Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

31.1.09

O CENTENÁRIO DO AÇUDE CEDRO

Por Bérgson Frota
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Há exatamente 100 anos era inaugurado o açude Cedro, obra prima da engenharia brasileira do final do século XIX. Este colossal açude retrata as esperanças do governo central na época para minimizar o sofrimento do nordestino, em especial o cearense que muito havia sofrido na grande seca de 1877 e que durou até 1879, custando ao Ceará, segundo o historiador Barão de Studart, 119 mil mortos e expatriados 5.500, bem como o desaparecimento total da indústria criadora.
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A obra foi encomendada pelo imperador Pedro II, monarca sensível ao sofrimento de seu povo e que conforme a lenda histórica, ao ouvir os relatos de vários retirantes teria dito que venderia “até o último brilhante da coroa” para que nunca mais os cearenses morressem de inanição.
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Enviou ao Nordeste uma missão científica, especialmente ao Ceará, para estudar a questão da seca. Dela participaram os maiores expoentes da engenharia brasileira na época como o professor Raja Gabaglia, o Barão de Capanema e outros grandes nomes.
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Determinada a construção do açude, escolheu-se a região semi-árida de Quixadá.
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As obras da barragem foram iniciadas em 1881 (ou 1888, segundo outras fontes), foi quando começou o levantamento da monumental parede de pedra, engenho de arte e beleza, que veio em 1977 a ser tombada pelo Patrimônio Nacional.
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A obra prosseguiu por quase 25 anos, e depois da abolição da escravatura teve como força o braço livre dos agricultores da região.
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A conclusão do grande açude se deu já na República, em fevereiro de 1906, no governo de Afonso Pena.
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O Cedro foi o primeiro açude público do Nordeste, símbolo maior da luta do nordestino pela sobrevivência contra as adversidades da seca. Possui um reservatório com a capacidade para 125.694.200 metros cúbicos, com uma profundidade máxima de 16 metros e uma bacia hidrográfica de 120 km quadrados.
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Da parede do açude, feita artesanalmente de pedra, vê-se a bela formação rochosa que é o símbolo da cidade de Quixadá : a pedra da Galinha Choca.
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A construção do Cedro foi um grande desafio, não só pelas difíceis condições da região na época mas também a prova de que o nordestino não se acomoda perante a maior das adversidades que tem enfrentado : a seca.
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Ao finalizar, fica a frase concisa mas grandiosa que melhor define o grande açude dita pelo biólogo paranaense Fábio Angeoletto : “Pergaminho pétreo que nos conta a história evolutiva de um animal cujas armas não são garras ou mandíbulas poderosas, mas a capacidade de criar e disseminar cultura”.
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(Publicado no jornal O POVO de Fortaleza-Ce, em 19.03.2006)
Foto 01 – site panoramio.com/photo
Foto 02 – site skyscrapercity.com/showthread
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

30.1.09

VIAGEM

POR MOTIVO DE FÉRIAS EM FORTALEZA-CE, OS TRABALHOS DO BLOG ESTIVERAM INTERROMPIDOS DURANTE ALGUNS DIAS. RETOMAREMOS NESTA SEMANA OS TRABALHOS.

15.1.09

O PIONEIRO PINTO MARTINS

Por
Bérgson Frota

Na tentativa de provar a viabilidade da rota aérea ligando as Américas (norte e sul), o cearense Euclides Pinto Martins e o piloto americano Walter Hilton, iniciaram em 4 de setembro de 1922 saindo da Flórida, o primeiro vôo dos EUA para o Brasil, na façanha que seria conhecida como rota Nova York-Rio de Janeiro, pois a primeira tentativa sem êxito havia saído do rio Hudson, no mês de agosto do mesmo ano.
Os pioneiros pilotando o hidroavião biplano, de 28 metros de envergadura e dois motores "liberty" de 400 hp, cada. Acompanhados por um jornalista e um cinegrafista, decolaram uma máquina de oito mil quilos, criado na pioneira Fábrica Curtiss.
O Sampaio Corrêa II, nome dado ao avião, para homenagear o senador e presidente do aeroclube do Rio de Janeiro, atravessou a América Central e em primeiro de dezembro pousou no rio Canani, no Pará, ao norte da foz do rio Amazonas, dirigindo-se para a Ilha de Maracá, Belém e Bragança aonde por força de um temporal pousou no rio Caeté.
Três dias depois decolou de Bragança para São Luís do Maranhão. Em 19 de dezembro amerissou em Camocim, terra natal de Pinto Martins.O grande aviador foi muito homenageado, mas seguindo viagem para completar a missão decolou em direção a Aracati.Chegando a Fortaleza o Sampaio Corrêa II por dificuldade de amerissagem nas agitadas águas da enseada do Mucuripe, sobrevoou a cidade por alguns minutos e seguiu de volta a Aracati, onde pernoitou e partiu no dia seguinte para Natal.
Mal viajando 50 milhas o motor começou a apresentar problemas o que levou ainda em terras potiguares um pouso não planejado na Baía Formosa, perto de Canguaretama, chegando em Recife, sofreu consertos e recebeu um novo motor.
No dia oito de fevereiro de 1923, precisamente às 11h32min, o Sampaio Corrêa II foi avistado sobrevoando a Baía de Guanabara. Ao pousar foram recebidos na lancha Independência do Ministério da Marinha.
Pinto Martins aos 31 anos entrava para a história dos pioneiros da aviação brasileira.
Em 13 de maio de 1952 o Aeroporto de Fortaleza recebia o seu nome, eternizando numa justa homenagem o cearense que levou longe o nome de seu País.
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Publicado originalmente no jornal O Povo, de Fortaleza-Ce, em 28.05.2006.
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Fotos (site memorialpernambuco.com.br)
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

