Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

30.4.08

A DANÇA MIDIÁTICA DO MÊS DE ABRIL

Por
José do Vale Pinheiro Feitosa


Os meios de comunicação escolheram um par de notícias para agitar o mês de abril. Há quem diga que a mídia não escolhe, ela é escolhida pela notícia que mais vende. Mas este argumento não cola. A mídia dançou com um casal de gênero distinto. Um para ser apedrejado e um outro para amedrontar. O primeiro o casal Ana Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni e o segundo a Crise Americana.

LINCHA!
O fio condutor do linchamento do casal Ana Carolina e Alexandre Nardoni começa no governo de São Paulo e parece encerrar-se na disputa eleitoral para a prefeitura da capital.

O governo deixou a polícia agindo de modo destemperado: sucessivas perícias ao local; o espancamento de Ana Carolina por outras presas e os anúncios marqueteiros diários dos policiais, já se esclareceu 70%, depois 90%. Parecia um falho que vinculava o linchamento do casal aos números dos índices do IBOPE que demonstraram o sucesso da mídia. De modo espetacular, a polícia anuncia os resultados da perícia e das investigações, justamente no dia do aniversário de Isabella, caso ainda estivesse viva. Foi uma insensatez que, inclusive, confunde o devido processo. Por último os políticos em disputa pegam carona no linchamento, indo assistir à missa do Padre Marcello Rossi, com a presença de 700 mil pessoas. Anotem os políticos em pleno aproveitamento de clamor público: Governador José Serra, Prefeito Kassab e Lu Alckmin. Agora os surfistas do prestígio público: Padre Marcello Rossi, Xuxa, Ivete Sangalo e Hebe Camargo.

A sociedade nacional assistiu perplexa, raivosa e assustada ao que no dia-a-dia se revelou nos noticiários. Tudo para provocar emoção, para turvar a claridade do dia e para fazer que surgissem os instintos mais primitivos da alma humana. Resultado, no dia do espetáculo policial e midiático e nos dias subseqüentes, desesperados e vítimas da sociedade, buscam exorcizar a própria desgraça com o ódio sobre o outro. Esta é a matriz do fascismo, o verdadeiro ovo da serpente.

CRISE DO MUNDO UMA OVA: CRISE AMERICANA
Os americanos já fizeram de tudo para se manter na crista após a segunda guerra mundial. Quem não sabe que a crise imobiliária é uma crise deles? Todos sabemos, mas isso durará pouco, daqui a pouco a crise será de todos e provocada por outros que não os americanos.

Em primeiro ato transformam as conseqüências em causa e apontam o dedo para uma origem global. Com a premissa de uma crise estrutural da própria civilização já estão pregando a tachinhas na mente de cada um. A primeira é que a crise, tanto de inflação de alimentos (ou seja, falta comida para os que estão vivos neste momento) quanto a de energia, metais ou outras commodities depende do mercado futuro especulador. A segunda diz que a crise decorre do consumo crescente de países como a China e o terceiro que o planeta está no seu limite em relação à civilização.

Esse é o modo torto com que os americanos se vêem e vêem os outros. Aliás, é até compreensível, todo mundo vê a crise como se fosse o centro do mundo. A lição é: ninguém é o centro, mas todos têm um centro. Agora faz sentido toda a imensa pressão pelo aquecimento global e o filme de Al Gore: sentido político para os americanos. Faz sentido o medo que outras nações, especialmente aquelas em desenvolvimento, atinjam patamares mais elevados de vida. Faz sentido para os especuladores cobrarem mais dos americanos pelo que têm, os especuladores, de vida boa.

Isso tudo só não faz sentido para o Brasil. Agora é encontrar quem encontre o nosso centro neste clima do Tio Sam com dedo apontado para nós.
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Foto: belo cartaz da FAO sobre o Dia Mundial da Alimentação de 2007.
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José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003, assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura. Colabora no Blog da Cidade do Crato.

28.4.08

DEMÓCRITO, O ÍCONE

Por
Marcondes Rosa de Sousa
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Prostrou-me, em súbita emoção, a trágica notícia. Ao lado de Demócrito, estivera eu, ao se lançar, entre líderes da terra, a obra A construção do Ceará - Temas da história econômica, de Cláudio Ferreira Lima , ali propondo o resgate da sintaxe perdida em nossa política, no alternar-se das solidárias cheias e das solitárias secas de nossos rios.
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A custo, recobro o lado construtivo da emoção. É do “escrever é espantar-se” que extraio do barro do chão cotidiano, a “psicanálise e metafísica do mundo” a nos lastrear o projeto, sadios cúmplices os dois, desde os anos 80, quando, esgotada a União pelo Ceará, Celso Furtado reunia-nos dos então jovens empresários do CIC às mais avançadas correntes de esquerda: “o crescimento econômico a se metamorfosear em sustentável desenvolvimento”. Pontos e contrapontos a compor acorde. Universidades a transpor muros, nas praças, campos e ruas. Literatura, arte, cinema, em simpósios e festivais aqui (nacionais e internacionais). Programas de responsabilidade social e de educação a distância.
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Com assento na Fiec, vistas “indústrias sem chaminés” nossas instituições de ensino superior. Histórica parceria. É o cotidiano da vida na pauta de projeto plural, sob o diapasão do “quebras comigo a flecha da paz?”, entre Iracema e o guerreiro branco, a ter por símbolo de agora a sinfonia regida pelo maestro Koellreutter, na reinauguração do Teatro José de Alencar, onde ruídos da obra concertavam-se com violinos e vozes, no desenho do solidário e plural. Uma saudade!
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Mas, ícone maior a decantar, de Demócrito Rocha, o poema Rio Jaguaribe. E a desaguar, na solidária água grande e no Longo amanhecer de Celso Furtado. Dele, diria o poeta Manuel Bandeira - no alto, São Pedro, bonachão, a convidá-lo: “Entra, Demócrito, você aqui não precisa pedir licença”!
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Artigo publicado originalmente no jornal O Povo - Fortaleza-Ce, em 28/04/2008
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

