Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

29.11.08

RESGATE LITERÁRIO DE IPUEIRAS - III - JEREMIAS CATUNDA



O CISNE E EU

Jeremias Catunda

Dizem que o cisne morre quando canta
Que o cisne canta quando quer morrer
Por que o céu a mim não fez nascer
Cisne também que a dor logo suplanta?

A minha vida é um lago de Tristeza...
Foi curta e breve a fase de alegria,
Tão passageira tão fugaz corria,
Nem era um lago, era uma correnteza

Por isso eu penso como a natureza
Que se esmerou em tanta coisa certa,
Em tanta coisa de real beleza.

Fugiu à regra, ao cisne o que lhe deu
A mim negou, negou não foi correta,
Pois nem cantando a mágoa a dor morreu!
*

Foto do cisne: site baixaki.ig.com.br


JEREMIAS CATUNDA MALAQUIAS. Ipueirense poeta, escritor, esportista, intelectual. Hoje octogenário, permanece sendo uma das maiores referências da intelectualidade ipueirense. Jeremias é pai do escritor e pesquisador Bérgson Frota, destacado membro da equipe de colaboradores deste blog.

26.11.08

RÉU CONFESSO: NA CASA DE JOSÉ DE ALENCAR, NÃO!

Por
Raymundo Netto
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Sim, confesso, eu sabia... Ao passar de ônibus, algumas vezes, em frente à Base Aérea de Fortaleza, achei estranha aquela “segunda” portaria por trás do portal original projetado pelo húngaro Emílio Hinko ao final da década de 1930. Pensei logo: “Será que vão ter coragem de derrubar o portal da Base Aérea?” Não acreditei, a princípio, mas depois caí em mim: lembrei morar no Ceará; onde amnésia não é doença, é tradição. Devido horas acumuladas de trabalho, também fui deixando para depois, esquecendo... e calei.
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Não deu outra: descaracterizaram a fachada da Base. Pior é que o macete já havia aprendido: se colocam out-doors e/ou tapumes em frente de uma casa, ou vedam-lhe as portas e janelas com tijolos, é só esperar, vão derrubar!Sabem, antes eu sofria mais, hoje, agüento com pesar, afinal, é evidente que o governo não poderia comprar tudo quanto é casa abandonada da cidade. Porém, não dá para aceitar é que instituições públicas, principalmente aquelas abrigadas em prédios históricos, não se responsabilizem em “guardar” esse patrimônio tão raro no Estado e muito mais ainda na sempre “deslumbrada” Fortaleza. O Comando da Base Aérea, em questão, “voou” ao não pedir orientação e permissão das autoridades competentes antes de efetivar tal crime.
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Isto, depois de assistirmos a outras obras, como a construção do Mercado Central que sacrificou, estupidamente, casas e árvores centenárias, e o planejamento (?) do trajeto do Metrofor por cima da Estação de Parangaba, a primeira de Fortaleza. Bobagem feita, alguns ousam questionar e lamentar o quanto será preciso retirar dos cofres públicos para salvar a “estaçãozinha”.
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Concordo, pode ser muito dinheiro, mas é bom que se pague mesmo para que doravante sirva de exemplo para os futuros gestores: não abrimos mão de nossa História! Pensem bem antes... ANTES!Já não bastasse nosso litoral estar sendo todo vendido a estrangeiros que constroem uns bichos caribenhos — para eles, é resort; para nós, reazar mesmo — que devastam e descaracterizam o meio ambiente com a exploração predatória, além de expulsar os nativos da região.
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Diante de tudo isso, a Universidade Federal do Ceará decide instalar o Instituto de Cultura e Arte/ICA no Sítio Alagadiço Novo. Primeiro fizeram a besteira (uma piada de mau gosto) de mudar o nome do bairro de Alagadiço Novo para José de Alencar, e agora corremos o risco de acabarem com o próprio sítio, tragando, em troca de interesses superficiais, a casa do Alencar e as ruínas do primeiro engenho a vapor do Ceará.
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É lógico que os respeitosos idealizadores do infeliz projeto, tão cheios de boa vontade e com intuito de “aumentar o trânsito” no local — daí meu receio do “atropelamento trágico”—, não se responsabilizarão quando daqui a dez anos ninguém mais lembrar o que existia preservado por ali, talvez, justamente pela ausência de “trânsito”. E mais: colocar “redomas” de vidro e passarelas metálicas em torno da casa ou do engenho garantirão apenas que se tornem mais um arremedo histórico disneylânico, como tantas outras peças cenográficas para turista ver, espalhadas na cidade.Será que o sítio resistiria à barbárie etílica e jovial de uma primeira calourada? Sei não...
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A Universidade com seu vasto batalhão de pesquisadores e estudiosos em História e Cultura é que deveria estar à frente dos movimentos, e não apenas das palestras e discursos pomposos de preservação. Aliás, eles deveriam unir-se no sentido de enriquecer esses equipamentos culturais, fazê-los ressurgir em significado, emergi-los das cinzas do descaso, também, histórico.Por que não implantar o Instituto no Campus do Pici, tão abandonado e necessitado de melhorias? Acho até que a presença dos tais cursos por lá, atrairiam iniciativas positivas da direção e estimulassem os nossos estudantes a trabalharem em benefício das inúmeras comunidades carentes do entorno.
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Que nos sirva como exemplo, em Quixadá, a vigília dos moradores sobre os escombros de uma casa, ao lado da praça da Estação, que resistiu 117 anos, sendo destruída durante única noite, para “que não desabasse sozinha”. Assim, meus amigos, é por essas e outras que Fortaleza está cada vez mais parecida com qualquer outra atrasada cidade do mundo: sem lembranças, sem identidade e sem futuro.
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Foto do sítio arqueológico: jornal O POVO - Fortaleza-Ce.
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Raymundo Netto é escritor, apaixonado nem sabe o porquê por esta Fortaleza, e a ela dedicou o romance Um Conto no Passado – cadeiras na calçada e mais algumas horas.