11.1.09

FORMATURA

Por
Lin Chau Ming
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Maio aqui é o mês das formaturas e isso me fez lembrar a imagem de formandos universitários, com becas bem arrumadas, jogando ao ar os chapéus, e regozijando-se ao som de alguma música mais animada. Esse ritual faz parte de vida de 10% da população brasileira. É este, aproximadamente, o número de possuidores de diplomas universitários no Brasil.
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Fazemos parte dessa elite, a que, por diversos motivos, conseguiu entrar e terminar uma faculdade. Pós-graduação? Esse número é bem menor. Segundo dados da CAPES, são formados no Brasil atualmente cerca de 8 mil doutores por ano. Há emprego para toda essa elite intelectualizada? Não, sabemos que não, vemos isso no dia-a-dia da faculdade, onde colegas formados nos diversos programas de pós-graduação oferecidos não são aproveitados no mercado de trabalho e acabam buscando alternativas que não levam em conta esse esforço realizado.
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Mesmo profissionais sem pós-graduação não encontram oportunidades de trabalho tão facilmente assim. Nos finais dos anos 70, ainda estudante, preocupava-me essa questão também, pois tinha que arrumar algum emprego depois de formado, para poder ajudar minha família e tocar minha vida. Havia, naquela época, um número assustador: eram formados no Brasil, cerca de 10 agrônomos por dia.
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Hoje, com o aumento do número de faculdades de Agronomia, principalmente privadas, esse número é bem maior, não sei exatamente qual é, mas não será difícil calcular, basta ver a lista das faculdades de Agronomia e quantas vagas por ano ou semestre cada uma delas oferece.
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E, mais uma vez, vemos os nossos colegas, sem pós-graduação, em contingentes maiores, disputar cada vaga como se fosse outro vestibular, e desta vez mais concorrido, e também um outro sem-número de colegas que acabam fazendo outras atividades.
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Encontrei há alguns anos atrás, por acaso, um colega de turma, andando pelas ruas de São Paulo; ele era dono de um pequeno restaurante. Mas, surpreendentemente, no reencontro de minha turma de Esalq, nas comemorações das bodas de prata, vi que a maioria trabalha na profissão.
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Talvez seja porque, naquela época, os empregos eram mais fáceis de serem encontrados, e o número de candidatos menor.
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O mercado de trabalho nos Estados Unidos parece ser melhor do que no Brasil. O índice de desemprego é menor. Apesar disso, a concorrência nos empregos que exigem nível superior é enorme.
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Não sei os números exatos, mas o número de doutores aqui é gigantesco. Nas universidades, falar em apenas terminar a graduação, hoje não garante muita vantagem para os estudantes. É preciso seguir adiante, fazer o mestrado e, logo depois, o doutorado, ou o PhD. A pós-graduação passou a ser, desde há muito tempo, uma etapa necessária para os formandos que tencionam estar em melhores condições na hora da disputa por uma vaga de emprego. E muita gente faz, em todas as áreas do conhecimento. Tornou-se, como diria, arroz-com-feijão, ou seja, bastante comum.
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Também é comum a existência de milhares de editais para pós-doutores, para trabalho em pesquisas em áreas emergentes, como biotecnologia e pesquisas médicas com câncer. Basta dar uma olhada nas páginas finais das revistas Science e Nature, que funcionam quase como uma seção anúncios classificados para empregos. Quer ter uma chance de conseguir alguma dessas vagas de pós-doc? Pegue essas revistas e escolha uma, talvez haja uma que seja adequada ao seu perfil profissional.
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Essas vagas de pós-doc funcionam aqui como se fossem empregos temporários, ou seja, têm tempo de duração pré-definido, contam no tempo de aposentadoria e, diferentemente do Brasil, é cobrado imposto de renda, o valor não sai líquido. Vários doutores disputam essas bolsas e quem as consegue, trabalha até o seu final e se inscreve em outra, e assim por diante. A dificuldade aqui em propiciar emprego para gente tão qualificada também é grande. Aqui na Columbia conheci diversos pós-docs “profissionais”, isto é, vão trabalhando nessas vagas até terminar o prazo e logo procuram outras, e vão seguindo a vida.
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A Capes e CNPq acabaram de lançar o Programa Nacional de Pós-Doutorado, oferecendo bolsas e uma reserva técnica para milhares de doutores sem emprego, por um período de 4 anos. Um refresco para os que ainda buscam alguma chance de encontrar seu lugar ao sol. A Fapesp já tem um programa dessa natureza já há algum tempo, idem o Prodoc da Capes e, apesar do sucesso resultante em informações tecnológicas em diversas áreas científicas, boa parte dos ex-bolsistas ainda não está empregada. Conheço diversos pós-doutores que atuaram na UNESP nesses programas que, findos os períodos de bolsa, não arrumaram emprego na especialidade trabalhada.
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Enquanto não houver uma estratégia de viabilizar empregos para gente tão qualificada no Brasil, esses programas de pós-doutorado também serão vistos como empregos temporários, paliativos para uma política consistente de ciência e tecnologia.
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Foto: Juliana Muniz, formanda em agronomia da UnB (II-2007). A foto é do acervo da engenheira agrônoma.
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

