Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

31.7.07

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DE IPUEIRAS DO CEARÁ









Por
Tereza Mourão
Co-gestora do blog

Oferecemos aos nossos leitores de outras plagas, dois mapas onde podem conferir a localização de Ipueiras, a cidade mais mencionada aquí. Em que pese o caráter universal do blog, o destaque dado à cidade de Ipueiras se deve ao fato da equipe que o faz ser nativa ou lá ter vivido a infância ou adolescência.

No mapa maior vemos o Ceará com o município de Ipueiras sinalizado. Nele sinaliza-se a localização do estado do Ceará em relação ao Brasil. O mapa menor é representa o próprio município de Ipueiras.

O município de Ipueiras fica localizado ao pé da famosa Serra da Ibiabapa, o maior complexo turístico do interior do Ceará. Tem uma área territorial de 1.474,11 km2, distribuídos entre a encosta da Serra da Ibiapaba e o sertão sopeziano.

A distância à Fortaleza, capital do estado, é de 298 km por rodovia e 305 por ferrovia. O acesso é feito ao mesmo tempo pelas rodovias BR 020, CE 187 e CE 403. O clima é tropical com temperaturas médias das máximas de 35 C e média das mínimas de 23 C.

Enfim, Ipueiras fica praticamente na fronteira entre os estados do Ceará e do Piaui.
Em tempo: informa o pesquisador Bérgson Frota que o oeste do município que faz fronteira com o Piauí é cortado por uma faixa vertical que ainda é zona de litígio territorial entre Ceará e Piauí.
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Fonte dos mapas e dados de Ipueiras:
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Tereza Mello Mourão é funcionária aposentada do INSS. Pertence à nobreza ipueirense, lá sendo nascida filha do histórico e saudoso prefeito Tim Mourão. Tereza é uma grande incentivadora da união dos ipueirenses dispersos no planeta. Sua ação se dá sempre no sentido de aproximar os conterrâneos e promover os valores da Ipueiras-Ceará.

30.7.07

SAUDADES DO CINE AZTECA DE IPUEIRAS

Por
Bérgson Frota

As cidades mais antigas do interior do Ceará em sua maioria tiveram no passado e hoje poucas têm, um cinema que em alguma época levou as fantásticas histórias da sétima arte para embalar a vida de seus habitantes.

Ipueiras teve um cinema que deixou muitas saudades.

Era o Cine Azteca.

Muitos filmes foram passados na pequena e sempre cheia sala de projeção deste cinema interiorano. Havia matinês com os seriados americanos em preto-e-branco que sempre deixavam um gancho para continuação, sem falar nos famosos filmes de Tarzan que traziam para a garotada a imagem exótica e artificial da África e seus nativos.

Fazia também a alegria da meninada os pequenos trechos de celulóide que sempre eram cortados das fitas e catados com avidez por eles, para depois fazerem seus próprios filmes.

Era costume na década de 60 em Ipueiras ir ao cinema sábado à noite e também aos domingos. No Azteca muitos namoros nasceram e deles saíram vários casamentos.

Na época em que a televisão era só uma novidade ainda distante, o cinema levou para os ipueirenses filmes célebres e noticiários quase sempre de futebol do famoso Canal 100. Assim foi o Azteca durante quase toda a década de 60, porém antes mesmo de começar os anos setenta o cinema já não mais existia. A televisão que havia chegado na cidade, primeiro com o televisor público, acabou com a magia da sala escura.

Nesta época cinemas de outras cidades também fecharam, a rede de distribuição de filmes que muito lucrara restringiu-se às grandes cidades, finalizando um ciclo cultural que enquanto durou, beneficiou a muitos municípios.

Hoje Ipueiras é uma cidade antenada com o mundo, porém o cinema não foi ainda plantado no seu atual desenvolvimento. Só o nome do primeiro e mais duradouro cinema ficou, e restou aos mais antigos a lembrança da tela branca do Azteca, que se enchia de cores e movimentos, sempre que as luzes eram apagadas, fazendo a fantasia dos filmes trabalhar a emoção na alma de seus inúmeros espectadores.
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(Publicado no jornal O Povo de Fortaleza em 07.05.2006)
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Foto da sala de cinema: www.cinesanta.com.br/novasala.htm
Foto da criança com película:
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Bérgson Frota, formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), é um prestigiado cronista ipueirense e pesquisador da história e da geografia do Ceará, especialmente da cidade de Ipueiras. É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.

27.7.07

O BARÃO DE COUBERTIN E O PAN


Por
Jean Kleber


Em meados do século 19 iniciaram-se investigações arqueológicas para achar a cidade perdida de Olímpia. Ela foi arrasada por um terremoto que deixou suas ruínas encobertas por lama e pedra, no século VI. O alemão J. J. Wincklemann, em 1870, iniciou várias escavações na Grécia e em 1871, detectou vestígios de ruínas gregas.
Quatro anos depois, os arqueólogos britânicos encontraram Olímpia, sede dos jogos gregos da antiguidade. A notícia se espalhou pela Europa e despertou um interesse pela vida da sociedade grega.

O francês Pierre de Fredi, Barão de Coubertin, fez renascer no final do século XIX a mística dos Jogos Olímpicos. Nascido em Paris, no dia 1º de janeiro de 1863, o Barão de Coubertin era descendente de uma família nobre, cujos antepassados receberam o título de nobreza do Rei Luís XI, em 1471. Em 1567, um de seus ascendentes adquiriu o Senhorio de Coubertin, perto de Paris, fazendo com que a família adotasse o nome da localidade.

