Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

31.10.07

VELHA CARNAUBEIRA

Por
Dalinha Catunda
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Minha velha carnaubeira,
Que se embala ao vento,
Batendo palmas te vejo,
E viajo em pensamento.
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Tua cantiga me traz
Saudades da minha rua,
Detrás de tua folhagem
Mais bela nascia a lua.

Teu fruto me atraia,
Chamando-me atenção.
Quando maduro caia,
Caído, apanhava do chão.

Aquilo era feito uva
P'ra menina do sertão,
Que degustava feliz,
Os sabores da região.

No meu cavalo de pau,
Quantas vezes montava
Com o talo da carnaúba
Habilmente eu fabricava.

Hoje te vejo solitária,
Sem perder tua beleza.
Tomara que te preservem.
Para o bem da natureza.
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Quero ver multiplicada,
Essa tua escassa família.
Que vem perdendo espaço
Enquanto perco alegria.

Escutei tua cantiga,
Teu fruto alegre comi
Pelas ruas da cidade
No meu cavalo corri.
.
Minha velha carnaubeira,
Companheira de infância.
Na cidade de Ipueiras
Alegraste uma criança.
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Foto de carnaubeiras: www.secult.ce.gov.br/.../simboloshinos.asp
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – POETISA, ESCRITORA E CORDELISTA. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio:
http://www.cantinhodadalinha.blogspot.com/

30.10.07

EX ISSO OU AQUILO

Por
Marcondes Rosa de Sousa

Três cenas a exalar esperanças. Duas, dias atrás. Hoje à noite, a final. De início, café-da-manhã, orquestrado por Clóvis Catunda, entre professores e pensionistas aposentados da UFC (hoje uns 800). Pauta, a angústia de todos por se mostrarem úteis, pelo abraço produtivo, na sociedade, entre "cabeças" (os intelectuais), "mãos" (os gestores) e o "tato" (os políticos).
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Isso, em meio ao clima geral de um "cansei" de ser apenas um "ex isso ou aquilo". Dias depois, sessão solene da Assembléia Legislativa, a comemorar os 39 anos da Universidade Vale do Acaraú. O mundo acadêmico, social e político, ali a louvar a interiorização universitária pelo Ceará, outras regiões do País e da África, feita pela UVA, em muito com a colaboração de aposentados, quando ali ressaltamos o empenho de cabeças, tato e mãos de todos nós em tal jornada.
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Hoje à noite, na sede da Fiec, a terceira cena esperada. Quando ali se empossa, no Projeto Rondon /Ce, o deputado José Teodoro Soares , acolitado por acreditados atores. Num Rondon que, desde os 60', vem integrando regiões, saberes do mundo acadêmico, mas que, doravante, quer ir além, no esforço social mais amplo da integração de "cabeças", "mãos" e "tato", hoje a se atropelarem no infantil balbucio dos anacolutos.
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A Federação das Indústrias, mais que símbolo, já reconhece a indústria para além das chaminés, aí tendo assento as do conhecimento. E o gesto de hoje passa a ter pragmático apelo: o de que, entre nosso mundo intelectual, o da gestão (pública e privada) e o do político, celebre-se pacto duradouro e histórico, em torno da "responsabilidade social", a se pensar lei, no País, além da fiscal.
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Possível, sim, a partir do Ceará, terra onde o sol libertário sempre nasceu mais cedo. Que professores de outras esferas (pública e privada) juntem-se nesta corrente!

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Crônica originalmente publicada no jornal O Povo de Fortaleza-CE em 29/10/2007
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Foto das comendas: http://www.jbcultura.com.br/cafe/lorenam.jpg
Foto de passeata de aposentados em Berlim:
http://www.dw-world.de/image/0,,1943078_4,00.jpg
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

26.10.07

SEU GUARANI, UMA SAUDADE


Por
Jean Kleber Mattos

Meu pai tinha um amigo que morava na serra próxima a Ipueiras. A serra fazia parte do complexo da Ibiapaba. Quando descia à Ipueiras, seu ponto principal era o bar de seu Guarani onde bebia e bebia como se comemorasse uma vitória. Uma vez ébrio, com o bar cheio de gente, tirava do bolso um maço de notas e as atirava para o alto dizendo: “eu tenho dinheiro !”.