9.1.09

RESGATE LITERÁRIO DE IPUEIRAS - DALINHA CATUNDA - I

SAUDADES DE IPUEIRAS
*
Por
Dalinha Catunda
*
Ipueiras dos meus tempos,
Como posso não lembrar.
Do Cristo de braços abertos,
Dos banhos no Jatobá.
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Dos passeios na avenida,
Dos namoros ao luar.
Da bandinha anunciando,
Os festejos do lugar.
*
Das mensagens que eu ouvia,
Na rádio Vale do Jatobá.
Quase sempre oferecida,
Por quem dizia me amar.
*
Das quermesses, das novenas,
Como posso me esquecer.
Do toque da alvorada,
Embalando o amanhecer.
*
A procissão que passava,
Levando a santa no andor.
E o povo compenetrado,
Cantando em seu louvor.
*
Ecoa em meus ouvidos,
Saudoso aquele grito.
Do menino que passava,
Com a tábua de pirulitos.
*
Olha o pirulito! Gritava,
Com sua tábua na mão,
E assim adoçava a infância,
Daqueles tempos de então.
*
Cadê o seu Zeca Bento,
Com sua calçada cheia?
Cuspindo numa latinha,
Toda forrada de areia.
*
Era a roda mais famosa,
Que existia em nossa aldeia.
Debatia-se qualquer assunto,
De política a vida alheia.
*
E o seu Idálio? Era tido
Como o doutor do lugar.
Remédio para o corpo e a alma,
Só ele sabia passar.
*
Figura saudosa e marcante,
Era o velho Camaral.
Mestre em puxar cordões,
Nos bailes de carnaval.
*
O carnaval de Ipueiras,
Tinha a sua tradição.
De dia brincavam na rua,
De noite era no salão.
*
O testamento do Judas,
As fogueiras de São João,
São saudades permanentes,
Juntamente com o chitão.
*
Quem não chorou ou sorriu,
Na praça da estação,
Esperando o trem que passava,
Levando e trazendo paixão.
*
Os banhos de açude!
Meu Deus! Que animação.
Às vezes no Pai Mané,
Outras no Lamarão.
*
Ah! Tempos maravilhosos.
Oh! Doces recordações.
Tempos de seresteiros,
De donzelas, de canções.

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As fotos da cidade são do site oficial. A da banda é do acervo do ipueirense Tadeu Fontenele.
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).
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NOTA DO BLOG: ficamos, eu e Bérgson Frota, que foi padrinho de Dalinha nesta apresentação, em dúvida sobre "Minha Canção do Exílio" e "Saudades de Ipueiras", duas preciosidades de sua obra. A própria autora manifestou-se a favor de "Saudades de Ipueiras". Ei-la.