Formado na Universidade de Ciências Políticas optou por se dedicar à reforma do sistema educacional francês. Em 1892, apresentou na Universidade Sorbonne, em Paris, um estudo sobre "Os exercícios físicos no mundo moderno". Na ocasião, mostrou o projeto de recriar os Jogos Olímpicos, o qual não foi muito bem aceito.

Certo de que a Grécia havia atingido o domínio da Idade Antiga por causa do culto ao corpo e ao esporte, Coubertin passou a pregar a realização dos novos Jogos. No dia 6 de janeiro de 1896, finalmente a chama olímpica pôde brilhar novamente na Grécia. Recomeçavam os Jogos Olímpicos, com a presença de 13 países e 311 atletas. "O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade". Esse era o lema do educador. A frase, entretanto, não é de sua autoria: foi pronunciada pelo bispo de Londres em um ato religioso antes dos Jogos de 1908.

Um pouco antes do início dos Jogos de Atenas, o Barão de Coubertin assumiu a presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI), cargo que ocupou até 1925. A principal luta do francês foi impedir a presença de atletas profissionais nas disputas. O Barão de Coubertin gastou praticamente toda sua fortuna para colocar em prática o sonho da Olimpíada.

Morreu pobre e isolado, em 2 de setembro de 1937, em Genebra, na Suíça. Como forma de reconhecimento, seu coração foi transportado para Olímpia, onde repousa até hoje em um mausoléu.

Os Jogos Olímpicos dos quais os XV Jogos Pan-americanos-Rio 2007 são descendentes, foram criados para estimular a saúde e a paz. As espadas do passado e os mísseis de hoje são substituídos por chutes, quedas e socos, se considerarmos as modalidades taekwondo, judô e boxe. Há esportes mais leves como corrida e ping-pong. Às vezes a competição assume perfil de guerra.

As vaias e xingamentos são resposta às decisões equivocadas ou tendenciosas da arbitragem. Os velhos e mortais projéteis das guerras são substituídos por copos de refrigerante e cadeiras de plástico. Tumulto generalizado nas arquibancadas. Da vaia ao pugilato é como acender um rastilho de pólvora.

A deslealdade se faz presente. Regras são desrespeitadas. Golpes baixos. Às vezes de forma leve. Apenas um arranhão na ética. Gritos e caretas para desconcentrar o adversário. Vaias da platéia.

Ocasião de elogiar as delegações mais civilizadas. Momento para refletir sobre o valor da boa educação. Fala-se mal dos adversários. Repórteres mostram apartamentos depredados e sujos na Vila Olímpica.

A cobrança sobre o patrício. Nem sempre é fácil jogar “em casa”.

Como numa guerra, há deserções. Estas historicamente patrocinadas por pugilistas cubanos em busca dos dólares milionários da profissionalização.

Por conveniência ou não, ao final de cada jogo os adversários se cumprimentam. Momento de experimentar a benção do sorriso e a emoção do abraço.

Momento de sentir que todos somos vocacionados à confraternização. Naturalmente.
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Fontes de fotos e informações
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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente doutor em Fitopatologia, é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

20.7.07

MIGRANTE

Por
Dalinha Catunda

Sou das águas retiradas.
Sou do sertão nordestino.
Das caatingas desertei,
Lamentando meu destino.
Pois deixar o meu torrão,
Machucava-me o coração
Causando-me desatino.

Meu dialeto sagrado,
Era motivo de riso.
Era uma rês desgarrada,
Mas seguir era preciso.
Pedi a Deus proteção,
E virgem Conceição,
Para me dar mais juízo.

Não reneguei minha terra,
E jamais renegarei.
De ser filha do Nordeste,
Sempre me orgulharei.
Lamento até ter perdido,
Aquele sotaque antigo,
Que de lá eu carreguei.

Na minha casa nova,
Onde hoje brilha o chão,
Num canto especial,
Avista-se um pilão,
Em outro canto uma rede
Onde embalo com sede,
As saudades do sertão.

Tapioca com manteiga,
Não deixo de comer não.
Numa panela de ferro,
Faço um gostoso baião.
Cabeça de galo e mal-assada,
São iguarias apreciadas,
Com gosto de tradição.

Rezo pra são Francisco,
E padre Cícero Romão.
Pra proteger Ipueiras,
Meu pequenino rincão
Pois é lá minha ribeira,
Onde a linda carnaubeira,
Ao vento lança canções.

Eu vim sem querer vir
Fiquei sem querer ficar,
Mas um dia ainda volto,
A morar no meu Ceará.
Longe da terra amada,
Serei sempre ave arribada
Voando tentando voltar.
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Publicada dia 22.01.2007 no blog Primeira Coluna
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – POETISA, ESCRITORA E CORDELISTA. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens.

LIVROS E BIBLIOTECAS EM NOVA YORK

Por
Lin Chau Ming

Quando estive aqui em Nova York pela primeira vez, em 1994, tive como objetivo, pesquisar as plantas medicinais que havia coletado no Acre, e complementar minha tese de doutorado. Perguntaram-me, alguns amigos, com uma pequena dose de xenofobia, porquê Nova York e o seu Jardim Botânico? Tinha a resposta pronta na ponta da língua: porque é no The New York Botanical Garden que está a maior coleção de plantas da Amazônia do mundo. Para isso não tinha argumentação.

