Suaveolens
Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS
Quem sou eu
- Nome: Jean Kleber
- Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil
Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.
27.4.12
21.4.12
16.4.12
Quando o Amor é de Graça XIII: À Semelhança de Barcos
Fato: Deus deve ter coisa mais importante a fazer do que assistir a passeio de barquinhos nessa coxia (leia-se “oceano”) de subdesenvolvido planetóide. Nem não precisaria conferir qualquer esforço para de rápido pôr ao fundo o chaminenoso grandalhão, cemitério d’água de quase 2.000 pessoas, a maioria da terceira classe, claro, assim como o é a do terceiro mundo. Entretanto, não há tamanho para a queda, e esta, mesmo um dia, é certa para todos!
Barcos vêm e se vão numa vaga rosa ou escaudalosa rota, muito própria — e única — de cada. À semelhança de nossas vidas, nascem, navegam, se encontram, aportam, se perdem, soçobram, afundam e apodrecem.
Imagino-os com bandeirinhas festivas e, em seu interior, dezenas e ou centenas de pessoas acenando: “Não se esqueça de mim, também fiz parte de sua vida.” Às vezes, dentre tantos e inúmeros rostos de se acharem importantes, um ou dois, apenas, valem a cor de uma sua lembrança. Como barcos, carregamos coisas demais, a ponto de imaginarmos como ainda ser possível continuar a navegar. Mas, como dizia o infante português D. Henrique, criador da primeira escola virtual — a de Sagres — e visionário incentivador do internAutismo: “Navegar é preciso; viver não é preciso!”
Navegamos, porém, buscando lastros a nos sustentar ante o marzão de loucura, de violência, de consumo, de desperdício, de maldade, de incompreensíveis discursos e regras vazios, de burríssimos Homo lattes pontuados na forja da pressa de se arvorar e não de contribuir, inventar, originalizar-se.
Passo o olhar na “Crônica...” do “Gabo”: “Escreveu-lhe então uma carta febril de vinte folhas, na qual soltou sem pudor as verdades amargas que trazia apodrecidas no coração desde a noite funesta. Falou-lhe das cicatrizes eternas que ele deixara no seu corpo, do sal da sua língua, do rastilho de fogo da sua verga africana. Entregou-a à funcionária dos correios, que ia à sexta-feira à tarde bordar com ela para levar-lhe as cartas, e convenceu-se de que aquele desabafo final seria o derradeiro da sua agonia. A partir de então já não tinha consciência do que escrevia, nem sabia de ciência certa quem escrevia, mas continuou a escrever sem tréguas durante dezessete anos.”
O cantar dos galos, disso tinha “ciência certa”, calam os apitos do barco, e calam profundamente, mas não podem com os marulhos dos ventos soprantes. Não apenas com os ruídos, mas com a força que carrega as coisas para o mais distante dos ermos e dos remos.
Os barcos quando nascem de “quilha torta” compreendem bem de a extensão do caminho, mas não se iludem com trajetórias pré-traçadas, nem crêem tanto na força de seu timão. Preferem as velas ao motor e as estrelas são seu único guia — enxergam mais à noite de astros. O risco de ir à pique é sempre iminente e, por vezes, desejado, senão seguro. Para eles, as noites são sempre frias e apenas o luar aquece os seus corações. Contemplam as madeixas verdes das águas, ouvem os sons de seus duelos, apreciam o encontro breve — a certeza do seguinte adeus — de outros barcos a navegar nas espáduas daquilo que ignoram. Tristes, singram solitários em cursos inexplorados, por entre dragões e sereias, a pôr demãos de futuro esquecimento, sem acenos de saudade, mas com olhares de arrebóis lacrimosos de nunca se esquecer.
Raymundo Netto que vez ou outra se lembra do mundo grande, é escritor, apaixonado nem sabe o porquê por Fortaleza, e a ela dedicou o romance Um Conto no Passado – cadeiras na calçada e mais algumas horas.
11.4.12
Crônica de um naufrágio
Por
Bérgson Frota
Catorze de abril de 1912 foi um dia frio, ensolarado, mas frio. O mar parecia um deserto líquido, calmo e de baixas ondas.
No RMS Titanic tudo parecia normal, não sabíamos que desde às 9 da manhã e durante todo o dia, seis comprovados avisos haviam chegados comunicando que na rota à frente havia “grandes icebergs”.
O Titanic era imenso, saiu de Southampton (Inglaterra) para Nova York, a travessia se dava calma e o navio levava não só ricos empresários como também imigrantes. Ao todo 2.224 passageiros.
Para nós era um sonho da engenharia do século XX aquele navio, não só luxuoso mas potente. De grandes hélices e gigantesco, para todos que o visse era também “insubmergível”.
Então aconteceu o que ninguém esperava, era criança e estava bem agasalhado na proa, vendo o céu escuro, cheio de estrelas. Jamais imaginávamos o que se seguiria.
No telégrafo havia chegado às 22h35 o último aviso, também ignorado. Uma hora depois, precisamente às 23h35 se avistou o imenso iceberg de 400 metros à frente do navio.
Tal visão nos assustou, imediatamente os motores foram apagados, e em vão foi a tentativa de desviar a rota. O RMS Titanic navegava a 22 nós e o desvio exigia nessa velocidade 800 metros para parar.
No que se podia desviar, foi tentado. Mas nada adiantou, o impacto foi lateral, abrindo uma longa fenda de 90 metros.
A sala das máquinas começou a encher-se da fria e salgada água do mar. O navio dava sinal de instabilidade, gritos, uma grande confusão se armou. E para desespero só havia botes salva-vidas para a metade dos passageiros.
Só após 20 minutos do choque é que veio do comandante a ordem de abandonar o navio. Mulheres e crianças primeiro --- ouvia-se gritar. Muitos botes desceram com espaços vagos. Pessoas na ânsia de salvar-se caíam nas frias águas e lá ficando para sempre.
Descí num bote cheio com minha mãe, e distanciando-se lembro das explosões no navio e dos altos gritos de desespero.
O RMS Titanic ainda resistiu 2h40 minutos para afundar, levando consigo 1.513 vidas.
Eram 2h20 de uma trágica madrugada de 15 de abril de 1912, e o maior navio construído pelo homem até então foi tragado definitivamente pelas águas geladas do Atlântico Norte, repousando já há um século no solo marinho a 4.000 metros de profundidade.
A lembrança do desespero faz lembrar o sinal de socorro que o Titanic emitiu até já não mais poder. S.O.S (save our souls), salvem nossas almas.
E sempre quando lembro o grandioso navio, minha memória fixa nas luzes piscantes que foram aos poucos apagando ao serem tragadas pelas profundezas do mar até nada mais poder-se ver.
Desenho – site : mococa24horas.com.br
Bérgson Frota escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.