Seu Guarani então tomava as providências. Não deixava ninguém pegar qualquer nota. Juntava-as todas e as enviava ao meu pai por um mensageiro ocasional, pois sabia que a próxima parada do ébrio cidadão seria a minha casa. Meu pai esperava pacientemente a volta do amigo à sobriedade para então entregar-lhe o dinheiro.

Seu Guarani era um dos esteios da decência naquela cidade. Como disse eu no dia do anúncio de seu desencarne: "seu" Guaraní tem mesma idade de meu pai, "seu" Matos. Contemporâneos. O seu estabelecimento era o grande bar da cidade que para mim, na minha infância, era o castelo dos doces e refrescos. Meu pai lhe tinha especial amizade e sobretudo ressaltava para nós o bom humor de seu Guarani. Um grande Ipueirense. Uma saudade.”

Lembro-me de um dia em lá chegando ainda criança, certamente para comprar bolachas ou outro artigo a mando de meu pai, vi o telegrafista da cidade saboreando um daqueles doces de leite de fabricação caseira, clarinho. Daqueles de textura “arenosa”. Impossível não olhar. O homem, citadino e cheio de maneiras que era, viu meu olhar e educadamente perguntou, como se dizia naqueles tempos: “é servido?”.“Não, obrigado!”, respondi, conforme minha mãe me ensinara.

Todos freqüentavam o bar de seu Guarani. Roceiros e intelectuais marcavam presença. Era um dos redutos mais democráticos depois da Igreja. Homem de poucas letras, demostrava uma inteligência ímpar e um bom humor elogiados por todos. Histórias sobre suas respostas espirituosas fazem hoje parte do acervo de casos históricos da cidade.

Do discurso obituário de sua filha Socorro ("Corrinha") na missa de requiem, publicado por Marcondes Rosa no “Grupo Ipueiras”, destaco os trechos que mais me tocaram:

“Meu pai ( .... ) era de uma franqueza admirável. Sua pedagogia como pai era a escola da verdade e da honestidade. Respeitava o sofrimento alheio, fazia contribuições generosas e discretas, como era de seu jeito. Suas qualidades humanas só podiam ser mais apreciadas por inteiro em casa. Enfim , um ser compreensivo, tolerante, amigo, humilde, encorajador e sempre lembrado, como um grande conselheiro, nos momentos difíceis na política, no comércio ou mesmo na agricultura. Sua morte causou um grau de emoção em toda cidade, incomum na despedida de uma homem de idade tão avançada”.
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E, afinal, o fecho mais comovente a respeito dos amigos que ainda por aqui ficam e o veneram; “Ser amigo do papai... já é, para nós, um pedaço dele”. Frase semelhante escrevi meses passados, sobre o desencarne de minha mãe, Dona Mundita, em 2004, ao reencontrar Marcondes, Solange, Walmir, Frota Neto, Darci, Silvia e Carmem Mourão, entre outros que dela foram alunos:
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“ Um pouco dela em cada um”...
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Foto 1. Lado da antiga Praça Getúlio Vargas, onde funcionava o bar de "seu" Guarani. Hoje destaca-se a histórica Farmácia São José fundada nos anos 20 do século XX por "seu" Idálio.
Foto 2. "Seu" Guaraní: acervo da família.
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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente doutor em fitopatologia, é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

23.10.07

Uma vez por semana, uma vez a cada quinze dias ou uma vez por mês?