Associada à coleção botânica, há outra situação extremamente interessante para os que querem pesquisar a área de Botânica ou áreas correlatas. A biblioteca do Garden. Uma coleção fantástica de livros. Simplesmente a maior biblioteca de Botânica do mundo, penso eu, na minha ignorância sobre a biblioteca do Kew Garden, em Londres. Tudo que você quiser sobre o assunto, você acha, in situ, ou sabe onde e como obtê-lo.

Qualquer pesquisador ou professor que quiser ter acesso a essa biblioteca, basta um convite, e pronto. Tem acesso a todos os livros, documentos e periódicos. Livros raros incluídos. Eu, na época, tinha o status de pesquisador associado, então eu podia trazer livros para o meu escritório (regalia que não tenho aqui na Columbia), quantos livros eu quisesse, para pesquisar.

Não era permitido tirar xerox dos livros inteiros, como é tradição acadêmica entre a maioria dos professores brasileiros. Cópias só eram permitidas de partes dos livros, e ainda, em fotocopiadoras especiais, que não permitiam que os livros fossem abertos em 180º , pois acabam por prejudicar a conservação destes.

As bibliotecárias (os) foram muito atenciosas durante todo o meu período por lá. Sempre tive afeição por esta categoria profissional, desde minha infância, quando já freqüentava uma biblioteca infantil pública na cidade de São Paulo. Na Emater – Paraná, onde trabalhei, e nas outras Emateres que visitei em vários estados brasileiros, esses profissionais, em sua maioria, mulheres, tinham especial carinho e dedicação no atendimento ao público e isso me impressionava. Digo isso também dos nossos e nossas colegas da biblioteca da FCA, todos merecem nosso respeito.

Aqui na Columbia, por ser uma biblioteca geral, há livros para as áreas com as quais se estudam. São mais de 8,6 milhões de volumes, 65.000 títulos de periódicos, 5,8 milhões de microfilmes, 228.000 manuscritos e arquivos, 135.000 materiais cartográficos e 776.000 materiais gráficos. Houve, em 2004/05, mais de um milhão de retiradas ou acessos. Estes números impressionam também. Para poder gerir esse acervo todo, 574 funcionários e um gasto anual de mais de 46 milhões de dólares.

Nos Estados Unidos se lê muito. Em qualquer ponto de ônibus, dentro do metrô, em bares, restaurantes, e principalmente em bibliotecas, há sempre gente com livro nas mãos, entretido no que está escrito, uma abertura a mais na mente humana. E é possível comprar livros baratos por aqui. Há muitas livrarias e sebos, muitos deles na parte sul da ilha, em bairros como Greenwich Village, East Village, Soho, Chelsea, bairros com gente alternativa, próximos a universidades.

Na esquina da rua 12 com a Broadway, há um sebo chamado “Strand”, que é considerado o maior sebo do mundo. Em sua propaganda está escrito: “18 milhas de livros. (ou 30 km de livros, transformando as unidades de medida). Milhões de ofertas”. Quando comprei meus primeiros livros aqui em Nova York, em 1994, a loja tinha suas estantes extremamente desarrumadas; hoje já tem até elevador para dar acesso às novas estantes, situadas nos quatro andares da loja.

Sempre é possível encontrar um livro diferente ou raro. Encontrei nesta semana uma relíquia que acabei comprando: o livro com as obras apresentadas na II Bienal de São Paulo, de 1954. Preço? Parafraseando uma propaganda de um cartão de crédito, o prazer de tê-lo encontrado não se paga...Vou doá-lo a uma biblioteca no Brasil ligada à área de artes.
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Foto New York Public Library:
Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor adjunto da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas medicinais. Este ano (2007), está em Nova York, na Columbia University, fazendo pós-doutorado na área de Etnobotânica.

17.7.07

DO LOCAL AO UNIVERSAL

Por
Marcondes Rosa de Sousa

O Ceará vive nestes dias momentos de expectativas quanto à definição das linhas de ação com vistas à conquista de seu próprio futuro. Em momentos como este nunca é demais refletir sobre a própria capacidade de elaboração interna com vistas ao alcance de seus objetivos estratégicos. Reconhecer essas aptidões e saber utilizá-las é meio caminho para que uma dada sociedade possa escapar da armadilha dos determinismos paralisantes.

Basta pensar no valor estratégico dessa invenção bolada por um cearense - o professor Expedito Parente - para se ter a idéia de como é possível, a partir de uma simples aposta na produção do conhecimento, tornar qualquer ponto geográfico do planeta - independentemente da escala de desenvolvimento social em que esteja inserido - num pólo de saber específico, de valor universal, diante do qual todos se curvam e no qual podem se apoiar para trazer novos benefícios à sociedade humana.

Quantos Expeditos Parente não existirão, anonimamente, dedicados à tarefa de alargar as fronteiras do conhecimento (e assim beneficiar a humanidade), mas que têm seu trabalho desconsiderado, como aconteceu com o próprio inventor do biodiesel? Alguém, por acaso, se lembra que a Universidade Federal do Ceará (UFC) foi o berço desse feito engenhoso?