20.11.08

CASAMENTO POR PROCURAÇÃO

Por
Luiz Alpiano Viana

O casamento de uma filha é o ato mais natural que existe hoje em dia. Sempre foi e continua sendo o maior sonho da mulher. Trata-se de uma festa previamente organizada, com decoração de igreja e local onde os noivos recebem os convidados.
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Atualmente as noivas passam o dia todo no salão de beleza e de lá só saem totalmente prontas para a igreja. Em alguns casos não se sabe onde os noivos ficam durante a lua de mel. Noutros, não há festa, nem a famosa viagem depois da cerimônia.
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Eu vivo uma situação inusitada, pois me caso no próximo dia 28 de novembro, com minha própria filha. Durante anos, nos moldes da Igreja Católica Apostólica Romana, nunca pensei em casamento por procuração. Muito menos me casar com minha filha em cerimônia normal. Parece estranho, mas é verdade. Fiquei-me matando por dentro e me perguntei por que logo eu e não outra pessoa? Por diversas vezes quis desistir e convidar alguém, um amigo, por exemplo, para ir por mim. Comentei, preocupado, o assunto com um amigo, e ele me aconselhou não desistir.
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Disse-me, pois, que Deus é a inteligência máxima do universo, tudo que faz é certo, e como me ama muito, apontou-me como o substituto oficial de meu genro. Disse-me mais, que sou um sortudo, pois pouquíssimos pais têm esse privilégio. Não dormi direito à noite, não me senti à vontade, pois na manhã seguinte, cedo, fui ao cartório para assinar a documentação. Hoje, as leis existentes no país permitem aos pais, quando na ausência de um dos noivos, substituí-lo por procuração pública.
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E é o que vou fazer e com muita honra. Agora, depois que assinei os documentos pertinentes, sinto-me mais à vontade e acho mesmo que minha felicidade dobrou. Vejo, entrementes, que fui presenteado mesmo pela vontade do Santo dos Santos. No dia do casamento vou vestir minha melhor roupa, minha melhor meia e calçar meu melhor sapato. Usarei minha caneta parker 21, relíquia dos anos de ouro da juventude, para oficializar a união desses dois jovens que se amam demais.
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Não sei quantas vezes já escrevi meu nome, porém, dessa vez, tenho que treinar boa caligrafia, aquele estilo antigo dos diplomas, aquela letra dos livros cartorários do Zeca Bento e do Wencery Félix de Souza. Dizem que aquele tipo - em manuscrito – é letra de velho! Meu Deus! Será que já sou velho! Vivo emoções de pai que ama como ninguém os filhos e netos. Na verdade ela é minha única filha mulher. Com os olhos em lágrimas, pediu-me que lhe tornasse casada. Não agüentei a emoção e chorei. Depois, no meu quarto, o choro foi mais forte, e, dessa vez, copiosamente.
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Pensando bem, é uma ação de carinho e de muita responsabilidade para um pai que é meio à antiga como eu. Sublime é entender que um ser superior me ordenou ao trabalho fértil do amor. Banhei-me de prazer e agora mostro para você, querido leitor, o tamanho de minha fragilidade e sensibilidade. Hoje sou o pai mais feliz do mundo. Além do mais, ela é carne de meu corpo e sangue de meu sangue.
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Eu sou de fato o pai que ela queria ter. Agora só agradeço. Não mereço tanto, Mestre!
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Foto: site casajuridica.com.br/.../caneta.contrato.jpg
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Aos 61 anos, o ipueirense Luiz Alpiano Viana, é uma apaixonado por sua terra natal. As suas memórias e saudades de Ipueiras estão sempre presentes em suas crônicas, a exemplo de “Saudade” e “O astuto cirurgião”, narrativas que trazem de volta velhas e boas recordações. Tendo morado na cidade de Crateús/CE e em Brasília/DF, atualmente reside em Forteleza/CE e é funcionário aposentado do Banco do Brasil.