27.4.08

FICAMOS MAIS POBRES

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Ao re-editar o artigo de Fábio Campos, o blog Suaveolens presta uma homenagem a Demócrito Rocha Dummar presidente do Grupo de Comunicação O Povo, que nos deixou nesta ultima semana.
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Por
Fábio Campos
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O POVO, em 26/04/2008
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Era um sábado pela manhã. Chegava em Mulungu com meus filhos. Meu primeiro roteiro é sempre a mercearia de meu pai. Deparei-me com a cena que ficou marcada em minha retina. Demócrito Dummar sentado no balcão a tirar prosa com meu pai. Fiquei observando de longe por um bom tempo. Estava ali a síntese de minha vida. Meu pai me fez livre. Demócrito me deu asas para exercer a liberdade.
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Demócrito e dona Wânia têm uma casa na Serra. Era o cantinho amado. Geograficamente, tem localização em Guaramiranga, mas ele dizia que era cidadão de Mulungu. "Por que", perguntei. "Meu filho, muitos gostam de dizer que têm casa em Guaramiranga. Prefiro dizer que tenho em Mulungu". Percebi ali a manifestação de uma das principais características dele. Um ato de resistência. Contra a corrente. A rebeldia inteligente contida em um pequeno detalhe. Dona Wânia sorria confirmando, cúmplice de uma deliciosa e inconseqüente atitude. Que dor. Nos falamos na noite de quinta-feira. Ligou para mim às 11 horas da manhã de ontem. Fizemos o que fazíamos costumeiramente. Conversamos. Fez perguntas. Pouco mais de uma hora depois, a tragédia.
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Era um homem generoso. Ensinou-me a qualidade da ponderação. Minha relação com o Demócrito havia, há anos, superado a fronteira profissional. Trocávamos confidências. Dividíamos garrafas de tintos na serra. Uma casa linda, pensada em cada detalhe pelo casal. Uma casa com cheiro de gente, de frente para a floresta e um pequeno riacho. Patos, coelhos, papagaios. Nada em gaiolas.
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Meus filhos o adoravam. O chamavam de o "homem do papagaio". Mas Demócrito gostava mesmo era de conversar com meu pai, um homem simples e sábio. Costumava dizer pra mim que passou a entender-me depois que conheceu o "seu Ivanildo". "Agora eu sei de onde vem a tua força", dizia. Eu sorria meio sem graça por causa do elogio sem nenhum disfarce. Um homem extremamente carinhoso, um gentleman, um pai dedicado. Demócrito e Wânia formavam um casal que se transformou em referência para mim. Uma elegância serena e um amor que nos alimentava a idéia de que, sim, é possível o ideal. Assumi a Coluna Política do jornal em janeiro de 1996.
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Só conhecia Demócrito de vista. Nunca tinha nem sequer tido a oportunidade de cumprimentá-lo. Eu já escrevia a versão da Coluna das segundas-feiras. Um dia, fui chamado ao comando da redação. Fui comunicado da decisão da presidência para que eu assumisse a Coluna. "Como assim? Nem me conhecem lá em cima". Assumi assim. Sem padrinhos. Sem padrinhos, passei a escrevê-la.
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O legado de Demócrito para a sociedade cearense é plural. Os grandes temas do Ceará passam pelas páginas do O POVO. Quando não passam é como se não acontecessem. Demócrito assumiu o comando do jornal justamente no ano em que o País realizava a primeira eleição de Capital após a ditadura militar. Era 1985 e vinha pela frente a primeira grande prova de fogo. Nascia junto com a nova democracia brasileira um novo jornal. Um jornal sem padrinhos. Um jornal que não apadrinhava. E o melhor, um jornal que aprendia a conviver com o erro com a mesma elegância com que se relacionava com os grandes acertos.
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Demócrito se foi, mas o que deixou entre nós se multiplica. Liberdade com ponderação. Responsabilidade no trato das pequenas e grandes questões. Certa vez, Alberto Dines, um respeitado veterano do jornalismo brasileiro, nos fez uma visita. Passou um dia na redação. Confidenciou-me que nunca havia conhecido um dono de jornal como Demócrito. Não havia imposições à redação. Tudo era negociado. Demócrito percebeu que a melhor maneira de fazer com que o jornal sobrevivesse às gerações futuras era deixar que o jornalismo se impusesse.
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Todos os jornalistas sérios que conheceram Demócrito de perto sentem-se órfãos. O jornal O POVO está órfão, o jornalismo cearense está órfão.
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O Ceará perdeu um de seus mais notáveis empreendedores sociais. Um grande animador do nosso processo sócio, político e econômico. Ficamos mais pobres.
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Foto: Demócrito Rocha Dummar (E), presidente do Grupo de Comunicação O Povo, quando recebia, em 2007, do presidente do Sindiodonto, Leopoldo Menezes, a Comenda Demócrito Rocha.
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Fábio Campos é um conceituado jornalista. Escreve na coluna "Política" do jornal O POVO, em Fortaleza- Ceará