No entanto, é preciso lembrá-lo, neste momento em que o País como um todo se sente instado a repensar suas estratégias para possibilitar a mobilização de suas melhores energias com vistas a alcançar um desenvolvimento mais igualmente distribuído, a fim de que não cresça como um corpo disforme, marcado pela hipertrofia de algumas de suas partes, formando no conjunto um monstrengo, com o qual fica difícil sua sociedade identificar-se.

A contribuição da UFC ao Brasil está longe de se circunscrever apenas ao caso do biodiesel, outras pesquisas, em áreas diversas têm obtido reconhecimento além-fronteiras. Seu qualificado quadro de doutores e pesquisadores poderia produzir muito mais, se houvesse o discernimento - por parte das autoridades encarregadas de zelar pelos saberes no horizonte nacional - de enxergarem o Brasil, realmente como uma federação.

Ou seja, de encararem as questões, ditas, ''regionais´´ como problemáticas nacionais. Já é tempo de o paradigma holístico prevalecer de forma sistemática na composição dos olhares do poder central sobre a rede de realidades diversificadas que desenham o perfil nacional e, nela, certamente, o Ceará, com o seu principal centro de elaboração e difusão do saber - a UFC - merece ser olhado sem as distorções de lentes desfocadas pelo exclusivismo dos que se consideram mais brasileiros que os demais.
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Originalmente publicado em "O Povo" - Fortaleza -CE, em 04/07/2007 02:11
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Foto da reitoria da Universidade Federal do Ceará:
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

16.7.07

É TEMPO DE FÉRIAS

Por
Bérgson Frota


As férias foram e ainda continuam a ser um tempo de alegria, diversão e descobertas para estudantes de todas as épocas e idades.

Quando criança, em Ipueiras, não era diferente.

O inverno havia deixado açudes cheios e a vegetação, mesmo já começando a tornar-se verde-cinza, dava ao ambiente uma sensação de estação atípica, como se temperada.

Tomávamos longos banhos no açude da Cadeia, o maior e mais central. Percorríamos várias trilhas pelo leito seco, arenoso e sinuante do rio Jatobá, até descer ao Lamarão, o lugarejo mais distante na época.

No caminho cacimbas e poços, de onde ainda até se podia pegar com tarrafas e landuás as famosas piabas e alguns peixes grandes que haviam ficado presos pela rápida queda que sempre se dava no nível do rio.

Do meio dia em diante estávamos na praça, brincando com o vento seco e forte que cercado pelos morros, voltava-se para a cidade, varrendo ruas, levantando ondas de poeira e desfolhando pés de castanholas, fazendo balançar a copa das ainda remanescentes carnaubeiras e no céu rodar nossos papagaios.

Nas Crôas, região fértil próxima ao leito do rio, mas já distante da ponte, havia vários pés de manga. Era o “oásis das mangueiras”, lugar que costumávamos ir e arriscarmos-nos, subindo nos mais altos e finos galhos, porém os mais carregados, para tirar os cachos de manga, em sua maior parte, ainda verdes.

Não raro caía um, dois ou três, e lá íamos nós ajudar. Alguns passavam o restante do mês a se recuperar de uma perna ou braço fraturado, mas das tais quedas, nunca houve morte a se registrar.

Quando chegava à noite, tinha o parque, sempre a ocupar terrenos baldios, mas ainda dentro da cidade.

Desfrutávamos nós, garotos, da animação. Nos acercando de vendedores de pipoca, picolés, pirulitos, estes sempre a serem levados em pranchas de madeira, algodão-doce e a famosa garapa de cana, feita na hora.

Era muito a desejar e pouco pra se gastar.

Tínhamos rodas-gigantes, balançadores, carrosséis e canoas que faziam e ainda fazem hoje a alegria da garotada.

Assim as noites de férias seguiam, com músicas, brincadeiras, risos e gargalhadas. No fundo, o contínuo e mecânico som dos aparelhos de diversão em movimento.

Restos eternos de tempos livres e despreocupados, tempos estes que nos fazem lembrar e sempre saudar como um dia antes fizemos, os tempos de férias, todos os que vivemos, e os que ainda vamos nos permitir viver.
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(Publicado no jornal O Povo, em Forteleza-CE, em 15.07.2007)
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Figura do parque:
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Bérgson Frota, formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), é um prestigiado cronista ipueirense e pesquisador da história e da geografia do Ceará, especialmente da cidade de Ipueiras. É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.

13.7.07

CURRICULUM ACIDENTAL

Por
Jean Kleber Mattos

Minha esposa Heloisa é bióloga com diferenciação em ecologia. Via de regra vamos juntos às reuniões científicas. Especialidades afins. Nessas ocasiões aproveitamos para também levar os filhos.

Em 1997 comparecemos ao Congresso Brasileiro de Olericultura em Manaus, onde eu faria palestra. Trataríamos do cultivo de hortaliças no Brasil.

Na chegada, ainda no aeroporto, o microônibus do congresso veio apanhar todos os congressistas que chegavam para levar-nos ao Hotel Tropical, sede do evento.

Por falta de espaço, algumas bagagens foram acomodadas ao lado do motorista, à frente do salão do veículo. Quando o ônibus fez a primeira curva rumo à cidade, repentinamente a porta dianteira abriu-se e duas malas, pela força centrífuga, foram arremessadas ao asfalto. O passageiro do banco dianteiro, lateral ao nosso, certamente temendo mais rolamentos ou para recuperar sua bagagem, precipitou-se para a porta com o veículo ainda em movimento.

