por um mar de água doce.

Em São Paulo, a SABESP faz um cálculo rápido: cada pessoa consome cerca de 200 litros de água por dia, para todas as necessidades. Você já fez o cálculo de quanto você gasta? Poderia ser menos? Claro que sim, desperdiçamos muita água. No inverno fica sempre aquela situação de alerta: pode faltar água.

Além disso, as nascentes de água em Botucatu estão secando, os rios estão sendo contaminados por resíduos de agrotóxicos e poluídos por esgoto doméstico e industrial. O assoreamento dos leitos dos rios altera irremediavelmente o ciclo de vida, nós humanos incluídos. As famosas cachoeiras da região estão em perigo. Das mais de oitenta existentes, muitas delas já estão secas e em outras a poluição impede qualquer atividade de lazer em seu entorno, pois ninguém agüenta o fedor. Uma pena, pois sempre gostei de rios e cachoeiras.

Sinais dos tempos, sinais de tempo ruim que se avizinha, no país que tem a maior reserva de água doce do mundo....
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Foto: Queda d'água abaixo do Pinga de São Gonçalo no município de Ipueiras-Ce.
Site: ipueiras.ce.gov.br/wwwfotos/matriz/atuais/fotos/foto038.htm
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

10.5.09

À MINHA MÃE

Por
Dalinha Catunda
*
Minha mãe estou distante,
Mas em mim nada mudou.
Conservo em meu coração
Lembranças do que passou.
Do lado esquerdo do peito
Guardo carinho e respeito
Que você, mãe, conquistou.
*
Lembro-me com saudades,
Daqueles tempos antigos.
Eu menina astuta e levada
E você brigando comigo.
Quantas surras eu levava,
E aí era que eu aprontava
Não tinha medo de castigo.
*
No fundo eu bem sabia,
Que tinha sua proteção.
Os castigos e as surras
Soavam como correção
Em cima desta menina
Que mesmo tão traquina,
Tinha um bom coração.
*
Saudades sinto muitas,
Ás vezes fico perdida.
Tentando em vão imitar
O sabor de sua comida.
E daquela boa comidinha...
Nunca mais sua Dalinha
Vai esquecer nessa vida.
*
Você já passou dos oitenta
Mas ainda briga pela vida.
Seus ombros estão arreados,
Anda um tanto esquecida,
Mas ainda faz versos e canta,
E por tudo isso me encanta,
Minha velhinha querida.
*
Hoje também sou mãe,
Tenho minhas obrigações.
Somente agora entendo
As suas preocupações.
Pois pelos filhos que pari
Já chorei e também sorri
Em tempos de emoções.
*
Foto das rosas: estas rosas foram roubadas do jardim de Tereza Mourão. Eu ofereço com todo carinho a minha mãe e todas as mães que frequentam nossos blogs. O Dia das mães é só todo dia.
*
Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

6.5.09

O POETA SE APRESENTA

Por
Gonçalo Felipe
(Nova Russas, Ceará)
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Nota do blog: estimulado pelo ipueirense Francisco Costa a colaborar neste blog, o poeta soube que eu queria um “Curriculum” resumido para apresentá-lo no rodapé do texto. Aí ele com a sua arte apresentou-se rimando. Vejam:
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Professor, aqui cheguei
De certa forma empurrado.
Falar com homem de letras
Me deixa um pouco acanhado
Foi motivo porque antes
Não o tinha procurado
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Doutor, na minha cabeça
Se formou a confusão:
CPF, IDENTIDADE
ENDERÊÇO, PROFISSÃO
Doutor, eu comendo isso
Talvez cause congestão
.
Sou um cabôco roceiro
Criado dentro do mato
Aonde o Sol e a Lua
Deitam os raios num regato
Meu pé curtido de terra
Nunca calçou um sapato
.
Minha profissão doutor,
É prá dizer o que faço?
Broco terra, planto milho
Com muito desembaraço
Destilo cana e aproveito
Da mesma até o bagaço
.
Um fio de cabelo, doutor
Arrancado do meu bigode
É a minha identidade
Portanto não se incomode
Pois, afirmo e asseguro
Que confiar em mim pode.
.
Na idade, até os minutos
As vezes são soberanos
E para que não me envolva
A faixa dos desenganos
Extraio a raiz quadrada
E volto aos meus oito anos.
.
Dizendo isso doutor
Agora mais confortado
Penso que me deixei
Todo identificado
Doutor, pelo o que for feito
por mim: meu muito obrigado.