18.11.08

MARCONDES ROSA, UM IPUEIRENSE DE CORAÇÃO

Por
Bérgson Frota

Na linha que seguimos em destacar as grandes e nobres personalidades literárias e intelectuais de nossa Ipueiras, chega-me então a vez de prestar a grande figura de Marcondes Rosa uma homenagem.
Primeiro citá-lo como um homem de notória sensibilidade no que toca a educação seja a nível regional e nacional.
A figura de Marcondes Rosa se destaca como um profundo educador, um professor versado na arte de levantar a bandeira do conhecimento ao defender com seus artigos e atos uma realidade educacional mais dinâmica e verdadeira para o nosso povo.
Gostaria de citar as brilhantes contribuições que seus artigos trazem no jornal O Povo, publicados quinzenalmente. Neles são tratados temas educacionais, políticos e questões de atual importância que o Estado e o País enfrentam.
Pedi ao distinto Mestre há pouco tempo uma coletânea de seus trabalhos, o que generosamente e de pronto me enviou, no entanto escolher um só para dar-lhe um devido merecimento seria empobrecê-lo por demais. Digo pois suas obras se estendem além dos artigos.
É-nos uma sorte profunda termos atuante sua figura a sempre nos brindar e nortear com seu estilo habilidoso, trabalhado e único os temas que aborda.
Lembrar Ipueiras e seu povo ele o faz com um sentimento que toca-nos como se vizinho fosse daquele de quem tece o elogio, digo-o assim pois a cada figura que cita traz sempre a tona o lado bom e positivo do mesmo.
Sua generosidade estende-se ao divulgar como gestor do blog Grupos, trabalhos dos filhos da terra e sempre buscar no equilíbrio do bom senso a forma exata e econômica ao expor ou tratar os temas.
Outro interesse que chama-me a atenção é a sua vontade de unir os ipueirenses na idéia de construir um ícone ou encontrá-lo para Ipueiras.
Talvez na sua humildade esquece que sua própria figura, pelo grande destaque que granjeou, graças a sua capacidade e luta pode ser apontado como um verdadeiro ícone a nos direcionar todos os que querem destacar e valorizar Ipueiras.
O texto tem então a função de prestar tributo a este grande educador, simples diante de suas grandes capacidade, mas que como os grandes, não cria nada que esteja abaixo do adjetivo que antes lhe vestimos.
Ipueiras mais ainda enriquecida agradece de coração a Marcondes Rosa por sua obra educativa, seu zelo para com sua terra e por enriquecer o grupo que luta em mais e mais divulgá-la de forma rica, elegante e humilde.
Um muito obrigado ao mestre Marcondes Rosa.