Por
Lin Chau Ming

Acontece com todos, homens e mulheres, jovens e outros não tão jovens assim. E quem não ficou totalmente nervoso e excitado quando teve essa experiência pela primeira vez?
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Em uma pesquisa realizada em nível mundial, deu Grécia na cabeça, ou melhor, na cama. Sim, os casais daquele país dos Bálcãs são os campeões de freqüência do ato sexual. Nós estamos um pouco atrás, mas bem na frente dos japoneses, que parecem que não gostam muito daquilo. Outros preferem comer chocolate, há gosto para tudo..
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Mas o que quase todos gostam, e muito, é receber o salário. Bom ter aquele dinheirinho, suado, ganho com o esforço do dia a dia, físico ou intelectual. E poder fazer o que quiser com ele, principalmente, pagar as contas.
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Minha excitação, sim, foi enorme quando recebi pela primeira vez um envelope com o meu salário. Era coisa pouca, menos que um salário mínimo da época, não me lembro quanto que era, afinal, tinha meus 13 ou 14 anos apenas; já se passou muito tempo. Trabalhava como auxiliar de serviços gerais em uma fábrica de camisas.
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Depois de um tempo, encarei uma de office-boy e então, finalmente, uma promoção, auxiliar de escritório. O salário vinha todo o mês, religiosamente. Aprendi a dar valor ao dinheiro, ao salário, desde jovem, tinha que ajudar na casa, perdera meu pai havia pouco tempo.
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Fiquei trabalhando em escritório até às vésperas do vestibular, o meu primeiro também (e único, na época, ainda bem). Depois disso, trabalhei em outras atividades, em Piracicaba, como auxiliar de desenhista de publicidade, até abrir, numa iniciativa empreendedora, minha própria agência de publicidade.
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Pouca gente sabe, mas eu me enveredei na área de desenho publicitário e de cartoons enquanto estudava Agronomia e, pasmem, após formado, nunca mais peguei em um pincel ou lápis de desenho. Uma mudança radical, de um dia para o outro, que nem eu consigo explicar.
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A minha empresa (na verdade, era no meu quarto na Casa do Estudante Universitário, onde morava), como a grande maioria das pequenas empresas, hoje, não durou um ano. Poucos meses depois, após realizar apenas três serviços, tive que fechar, por falta de pedidos. Mas o dinheiro ganho me permitiu comprar uma moto nova, de 125 cilindradas. Um bom começo, devo reconhecer.
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Segui em outra atividade, desta vez acadêmica. Tinha uma bolsa de Iniciação Científica, do CNPq, que vinha todo o mês. Isso me garantiu o sustento para concluir o curso.
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Agora, também do CNPq, recebo minha bolsa de pós-doutorado. Porém, diferentemente da bolsa de PIBIC, recebo o valor acumulado de três em três meses, sendo que o primeiro pagamento ocorreu quase depois de um mês de minha chegada por aqui. Não sei por que o CNPq adota essa estratégia, pois obriga o bolsista a organizar muito melhor, e de uma maneira diferente da habitual, suas despesas e/ou da família. Se gastar errado, complica, pois terá que esperar mais três meses até chegar mais uma remessa das bolsas.
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Não foi uma experiência boa para mim, pois não estou acostumado a receber apenas depois de tão longo período. Além do mais, o custo de vida em Nova York é muito alto. Trata-se de uma das cinco cidades mais caras do mundo. Deveria receber uma bolsa maior, mas a regra é igual para todos, no caso de bolsistas. Acho que a CAPES e a FAPESP, no que se refere a valores de diárias pagas a pesquisadores, oferecem valores maiores para Nova York, não tenho certeza, posso verificar.
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Até acho justo, pois apenas com o valor da bolsa, não é possível sustentar a contento a família aqui na Big Apple. Em qualquer outra cidade americana, menor, o custo de vida é bem mais baixo.
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Esse sistema de pagamento trimestral por aqui não existe. Os salários são pagos em períodos de tempo diferentes, conforme a situação. A maioria dos trabalhadores recebe o salário semanalmente. Todas as sexta-feiras, os envelopes com os cheques são distribuídos para os empregados.
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Mesmo os empregados informais, ou ainda os indocumentados (como são chamados aqui os imigrantes ilegais), que também recebem assim. O mercado informal aqui, apesar da fiscalização do governo, é enorme. Pequenas empresas contratam esses trabalhadores na maior parte das vagas.
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Perguntei na Columbia como era. O empregado pode fazer opção por receber seu salário mensalmente ou quinzenalmente. Vou verificar essa situação em outras empresas, maiores, e também em outras atividades do serviço público, depois conto os resultados. No Brasil, existem empresas que também pagam em períodos menores, talvez copiando a situação americana. Gostaria de saber como é em outros países, alguém sabe?
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Parece-me que, se os trabalhadores recebem o dinheiro toda a semana, gastam toda semana também, mantendo um giro mais rápido do montante recebido. Não sou economista, mas isso faz a economia ser mais ativa, pois há sempre dinheiro em movimento, dentro de atividades que não são especulativas (mas podendo haver também), ajudando a fortalecer a economia do lugar.
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Será que isso não é um dos motivos do desenvolvimento da economia americana? Não sei fazer essa análise, mas perguntarei a algum economista amigo.
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Claro que existem vozes discordantes, argüindo que esse dinheiro, nas mãos das pessoas em tempos mais curtos, pode ser usado de forma equivocada, em coisas supérfluas, comprometendo o balanço financeiro familiar. Mas cada um faz o que bem entender com o dinheiro de seu salário e deve saber se adaptar às suas necessidades.
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Se eu pudesse, gostaria de receber o meu salário em períodos mais curtos, saberia organizar financeiramente o orçamento familiar. Talvez uma vez por semana seria legal, bem dentro de minhas necessidades.
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E você, como é? Uma vez por semana é pouco? Não preferiria todos os dias?
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor adjunto da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas medicinais. Este ano (2007), está em Nova York, na Columbia University, fazendo pós-doutorado na área de Etnobotânica.