5.1.09

O DUPLO OLHAR DE JANO

Por
Marcondes Rosa de Sousa
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O Povo - 05 Jan 2009 - 01h08min (Fortaleza-Ceará)
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Janeiro é mês que, em sua origem, remete-nos a Jano, deus romano de duplo olhar. Olhar à frente, aberto ao futuro; olhar atrás, fechando-se aos já passados ciclos. Evocar Jano agora parece-nos oportuno, tanto no País quanto no Globo, neste momento de crise.
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Um rápido flashback. Quedas várias, desde o muro de Berlim: a da União Soviética e as atuais do mercado e dos surtos de reação às agressões ecológicas em todo o Planeta. Hora, sem dúvida, de repensarmos os infringidos valores desde a Revolução Francesa: os da “liberdade, igualdade e fraternidade”, retomados, sob feições diversas pelas correntes liberais, socialistas e social-democráticas. E, sob tais parâmetros, formular a visão nossa como integrados “cidadãos, profissionais e pessoas”, portos a nos desenhar o destino de nossa vida educacional, social e política.
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Hoje, vida política, educacional e social é coisa, por muitos, vista sem praia e sentido. Mais forte até, “coisa suja”, embora repisemos, com Aristóteles, que o homem é um animal político. Aos poucos, porém, vamos percebendo que o ente político de Aristóteles transpõe a pequenez do eventual jogo do capital, do prosaico aqui-e-agora histórico, a nos fazer a todos cidadãos a habitar o planeta como personagem. Vivemos, pois, em um mundo “para além do capital”, onde razão e fé se abraçam, olhos nossos – à frente e atrás – tal qual Jano, a nos fazer a vida como seres imagem e semelhança do Criador.
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Jano recebia dos romanos, na antiguidade, duas funções: a daquele que se abre e ao mesmo tempo do que se fecha. O momento é de fecharmos o ciclo passado em nossa história, país e planeta, abrindo-nos novos ciclo e visão: o da superação de ver a vida social, o País e o Planeta subordinados ao capital.
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É a reflexão que nos impõe, neste janeiro, o duplo olhar de Jano!
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Figura de Janus: site prof2000.pt/users/secjeste/Agricola/Janus.gif
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

2.1.09

FLAGRANTE DE NATAL 2008

Seu Mattos, para quem não conhece, foi professor de ensino fundamental em Ipueiras no Ceará de meados dos anos 40 ao início dos anos 50. Está atualmente com 96 anos, ainda cuidando de sua biblioteca particular. Meu sobrinho Emanuel enviou-me hoje um flagrante do Natal de seu Mattos em 2008. Passeio na Beira-Mar de Fortaleza incluindo jantar. Animador.

Sentado na mureta da Beira Mar contemplando a paisagem ao lado da irmã Francisca e da sobrinha Salete.

Encarando o prato no restaurante, com o apetite que lhe é peculiar. Deus conserve.

1.1.09

ANO QUE ENTRA

Por
Dalinha Catunda
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Esse ano não me pergunte “com que roupa eu vou?”. Não obedecerei as cores sugeridas, não farei simpatias visando um ano melhor. Iemanjá que me perdoe, mas, flores não levarei. O banho de mar da sexta feira, sem medo esquecerei. Me entregarei ao acaso e nele apostarei.
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Não quero entrar o ano, devedora de promessas que nunca cumprirei. Vou deixar a vida me guiar e nela navegarei. Quero entrar de peito aberto, pisando firme no chão, acatando o que me reserva os novos tempos que virão.
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Se vier dor chorarei e com o pranto lavarei minha alma. Se vier alegrias sorrirei, gargalharei animada. Provarei com a mesma nobreza do mel e do fel, a mim destinado.
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Eu quero as surpresas da vida, não castelos desenhados, que qualquer vento desfaz. Não quero a esperança que não morre, mas certamente caduca entristecendo nossas almas.
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Não quero viver com o olhar perdido em sonhos que não se realizam jamais, quero viver realidades que pareçam sonhos vividos e muito mais satisfaz.
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Na verdade não vislumbrarei o famoso Ano Novo, viverei o Ano Que Entra continuação do passado com suas alegrias suas tristezas e intensamente vivido, jamais imaginado.
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MEUS AMIGOS,UM FELIZ ANO NOVO, COM MUITA SAÚDE, MUITA PAZ E MUITA LUZ. ESTOU REPETINDO O MEU TEXTO DO ANO PASSADO POIS CONTINUO ACREDITANDO NESTA MENSAGEM.
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Foto da Pomba da Paz: site recadosonline.com
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

RECEITA DE ANO NOVO

RECEITA DE ANO NOVO
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Por
Carlos Drummond de Andrade
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Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
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para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
*
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
*
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
*
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
*
(Contribuição de nossa Co-gestora Tereza Mourão)
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Foto de Drummond: site pco.org.br/.../imagens/carlos_drummond_2.jpg