24.4.08

UM PRACINHA DE IPUEIRAS

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NOTA DO BLOG: NESTA SEMANA PERDEMOS OLAVO CATUNDA, NOSSO IPUEIRENSE HEROI DE GUERRA. ESTE ARTIGO DE BÉRGSON FROTA, AQUI RE-EDITADO, É A HOMENAGEM DO BLOG SUAVEOLENS AO NOSSO BRAVO CONTERRÂNEO.
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Por
Bérgson Frota
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Sessenta anos se passaram e o mundo continua a lembrar as tragédias da II Guerra Mundial, histórias de um holocausto, período em que a humanidade mostrou seu lado mais negro.
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Para um jovem de 23 anos, Olavo Moreira Catunda, o ano de 1942 foi marcante, precisamente no mês de julho recebia ele do prefeito de Ipueiras, na época quem exercia na cidade o cargo de chefe do serviço militar, sua convocação para a guerra.
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Em 20 de julho partia de Ipueiras em direção a Sobral onde seria reunido a outros convocados oriundos de cidades vizinhas da zona norte do Estado. Os convocados demoraram pouco na cidade sendo enviados a Fortaleza e depois embarcados para Natal, onde durante dois anos integraram o 16º RI (Regimento de Infantaria), logo depois em outubro de 1944 juntamente com uma tropa numerosa partiram em direção ao Rio de Janeiro onde embarcaram no grande navio de tropas americano M.C. Meigs, que levava entre tropas e tripulação 8 mil homens para os campos de guerra na Europa.
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A travessia do Atlântico foi a primeira grande prova para os pracinhas, por ser um grande alvo a submarinos alemães, o navio americano foi acompanhado por duas lanchas torpedeiros, um grande encouraçado e mais dois navios de guerra brasileiros com tropas sendo um deles o célebre Duque de Caxias. Ao fim de dezesseis dias de viagem desembarcaram no porto de Nápoles (Itália) entre final de novembro e início de dezembro de 1944. Olavo Catunda fez parte do segundo grupo de brasileiros incorporados ao 5º Exército Americano.
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Desempenhando papel de bravura em combates num clima hostil de inverno avançaram pela região da Toscana fazendo em grupos divididos o recuo em mais de 400 quilômetros das tropas germânicas.Conquistas como Monte Castelo (o mais demorado e onde mais brasileiros caíram), Montese, Fornovo, Zocca, Collechio, Soprassasso, Castelnovo e La Serra ficaram marcadas na vida deste pracinha cearense.
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No fim da guerra regressou à Nápoles, logo embarcando para o Rio, chegando a Ipueiras em novembro de 1945 com o título de segundo sargento da infantaria sendo depois reformado para o posto de segundo tenente. Olavo Catunda ainda em Ipueiras foi nomeado prefeito durante o ano de 1947, depois vindo a residir em Fortaleza.
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No ano em que o Grande Conflito completa 60 anos, este pracinha cearense contempla um passado não tão feliz, pela morte de tantos companheiros e a lembrança de tanta destruição, mas com a consciência tranqüila de que cumpriu na Grande Guerra seu maior e mais difícil dever cívico.
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(Texto publicado no O Povo em 04.12.2005)
Foto: o pracinha Olavo Catunda nos anos 40. Acervo do autor.
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

TOQUE DOS DIGITAIS

Por
Dalinha Aragão
*
Estava eu tão distante,
e assim mais ficaria.
Não fosse tua habilidade,
não fosse tua magia.
A senha, sabias de cor,
faltava a digitação.
Convencida entreguei-me,
comandastes a operação.
Ao toque dos digitais,
um novo mundo se abriu.
Janela escancarada,
o gozo em pleno abril.
Onde se lia aguarde ...
Um concluído surgiu.
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Poema publicado no jornal "O Povo" de Fortaleza-Ce
Imagem do: tecnologia.terra.
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio (cantinhodadalinha.blogspot). É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

