Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

26.4.10

AVATAR

Por
José do Vale Pinheiro Feitosa

"Ontem vi o filme Avatar. Hoje estava acabrunhado por tanta divergência com as leituras que fizera antes sobre o mesmo.
Abraços
José do Vale"


1 - Rubrica: religião.
na crença hinduísta, descida de um ser divino à terra, em forma materializada [Particularmente cultuados pelos hindus são Krishna e Rama, avatares do deus Vixnu; os avatares podem assumir a forma humana ou a de um animal.]
2 - processo metamórfico; transformação, mutação


“James Cameron's epic motion picture, Avatar”.
Com tais palavras o site oficial do filme explica a que veio. Com todas as suas metáforas, fantasias, lendas das forjas de Hollywood, o pretensioso se mostra muito aquém (ou além) do resultado. É um filme pipoca, bebe nas águas de Walt Disney, mergulha nos diversos “Guerra nas Estrelas” e emerge, quase faltando o fôlego, com o discurso oficial da sociedade americana. Qual discurso?

Da sociedade e dos governos do hemisfério Norte. As riquezas materiais do território do sul não podem ser exploradas. Tudo aquilo que antes era reserva ao sul do equador, deve permanecer como tal para um futuro uso dos habitantes do Norte. Não é esta a metáfora direta, geraria revolta a sul e quem sabe até ao norte. É a metáfora indireta, aquela que, por travessa, diz o essencial: não toquem nisso que não é de vocês, é nosso.

É a posse “internacional” do território que antes ainda era tido como o inviolável das nações. A Amazônia é deles, o petróleo do pré-sal, também, o que é nosso é o subdesenvolvimento e a pobreza. Vamos olhar para o Avatar James Cameron: numa manifestação, internacional, contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Bem aqui no território nacional, junto a quem de direito e com o espírito, não metafórico, da mídia amiga do imperialismo.

Agora vamos à qualidade do discurso hollywoodiano tanto de Al Gore quanto este recente de Cameron. Aliás, se encontra mais explicitamente no filme 2012, quando o mundo é salvo, com uma arca de Noé moderna, construída para salvar apenas os espécimes do G8. Deve ter sido roteirizado e filmado antes da crise que caiu no colo deles com mais vigor que o argumento do filme.

É um discurso tipicamente de psicologia social, disfarçado de bem comum, para defender a reserva da qualidade de vida das sociedades avançadas, que consomem escalas assombrosas da energia do planeta e dos seus recursos minerais não renováveis e aqueles renováveis. Falam do bem comum com aquele direito de intervir no outro, preservando o seu modo como herança de privilégio.

Ora eles têm que pagar mais pelo que nos tiram. Devem consumir menos do que estragam para que, também, possamos. Precisamos de água limpa, escola decente, saúde coletiva, moradia de qualidade, melhorar enormemente as nossas cidades, articular a malha de transporte numa escala centenas de vez maior do que a de hoje. A metáfora deles corrompe os jovens e vicia os que desistiram das próprias pernas.

O Avatar não é nossa fantasia. É, sobretudo, o processo metamórfico, ou a mutação do discurso imperialista como modo de preparar o futuro exclusivo para eles. E o futuro deles não é tão distante assim. Amanhã virá o segundo capítulo com a exploração dos recursos.


Ilustração:
Site blig.ig.com.br/cinemananet/files/2010/01/avatar_11.jpg
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José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003. Assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura. Colabora no Blog da Cidade do Crato.

25.4.10

MÃOS PATERNAS


Por
Bérgson Frota
Publicado no O Povo em 19.12.2009
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No começo ainda distante vêm-me a lembrança. E lá estava ele, a chamar-me, estirando o braço e dando-me a mão para que juntos, de calção de banho, fôssemos ver a cheia na ponte do rio que naquela manhã chuvosa inundava parte da cidade, e eu medroso apertei-a como um porto seguro e criando coragem fui.
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Depois suas mãos guiavam-me na já antiga máquina de datilografia, corrigia-me, mostrava-me os acentos, como marcar e separar parágrafos, por fim a colocar a fita bicolor vermelha e preta, coisa que não demorei a aprender.
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Corria o tempo e nos quinze anos, seu aperto de mão a parabenizar-me, e um relógio que sonhava ganhar. Suas mãos a conformar-me batendo nas costas de forma branda ensinando paciência quando eu muito precisava.
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Suas mãos levantadas ao alto, agitadas a orgulhar-me, quando discursava nos palanques eleitorais, festivos ou para alguém homenagear. Suas mãos generosas no que sempre precisei, a cuidar para que nada me faltasse.
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Suas mãos agora necessitadas das minhas no seu já frágil e incerto andar. Suas mãos meu Pai, inertes e frias deitadas a descansar para sempre, e só no meu coração sentia sem poder chorar, frias, sem movimento.
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Não as toquei, olhava doído na alma sua partida, e vezes sem conta naquela noite triste e mais longa até agora na minha vida, muito mais que seu rosto eu as fitei.
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Mãos tão queridas, instrumentos abençoados do seu coração.
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Ilustração: obtida do blog
grupos.com.br.\blog\ipueiras\permalink\36934.html onde foi publicada previamente a matéria.

Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

23.4.10

SEU ZECA FROSINO, 23 DE ABRIL DE 2010


Hoje pela manhã, recebí um telefonema da poetisa Dalinha Catunda dando a triste notícia do falecimento de Seu Zeca Frosino, hoje dia 23 ao raiar do dia, no município de Ipueiras, no Ceará. O Blog Suaveolens em homenagem àquele que foi uma lenda viva da animação do lugar, transcreve texto de Dalinha Catunda com a biografia de Seu Zeca, publicado em 01 de julho de 2009 no blog cantinhodadalinha.blogspot.com


ZECA FROSINO, O REI DO FORRÓ


Em 9 de março do ano de 1926, nascia no lugarejo chamado Abílio Martins, interior de Ipueiras, aquele que pode ser chamado, por direito, de nosso rei do forró.José Batista dos Santos, conhecido popularmente como "Zeca Frosino", hoje na cultura cearense é sinônimo de tradição.

Sendo, portanto, parte importante do patrimônio histórico de Ipueiras.Filho de Eufrasino Batista dos Santos e Silvina Maria da Conceição, casado com Dona Maria Cordeiro dos Santos (serrana de fibra), de cuja união nasceram onze filhos, companheira de garra, que sempre acompanhou o marido, ajudando-o nos momentos difíceis, e incentivando-o nas horas dos sonhos.

Há mais de cinquenta anos, com muito sacrifício, porém com muita coragem, teve ele a singela idéia de organizar um forró para animar sua gente. A partir daí, chovendo ou fazendo sol, em todo primeiro sábado de lua cheia, no mês julho, ele faz Ipueiras dançar em ritmo de forró.A sabedoria dos simples deu a ele o poder de reunir numa mesma festa o povo da cidade e as gentes do interior numa perfeita confraternização.

Foi pautado na amizade, na honestidade, e acima de tudo no respeito, que "Zeca Frosino" conquistou uma legião de admiradores e seguidores.Assim, este ipueirense carismático, de alma festiva, digno de nosso respeito e admiração, lenda viva de Ipueiras, deixará em nossa história seu nome e a certeza de que passará de pai para filho a responsabilidade de levar adiante tão importante missão.

22.4.10

ANTÔNIO DE LISBOA MOURÃO - AVENTURA E SOLIDARIEDADE NO PLANALTO CENTRAL

Com Maria Inês, a esposa

(Esta é uma parte da saga do Ipueirense Antonio de Lisboa Mourão, pioneiro na construção de Brasília e já falecido . O texto foi Colhido do Correio Braziliense por Jean Kleber Mattos, em fotocópia e escaneado por Marcondes Rosa de Sousa, filho de Wencery Félix de Sousa, a essa época, ocupando posto em importante ministério, morando na “cidade livre” e ajudando na alocação da força de trabalho dos cearenses, a construir a Novacap, prestou ajuda nesse processo de dar apoio aos “candangos”, em Brasília, tendo convivido com o pioneiro Antonio de Lisboa Mourão. Filho de Wencery, após inaugurada Brasília, passaria eu lá uns tempos, quando a Cidade ganhava feições urbanas e junto aos candangos, em apoio a eles, passaria eu uns tempos participando das cenas descritas por Lisboa).
Marcondes Rosa de Sousa
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Da Série "Pioneiros", publicada faz alguns anos pelo Correio Braziliense.
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VINICIUS NADER
ESPECIAL PARA O CORREIO
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Brasilia surgiu na vida do pioneiro Antonio de Lisboa Mourão como uma fuga da seca que assombrava o Ceará em 1958. Em busca de um lugar onde as perdas não fossem sazonais, ele deixou a cidadezinha de Ipueiras, no interior do estado, e veio para a nova capital federal. Aqui ele começou uma nova vida, deixando para trás a loja de tecidos que tinha com o padrinho e tendo pela frente apenas muita poeira. Junto com dois amigos, José Lima e Gonçalo Miranda, Antonio Mourão resolveu trazer mais gente para Brasília.