Reação instintiva, minha mulher, sentindo a situação de perigo, alcançou-o como pode e o reteve pelo fundo das calças. O ônibus ja se encontrava então, parado. Recuperado, o passageiro voltou-se para agradecer. Nessa hora eu não consegui conter o riso. O cidadão, salvo de modo tão irreverente, era um dileto e famoso amigo meu, verdadeira lenda da Olericultura, um dos chefes de unidade da Embrapa.

Constrangida, Heloisa desculpou-se pelo vigor daquele desajeitado salvamento. Tarde demais. O episódio já então fazia parte de seu curriculum. Ainda nos dias de hoje, quando encontro meu amigo, rememoramos às gargalhadas a grotesca cena.

Mas todos finalmente concordamos que reflexos rápidos podem salvar vidas.
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Figura de sinalização de trânsito:
Foto de Heloisa: blog Suaveolens
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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente doutor em Fitopatologia, é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

12.7.07

O DIA EM QUE MATEI MEU ANALISTA

Por
Nilze Costa e Silva


Ele ri das minhas dores de cabeça e do meu desânimo. Ri, depois fica sério, circunspecto. A cabeça faz viagem. Sei que não existo ali perto, apenas falo. Ele não se mexe, num silêncio devastador. Finalmente se resolve e as palavras resvalam num vazio sem paredes e tetos.

Entro na sala silenciosamente e observo as cortinas dançando ao vento. Deponho um bilhete na mesa. Pouco me expresso falando e penso que isso o irrita. Óculos na ponta do nariz, ele quer parecer mais velho. Olha-me enviesado e finalmente se resolve a ler: “Para o diabo com essa verdade mais verdadeira. Fique com ela. Ela é sua. Não precisa me devolvê-la, tenho defesas outras".

O olhar é longo e me alfineta. O olhar é um estilete de lâminas quase microscópicas que só me penetra e não me resolve. O silêncio do olhar me endoidece. Dou porradas na mesa como dou nesses diabinhos que me perseguem. Um olho me absolve e o outro me ordena que eu tome o meu devido lugar.

Deito-me no divã e sinto-me lúcida, quase feliz. Divago. À noite ligo e pergunto se ainda é válido o convite para o jantar. Do outro lado uma voz se alegra e confirma. Sinto e vejo o gesto da boca falando em câmara lenta. A morenidade é do rosto do analista, os cabelos dispersos, o rosto imberbe. Dele é aquele olhar omisso que me anula e me hipnotiza as esperanças.

Meu analista é assim: essa coisa inalcançável, que eu necessito domar para me sanar de corpo e mente. Um ser estranho que apenas me olha e me ouve. Só lhe vejo o movimento dos lábios e não sei lê-los. Disserta sobre as coisas mais impossíveis e inoperantes, como realidade, princípios certos, coisas exatas, autenticidades, representação fiel de uma coisa qualquer que ele julga existir. Verbalismos sem nexo que se perdem no tempo e no espaço. Meu psicanalista é assim desalmado, distrai-se ao falar, tergiversa. Quer me rebuscar, me revolver. Quer-me presa. Um verdugo de mentes, um carrasco, o que ele é.

Pois confesso ter aceito desta vez o convite para jantar. Nem jantamos. O carro deslizou pelo asfalto uma fita do Caetano, "Você me deixa a rua deserta, quando atravessa e não olha pra trás...”

Olho de soslaio o meu psicanalista. Depois, sem medo, resolvo olhá-lo de frente. Ele não se toca, não se deixa penetrar. Irritam-me a arrogância e o despotismo dos gestos. Um cínico...

Não há muito o que contar sobre o que acontece depois. Um freio brusco, uma lua grande falando de manchas antigas e de uma geometria perturbadoramente exata a olho nu. De um lado, colunas de areia. Rodeia-nos ainda um nigérrimo e imenso mar e mais dois segmentos opostos de estradas mal iluminadas. Entre gestos que se avizinham, um beijo excessivamente molhado. Duas mãos ávidas acariciam as costas largas e bem torneadas do psicanalista. Entre os dedos, a lua se faz refletir no canivete afiado.

Não há como descrever esse momento sublime. Eu tinha ali, nos meus braços, o sangue e o corpo do meu analista, agora rendido, repousando em meus ombros. Tinha as dunas, a lua e o barulho do mar. O vento varrendo os nossos cabelos e nos acariciando o rosto.
Sei que abri os olhos e sorri de felicidade. Levantei do divã e olhei em direção à janela. Sentia-me flutuar. Novamente o vento. Novamente fazia com que dançassem as cortinas.

O analista me olhou espantado e eu lhe fechei os lábios com os dedos, para que nada mais acrescentasse àquele momento divino. Despedi-me dele para sempre, sem cansaço, sem agonia.
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Figura do analista:
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Nilze Costa e Silva nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, tendo vindo morar no Ceará com alguns meses de idade. Graduou-se em Administração de Empresas e logo após especializou-se em Teoria da Literatura (1986), pela Universidade de Fortaleza UNIFOR). Iniciou na Literatura com o livro Viagem – Contos e Crônicas, que teve prefácio do consagrado poeta Francisco Carvalho. Sagrou-se em 1° lugar no Prêmio Estado do Ceará, com a novela no Fundo do Poço (com apresentação do contista Moreira Campos). Em 2001 fundou o grupo Poemas Violados. Promove sistematicamente a oficina de Escrita Criativa: “Palavras não são vãs”. Integra a Rede de Escritoras Brasileiras (REBRA). É colaboradora do Jornal O Povo, de Fortaleza, e conselheira do Conselho de Cultura do Estado do Ceará. No cotidiano, dedica-se a questões relacionadas aos direitos humanos. Recentemente lançou o livro de sua autoria, Fortaleza Encantada.