21.4.08

CRÔNICAS SEM RESPOSTAS

Fonte da foto: juniorphotos.blogspot
Por
Raymundo Netto

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Abril, mês em que celebramos o natalício de nossa Fortaleza. Para mim, outro motivo de reflexão: um ano de crônicas publicadas às segundas-feiras em O POVO.
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A cidade não vai bem, obrigado de nada, e por isso, durante o ano inteiro, apresentei na ribalta de papel, alguns dos cronistas cearenses mais experientes no fortalezeado, crendo que, através deles, poderia girar a manivela da memória de nossos urbanistas.
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Hoje, depois de tudo, me pergunto: será que valeu mesmo a pena escrever? E escrever para quem? São tantas crônicas sem respostas... Estava triste, muito triste, só em minha “ilha”, quando o carteiro, acenando uma carta, gritou-me o ofício. Recebendo-a, sentei-me à calçada e coloquei o envelope à contraluz antes de rasgar-lhe uma tirinha lateral. De seu interior, tirei uma folha de papel dobrada com finas pautas preenchidas à caneta. O remetente era o Milton Dias. Tempos há, não escrevia:
Raymundo, amigo, saudações. Faz tempo que sabemos da existência um do outro, mas nunca fomos apresentados, embora o deseje muito. Penso que bom mesmo de escrever é carta: tem-se a certeza de um leitor e a possibilidade de uma resposta, não é?

Eu, você bem sabe, escrevi neste mesmo jornal. Foram vinte e seis anos de boa conversa de terraço, sem rebuscados nem preciosismos, denunciando a minha origem sertaneja. Veja lá que um dia, no tempo de menino, quiseram me curar da ignorância congênita, colocando-me um livro nas mãos, e me deram o mundo de presente. Contudo, depois de uma ‘papeira’, contraí o vício, incurável, do papel de jornal.

Não tenha dúvida de que muitas dessas minhas ‘conversas’ com o leitor nasceram entre a boca da noite e a madrugada. E daí, por mais que tentemos evitar, colega, nos projetamos no que escrevemos e acabamos por nos contar, confessar nossos sentimentos, soltando os pedaços desta alma envelhecente.”

Ao sentir um inesperado aroma de café torrado em casa, escorreguei, devagar, os olhos do papel. Misteriosamente, percebi-me numa sala pequena, sem janelas, a não ser para a rua, onde um grilo cantava soluçante.

No corredor e na sala, enfileiravam-se gaiolas de arames com graúnas, golinhas, sabiás, papa-capins e periquitos australianos azuis. Mona, a gatinha, ronronava sobre um birô. Debaixo dele, Dique, um cãozinho preto de patas brancas, contava histórias de seu Pedro, o farmacêutico. À cozinha, um poleiro papagaiava vazio.

Não avistando ninguém, abri a meia porta e entrei em um dos quartos. Do toca-discos pude ouvir Piaf cantar, como em Paris, “Non, je ne regrette rien”. Próximo à cama, o par de chinelos velhos. Sobre a colcha vermelha, um pijama; a rede de corda pendurada no armador. Noutra parede, o retrato de um senhor careca de óculos quadrados. Encostado ao guarda-roupa, uma mala — cheia de cartões postais da cidade — forrada com papel brilhante colorido de ramagens e cantoneiras de metal.

Na mesa de gasto verniz, bloco de papel de carta, caneta tinteiro, envelopes, um livro de Gil Braz de Santilhana, a revista francesa Ars, o soneto Tristesse em folhas mimeografadas, a pequena agenda de capa vermelha, uma caderneta preta de endereços, uma foto — escrito no verso, “dois patetas em Minas” —, comprimidos de Paludinas num almofariz branco e, no porta-retrato, ladeado pela imagem de Santo Antônio, a fotografia de uma mulher sorria sob a declaração de afeto: “Donzela(*) estrela, flor, fada, irmã.”

Voltei para sala e corri à janela onde avistei, logo à frente, a praça da Escola Normal rodeada por oitizeiros que acolhiam ninhos de fogo-pagou. Um verde Volks 63 descansava à rua pequena onde cães ladravam em ruidosa assembléia. Do corredor estreito veio uma lufada de vento de quintal, e nele pude ouvir a voz missivista do Milton a desatar memórias afetivas:

“Partir é bom, ficar é triste, voltar é uma beleza. Ah, como é bom voltar à Fortaleza de encantamentos, querenças e quenturas. Vou e volto porque aqui é a minha casa, minha rua, minha praça e minha gente. Sinto uma ternura que deita na alma e me enche de melancolia.

Que saudades do Alagadiço; da praça Coração de Jesus nos tempos do ginásio Cearense; das pipocas, doces gelados e o puxa-puxa da Cidade da Criança; da praça da Lagoinha e sua fonte de mulheres seminuas; do verde mar de Iracema (que nem minha mãe) que me acolheu (como minha mãe); das conversas na praça do Ferreira; de ouvir o cantar dos galos nos quintais, à madrugada, no beco dos Pocinhos; da praia do farol do Mucuripe aos domingos; do assobio dos ventos nas folhas das carnaubeiras; do Baile do Rubi no Clube do Diários; dos biscoitos de champanhe com guaraná na Nice e Crystal; das vesperais do cine Moderno; das tardes de cadeiras na calçada sem televisão; dos amigos fumando Odalisca e bebendo cerveja no Passeio Público; dos bondes gemendo em cima dos trilhos; do sol se afogando no mar à Ponte Metálica; das conversas de cunhãs, das plantas, da música, dos pássaros e das crianças.

Ora, Raymundo, todos cantam a sua terra, também somos filhos de Deus, ah, que também cantemos a nossa! Afinal, tudo passa, passa mesmo. Esta cidade que estão cobrindo de asfalto e plantando arranha-céus ainda é a nossa cidade. Não há motivos para comemorar, eu bem sei, e como sei, principalmente se os ‘detalhes tão pequenos de nós dois’ estão sendo deixados de lado, mas aconselho: melhor será tocar para frente, olhando menos o passado, curtindo muito o presente e preocupando-nos só um pouco com o futuro. A certeza do irrecuperável dói muito. Aliás, tudo dói, quando vira saudade.”

— Sim, Milton, porém nesse ponto sou como você: não faço questão de ganhar, mas faço questão de não perder! — pensei, diante das paredes mudas.

Juntando tudo no pensamento, e em busca de ar, saí para a calçada. Contudo, lá de fora, a casa do Milton não parecia mais a mesma. A fachada, coberta de granito escuro e vitrais, ostentava uma placa: “escritório de advocacia”. Tentei entrar novamente, quando uma recepcionista me atendeu. Não havia mais nada lá. Nada. Procurei nos bolsos, a carta. Li:

P.S.: Por fim, escrevo esta carta, amigo, para falar de mim (mas leia-se de você), que ainda estou por saber se sou um homem, uma crônica ou um conto. Ouça: continue, escreva. Enquanto o quiserem ou mesmo por, devido à correria das redações, esquecerem de dispensar-lhe este fardo, escreva! Há muito que se aprender ainda no grande livro do mundo.
Um dia qualquer, desde que seja 17 de abril de 2008.
Do amigo M. D.”

Chovia na cidade e, ali, a torre da igreja Pequeno Grande apontava aos céus, acenando o lenço branco da saudade e abençoando “a bendita solidão dos que sabem ser sós”. Tudo passa, passa mesmo. Que Deus a proteja de nós, Fortaleza.
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(*) apelido da amiga Alba Frota.
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FOTO: Igreja do Pequeno Grande em Fortaleza-Ceará, também conhecida como Igreja da Imaculada Conceição. Fonte: juniorphotos.blogspot
Crônica publicada no jornal O POVO de Fortaleza-Ceará, em 14/04/2008 .
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Milton Dias (1919-1983) nasceu na Rua da Goela no Ipu, Ceará. Bacharel em Direito e em Letras era membro da Academia Cearense de Letras. Cronista, por mais de vinte anos, do jornal O POVO é autor de As Cunhãs, A Ilha do Homem-Só, Entre a Boca da Noite e a Madrugada e Cartas sem Resposta. O texto da carta do Milton reúne transcrições e adaptações de suas crônicas.
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Raymundo Netto é escritor, apaixonado nem sabe o porquê por esta Fortaleza, e a ela dedicou o romance Um Conto no Passado – cadeiras na calçada e mais algumas horas.

19.4.08

A FORTALEZA

Por
Paula Nei

Ao longe, em brancas praias embalada
Pelas ondas azuis dos verdes mares,
A Fortaleza, a loira desposada
Do sol, dormita à sombra dos palmares.
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Loura de sol e branca de luares,
Como uma hóstia de luz cristalizada,
Entre verbenas e jardins pousada
Na brancura de místicos altares.
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Lá canta em cada ramo um passarinho,
Há pipilos de amor em cada ninho,
Na solidão dos verdes matagais...
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É minha terra! a terra de Iracema,
O decantado e esplêndido poema
De alegria e beleza universais!
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Minha homenagem a Luisa Mendes dos Santos, a Dona Luisinha, minha avó, que me ensinou, aos oito anos de idade, a declamar este soneto em homenagem à minha cidade natal.
Jean Kleber
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Extensa matéria sobre Paula Nei pode ser vista no site recantodasletras, por Bruno Scomparin Pereira. Veja um trecho: "O nome de Francisco de Paula Nei (Vila de Aracati, CE, 2/2/1858 – Rio de Janeiro, RJ, 13/10/1897) é mencionado nos meios literários, atualmente, máxime e somente como partícipe da vida boêmia que marcou o Rio de Janeiro da belle époque, e na qual figuraram nomes que acabaram se imortalizando, como é o caso de Aluízio Azevedo e Olavo Bilac, e outros que a Crítica de hoje situa em posição menos elevada – são exemplos Coelho Neto, Guimarães Passos, Luís Murat, e muitos outros".