O resultado foi que o pioneiro partiu do Ceará depois de organizar um comboio formado por dois caminhões Fenemê (ou FNM) repletos de conterrâneos querendo um emprego na nova capital. “Era um jeito de ajudar quem não tivesse emprego na minha cidade e, ao mesmo tempo, ajudar na construção da capital do meu país, onde eu sabia que estavam precisando de gente disposta a trabalhar”, afirma Antonio. “Como as estradas ainda não eram asfaltadas, a viagem demorou 16 dias. Para não perdermos muito tempo, eu, que era o único solteiro da turma, vim primeiro, de avião”, completa.

Para ajudar os amigos cearenses,Antonio não mediu esforços: foi morar no armazém e bar Maringá, na Cidade Livre (Núcleo Bandeirante), de onde era mais fácil controlar a chegada e partida dos paus-de-arara que vinham e voltavam para o Ceará. Além disso, o clima da cidade também era uma adversidade para aqueles que estavam acostumados a ter sol o ano todo. “O frio e a chuva eram, na cidade, eram muito grandes. As plantas ficavam cobertas de gelo (granizo) e tínhamos que andar sempre de botas por causa da lama que a chuva causava”, conta o pioneiro. Dessa forma, Antonio acabou se tornando uma espécie de agente de empregos de cerca de dois mil conterrâneos. “Eu ia de construtora em construtora verificando de quais especialidades eles estavam precisando mais. Se era pedreiro, mestre-de-obras, marceneiro ou outras coisas. Assim, quando os caminhões chegaram já estava tudo mais ou menos encaminhado”, afirma o pioneiro.

Saudade
A saudade era tanta que às vezes a vontade que Antonio tinha era de chorar, mas nunca de desistir de Brasília e voltar para Ipueiras.
O jeito era escrever cartas e visitar a terra natal pelo menos vezes ao ano para aliviar a que sentia de sua família. Os outros pioneiros que vieram com Antonio também tinham muitas saudades do Ceará, mas vários deles não sabiam escrever “Quando eu chegava ao alojamento era uma festa, Tinha que fazer carta de toda espécie, de amor, de tristeza, de tudo. Tinha até que apaziguar brigas de colegas”, lembra, com ares paternais. Antonio destaca a evolução que esses trabalhadores que ele trouxe para cá tiveram: “os operários chegavam subnutridos, fracos e, em poucos meses, já havia uma mudança e eles estavam mais corados e fortes por causa do trabalho braçal intenso”

Apesar de ser hoje um grande entusiasta de Brasília, nem sempre o pioneiro acreditou na eficiência da interiorização da capital. Tanto que ele não foi um dos eleitores de Juscelino Kubitschek, que um dia ficou sabendo disso: “Era aniversário dele e muita gente da cidade queria cumprimentá-lo. Ele e dona Sara formaram una fila para poderem receber as congratulações. Eu e cinco amigos entramos na fila e quando chegou a minha vez um deles falou para o presidente que eu nem havia votado nele nas eleições”, conta o pioneiro, que não perdeu o rebolado diante da saia justa “Disse ao presidente que realmente tinha votado no marechal Juarez Távora, e ele, como grande estadista que era, me disse que minha opção era acertada porque o marechal era um grande brasileiro. Saímos de lá todos juscelinistas”, completa.Até 1960, Antonio morou onde hoje é o Núcleo Bandeirante.

“Brasília era a Cidade Livre. O Plano Piloto não tinha nada ainda. Era incrível ver o monte de terra formado pela construção da rodoviária. Era do tamanho do Conjunto Nacional”, exagera. Como as obras não estavam prontas, os carteiros e os próprios trabalhadores sofriam com os endereços da nova capital. Por isso, os prédios acabavam ganhando “apelidos” antes de serem inaugurados. “O anexo do Congresso Nacional era chamado de 28 por causa do número de andares, os ministérios eram os prédios de ferro, e a rodoviária, o viaduto da Rabello”, exemplifica.
“BRASILIA ERA A CIDADE LIVRE. O PLANO PILOTO NÃO TINHA NADA AINDA. ERA INCRÍVEL VER O MONTE DE TERRA FORMADO PELA CONSTRUÇÃO DA RODOVIÁRIA. ERA DO TAMANHO DO CONJUNTO NACIONAL”
Mudança
A mudança da Cidade Livre para Taguatinga se deu por motivos de amor. “A Cidade Livre era uma bagunça, com mercados a céu aberto e os produtos expostos no chão mesmo. Minha noiva, que morava no Rio de Janeiro, não gostava e me avisou que para lá ela não iria”, conta o pioneiro, que, por não ter condições de ter uma casa no Plano Piloto, acabou optando por Taguatinga. “Dona Sara Kubitschek falava que Taguatinga seria uma cidade dormitório, mas eu via nela uma grande possibilidade de progresso”, afirma. Vontade da noiva, Maria Inês, feita, o casamento já podia ser marcado e a festa foi no Rio de Janeiro. Para se manter, o pioneiro virou empresário e montou um armazém de secos e molhados para fornecer às indústrias que começavam a aparecer pela nova capital. “Era tudo mais difícil em Taguatinga. A água era puxada de bomba, e a luz, de gambiarra”, conta.