5.5.09

A SAGA DE GERARDO:

Por
Marcondes Rosa de Sousa

Tudo fiz. Não poderia deixar de ir á noite de autógrafos do livro “A Saga de Gerardo: um Mello Mourão”, do acadêmico e professor José Luís Lira, que pessoalmente me convidou.

Ontem, o Centro Cultural Oboé estava pleno de personalidades: acadêmicas, políticas, das Guaraciabas e Ipueiras. Reencontros com os de Ipueiras, desde os dos tempos da Escola de Dona Ester, a relembrar palmatórias (não vi Lelete, por causa de quem levei os primeiros bolos, mas a Elisa Maria, irmã dela. contemporânea mais direta de Solange, minha irmã, estava lá). Lá estavam contemporâneos como Nagib – a pregar a união entre Ipu e Ipueiras, a sonhada por ele “grande metrópole” (a perguntar por Walmir, meu irmão, o único de nós, a ser admitido como “ipueirense”) outras e outros mais antigos que eu, a me reconhecerem, em meio a outros mais ligados com o Walmir, como Vavá Mourão, entre o mais jovens de hoje).

A meu lado, o mais velho do clã dos “Dólar(e)s” – assim que se escreveria? - (o Zé, meu vizinho) e Silvana Frota, a jornalista.. Na fila em frente, prefeitos (de Ipueiras e Guaraciaba), o já octogerário Paes de Andrade. Do outro lado, a família dos Mello Mourões – que depois soube que haviam sido registrados, os filhos, como nascidos em Ipueiras, pelo próprio Gerardo...

A apresentar o escritor, um grande nome, um octogenário escritor, com nome mundial, Antonio Olinto, da Academia Brasileira de Letras. Após os emocionantes e descontraídos falares, fotos e papos no coquetel.

No livro, um cartão, com fotos de Gerardo a abraçar o Prof. José Luís Lima.
Ao fim, uma “Nota”:

“Pretendíamos homenagear o Poeta, por seus noventa anos, com a edição do livro – A Saga de Gerardo: um Mello Mourão, cujos originais ele chegou a ler e deu sua aprovação. A homenagem, agora, se faz celebração plena de saudade.
Até um dia, Poeta!”

A encimar tal nota, o Poema de José Luís Lira:

Lentamente o sol se põe.
Vai, pouco-a-pouco, perdendo sua majestade
E se encontra com o mar,
Dando a impressão de um mergulho.

Até chega a lembrar Exupéry:
Quando estamos tristes, gostamos do pôr-do-sol.
Tal qual o sol, o poeta vai se pondo, partindo
E não posso dizer-lhe adeus.

A província, a Terra-da-Luz,,
Perdeu seu Capitão-Mor nascido
No País dos Mourões do Siarah Grande.
Sem o tropel dos cavalos, longe do tilintar das espadas,
Gerardo partiu, deixando, na saudade, as marcas de sua Saga,
Em olhos vermelhos pôr-do-sol.

***
No posfácio do livro, Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, embaixador e diretor do Departamento da América Central e Caribe, no Itamarati, deixou sua visão, como filho, do escritor. Desse posfácio, consta na contracapa do livro:

“... esteve bem José Luís Lira ao intitular seu livro ‘A saga de Gerardo: um Mello Mourão’. Na verdade, Gerardo não é Gerardo, é um Mello Mourão. Mas,como a própria obra poética que ele criou nos mostra, ser Mello Mourão, ali, significa muito mais do que pertencer a uma vasta família do Ceará Grande: significa legar para o mundo este quinhão de aventura humana que meu paiinventou, por que cantou e vem cantando” (Embaixador Gonçalo Mourão).

O livro em apresentado, sob a forma de poema, por Artur Eduardo Benevides –Príncipe dos Poetas Cearenses e presidente de honra da Academia Cearense de Letras e da Academia Fortalezense de Letras – “Em louvor de Gerardo Mello Mourão, poeta das Ipueiras e do Mundo”. E prefaciado por José Teodoro Soares, ex-reitor da UVA e ora deputado estadual pelo Ceará.

Na contracapa, o simpático, sensível e inteligente Embaixador Gonçalo Mourão, que, horas antes, em solenidade na Assembléia Legislativa, já falara, em nome da família.

Ao se ajeitar meu computador pessoal – estou num de empréstimo – mais informações sobre o lançamento do livro e dos papos.