21.10.07

SINAIS DE TEMPOS

Por
Carlos R. Spehar

Esse passado que reluta em permanecer em nós!
Nas agruras do dia-a-dia, como jubilados,
querendo olhar para o futuro,
diante do presente algoz tudo acontece muito rápido: ficamos abalados!
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Ainda a propósito, tenho me ocupado em pensar,
somos verdadeiros fósseis viventes,
participando de tanta mudança e dela poder contar,
sobre tanta coisa vivida, às novas gentes
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As percepções do tempo nos dizem mais:
Somos efêmeros, mesmo diante de tanto poder.
Ainda que queiramos retornar, não o faremos jamais
Pois, de mais saudade, vamos aos poucos morrer
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Um dia, quem sabe, quando passarmos desta pra outra,
a geração que nos sucede, veja o que não lhe transmitimos:
No caro presente em que vive, esperança não nutra.
Tudo passa e não adianta; não há o que decidimos.
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Portanto, não parece haver solução para esse enigma.
Só nós resta entender: mensagens, sinais de tempos.
Os quais não se repetem, só para caracterizar o estigma.
Quem sabe percebam o que lhes dizem os ventos.
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Que o fenômeno não se mede apenas pela intensidade
Que o belo (na alma) terá sempre o seu lugar
Que, de tudo o que nos impressiona, resta a saudade.
Que o sol sempre haverá de brilhar.
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Sejamos vivos, a cada instante que nos marca a trajetória.
Plantemos as sementes do que iremos colher,
pois, seremos cobrados, como em promissória.
Só nos resta, de tudo o que buscamos, cada momento viver!
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Foto da clepsidra:www.ufrgs.br/caar/plano_gestao.html
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Dr. Carlos Roberto Spehar é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras (1973), tem mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas pela University of Wisconsin - Madison (1977) e doutorado em Genética Melhoramento e Nutrição de Plantas pela University of Cambridge (1989). Pesquisador aposentado da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, participa hoje como orientador, do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias da Universidade de Brasília.

18.10.07

ÍCONES CULTURAIS

Por
Marcondes Rosa de Sousa

Ipueiras. Distrito de São Gonçalo da Serra dos Cocos. O País dos Mourões, na voz de Gerardo, "nosso Dante" disse Drumond de Andrade, e a celebrar 250 anos de sua Matriz. Palco das "fratricidas brigas", expressas em ruínas.

Isso, a par de tentativas como as de reforma agrária por Dom Fragoso. Ali perto, experiências ensaiadas de agricultura familiar. Até, nascente indústria de polpa de frutas. Olhar, aí, para a frente, a flecha do arco da paz a quebrar-se. Como o Cristo da Caatinga, que, embora arranhado por incômodas torres a seu redor, mira, em reta, a Bica do Ipu, sob a pauta dos sonhos de Nagib, prosaico mourão a sonhar com a "grande metrópole entre as duas cidades".

No imaginário das pessoas, pingas, fartos em toda a região, a se somarem a estações ferroviárias, igrejas e a Casa da Otacilândia, com suas 120 portas, a desenhar o progresso. Tudo isso, num tempo em que o patrimônio histórico e cultural pode tomar, como o fez, o próprio samba como um dos monumentos de nossa cultura. Escola é preciso.

Mas, aí, a lição que confessou ter aprendido Ariosto Holanda, de D. Aureliano Mattos: "sem arte e sem ofício, não somos filhos de Deus ou cidadãos". Centecs e CVTs se impõem. Observo o grau de saber de populares a ler "ícones" a lhes pautar o amanhã.

E, em Fortaleza, tento levar tais traduções do sentimento coletivo ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que se dispõe ao estudo de tais sentimentos, onde o cultural traduz sentimento do povo e aponta soluções concretas para seu desenvolvimento.