PARABÉNS BELA FORTALEZA

Por
Bérgson Frota
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Começar um artigo sobre o teu aniversário evocando o passado muitos já fizeram. Não, não quero falar do começo, quero falar do agora, do hoje. Sim, da Fortaleza atual que cresce e brilha, que se destaca em várias áreas orgulhando seu povo.
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Um dia fostes uma pequena vila, e antes de se tornar capital olhavas para a poderosa Recife, cuja a história rica e a extensão da autoridade submetia as terras hoje a ti pertencentes, mas cresceu e soube impor-se no cenário regional e nacional.
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Teu progresso se deu lento, mas firme, não ostentas palácios barrocos, e do período tens poucas igrejas, mas constrói os prédios que o século XXI germina.
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Tuas praças trazem a complexa arquitetura atual, revestida de grandes avenidas, tu riscas na terra os caminhos que levam às faculdades, shopings e parques.
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A natureza foi generosa contigo, encheu-te com um colar de praias, cada uma mais bela que a outra. Tuas dunas povoam o litoral e as que antes eram mutáveis são hoje mais estáveis e fonte de turismo.
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Terra de Iracema, pátria alencarina, loura desposada ao sol, são nomes que teus filhos te deram e a ti em melancólica saudade se referem. Sim, pois o cearense vai longe, mais te carrega como coração do Estado dentro do peito.
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E como Alencar, o escritor que cantou Iracema, parece ser lícito dizer que a saudade do teu povo é a maior, e a mais forte.
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Tuas noites não roubam do céu o brilho das estrelas, até os arranha-céus, cada vez mais altos parecem sugerir antes um encontro a um confronto com elas.
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A lua cheia, quando se reflete nas espumantes ondas que morrem na tua longa orla, retrata na imaginação o brilho de um cristal prateado quebando-se e dividindo-se ao sabor do vai-e-vem infinito das marés.
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Do alto, quando vistas à noite, o brilho das luzes, espalhadas em teu campo povoado, deixa pasmo quem de lá vê, e se de dia se observar, parece um postal que bem decora ao brilho do sol, teu título de terra da luz.
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Este é um pequeno texto que encerra uma grande homenagem, nada foi referido a datas e pouco se aludiu da tua fundação e história, mas muito se disse em poucas linhas do teu presente, refletindo nele um futuro maior.
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Completou no dia 13 de abril, 282 anos, mas tua idade nunca foi contada, nem sequer cantada, pois vives num eterno e sempre presente, és sempre a eterna e bela terra onde Iracema deitou e acalentou até os últimos instantes a vida do teu primeiro habitante.
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Parabéns pelo progresso, pelas belezas naturais e as que com ousadia em ti por teus filhos foram e continuam sendo erguidas. Não fostes uma metrópole criada, tornartes metrópole por si só.
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És hoje cosmopolita, acolhendo pessoas de todo mundo. Segue pois teu destino, firma com força na história o grande e rico papel que o presente te exige e o futuro de ti espera.
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Foto : (mesquita.blog.br)
Publicado no "O Povo", de Forteleza-Ceará, em 19.04.2008
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

15.4.08

PROVA DOS “BODES FORA”

Por
Marcondes Rosa
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Esta história me foi passada por Walmir Rosa de Sousa, da Assembléia Legislativa do Ceará, meu irmão, que a ouviu de Pontes Neto, em roda bem-humorada de amigos, tempos atrás.
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Pontes Neto, notório médico e político de nossa história (a cearense), diz que, certa feita, acompanhava Luís Carlos Prestes, em suas pregações em prol do comunismo, pelos sertões da Paraíba. Nessa peregrinação, seguia-os, por onde fossem, um velho caboclo.
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Uma noite, nas conversas de alpendre, o caboclo, já quase discípulo, confessa-se seduzido pela “boa nova”. Mas antes desejava ter a certeza de que havia compreendido a idéia. E, prático, foi ao ponto, direto: “O coronel ali em frente! Muita terra, muito gado e muito dinheiro. Quer dizer, se o comunismo vem, tudo isso é nosso, dos pobres?” Ante a afirmativa de Prestes, animou-se: “Hum! Bom, muito bom, esse comunismo!”
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Mas cauteloso, avançou: “O dono do terreno ao lado! Terra e umas cabeças de gado não lá essas coisas...” Tudo seria dividido com os que nada teriam. O caboclo se entusiasma. Desconfiado, faz o teste final: “Agora, meu caso. Não tenho nada. Moro na terra dos outros. De meu, só filhos, a mulher... Umas cabrinhas e uns bodinhos, pro mode ter o leite e uns queijinhos pra matar a fome da gente. Também tenho que dividir?” Tinha, lamentou o velho líder comunista. Aí, entre inconformação e protesto, propõe: “Home, vamos fazer um negócio? Deixe os meus bodes de fora que eu entro pr’esse tal de comunismo!”
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Nos tempos de agora, de tantos programas “zero” ainda na estaca zero, a história de Pontes Neto viria a calhar. Dividir é verbo que pressupõe multiplicar os pães, operação resultante da soma de nosso trabalho para diminuir a pobreza. Sem isso, é tarefa difícil, sujeita à prova dos nossos ... “bodes fora”, reclamada por todos!
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Artigo publicado no jornal O Povo, de Fortaleza-Ce, em 16.04.2003
Foto: caprinos do Hotel Caravelle, de Ipueiras, fotografados por Ivan Mattos.
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