O entusiasmo de Antonio com a satélite era tão grande que ele chegou a estar à frente do programa de rádio transmitido pela Rádio Planalto. “Era uma espécie de programa que tem de tudo, desde calouros até reportagens com prestação de serviços”, explica, acrescentando que só faltava mesmo o progresso do título. Mas com o tempo, o progresso veio não só para Taguatinga como para Brasília como um todo. E hoje as lembranças só fazem encher Antonio de orgulho e felicidade.

“Considero todas as pessoas que nasceram em Brasília meus netos porque a cidade é como se fosse minha filha mais velha”, afirma o orgulhoso pioneiro.

Raio X
Nome: Antonio de Lisboa Mourão

Origem: Ipueiras, Ceará

Ano de chegada a Brasília: 1958

Profissão: Comerciante aposentado

Filhos: Tânia Maria, Sandra Maria, Vanda Maria e Antonio Diuk.
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Netos: Clara, Pedro e Indira.

21.4.10

BRASÍLIA (UMA CINQUENTONA QUE ME CONQUISTOU)

Por
Dalinha Catunda

Sou do Ceará, acostumada com muito céu e muito chão, tudo isso encontrei em Brasília para encanto dos meus olhos.

Bem instalada, no apartamento de Tereza Mourão, uma lua imensa, cheia de magia, transpassava a vidraça iluminando o ambiente, numa penumbra natural.

As Paineiras floridas desabrocharam salpicando o chão de pétalas para que eu embevecida pudesse passar, as nuvens se esconderam e a cidade me presenteou com o céu azul mais maravilhoso que eu já pude ver em toda minha vida.

A falta de umidade respeitosamente não apareceu, para meu conforto. Eu não teria palavras para traduzir a beleza do que é um passeio de veleiro ao cair da tarde no Lago Paranoá. Ver o sol se esconder, a beleza do escarlate em suas nuances até sumir de vez preparando o espaço para o brilho soberano de uma lua cheia de encanto cercada de intermitentes estrelas.

O Verde das árvores, o azul do céu em contraste com a arquitetura dessa cidade planejada é simplesmente majestoso. Nem me fez falta a falta de esquinas! Os monumentos realmente me encantaram.

Estou falando de uma Brasília que vi e senti por mais de uma vez e me encantei. Não daquela Brasília que aparece sendo covardemente ridicularizada na televisão.

Hoje gostaria de parabenizar essa bela cinquentona que me conquistou e parabenizar também meus amigos nordestinos que fizeram de Brasília seu segundo lar e que me acolhem com tanto carinho.
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Ilustração:site cet.unb.br\portal\images\stories\bsb.jpg
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).
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NOTA DO BLOG: Hoje é o dia do aniversário de Brasília.

20.4.10

LADY LAURA, 17 DE ABRIL DE 2010

Por
Jean Kleber Mattos
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A mãe do cantor Roberto Carlos, D. Laura Moreira Braga, aos 96 anos, fez a passagem neste sábado, dia 17 de abril de 2010, às 18h20min, no Hospital Copa D´Or no Rio de Janeiro, por complicações do aparelho respiratório. O fato se deu dois dias antes do aniversário do cantor, que completou 69 anos a 19 de abril.
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Uma vida longa a de D. Laura, considerando a atual expectativa de vida da mulher brasileira.
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Ao ver a fotos nos jornais de hoje, dia 20 de abril, mostrando o cantor abatido apoiado no caixão branco da mãe, compartilhei sua dor, que é imensa. Todos nós que perdemos a mãe sabemos disso.
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Dona Laura ficou imortalizada, como diz a imprensa, pela bela canção "Lady Laura", que Roberto Carlos interpreta em sua homenagem com brilhantismo.
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Essa canção, que acho linda, foi uma das que embalaram minha geração (tenho 65 anos).
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Após a primeira audição da música, D. Laura ficou sendo a mãe encantada de todos nós, os fãs de Roberto.
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Com a passagem de D. Laura, mais um pouco de nosso sonho de juventude se esvai. Ela era um dos símbolos de nossa experiência de juventude. Era a mãe do rei. Mais um símbolo da beleza que conseguiamos construir naqueles tempos.
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Desta forma, é natural que eu tenha chorado ao saber de sua passagem.
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Para quem não lembra, os versos são esses:

LADY LAURA
Autor: Roberto Carlos
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Tenho às vezes vontade de ser
Novamente um menino
E na hora do meu desespero
Gritar por você
*
Te pedir que me abrace
E me leve de volta pra casa
Que me conte uma história bonita
E me faça dormir
*
Só queria ouvir sua voz
Me dizendo sorrindo:
Aproveite o seu tempo
Você ainda é um menino
*
Apesar da distância e do tempo
Eu não posso esconder
Tudo isso eu às vezes preciso
Escutar de você
*
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me conte uma história
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
*
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me abrace forte
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
*
Quantas vezes me sinto perdido
No meio da noite
Com problemas e angústias
Que só gente grande é que tem
*
Me afagando os cabelos
Você certamente diria:
Amanhã de manhã
Você vai se sair muito bem
*
Quando eu era criança
Podia chorar nos seus braços
E ouvir tanta coisa bonita
Na minha aflição
*
Nos momentos alegres
Sentado ao seu lado sorria
E nas horas difíceis podia
Apertar sua mão
*
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me conte uma história
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
*
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me abrace forte
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
*
Tenho às vezes vontade
De ser novamente um menino
Muito embora você sempre ache
Que eu ainda sou
*
Toda vez que te abraço
E te beijo sem nada dizer
Você diz tudo que eu preciso
Escutar de você
*
Lady Laura, me leve pra casa
Lady Laura, me conte uma história
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura
*
Lady Laura, me abrace forte
Lady Laura, me faça dormir
Lady Laura, me beije outra vez
Lady Laura,
*
Lady Laura, Lady Laura, Lady Laura,
Lady Laura, Lady, Lady, Lady Laura, Lady Laura
..
... .
FOTO: site contigo.abril.com.br/imagem/as10coisas/roberto-carlos/roberto-carlos-10.jpg
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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

17.4.10

FORTALEZA, MINHA METRÓPOLE DE LUZ

Por Bérgson Frota
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O Povo - 17 Abr 2010 (Jornal do Leitor)

Fortaleza, minha metrópole de luz.

Terra da luz imaculada pelo sol que te banha e pela lua que te faz mais bela, pérola de todo cearense que te deixou, mas sempre regressa, tu és Fortaleza, neste teu aniversário a mais bela cidade do mundo, pois o sentimento brota do coração e como eu cearense negar que sejas tu e não outra a mais bela cidade do mundo?

À noite tu nos lembras o céu sem lua.

Todo iluminado por estrelas, teus edifícios e torres parecem árvores natalinas a piscar permanentes.

Tuas praias brilhantes e naturais colhem a espuma dos vagalhões como um beijo de gratidão do mar, do verde mar que tanto te ama e encanta quem o ver.

No teu aniversário terra de Alencar e de Rachel, longe nas brumas do imaginário os tabajaras cantam teu nascimento na melodia tribal como a dizer ser teu berço.

Como não te amar com tuas tão belas e naturais paisagens.

Recebe dos cearenses a homenagem do teu aniversário, pois o coração de todo Moacir bate em uníssono este festejo.

Parabéns, Cidade Maravilhosa.

Parabéns, minha bela e grandiosa Fortaleza.
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NOTA DO BLOG: No dia 13 de abril de 2010, a cidade de Fortaleza completou 284 anos de fundação.
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

13.4.10

PADRE GERALDO OLIVEIRA LIMA

AMIGOS, ONTEM À NOITE DIA 12 DE ABRIL DE 2010, NA "CASA DO CEARÁ" EM BRASÍLIA, OCORREU A NOITE DE AUTÓGRAFOS DO LIVRO: "MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS-OBRA TRANSCEDENTAL E FILOSÓFICA", DE PADRE GERALDO OLIVEIRA LIMA, CONHECIDO PELOS AMIGOS COMO PADRE GERALDINHO, E QUE TEVE GRANDE PARTE DE SUA MISSÃO EXERCIDA NA REGIÃO DE IPUEIRAS-NOVA RUSSAS-CRATEÚS. PRESENTES, FAMILIARES E PARENTES E NUMEROSO CONTINGENTE DE CONTERRÂNEOS DA REGIÃO EM APRÊÇO. NA FOTO, DA ESQUERDA PARA A DIREITA, HELOISA MATTOS, D. FRANCISCA LIMA (IRMÃ DO ESCRITOR, FILHA DE "SEU" DÃO E D.EDITE), JEAN KLEBER E Pe.GERALDO OLIVEIRA LIMA.