E a mim, acode a sensibilidade para o concreto que invadiu ao industrial Edson Queiroz quando lançamos a Rádio Universitária e divulgávamos as "águas": "Vocês me chamaram a atenção para algo mais importante. Não queimam e todos precisam". Nasceu-nos indústria da água mineral!
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Publicado no jornal O Povo em Fortaleza-CE em 15/10/2007
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Fotos: Altar de São Gonçalo, Prédio da Prefeitura de Ipueiras, Estação Ferroviária e a "Casa das 120 Portas" (Otacilândia). Acervo do autor.
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

15.10.07

A PALAVRA DA MESTRA!


Na Web, existe o Grupo Ethos-Paidéia ethos-paideia@grupos.com.br, onde a convivência social (o Ethos) e a educação (a grega Paidéia) ganham as dimensões de constitucional diálogo entre escola, família e sociedade, na complexa vida (política,social e cultural) segundo as palavras do coordenador, Marcondes Rosa de Sousa, conhecido advogado, educador e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). O grupo tem blog próprio, http://www.grupos.com.br/blog/ethos-paideia/, onde publica as matérias de interesse. No dia do professor o grupo recebeu da professora Izaíra Silvino, um de seus membros, a seguinte mensagem que ousamos sequestar para o blog Suaveolens em razão de sua beleza e força. Ao lado de "O Olhar de Alice", da poetisa Dalinha Catunda, aqui publicada em 03-10-2007, corporifica a homenagem deste blog aos professores em sua data comemorativa. Ei-la:
Caros e Caras Amigos e Amigas
desta Ethos Paidéia,

Como em nossa consciência cresce a lucidez
que nos faz enxergar mais e mais
estes tempos grávidos de polêmicas,
conflitos e desvalores, nossa
tendência é a descrença e a desilusão.
Há até quem diga que não se tem nada a comemorar,
que festa e felicidade, hoje, não tem sentido!
Como sou daquelas pessoas teimosas
que sabem que a consequência
do recrudescimento das crises
é o aparecimento de suas soluções,
teimo em ser feliz e dar sentido a alegria,
malgrado o mal estar que teimam em generalizar.
Teimo em gostar de criar momentos de rituais de festas
e de colheitas!
É por isso que sei, digo, sinto, e creio que
professor(a) ainda vale
professor(a) ainda promete
professor(a) ainda se faz
professor(a) ainda que tarde
professor(a) é o que é
gente
por ser
por vir
por fazer
(como tudo neste planeta das formas)
por receber loas
então
viva o(a) professor(a)
vivamos nós!!!!
Ainda posso dizer, parabéns PROFESSOR!
Porque cada grande professor que por mim passou,
cada pequeno professor que por mim velou,
vive em mim e faz o mundo, também, por mim!
Eu creio no papel do(a) professor(a),
por conhecimento intelectual,
fé na vida e amor ao presente!
A todos os professores e professoras
que participam e fazem esta lista,
a minha homenagem sincera, embora simples.
PARABÉNS, PROFESSOR E PROFESSORA.
O mundo ainda precisa de nossas ações!!
Num acordo de vida,
acordemos para nossas responsabilidades
e alegremente, plantemos e colhamos nossas sementes,
eiradas em terra fértil,
porque regadas por nossa fé!!!!!
Que o Senhor aceite nossas justas esperanças
e nossa firme atitude
de não querer participar de nenhum momento catastrófico.
Queremos, sim,
escudar nossas descrenças com nosso amor à vida!
Sigamos pois aceitando os desafios,
aprendendo com os insucessos
e erguendo barricadas de amor e luz!!!!
NÓS SOMOS A FESTA DO MUNDO! AO LADO DE TANTOS!
NÃO SOMOS SÓ MAIS UM, SOMOS UM COM CADA UM!
SOMOS TODOS!
Beijos, Izaíra
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Foto de professora:

12.10.07

SER CRIANÇA

Por
Bérgson Frota

Amanhece, um dia de sol e céu claro, cheio de nuvens correndo com o vento que sopra forte.

O menino levanta-se, toma rápido um banho e depois de um reforçado café, vai correndo despreocupado viver o dia.

Na mente a alegria das brincadeiras, o companheirismo dos amigos, todos da sua idade, uns magros outros gordos, morenos, brancos e negros. Despreocupado junto aos seus, todos de olhos grandes e risos fáceis, sonhadores a espantar-se de tudo.

Em casa, os brinquedos o esperam quando ele se cansar da rua, seja cedo ou tarde, silenciosos não hão de reclamar a demora, e sempre estão à disposição daquele pequeno ser, agora postos arrumados na estante, depois então espalhados pelo quarto.

O menino tem uma bola e também cão, em geral maior que ele, mas ele é o “mestre”. O cão é amigo, mascote e um grande protetor.

Na hora de estudar, faz seus deveres concentrado, e se aparece um pássaro na janela cantando, ou se o papagaio grita nomes na cozinha, ele ri, e desconcentrado procura com esforço voltar aos deveres.

O dia demora, e ele sai logo depois.

Junta-se novamente à turma, mas na hora do desenho está sem falta diante da televisão, concentrado acompanhando os episódios de seus heróis.

A alma crescente da criança continua em gestação naquele pequeno corpo que não pára de ter medidas novas. Que sem parar vai crescendo nas alegrias e sonhos, nas fantasias, estas que finalmente um dia passarão.

Com os sonhos a concretizar, o menino vai crescer, tornar-se maduro e responsável. E as alegrias, brincadeiras e fantasias de hoje, lhe farão lembrar e entender um dia a infância, o sagrado e verdadeiro valor de ser criança.
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( Publicado no jornal O Povo, em Fortaleza-Ce, em 07.10.2007)
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ESTA É UMA HOMENAGEM AO DIA DA CRIANÇA!
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Bérgson Frota, formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), é um prestigiado cronista ipueirense e pesquisador da história e da geografia do Ceará, especialmente da cidade de Ipueiras. É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.

8.10.07

CABRA DA PESTE

Por
Dalinha Catunda

Longe do meu Nordeste.
Eu, que sou cabra da peste,
Chorei que nem criança.
Muitas vezes entediado,
Com jeito de abestado,
Puxava pela lembrança.
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Com a cachaça do lado,
Entre um trago e um cigarro,
Sozinho e sem esperança.
Ruminava... matutava...
Oh vida de retirante!
É melhor morrer de fome,
Do que viver como errante.
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Ah!... saudade...
Eu quero o meu roçado,
Eu quero minha Maria.
Meu cheiro de mato queimado,
E as noites de cantoria.
Oh Deus! Por favor, me alumia!
O álcool falava mais alto,
E eu, já quase dormia...
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Meio ébrio, sonhava e sorria.
Mamãe trás minha rede,
Que eu quero me balançar.
Prepare meu pão de milho,
E capriche no mungunzá.
Se me trouxer tapioca,
Não esqueça o aluá.
.
Eeeeeeta, porre!
Foi o último que tomei,
Distante do Ceará.
Quando acordei no outro dia,
A única coisa que eu via,
Era o caminho de volta.
E me mandei pro Nordeste,
Pois lá, sou cabra da peste,
E aqui não passo de um bosta.
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HOMENAGEM AO DIA DO NORDESTINO !
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FOTO: pioneiros na construção de Brasília: Arquivo Público do DF. Autor desconhecido. Digitalização: Augusto Areal.
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – POETISA, ESCRITORA E CORDELISTA. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio:

5.10.07

DEFEITO ERA SER BOM

Por
Marcondes Rosa de Sousa

Na rua onde moro, observo papos de pessoas saídas de velório na igreja do Menino Deus, no bairro Luciano Cavalcante, de jovem brutalmente ali assassinado.

De manhã, o assassino esfaqueara a senhora, tentando arrancar-lhe a bolsa, afugentado por guardas da Câmara Municipal. À noite, na mesma rua, tentara do vizinho, estorquir dinheiro para drogas, tomara-lhe a moto, esfaqueando-lhe cabeça e costas, deixando-o a ali agonizar.

Patrulha policial, ao passar, negara-se ao socorro: "Problema de vocês. Fomos escalados para outra ocorrência". Na delegacia do bairro, policial se escusa: "Não vou sujar as botas, entrando no mangue, atrás de drogado!" No papo, dizia-se do assassino: "Matava cachorro e gatos, guardando-lhes a carne na geladeira para comer".

E do pedreiro, pai da vítima, o lacônico depoimento: "Só tinha um defeito. Era bom. Por isso, morreu como morreu".

Nos papos, o desencanto com nossos valores: honestidade, trabalho, ética. E sentidos queixumes sobre alienação de nosso marketing, onde segurança e estética urbana pautam-se pelos figurinos da visão narcísea de nossos políticos.