13.4.08

COLÉGIO SÃO JOÃO

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Por
Bérgson Frota.
Sábado, inverno, começo de noite.
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Parei o carro lentamente no estacionamento e quase que de forma mecânica dirigi-me ao supermercado.
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O céu anunciava mais chuva que viria a acompanhar o sereno fino já caindo desde o meio-dia. Fortaleza estava fria, era abril.
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Entrei rápido e logo peguei um carrinho. Não demorou encontrei um colega. Perguntou-me pela graduação e faculdade, respondi e soube também um pouco de como ia sua vida. Depois de alguns minutos de conversa, ele levantou o queixo numa direção como a apontar, olhei rápido e não pude me conter com o que vi.
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Acima de um balcão de conveniências, precisamente na parede atrás, estava uma grande foto da entrada do Colégio São João.
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Só então me situei. Estava no Pão de Açúcar São João, local do antigo colégio onde na década de 80, havia feito o científico.
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Pensei no lugar que ora pisava, quase sagrado para mim. Acho que no passado estaria no que foi a secretaria, atualmente secção de frios e laticínios.
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Olhei novamente a foto. Soube pelo amigo que havia sido posta a pedido de um ex-aluno. Vi a escada de entrada que levava à secretaria, tantas vezes subida por mim, o portão à esquerda, que barrava quem chegasse fora de hora. Foto grande em preto-e-branco, mas de boa qualidade. Como dizem os chineses uma imagem vale mil palavras e como essa frase valia para mim naquele momento. Após alguns minutos despedi-me, e com uma certa urgência fui abastecer-me. Ao sair do estacionamento senti-me tomado por uma branda nostalgia.
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Às vezes o tempo passa tão rápido que sequer dá trégua para nos acostumarmos com as mudanças, pensei.
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Naquela noite sonhei estar no colégio São João, era intervalo, conversávamos animadamente, enquanto o vento balançava a grande árvore que havia no centro do pátio. De repente o sinal para o início do segundo tempo tocou. Acordei de súbito com o barulho de um forte trovão.
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Era só um sonho em uma noite chuvosa e fria. Deitei-me e procurei conciliar-me novamente com o sono, logo tudo foi apagando, e o som forte dos pingos da chuva foram ficando mais e mais distantes até finalmente tudo silenciar inclusive as lembranças que teimosa minha memória luta em preservar.
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Artigo publicado no jornal O POVO, de Fortaleza-Ce, em 05/04/2008.
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ACIMA: foto da antiga sede do Colégio São João, na avenida Santos Dumont, em Fortaleza-Ce. Arquivo Aba-film.
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

12.4.08

EPITÁFIO

Por
Ângela Rodrigues

Aqui jaz alguém que sofreu,
Que amou e desacreditou,
Que jogou e perdeu,
Que jamais perdoou,
E de tristeza morreu...
Alguém que desistiu de lutar
E preferiu da vida desistir,
Esta cedeu o lugar
Para outra que prefere insistir...
Neste jazigo enterrei
Todas as dores sofridas.
Deixo aqui sepultada
As mágoas que machucavam,
A tristeza, a dor da despedida,
Nada disso tem mais lugar em minha vida,
Por isso neste funeral
Estou a sorrir.
Aqui deixo tudo que me fez mal
Para um novo caminho seguir.
Sinto que é definitivo,
A mulher que hoje me habita
Estava nascendo todo dia
E foi matando com sua alegria
Aquela que aqui jaz...
Deixo flores e lágrimas
E levo no rosto um sorriso
De quem encontrou a paz
Nas portas do paraíso.

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Foto: bela flor fotografada em Ipueiras, nascendo no tronco de uma árvore adulta. Acervo do blog.
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Ângela M. Rodrigues de Oliveira P. Gurgel, poetisa, nasceu em Mossoró-RN, tendo vivido em outras cidades do Rio Grande do Norte (Almino Afonso, Caraúbas, Caicó e Natal) e do Pará (Tucuruí e Marabá). Atualmente mora em Mossoró-RN. Graduada em Ciências Sociais, cursa atualmente Filosofia na UERN (Universidade do Estado do RN) e Direito na UnP (Universidade Potiguar). Já exerceu o cargo de Secretária de Educação em Caráubas, onde também foi Diretora de uma escola de Ensino Médio.

8.4.08

MANHÃ DE ABRIL

Por
Dalinha Catunda

Manhã radiante,
Brisa refrescante,
Entrando pela Janela.

A Brisa eriça meus pelos,
Desmancha meus cabelos,
E leva embora as mazelas.

Carinhos da natureza
Chegam com singeleza
Dizendo que a vida é bela.

Por isso sigo em frente,
Se tenho porção carente,
Esqueço, e não dou trelas.

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Foto: Dalinha na lagoa, do acervo da poetisa
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – POETISA, ESCRITORA E CORDELISTA. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio (cantinhodadalinha.blogspot). É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

5.4.08

TADEU, FÁTIMA E A VOLTA DA JUREMA

Por
Jean Kleber Mattos

Havíamos combinado um encontro, eu e minha mulher Heloisa, com Tadeu e Fátima, na feirinha da Volta da Jurema na Praia de Iracema em Fortaleza. Já lá estávamos. Eram quase nove horas da noite e, pelo celular, soubemos que eles já haviam chegado á Praia. O casal surgiu à nossa frente em poucos minutos. Ao lado da lanchonete Bob´s.