10.7.07

O CRISTO DE IPUEIRAS

O CRISTO E MEU ARTIGO
Domingo, oito de julho, fim de noite. Minha caixa postal trazia precisamente onze e-mails não lidos.

Todos de amigos que comentavam uns sobre meu artigo, O Cristo de Ipueiras, outros para falar sobre a eleição do Cristo do Rio de Janeiro como uma das sete maravilhas do mundo moderno.
Alguns dos que passaram a ler meus trabalhos recentes não sabem que sobre o Cristo de Ipueiras fiz na época, um trabalhoso e pesquisado artigo, tendo como fonte o Sr. Edmundo Medeiros (já falecido) e meu pai (Jeremias Catunda) que me forneceu ainda comentários do historiador ipueirense Hugo Catunda sobre tal construção, e o porquê dela ter sido inaugurada no ano de 1943.
Gostaria que este blog publicasse o trabalho, pois sei que nunca é tarde para se valorizar nosso monumento, e este, nosso Cristo, bem merece a homenagem.

O CRISTO DE IPUEIRAS

Por
Bérgson Frota

“Ipueiras é rodeada por uma cadeia de morros e serrotes com a perfeita forma de uma ferradura, assim distribuída : inicia-se no leste com o “Morro do Açude”, seguido pelo dos “Frios”, “Saquinho” (o mais alto de todos) e o do “Cristo”, onde se assenta a estátua do Redentor”.

O texto acima, retirado do artigo “Ipueiras antes, lagoas e carnaubal” do jornalista Jeremias Catunda, atesta de forma concisa o poder que a imagem do Cristo exerce no imaginário coletivo do povo ipueirense.

O início de sua construção deu-se no final de 1942 sendo concluído em 1943, para comemorar os sessenta anos da criação do município, portanto treze anos após a inauguração da colossal estátua do Corcovado. Guarda porém o Cristo ipueirense certas particularidades que o distinguem do ícone carioca.

O planejamento requereu do engenheiro prático Pedro Frutuoso do Vale, um trabalho de pesquisa e técnica não só de conhecimento do solo, que teve como fundação 15 metros de profundidade, como moldes precisos para concentrar o concreto e transferir na época, materiais para o topo de um morro, que foi escolhido não por ser o mais alto, mas por ser o mais próximo do centro do município.

Uma estrada que contornava as costas do morro de 120 metros de altura foi aberta, e assim começou-se o transporte do material para a base na qual se assentaria o monumento.

Pedro Frutuoso, concebeu para a criação da obra um desenho que de forma clara distanciaria o Cristo de Ipueiras de outros já construídos. Se a idéia por si só não era original, já que a construção inspirou-se na da imagem feita no Rio, tendo então a mesma posição, de braços abertos abençoando a cidade, não teria no entanto, o estilo art-deco no qual foi trabalhado o primeiro.

O engenheiro tirou como modelo, traços do ícone da tradição bizantina feito no século XV. O Cristo Pantocrator (do grego Todo-Poderoso).

Seus traços podem ser definidos como : rosto alongado, sobrancelhas arqueadas, olhos grandes e abertos, voltados para o espectador, pois não somente nós o contemplamos mas Ele também nos contempla. Nariz longo e delicado, a barba comprida terminando em ponta arredondada. Seu pescoço é grosso e forte simbolizando que Cristo quer soprar seu Espírito, sua cabeleira é vasta, representando sua sabedoria. A boca pequena indica o silêncio, o que acentua a divindade do Verbo encarnado.

No que toca as vestimentas, o imation (manto), cobre-lhe todo o corpo, representa sua humanidade, já que até os pés são cobertos (o manto arrasta-se pela terra), o chiton (túnica) cobre-lhe os ombros, e oculta junto com o manto o peito, fazendo com que o coração, embora não visível, seja percebido pela expressão facial.

A cor da estátua é e sempre foi branca, tendo como altura 12 metros, distanciando entre os extremos dos dedos 7 metros. Assenta-se sobre um pedestal em forma de morro de 2 metros, de cor cinza escura.

O monumento à noite é iluminado por fortes luzes de tonalidade azul, lembrando uma presença divina a velar por toda cidade.
Durante o dia, pode-se ver, contornando-o, um vasto canteiro de plantas de diversas espécies, que dão um colorido especial à obra. É conhecido como o horto do Cristo.

Ergue-se portanto no sertão cearense há sessenta e dois anos, um belo monumento em homenagem à religiosidade ipueirense, símbolo da cidade que neste ano comemora seus 122 anos de municipalidade, recebendo a todos de braços abertos, coroando com o esmero da benção o povo cearense, convertendo-se no Cristo dos sertanejos, o Cristo do morro, o Cristo da Caatinga.
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(Publicado no jornal O POVO em 17.04.2005)
Publicado no jornal Momento Ipueiras em maio/2005)
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Foto principal do Cristo de Ipueiras, na inauguração:
Segunda foto do Cristo de Ipueiras:
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Bérgson Frota, formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), é um prestigiado cronista ipueirense e pesquisador da história e da geografia do Ceará, especialmente da cidade de Ipueiras. É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.