Entre intelectuais, dou testemunho da alienação depressiva e crescente com o chegarmos ao fundo do poço, nessa questão. O fim dos tempos! Tento ver apocalipse à luz da bíblica acepção de revelação, aviso e renovação de ciclo. Mas alguns já vêem, a nos rondar, o Anticristo, com data marcada para o "juízo final".

Da área política, ouço vozes em prol do resgate da ética. Animo-me. Daí, evocar aqui a queixa de que "a dor da gente não sai no jornal". E isso com a de um pai: "Era bom e, por isso, morreu"

Nela, o recado de nossos eleitores sobre a visão equivocada do marketing de nossos políticos: a do chão falso e manco a nos embasar o direito à vida. No País, no Ceará e nesta Fortaleza a iludir-se de ... bela!
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Obs.: publicado originalmente no jornal O Povo em Fortaleza, secção Opinião em 01/10/2007
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Foto das cruzes: aletp.com/2006/10/24/
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

3.10.07

O OLHAR DE ALICE

Seu rosto severo e sofrido,

Trago guardado comigo,

Com carinho e gratidão.

Ela foi em minha vida,

Mais que uma mestra amiga,

Foi exemplo, foi lição...

Seu olhar calava a sala.

Sua figura impunha respeito.

Peculiar no seu jeito,

Ela fazia a diferença.

Por isso sua presença,

Carrego dentro do peito.
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ESTA É UMA HOMENAGEM AO DIA DO PROFESSOR, 15 DE OUTUBRO!
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Foto da professora dando aula:
http://www.ciberamerica.org/Ciberamerica/Portugues/Areas/educacion/
profesorado/legislacion/inicio.htm
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – poetisa, escritora e cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio:
http://www.cantinhodadalinha.blogspot.com/

2.10.07

VAI UM CAFÉ AÍ? (uma memória cearense)

Por
Jean Kleber Mattos

Meu pai, seu Mattos, costumava levar-me, eu criança, ao histórico estádio Presidente Vargas em Fortaleza, para ver jogos de futebol, sempre que o Ceará, nosso time do coração, disputava. Era uma saborosa aventura onde vendedores de roletes de cana e laranjas revezavam-se com seus pregões típicos.

Os impropérios dos torcedores também me divertiam. O tempo passou, eu migrei para outras terras e, passadas décadas, voltando à Fortaleza, resolvi conhecer o novo estádio: o “Castelão”. Chegamos eu e meu pai atrasados para a partida noturna e vimos os torcedores entrando livremente. Perguntei se não precisava pagar e me disseram que já haviam transcorrido vinte minutos de partida, tempo a partir do qual a entrada era franca. Ótimo.

Adentramos ao belo e bem iluminado estádio e passamos a desfrutar do espetáculo. Súbito passou-nos ao lado, na arquibancada, um vendedor de café e cigarros. Trazia uma larga e funda bandeja de plástico alçada ao pescoço, com dois compartimentos. Um para cigarros, outro para café. No compartimento do café, duas garrafas térmicas: café doce e café amargo. Numa coluna bem engendrada, copinhos descartáveis.

Compramos café e eu avisei a seu Mattos que iria provocar uma resposta do vendedor ao pagar a conta. Dito e feito. Paguei o café e elogiei a organização e a limpeza dos artefatos do vendedor. Ele agradeceu e eu completei:

- Amigo, café bom mesmo eu tomei no passado, no Passeio Público! O senhor lembra daquelas mulheres que vendiam café em chaleiras envoltas em panos, com uma lata cheia d’água à tiracolo para lavar as xícaras? O homem olhou para o alto como se tentasse relembrar. Imaginei que à sua mente assomavam as imagens das gordas mulheres com saias curtíssimas, oriundas do Arraial Moura Brasil, bairro vizinho, onde cresciam manchas de baixo meretrício.
Ele me olhou de frente e sentenciou.
- Eu já sei do que o senhor gosta!
-Do que?-perguntei
- O senhor gosta mesmo é de ver fundo de calça!
Seu Mattos não conteve a gargalhada.

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Fotos
Passeio Público:
http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc011/mc011_01.jpg
Café: http://www.cafecomsolucoes.com.br/formulario.php
Vendedor de café do século XVIII (Espanha):
http://www.nodo50.org/espanica/tomando.html#ambulante
Estádio Presidente Vargas à noite:
http://www.fussballtempel.net/conmebol/BRA/Presidente_Vargas2.jpg
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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente doutor em fitopatologia, é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.