ASPECTO GERAL DO SALÃO DA "CASA DO CEARÁ", AO MOMENTO DA PRELEÇÃO DE PADRE GERALDO.

12.4.10

A VIRTUDE DA CONTRADIÇÃO

Por
José do Vale Pinheiro Feitosa

As instituições milenares sofrem, na atualidade, contradições tremendas. Especialmente a matriz institucional das religiões. A abordagem histórica de tais contradições é freqüente e existe uma vasta literatura sobre tal coisa.

De modo geral, desde o fim das tribos, dos poderes arraigados na posse da terra e, a partir do predomínio dos burgos, que se instalou uma confusão tremenda nos pilares temporais das instituições que se julgavam atemporais. O primeiro sinal disso foi a percepção do arcaísmo de suas manifestações mais evidentes. Ao por tais manifestações na égide do antiquado, fatalmente seus pilares se viram como marcas do tempo.

Valores morais das regras centrais se oxidaram como tudo que se expõe à “poeira” do tempo. Isso não se deu de repente, a evidência do poder temporal, em transformação histórica, já estava na raiz da Reforma, em Henrique VIII e na “neo-inquisição” da Península Ibérica na era do mercantilismo. Inquisição assentada no poder dos comerciantes, da fidalguia e do rei. A igreja de cada país é mais extensão para os poderes locais do que matriz da política que a envolvia.

Tal qual como no Budismo, Hinduísmo, Xintoísmo e Islamismo. Na escala da própria história dos povos sob influência de cada uma delas. A matriz da transformação atual é maior e diferente de tudo o mais do passado. E muito mais se apresentará ao longo dos próximos anos e séculos.

Se tomarmos os conceitos como referência, próprio conteúdo dos substantivos, em si mesmo, se encontra sob enorme pressão de mudança. Os substantivos que tantas acepções, inclusive de sentido figurativo, já lhes fora ajuntada, passaram até a sofrer mudanças de dentro para fora.

Tomando como exemplo o catolicismo, cujo esteio maior, de ordem moral, se encontra no substantivo virtude. Que, aliás, é feminino e já fora adensado desde a civilização grega, tanto no aristotelismo, como no epicurismo e no cristianismo agostinista compreendendo que a virtude da essência humana era a disposição para o amor.

Tomemos esta virtude em rápida transformação de dentro para fora, até mostrar as crostas da ferrugem ou o zinabre na superfície. A virtude da proteção à criança, do cuidado a sua integridade física e psíquica. E tome a questão da pedofilia no interior da igreja católica. Onde se encontra a virtude? Em algo maleável, adaptado à proteção do patrimônio material da instituição e ao cinto de segurança do corporativismo institucional.

Qual a virtude do então cardeal Ratzinger ao proteger o Padre Stephen Kiesle, da Diocese de Oakland, acusado de amarrar e molestar dois meninos na casa paroquial? A virtude em diluição: escudar o “bem da igreja” como alternativa ou a virtude da misericórdia tão cara ao próprio cristianismo de modo em geral?

Os católicos há muito, no mínimo desde a Encíclica Rerum Novarum de Leão XIII e da Mater et Magistra de João XXIII, sabem que o mundo se encontra em transformação e que a Igreja se tornou parte do momento histórico como ente político. Quando o Papa Bento XVI foi à África e condenou o sexo fora do casamento e por tabela o uso do preservativo, muito mais do que uma virtude moral, pôs o dedo sobre uma virtude cultural e de saúde pública. Fatalmente o substantivo virtude estava sobre a contradição de forças sociais e, portanto, política.

Foto:
site: www. snpcultura.org/vol_concilio_vaticano_ii_memorias_de_um_tempo_novo.html


José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003. Assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura. Colabora no Blog da Cidade do Crato.