Eu estava profundamente grato ao Tadeu, pois ele facilitara grandemente meus contatos em Ipueiras, onde eu estivera dois dias antes. Graças a ele encontrei Arimatéia e Lutinho, amigos de infância e Fury, amigo mais recente, um verdadeiro mestre de cerimônias da cidade.

Para mim, momento histórico. Estávamos diante de dois legítimos representantes da nobreza de Ipueiras. Ela Fátima, filha de Edmundo Medeiros, ele Tadeu, filho de Zeca Bento dois dos patriarcas que posaram para a foto histórica dos anos 30 onde Edmundo e Zeca Bento figuram juntamente com meu pai, o Matos, e os demais, todos bem jovens, marcando um momento inesquecível para a história da cidade. Estávamos ali, seus descendentes, em nosso primeiro encontro de verdade.

Colocamos a conversa em dia. Recordamos amigos comuns filhos de Edmundo: Edésio, Nemésio, Renato e Aglaê. Contamos histórias, como a aposta que Edésio ganhou, quando adolescente, em Ipueiras, ao comer vinte bananas-maçã à vista dos colegas perplexos. Na mesma época, ele, atleta, ganhara a competição do pau-de-sebo na festa junina do Educandário de seu Matos. Também não esquecemos as aventuras políticas dos tempos de JUC, compartilhadas com a Aglaê. Lembramos o Latim do Nemésio, coroinha na Ipueiras dos anos 40 e o sucesso empresarial do Renato.

Mas o assunto mais palpitante foi sem dúvida a comemoração, havida recentemente, dos 40 anos da turma de Tadeu no Ginásio Otacílio Mota. Ele estava vestido com a camiseta comemorativa do evento e não escondia o quanto aquelas comemorações o haviam tocado.

Fátima, ao lado, sempre sorridente, atualizava-me sobre o momento atual de seus irmãos, meus companheiros de infância. O ponto hilário findou sendo a revelação de nossa paixão, minha e de Heloisa minha mulher, pelo bolo “Luiz Felipe”, que marcou minha pré-adolescência em Fortaleza. Fátima sorriu quando eu disse que, voltando à Brasília dentro de poucas horas a partir daquele encontro, levaria na bagagem nada menos que seis dos tais bolos, fresquinhos. Foi quando ela disse que sabia fazer o tal bolo. Os olhos, meus e de Heloisa, brilharam. Ela nos mandaria a receita por e-mail.

Nesse momento nos despedimos. Saudade. De tudo. Da Ipueiras de minha infância, regada a manzapes, batidas, broas e alfenins. Saudade do Tadeu e da Fátima, casal incrível do qual nos despedíamos naquele momento. Esperança também. De um novo encontro.
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Foto 1. Praia de Iracema (Volta da Jurema). Secretaria de Turismo de Fortaleza.
Foto 2. Tadeu Fontenele na Volta da Jurema.
Foto 3. Maria de Fátima (Fátima) Esposa de Tadeu, por ocasião da comemorações dos 40 anos da turma do Ginásio Otacílio Mota.
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2.4.08

64 PRIMAVERAS

Por
Jean Kleber Mattos
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Dia 30 de março próximo passado, completei 64 anos. Como sempre, não houve festa. Apenas uma torta doce com uma velinha e alguns salgados com a presença, além de nossos filhos e do genro Marcelo, de minha comadre Renata seus filhos e netos. Este ano a vela foi daquele tipo que solta faíscas, parecendo um bastão de incenso, como nos filmes americanos. Não precisa soprar, o que é mais higiênico.
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Renata foi minha estagiária na Fundação Zoobotânica nos anos 70, quando ainda estudante de agronomia da UnB. Mais tarde fui testemunha de seu casamento civil com o então jovem Mauro, na cidade de Marília, em São Paulo. Meus pais, Mattos e Mundita, foram os padrinhos do casamento religioso. Renata formou-se e progrediu na profissão, concluiu o doutorado na Inglaterra, e foi presidente da Sociedade Brasileira de Nematologia. Pretende aposentar-se proximamente, pela Embrapa.
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No começo eram somente ela e Mauro. Com o passar dos anos, foram vindo os filhos e agora os netos. Mas nunca falharam. Todo dia 30 de março sei que vou receber a tradicional visita.
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Em minha casa apenas os aniversários de crianças são comemorados com festa. Via de regra no McDonalds, no Habibs ou no Boliche, onde há espaço para diversão.
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Aos aniversários dos adultos está reservada a cozinha da casa, onde, em torno de uma mesa sopra-se uma velinha e come-se uma torta após uma oração de mãos dadas. Renata e seus descendentes já fazem parte desta família.
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Após a torta, abri o orkut. Trinta e duas mensagens de alunos meus. Sinal dos tempos. A web encarrega-se de lembrar aos amigos que um “niver” está rolando. No passado já aconteceu de eu mesmo esquecer a data.
Grande abraço aos amigos!
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Foto: da esquerda para a direita, em pé: Renata, sua filha Gabriela, minha filha Vanessa, minha esposa Heloisa. Sentados, da esquerda para a direita, Sérgio filho da Renata, Jean Kleber e Ivoneide, esposa de Sérgio.
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