Por enquanto, apenas o clima de festas, abraços, relembranças, até com Paes de Andrade, e o Embaixador Gonçalo Mourão e seus irmãos, sobre os “bolos de Dona Ester”, o artigo “O retrato que dói” e a restaurar o clima de paz, quem é de fato (Braga poderia lá estar) filho das “ipueiras”: Gerardo teria registrado seus filhos a habitar o clã dos mourões? Sim, o que lá da família ouvi. Jean Kleber, hoje na UNB, filho de meus professores “Dona Mundita, que para lá foi cuidar, com “Seu” Neném Mattos” – que reencontrei hoje nonagenário, em Fortaleza - nossos pais, meus irmãos e muita gente... Eu, tal como Moreira Franco, que governou o Estado do Rio, que teria se registrado em Teresina (meu caso, contrário, Seu Zeca Bento me registrou em Ipueiras – quando tive de levar documentos para Petrópolis (RJ) mesmo mencionando o local Santa Quitéria, onde a tabeliã da época, em rixas com meu pai, argumentara que um incêndio destruíra o livro) e coisas assim. Quem afinal é das ... “ipueiras”, hoje espalhados no País e no Planeta até.

Lá, fotos com ipueirenses, sobretudo, com o prefeito e os cazuzas. E a promessa minha de, em poucos dias - se os médicos não forem contra de dar um pulo lá, com Solange, para resolvermos problemas relacionados com a sucessão (heranças) de Wencery Félix de Sousa e Adaísa Rosa de Sousa.

Lá, quem sabe, quem sabe, uma subida ao Corcovado da Caatinga – onde as torres, numa ignorância literalmente dos diabos (concordam comigo Neném Cazuza, o prefeito, que promete, com a população, lutar pela transposição das tais torres, hoje a arranhar o Cristo (há artigo meu desde quando, do retorno de N. S. de Fátima – 50 anos atrás era eu “Jacinto”, pouco antes dos milagres) e ali voltava para rever a Virgem de Fátima...

Muita coisa a me lavar a alma: os papos com Nenen, que teve a gentileza de me deixar de volta em casa, quando me viu a procurar um táxi. Papos sobre Ipueiras – eu em francos elogios escutados sobre a administração dele. E, no livro, o poema “São Gonçalo da Serra dos Cocos”, do meu amigo “Pe. Geraldo Oliveira Lima”, que justo nessa matriz, um dia me saudou, com citações em grego e latim. Eu, como diria Cláudio, meu filho, a “me matar de vergonha”.

Mas foi aí que vi o velho Joaquim Alves a vibrar e todos com ele: “E você entendeu alguma coisa?”. E ele: “Não, mas fiquei todo arrupiado. Parecia música”. Tal frase, revolucionaria toda a minha visão sobre linguagem literária, a ter a música como backgroud e buscar-nos as forças do inconsciente.

***
Aqui, pois, numa homenagem a Geralinho, que foi para Sobral enquanto rumávamos Frota e eu para Petrópolis) e de quem recebi notícias positivas a este talento ipueirense por vezes esquecido, o poema, afinal e, por enquanto, “ao final” desta mensagem:

São Gonçalo da Matriz
Achado ao pé da palmeira,
Por caçadores famosos,
Na grande serra altaneira.

Levaram o São Gonçalinho
Com grande empenho e carinho,
Todo mundo bem alegre,
Com o pequeno santinho.

Quando foi no outro dia,
O povo com alarido
Foi rezar no oratório:
O santo tinha fugido.

Procuram por todo canto.
Correm ao pé da palmeira...
Pois no mato estava o Santo
Bem simpático e prazenteiro.

***
E sobre essa visão de nosso folclore, conclui-nos Gerardo Mello Mourão (à pág. 32, do livro lançado):

“Não sou um poeta nordestino. Sou um nordestino poeta. É outra coisa. Por isto sou fiel às substâncias líricas de minhas ribeiras da Ibiapaba. Com licença dos folcloristas e do folclore em geral, não estou aqui para fazer folclore. Não sou um tipo folclórico. Mesmo as letras de Humberto Teixeira, nas antologias de Luís Gonzaga, ou os poemas de Ascenço Ferreira, não são propriamente folclóricos, embora não percam nada de sua grandeza quando a lira do povo (folk-lore) as absorve e chegam a ser repetidas como cantos anônimos. Passam a existir além de seus autores. Como se dizia da “Ode a uma Urna Grega”, de Keats, quando feito e perfeito, o poema sabe mais do que o poeta. No dia em que meu poema souber mais do que eu, então sim, terei a glória de ser nordestino poeta, isto é,de ter o sopro dos próprios ventos da terra, de crescer de suas entranhas como um ser que dela recebeu a vida, uma serpente, um pé de juazeiro”.
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Foto de Gerardo Mourão: blog grupos.com.br/blog/ipueiras/permalink/ 18028.html
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.