11.4.10

FAZER BONITO



Por
Marcondes Rosa de Sousa

A propósito da discussão do "desencontro, entre nós, da educação e da cultura", procurei o artigo abaixo "Fazer bonito". Pensei tê-lo perdido. Encontrei-o, na Web, publicado, no Jornal Folha Popular, de Palmas, em Tocantins, na data de hoje!...( 10:27 @ 09/03/2006).
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''Perda de tempo'' - cheguei a pensar, lhes confesso! Jamais imaginei que história tão trivial me levaria a reflexão tão insistente sobre a formação dos ''profissionais, cidadãos e pessoas'', em nossas escolas.
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Simples a tarefa, rezava o convite: compor júri, naquela final de semana (a do folclore), num concurso aberto a alunos da escola pública e particular, onde equipes deveriam construir mais arraias a serem postas no ar. Organizavam e dirigiam o evento, pessoas ligadas às áreas de ''educação'' e de ''arte e cultura''. .
Ao longo da feitura das pipas pelas equipes, sentia eu a presença de ''duas culturas'' em oposição. A dos professores exigia aos alunos ''atenção'', ''silêncio'', ''seriedade'' e ''trabalho''.
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A dos artistas, em contraponto, sugeria às equipes ''desconcentração'', ''cochicho entre os do grupo'', ''aprender com os outros", ''sorrisos'', ''brincadeira'', enfim. Hora da merenda. Silêncio, fila, cada um a receber seu quinhão - era a palavra-de-ordem de professora. Ao longo da fila, o sussurro dos artistas: sem atropelos, cada um, na mesa, pegando seu lanche. Final da manhã. Sob dourado sol a pino, os papagaios projetam-se rumo ao azul dos céus. Curioso, lá foram ficando, mais numerosos, os produzidos em clima lúdico e cooperativo, onde sensibilidade estética e intuição se deram as mãos. .

Na hora dos prêmios, falei da moral desta história: técnica e saber vão melhor tendo por pilastras a solidariedade e o senso estético. Dias depois, em reunião nacional, falava eu dessa lição na construção das ''competências básicas'' hoje, em nossa educação. Aí, dei pela voz em eco de minha mãe, analfabeta quase. ''Serviço porco'', jamais! A ordem era ''fazer bonito''. Um ''bonito'' longe do ''fazer feio'', a irmanar o belo e o bem (o estético e o ético) na construção do trabalho e da vida, como em nosso imaginário popular.
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Ilustração original da primeira publicação: site www. grupos.com.br\images\blog\4\162214\aquarela-gaivota.JPG
Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

10.4.10

DE MARAVILHOSA A CALAMITOSA

Por
Dalinha Catunda

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As nuvens desabaram
Inundando todo chão
A cidade maravilhosa
Virou caos e confusão
Nunca vi tanta enchente
Levando casa e gente,
E causando destruição.
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O caos invade a cidade,
Trazendo a devastação.
A tragédia assola o Rio,
Cidade de São Sebastião.
E a cidade maravilhosa
Tornou-se calamitosa,
Quem padece é a população.
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E triste ver a desgraça
Massacrando tanta gente.
No Sudeste tanta água
E no Nordeste diferente.
Falta chuva no Nordeste,
Água no Rio virou peste,
Devastação e enchente.
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“Desgraça pouca é bobagem,”
Ainda temos que padecer.
Com políticos oportunistas,
Que só querem aparecer:
-“Com minha casa minha vida
“A problemática tá resolvida,”
Ouvi um maioral dizer.
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Muitos já não precisam,
De casas para morar.
Sete palmos é o suficiente.
Para os mortos enterrar,
Chorar e abraçar família,
Isso é pura demagogia,
Mas de político é peculiar.
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Nas manchetes dos jornais,
Ou mesmo na televisão,
Cada imagem mostrada,
É de enternecer coração.
Que Deus tenha piedade,
Do povo desta cidade,
Cidade de São Sebastião.

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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

3.4.10

UMA PÁSCOA MAIS ESPIRITUALIZADA

Por
Bérgson Frota

A Páscoa é um período de grande festejo para os cristãos. Durante uma semana rememoramos a vida, morte e ressurreição de Cristo.

Como toda comemoração, existe junto hoje uma comercialização muito grande da data, fato que desvirtua um pouco o espírito da mesma, e o lucro muito prepondera sobre a religião.

Façamos nós uma Páscoa mais espiritualizada, uma Páscoa mais mística, relembrando os ensinamentos de Cristo e os praticando.

O Salvador que veio para nos libertar deixou-nos seu exemplo de vida, deixou ensinamentos e esperança, normas santas e aplicáveis, cabe a nós pôr em prática estas dádivas espirituais e tornar nosso mundo melhor.

Amor e caridade, fé, perdão e esperança.

Daquela cruz há dois mil anos atrás, em suas últimas palavras ele disse : Pai perdoai-lhes pois não sabem o que fazem.

Lembremos e saudemos com o coração esta frase que ecoa forte até hoje, e conscientes tornemo-nos menos comercial e mais espiritual esta data que acima de tudo nos atesta uma futura redenção e ressurreição para toda humanidade.

Que a morada do Pai esteja aberta a todos, e que ricos e pobres, pecadores ou não, possam um dia herdá-la.

Jesus ressuscitou.
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Uma feliz Páscoa para todos.
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O Povo 03.04.2010 -Fortaleza-Ce.
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

2.4.10

SEMANA SANTA

Por
José do Vale Pinheiro Feitosa

A Semana Santa não é a mesma no tempo e entre as pessoas.

Para os católicos fieis se passa como um ritual religioso especial, o principal, talvez, de sua religião, a religião do Cristo. Ou seja, daquele que foi crucificado. Este é o momento em que o sacrifício, como que uma imolação tão cara ao mundo oriental, de Jesus ao Pai traduz o centro da liturgia da Santa Missa.

Diria que apenas para as camadas populares mais pobres, para o clero e para aquelas pessoas muito ligadas ao dia-a-dia da igreja, esta é, efetivamente, uma semana tipicamente religiosa. Para as pessoas mais abastadas e apenas partícipes de algumas missas dominicais, a semana santa é mesmo um feriado e um dia especial na mesa do cotidiano.

Haveria um elo entre uma situação e outra, além do feriado? É muito difícil dizer, apesar dos noticiários e dos relatos de missas, procissões e autos teatrais repetindo o sacrifício. Este certamente funciona como um pano de fundo seja na TV, no Rádio ou nos jornais, sem contar as eventuais manifestações nas ruas. Nas ruas centrais, pois em grandes aglomerados nem isso se percebe.

Como dizia: apenas pano de fundo, pois o que rola mesmo é o feriado, a mesa especial à base de peixe, a praia no litoral, o açude nos sertões, os bares, as praças e os shoppings. Ao invés da lembrança do sacrifício, o que se vê é o alívio da danação do trabalho e dos deveres escolares para os jovens. Nada por fazer, a não ser os grilhões que ainda se fixam nas paredes sobre a escravidão da mulher em sua domesticidade cultural.

Quando interiorano, ao invés deste computador e sua tela escrita, íamos para os sertões. Mais para o interior ainda, então vivia num sítio nos arredores da cidade do Crato no Ceará. A lembrança que restou, aquela que selecionei é da umidade do terreno, o intenso verde a preencher os buracos da caatinga, as flores, a cantoria alegre dos pássaros em plena nidificação. As crianças de alçapão e do visgo já sabiam: na semana santa não se pode aprisionar os pássaros, eles morrem.

A lagoa e o açude eram de energia jamais encontrada na minha vida, nem nas mais alegres praias. Nadando com meu pai, os tios e amigos. O mergulho que me remetia para a profundidade da vida, para um mundo que existe abaixo e ao qual desconheço. Ir lá embaixo e beber a água mais fresca que refrigerador nenhum já me deu. Os insetos na superfície da água, o cágado que se morder o pé de alguém apenas solta com trovão de estalo. A galinha d´água e o tetéu no breu da noite anunciando a coleção de água em que se encontra.

Jerimum, maxixe, muito queijo, feijão verde, leite, coalhada, milho verde e cuscuz de milho novo uma coleção de sabores de semana santa. De sertão renascendo, pipocando vida em cada brecha, a cada loca de pedra, em minúsculos túneis, no arrasto do chão. A semana da vida. Experiência introspectiva extrema junto a mais exuberante que o sertão conseguia de extroversão. Por isso nunca me separo do extrorso pelo qual o pólen se volta para o externo a mim.



José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003. Assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura. Colabora no Blog da Cidade do Crato.

1.4.10

A MENTIRA


Por
Dalinha Catunda

Quem traz a verdade plena
Registrada em sua vida?
Se o que hoje é verdade
Amanhã será mentira.

Quem diz que nunca mentiu,
Eu digo que é pura mentira!
Até para praticar o bem
Pregamos boas mentiras.

A mentira não é a vilã
Que muita gente apregoa.
Muitas vezes nos faz feliz,
Nem sempre ela magoa.

A verdade é uma mentira
Pois perde sua validade.
A mentira certamente
É a mais pura verdade.


Texto:Dalinha Catunda
Imagem: site fotos imagensporfavor.com/.../mentira-11085.jpg
NOTA DO BLOG: Comemorando mais um Dia da Mentira neste 01 de abril de 2010.