8.7.07

TERRA DOS SONHOS

Por
Dalinha Catunda


Ipueiras das serras e serrotes,
Pequeno pedaço do Norte,
Tão grande em meu coração

Terra de intensa beleza,
Onde deixei minha pureza,
Escorrer demarcando meu chão.

Leito de tantos amores,
De amante e de ardores,
Fonte de tantas paixões.

O sangue que corre nas veias,
Da filha que habita essa aldeia,
É vida em circulação.

Ipueiras feitiço, magia,
Fogo que contagia,
Em sua lascividade.

Cidade provocativa,
Que nos convida à vida,
Ao gozo e à felicidade.
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Foto de Ipueiras: blog Suaveolens
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – POETISA, ESCRITORA E CORDELISTA. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens.

VÔOS MAIORES!

Por
Marcondes Rosa de Sousa

Introdução do blog:
O presente artigo de Prof. Marcondes Rosa de Sousa a pesquisa do blog localizou-o na internet. Publicado em 2000, o texto reveste-se de grande atualidade, considerando-se o recente posicionamento do Brasil quanto à qualidade da educação, no cenário internacional.


Educação! Do nascer ao morrer, é um direito subjetivo de todos os cidadãos. Este, o princípio pactuado por todos os países, no ingresso destes anos 2.000. É ela a via mais durável e segura para a distribuição da renda, a inclusão social e a participação no círculo da cidadania.

Em nosso País, realizamos esforço recente para nos ajustar a esse diapasão e compasso. Muito chão temos ainda que andar. Ao final desta década, países desenvolvidos terão universalizado a educação superior, dedicando-se às esferas mais sutis da "high education".

No Brasil, São Paulo promete escola média para todos em 2.008, e Santa Catarina antes disso, em 2.005. No Ceará, eufóricos celebramos o inédito feito dos 98% de crianças de 7 a 14 anos no ensino fundamental, num sinal do fôlego possível para vôos mais altos.

Quantidade (sabemos) não é o bastante, se o sentido é o econômico, o social e o político. Daí, o ataque aos itens onde ela está imanente (qualificação docente, estrutura física adequada, bibliotecas, laboratórios, informatização, revisão dos currículos).

Nesse terreno, os desafios se agigantam. De início, temos de incorporar a educação infantil, ainda no limbo entre a família e a ação social, à "escolar". Fazer, de meros "abrigos de infantes", instituições escolares.E de "tias" (dedicadas que sejam), pedagogas confiáveis.

De resto, é acabar de vez, em toda a cadeia educacional (da básica à superior), com a crônica "cultura da complacência", submetendo-a a um crivo mais rigoroso dos processos de "autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público" (Art.209, II da Constituição Federal).

Com a LDB, a avaliação toma formas diversas ("provão", ENEM, pesquisas etc), invadindo o quotidiano da vida escolar, em todos os níveis. Das instituições, exige-se que sejam "credenciadas".

Dos cursos, que se submetam aos processos de autorização e reconhecimento. E nossa esperança é que essa cultura sepulte as figuras da tolerância, criadas no passado pelos próprios conselhos de educação para a convivência com escola sem qualidade e sem crédito ("escolas cadastradas", “conveniadas" e outros eufemismos do "precário e sem condição").

Nossa sociedade é hoje bem outra. Bem mais vigilante em relação ao adequado uso dos recursos destinados à educação. Iniciativas como a "CPI do Fundef" que o digam. Bem mais conscientes estamos todos sobre o valor e o papel da educação na promoção e vida do homem.

Não há mais razão para que nos enganemos, alimentando escolas e ensino de faz-de-conta!
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Artigo publicado na Página "Idéias" da edição de domingo no Jornal Diário do Nordeste, em Fortaleza, em 21/05/2000.
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Foto da decolagem: http://www.plannar.com.br/
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

7.7.07

LAGOAS E CARNAUBAIS DE IPUEIRAS

Por
Bérgson Frota

Segundo o historiador ipueirense Hugo Catunda, em meados do século XIX Ipueiras era uma pequena vila dividida entre cinco lagoas que se diferenciavam pelo tamanho e distância uma da outra, cercadas por inúmeros carnaubais.

A maior veio a se tornar por obra municipal em fins do século XX no mais urbanizado açude da cidade, o Açude da Cadeia.

As cinco lagoas eram ricas em barro-de-louça e tinham não só no meio, mas entre uma e outra um elo feito de pés de carnaúbas que cresciam quando não perto delas, também no meio das ruas areientas, e suas altas copas farfalhavam quando o vento seco e forte do meio dia soprava.

Também nas margens e centro das rasas lagoas, as carnaúbas se multiplicavam, quando era inverno. E pelo grande volume dágua que recebiam das chuvas, as lagoas ficavam cheias, somente dando para avistar as copas das árvores que haviam ousado crescer no meio dos antes poços sem profundidade, tornando-se grandes lagos de ilhas verdes a se mostrarem timidamente.