(Texto elaborado por Bérgson Frota em tributo ao trabalho do Sr. Marcondes Rosa, na divulgação da terra ipueirense.)
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

13.11.08

RESGATE LITERÁRIO DE IPUEIRAS - II (KIDENIRO TEIXEIRA)

O RIO JATOBÁ
Kideniro Teixeira

Para Dario Catunda

A névoa esvoaçante a serra inteira enluva...
Alta noite o trovão geme na serra inteira...
- “Serra de São Gonçalo”, o Santo da Palmeira...
E o Jatobá soluça aos rigores da chuva.

Turvo, escuro-vermelho, indiferente zarpa
Da minha Ibiapaba a rolar entre os montes...
Festeja o azul do céu refletindo horizontes,
E desce de roldão murmurando na escarpa.

Temeroso e violento, areias revolvendo,
A margem a solapar, estourando em remansos,
Retorce o oiticical, e escarva, e arranca os mansos
Morfumbais da beira os galhos retorcendo.

Lembrando-o assim, galã, alagando o sarçal,
Pomposo como um Rei nas terras de Ipueiras,
Revejo na memória, aos bandos, lavadeiras,
Roupas corando ao sol, dando à idéia um garçal.

Quantas vezes fiquei, naquelas tardes boas,
De estilingue nas mãos, encolhido, com frio,
Vendo em seu rebojar, convulsivo e som sóbrio,
Sumir o milharal maduro das crôas.

Tinha medo ao ouvir seus gemidos magoados,
- Eu, que do povo ouvira, em minha meninice,
Que os gemidos do reio (efeito da crendice)
Eram a voz dos que ali morreram afogados.

Que recebas meu beijo e outro igual me mandes,
Rio do meu temor quando eu era menino;
Só hoje é que sei que és tão pobre e pequenino,
- Miniatura infantil destes que vêm dos Andes!

Poesia do livro “Mandacaru”, do poeta Kideniro Flaviano Teixeira, livro publicado em 1976. - Trabalho enviado por Bérgson Frota.
NOTA DO BLOG: O presente poema é dedicado a Dario Catunda, um professor e intelectual enaltecido por todos no município de Ipueiras e que formou várias gerações.

O poeta Kideniro Flaviano Teixeira nasceu em Águas Belas, município de Ipueiras, no Ceará, em 16 de agosto de 1908. Morou por longos anos em Manaus, Am. Naquela cidade diplomou-se em Direito, advogou, foi jornalista em A Tarde e professor na Escola Técnica Federal e no Colégio D. Bosco.Posteriormente, retornou ao Ceará, onde passou a atuar como Promotor de Justiça. Faleceu em agosto de 2008.

12.11.08

“A TELEVIZINHA,” SEU MUNDICO E A LAGARTIXA

Por
Dalinha Catunda
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Ipueiras além de abrigar seus filhos, sempre foi uma cidade bem hospitaleira recebendo com cordialidade os filhos de outras terras que por lá fixavam residência por algum motivo.
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Durante certo tempo morou na pequena Ipueiras, seu Mundico, um senhor simpático, casado com dona Abigail, uma senhora gorda de sorriso largo. Não sei de onde veio o simpático cidadão, mas sei que ele veio para ocupar uma vaga nos correios. O que fez por um bom tempo.
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Ipueiras era um típico interior sem grandes distrações que se pudesse desfrutar no dia-a-dia. As conversas nas calçadas ainda predominavam. E era até muito bonito ver as calçadas cheias. Enquanto os adultos conversavam, a criançada corria alegre pelas calçadas. Eram as ditas “tardes fagueiras que tanto me encantavam no interior.
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Quando seu Mundico chegou a Ipueiras lá pelo final dos anos sessenta, suponho eu, uma novidade tomava conta da cidade. A televisão! Não se falava em outra coisa. Contava-se nos dedos a casa dos poucos privilegiados que possuía esse luxo, a novidade do momento! Com isso surgiu outra novidade: “A TELEVIZINHA.” Ou seja, ver televisão na casa da vizinha.
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Como poucos tinham acesso à televisão, criou-se o hábito de assistir televisão na casa dos vizinhos mais abastados, que compreensivamente viam suas salas lotarem como se fossem salas de cinema, com pessoas que queriam usufruir do inusitado.
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A reunião era sempre no final da tarde. Adultos sentados em cadeiras e crianças sentadas no chão. E todos de olhos arregalados e ouvidos bem abertos. Muitas vezes, só víamos vultos e um chuvisco brilhoso, e todos ficavam felizes quando feito relâmpagos aparecia alguma imagem.
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Pois bem, foi numa tarde dessas que seu Mundico e dona Abigail chegaram para a sessão da tarde na casa da Tia Odete. Todos estavam sentados, compenetrados, assistindo a programação vespertina.
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De repente seu Mundico tira a alpargata de couro, põe o dedo fura bolo na boca, e baixinho diz:__não se mexam!!! E caminhando cuidadosamente, entre os espectadores vai até a parede e sapeca a alpargata em cima de uma lagartixa que se esfarela toda diante do riso da criançada, do olhar desolado da Tia Odete e da descoberta tardia do pobre Mundico que só veio saber, que o pequeno animal que ocupava inofensivamente a parede, nada mais era que um simples bibelô, uma peça de decoração que não resistindo às chineladas transformou-se em pequenos cacos esfarelando-se totalmente no chão.
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Às vezes um espetáculo ao vivo e a cores tem muito mais graça do que o apresentado via televisão. Este eu gravei na memória.
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Figura: inet.sitepac.pt/LagartixaLoica.jpg
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

9.11.08

O BAR DO ULISSES - Apresentação

Pela
Equipe do blog
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"Em 1942 Orson Wells esteve no Brasil se divertindo com o que o país tinha de bizarro...."
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"No número 15 da rua Manoel Jacaré, um alemão construiu um lugar agradável, onde exerce a atividade de viver sem prestar muita atenção ao resto do mundo - é o Bar do Ulisses. Na verdade uma confraria de pescadores..."
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"Ulisses resume dizendo que a cerveja é boa se aprovada na cor e clareza; na formação, estabilidade e aderência da espuma; na pureza de odor e de paladar; na encorpadura e no frescor; na intensidade e na característica do amargor. Além da boa cerveja, a conversa é da melhor qualidade e faz respirar satisfação - o passado e o futuro se misturam em lembranças e projetos, descritos com musicalidade e com o entusiasmo próprio da epopéias."...
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São trechos do livro "O Bar do Ulisses - Uma Confraria de Pescadores". Mas isso é só o aperitivo de mais uma grande obra de Marcos Frota.
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O autor: Marcos Frota, natural de Ipueiras-CE, é mestre em Teoria e Comportamento Organizacionais, pela Fundação Getúlio Vargas (EASP-FGV) e autor dos livros: O "Ambiente das Organizações"; "O Senhor do Tempo" e "O Bar do Ulisses - Uma Confraria de Pescadores".
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Nossos agradecimentos ao cronista Bérgson Frota, sobrinho do autor, por nos haver enviado um exemplar desta importante obra literária.

SINGELA HOMENAGEM

Por
Tereza Mourão
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Amigos,

Compareci, em companhia de Benedita Ditosa Mourão e Silvia Silva Mourão, duas ex-alunas ipueirenses da professora Raimunda de Abreu Mattos, à missa em sua intenção no quarto ano de sua partida, celebrada ontem na Igreja de N.S. das Dores no Cruzeiro Velho em Brasília. Ao final da celebração, à saída da igreja, posamos, juntamente com os familiares de D. Raimunda para uma foto que documentou mais um encontro de ipueirenses e amigos de Ipueiras em Brasília.
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Um abraço a todos
Tereza Mourão

Na foto, da esquerda para a direita: Silvia Mourão, Ivan Mattos, Heloisa Helena Mattos, Jean Kleber Mattos, Vanessa Mattos e Benedita Ditosa Mourão. Eu, Tereza Mourão, tirei a foto.

8.11.08

NOSSAS SAUDADES E NOSSAS ESPERANÇAS


Na foto acima vemos Seu Mattos e D. Mundita nos anos 40.

Por
Jean Kleber Mattos
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O Correio Braziliense de hoje traz um quadrinho onde se lê: "Raimunda de Abreu Mattos-quatro anos de saudade-Jean Kleber e familia convidam os amigos para a missa de quatro anos de falecimento de sua querida Mundita, na Igreja de N.S. das Dores, no Cruzeiro Velho, hoje, sábado, às 19 horas." É a nossa maior saudade. D. Raimunda é minha mãe. No próximo dia 11, Sebastião Mattos Sobrinho, o viúvo, meu pai, completará 96 anos. Que chegue aos 100. Que os ultrapasse, pois ainda tem saúde. É nossa esperança. Minhas recordações mais marcantes remontam a atividade deles como donos de escola em Ipueiras, nos anos 50, onde viví até oito anos de idade. Alguns mestres brilham. Alçam-se aos píncaros como notáveis poetas e escritores. Nem todos o conseguem mas quase todos escrevem indeléveis páginas de amor no coração de seus discípulos!
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Na foto acima, o almoço de comemoração dos 95 anos em 2007. Na ala esquerda da mesa vemos Tadeu Fontenele, Socorro Matos, o aniversariante, a sobrinha Fátima e seu marido e o sobrinho Emanuel (de boné).

6.11.08

SOBRE ESCREVER...

Por
Ângela Rodrigues

Há dias tento escrever sobre um determinado tema e o texto não se constrói. As palavras desaparecem. Isso me fez pensar sobre o ato de escrever. O que me faz escrever? O que move meu desejo de construir textos? Percebi que não há uma resposta pronta. Nem uma rotina. As coisas simplesmente acontecem. Já pensei textos que nunca foram para o papel, foram pensados nos lugares mais inusitados e morreram antes de chegarem as minhas mãos. Outros nascem do meio do nada e tomam conta de mim.

Em meus textos sempre está presente o que penso sobre as coisas que vejo e sinto, sou transparente. Aqueles que me lêem sabem de mim, como sou, ou o que estou vivendo. Por isso tenho dificuldades de escrever contos. Arrisco-me, mas custa-me criá-los. Imaginar sentimentos não vividos, dizer das coisas que não vivi, ou daquelas que ainda não senti, é muito complicado. Admiro quem consegue. Eu faço um esforço sobre-humano. Meus textos são costurados com os sentimentos que brotam de mim, onde cada palavra é, antes de tudo, vivida, sentida e vai ganhando vida à medida que escorrem de mim e ganham pernas que as levam para onde a imaginação do leitor permitir.

Quando o papel branco está diante de mim há um chamado mudo da poesia que quer nascer, dos versos gestados em minha alma que pedem para ser paridos. Uns são abortados. Choro por eles, mas não consigo salvá-los. Não tenho controle sobre o que penso. Nem tudo é traduzível, dizível, fica o vazio característico do aborto, mas uma nova gestação logo surge e não tenho mais tempo de pensar nos versos mortos, preciso alimentar os que estão nascendo. Às vezes eles saem muito íntimos, outros um tanto arredios, como se pertencesse a outras mãos, outra alma, outro coração, outra vida.

Gosto de falar de sonhos e amor. Nesse momento as palavras se atropelam, e frases inteiras pulam dos olhos. Nascidas no coração, elas saltam sem pedir licença e vão se amontoando no papel, deixando no ar o suave perfume do amor, ecoam as melodias dos sonhos vividos, dos amores realizados. Sinto-me leve quando falo de amor. É de mim que falo. Do amor que vivo. Do amor que conheço. Dos sonhos que realizei. Minha alma vibra ao compor em versos a história que ela conhece em cada pedaço de mim.

Mas, às vezes as palavras saem doídas, amargas, com gosto de sangue. Machucam a mim e a quem ler. São histórias tristes que conheço e que me pedem para serem contadas. Não gosto de violências – seja qual for à forma em que ela se apresente -, nem de injustiças, mas não me recuso a falar sobre isso. Doem as mãos ao digitar estes registros, ardem os olhos, sangra a alma, mas venço o desafio e escrevo. Não é um texto bonito. Não é gostoso de ler. Desafia a vontade de escrever, turva os olhos, mas sinto que preciso deixar nascer essa forma cruel de dizer que não estou satisfeita, que não me agrada esta ou aquela atitude, termino cansada, mas com certo alívio; é como se tivesse feito uma secção de exorcismo. É como um vulcão em franca erupção, que sai jogando as lavas cheias de palavras doridas, frases sofridas, períodos cheios de pernas compridas que correm do medo. As palavras vão caminhando com a pressa de quem deseja libertar-se, fugir das grades escuras que as aprisionavam.

E quando concluo um texto e o releio, às vezes fico admirada – gosto do resultado; em outras, decepcionada – não era isso que eu queria. Releio-os e encontro meus erros, as pisadas em falso que dei na busca das trilhas corretas, na tentativa de um andar equilibrado. Faço alterações, troco vírgulas por ponto, tiro ou coloco reticências, exclamo onde perguntei, peço a um amigo que leia e corrija e coloco o ponto final. Hora de batizá-lo (outra dificuldade: dar o nome) e entregá-lo ao leitor.

Quando os apresento ao público as reações são as mais variadas: acontece de ser aquele que não gostei o mais lido, e aquele que adorei – às vezes – ser esquecido. Não escapo daquilo que escrevo. Uma vez escrito fico refém das opiniões emitidas. Tenho opiniões que nem sempre agradam a todos e às vezes sou julgada, mal entendida, mas não posso fazer diferente. Quem escreve corre esse risco. Os mal entendidos que alguns fazem, em leituras que às vezes distorcem o que realmente eu queria dizer, faz parte! Procuro resolver numa boa.

Passados os dissabores, entrego-me novamente ao desejo de escrever e deixo eclodir as palavras que desabrocham com o pôr-do-sol e descansam em meu peito para renascer no brilho do luar do mesmo céu que abriga meu coração apaixonado pela vida e pelo amor. Escrever é o maior prazer que minha alma feminina empresta às minhas mãos, e dá de uma vez por todas aos olhos e ao coração dos meus leitores e, em especial, aquele a quem dedico à arte de amar em palavras – depois de viver em plenitude – o amor que há em nós.
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Figura: digiscrappersbrasil.com.br/.../escritora.jpg

Ângela M. Rodrigues de Oliveira P. Gurgel, poetisa, nasceu em Mossoró-RN, tendo vivido em outras cidades do Rio Grande do Norte (Almino Afonso, Caraúbas, Caicó e Natal) e do Pará (Tucuruí e Marabá). Atualmente mora em Mossoró-RN. Graduada em Ciências Sociais, cursa atualmente Filosofia na UERN (Universidade do Estado do RN) e Direito na UnP (Universidade Potiguar). Já exerceu o cargo de Secretária de Educação em Caráubas, onde também foi Diretora de uma escola de Ensino Médio.

2.11.08

RESGATE LITERÁRIO DE IPUEIRAS - I (COSTA MATOS)

NOTA DO BLOG: Iniciamos hoje, atendendo às propostas praticamente simultâneas de Dalinha Catunda e Bérgson Frota, a série "Resgate Literário de Ipueiras", divulgando poesia e prosa de autores renomados ligados à cidade, iniciando com os que se destacaram no passado, surgindo como intelectuais no pré e pós Grande Guerra ou seja, antes e durante os anos 40 e 50 do século XX. Alguns nasceram lá. Outros lá viveram parte importante de sua existência, tendo marcado a cidade com sua contribuição política, social e intelectual. As peças serão numeradas em algarismos romanos e serão intercaladas pelas contribuições de rotina de nossos colaboradores. Abrindo a série vem Costa Matos, seguido de Kideniro Teixeira, Jeremias Catunda, Maurício Moreira, Gerardo Mourão, etc. A sequência obedece à ordem de chegada das contribuições. Os leitores podem enviar peças.

A Vida

Por
José Costa Matos

A vida não dá presentes.
Podemos até:
colher duas estrelas para reacender
os olhos de Jorge Luís Borges;
denunciar a Deus que os povos ricos
riscaram do dicionário
as moedas dos povos pobres;
revitalizar a esperança no milenarismo,
onde os utopistas de tantos séculos
marcam encontros
para falar mal da natureza humana;
entregar Fernando Pessoa à Polícia,
para protegê-lo dos assaltantes de idiossincrasias;
fundar pátrias, com bandeiras
e hinos de arrepios cívicos.
..
A vida não dá presentes.
Podemos até:
governar o Brasil com a Constituição-Artigo-Único
de Capistrano de Abreu;
pintar de saúde
os meninos doentes do Nordeste;
escutar as glórias das velhas prostitutas
do Cais de Santos;
entrar na guerra e salvar dos arranha-céus
as mangueiras de Fortaleza;
vestir a sotaina dos jesuítas
e aldear as lagostas no fundo do mar,
contra os Bandeirantes do Capitalismo aqui-e-agora;
retroagir a Máquina do Tempo
e refazer o mundo
sem a semeadura de pavores
que assustou o nosso Pedro Nava;
levar o Pontífice Paulo II ao Congresso Brasileiro
para testemunhar que os índios não são bichos.
.
Mas a vida não dará presentes.
A plenitude humana
é trabalho de mineração,
com galerias cavadas no Infinito.
______________________________________
Pré-comentário do cronista Bérgson Frota que remeteu a peça:
"Uma incrível poesia de nosso grande poeta e contista ipueirense a nos tocar a alma."

(Foto : mundiverso.files.wordpress.com)

José Costa Matos, poeta, contista e escritor cearense premiado é membro da Academia Cearense de Letras. Nasceu em Ipueiras-Ceará em 1927. É diplomado em economia. Escreveu os livros: “Pirilampos”, “O Sono das Respostas”, “As Viagens”, ”Na Trilha dos Matuiús”, “Estações de Sonetos”, “O Rio Subterrâneo”, “O Povoamento da Solidão”, além de dezenas de contribuições publicadas em periódicos.

1.11.08

OS PARQUES DO INTERIOR

Por
Bérgson Frota


Quem a infância passou em alguma das inúmeras cidades do interior, e não desfrutou uma só vez sequer da alegria de um parque de diversões ?

Nas épocas certas de festas e local, silenciava, fazendo assim com que as músicas da cidade, fossem as de lá escolhidas e tocadas.

Na fantasia artificial que criavam, um tipo novo de relacionamento se dava entre os que passavam a freqüentar comemorações, em Ipueiras, sempre em terrenos baldios, havia um parque. E enquanto este na cidade permanecia, a Vale do Jatobá, amplificadora assiduamente o parque. Era neste ambiente que muitos se conheciam e de amizade criavam laços mais profundos.

Nos intervalos, se costumava ao anunciar a música seguinte, dizer o locutor que : “um tímido rapaz oferecia à moça de laços vermelhos nos cabelos e olhos cativantes por estar ele muito apaixonado”.

Ficavam os ouvintes no suspense, como a esperar o segredo do anônimo a revelar-se, mas nada.

Assim era mantido o mistério e só “ela”, a de laços vermelhos e olhos cativantes, não uma, mas várias, sonhavam ter sido para elas a música dedicada.

Seus freqüentadores também de outras cidades próximas e distritos, para lá se dirigiam e passavam a fazer da cidade e sede do município quando não moradia permanente centro de visitações constantes.

Naquela época os parques já traziam muitas novidades, seja de novos aparelhos como também uma rica iluminação que quase parecia criar uma cidade dentro da mesma onde se instalavam.

Assim, com inovações e modernas atrações, os parques contribuíam de forma indireta no crescimento populacional das cidades interioranas pelo rico e alegre ambiente transitório que criavam.

Diversões e inovações que em pleno século XXI continuam a existir, na eterna vida itinerante, em cada cidade, por curtos períodos. Aproveitando férias e festas, mas quando não, vale o período normal, onde os dias calmos da semana ganham na noite o brilho e a alegria por eles sempre trazidos.

Resistem ao tempo rodas-gigantes, balançadores, carrosséis e canoas, e o fazem como se a preencher nossa imaginação, lembrando nós agora adultos, de quando criança fomos.

(Foto : BXK13401_dsc03192800.jpg)

Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.