Das outras quatro lagoas, uma localizava-se no atual bairro do Vamos-Ver, não sendo grande nem profunda, outra ocupava o terreno que hoje é o campo de aviação, posto localizar-se no bairro da Estação.

A quarta um pouco mais distante ficava no Lamarão, e finalmente a que de tão numerosas carnaúbas que perto havia, davam elas nome a própria lagoa, era a das Carnaúbas.

Com o tempo as lagoas foram sendo engolidas pelo rápido crescimento urbano, sendo que muito pouco ficou das outras quatro, somente a quinta, a mais central, cresceu e se embelezou.

Quanto à “árvore da vida”, ostentando uma forma singular e exótica, veio a marcar de forma indelével o passado da cidade. Inspirando da terra os prosadores, contistas e poetas, que ainda vêem na carnaúba, o eterno símbolo verde de Ipueiras.
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Foto principal: O Açude da Cadeia, hoje urbanizado
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Bérgson Frota, formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), é um prestigiado cronista ipueirense e pesquisador da história e da geografia do Ceará, especialmente da cidade de Ipueiras. É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.

4.7.07

LIVROS, SE NÃO OS TEMOS, COMO SABE-LOS?

Por
Lin Chau Ming

Tive a sorte de morar, na minha infância, perto de uma biblioteca pública. Ia para lá quase que diariamente, após as aulas, a pé, pois eram apenas alguns quarteirões; minha mãe deixava eu ir sozinho, pois sabia que iria para estudar. Era um lugar bem agradável, tranqüilo, com um jardim interno arborizado, gostoso de se ficar. E ficava, horas e horas, a folhear os livros, aventura, romance, histórias em quadrinhos, literaturas diversas, que me levavam a um mundo fantástico, a imaginação alçando vôos mais longínquos, e que me incentivavam a fazer novamente outras viagens.

Na adolescência, fui sócio de clubes de livros, comprava os livros em edições de capa dura ou nem tanto, regularmente. Minha família sempre foi “devoradora” de livros, minha mãe a puxar a fila, com edições chinesas e japonesas (ela era fluente em ambas as línguas, pena que não herdei essa habilidade, lamento hoje). Durante a faculdade, gastava parte de minha bolsa de iniciação científica em livros técnicos, idem depois de formado, desta vez com o salário. Hoje tenho uma biblioteca pessoal com acervo razoável, na área técnica em que atuo. Está disponível em minha sala para quem quiser utilizar.

Desenvolvi, ao longo do tempo, o gosto em ser “rato de biblioteca”, isto é, de ficar fuçando as estantes das bibliotecas, folheando livros e periódicos, em busca de novas informações e pensamentos. Não me esqueço nunca a felicidade e a ótima sensação em ter manuseado algumas obras raras, originais, que infelizmente poucas bibliotecas possuem.

Hoje, o acesso a informações já pode ser feito pela Internet e outros meios eletrônicos. A facilidade e velocidade para se ter novas informações está absurdamente mais rápida do que antigamente. Nunca me acostumei a esse tipo de fontes. Não me habituei a ler textos na tela do computador, prefiro os textos impressos em papel. Anos atrás, quando os meios digitais estavam começando a fazer sucesso, li sobre uma idéia, ainda não efetivamente realizada, de se fazer um livro eletrônico, isto é, uma tela onde a gente poderia escolher os diversos títulos e ficar lendo, como em um lap-top. Achei a idéia um tanto esquisita, mas acho que isso já existe, eu é que fiquei pra trás.

Os alunos têm, hoje, a possibilidade de fazer busca de referências de literatura em bases de dados eletrônicos, uma facilidade e tanto. Lembro-me quando fazia Mestrado e o começo do Doutorado, que a busca das bibliografias era feita folheando diretamente nas edições dos diversos “Abstracts”, página a página, tentando encontrar o assunto ou texto que queria, em volumes que facilmente passavam dos milhares de páginas, naquelas folhas finas do tipo dicionário. Sentado, ali, na biblioteca, folheando e lendo as letras miúdas dos textos, concentrado, na solidão dos livros, as informações abriam a mente.

Temos que nos adaptar aos novos tempos. A informação digital veio para ficar, é inegável sua utilidade e importância, mas o prazer em ler um livro, um bom livro, em “carne e osso”, isto é, impresso em papel, é insubstituível, parodiando nosso poetinha camarada.
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor adjunto da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Neste ano (2007), está em Nova York, na Columbia University, fazendo pós-doutorado na área de Etnobotânica.

2.7.07

FILHA DO NORDESTE

Por
Dalinha Catunda

Sou Dalinha, sou da lida.
Sou cria do meu Sertão.
Devota de São Francisco
E de Padre Cícero Romão.

Sou rês da Macambira,
Difícil de ir ao chão.
Sou o brotar das caatingas,
Quando cai chuva no chão.

Sou cacimba de água doce,
Jorrando em pleno verão.
Sou o sol do agreste.
Sou o luar do sertão.

Minha árvore é mandacaru.
Meu peixe, curimatã.
Macaxeira e tapioca,
É meu café da manhã.

Sou uma bichinha da peste,
Meu ídolo é Lampião.
Sou filha das Ipueiras.
Sou de forró e baião.

Sou rapadura docinha,
Mas mole eu não sou não.
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Publicado originalmente em:
http://www.grupos.com.br/blog/ipueiras
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, escritora e cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens.