AS CARNAÚBAS DE IPUEIRAS
Bérgson Frota
No começo eram só carnaubeiras, crescendo entre os morros que cercavam aquele vasto vale cortado por um tímido rio.
De longe ouvia-se o farfalhar dos leques quase imperiais da “árvore da vida”.
Depois chegaram os homens, mulheres e animais.
E o sítio que era um terreno de áreas empoçadas e farto barro-de-louça virou fazenda, até uma capela ganhou.
E as carnaubeiras ?
Diminuíram, mas ainda eram em grande número. Tinham serventia em quase tudo na região, parecia que delas nada se perdia.
As esbeltas árvores de porte tão elegante quanto festivo, formavam um bucólico panorama quando ao sabor do vento forte que dobrava o vale em direção à Ibiapaba azul, ensaiavam uma dança bela, movendo sem rumo ao arrepio do vento, desafiando o tempo com seu verde gaio, inverno e verão inalterado.
Assim era nos primeiros anos Ipueiras, uma fazenda que tornava-se com o tempo cada vez mais povoada.
Logo, mais e mais moradores chegavam, e não demorou para virar vila.
As carnaubeiras continuaram, embora em menor número, porém mais numerosas nos arredores.
Quando a vila se tornou cidade, a “cidade das carnaúbas” começou a transformar-se. As parcas ruas ainda mantiveram como adorno algumas carnaúbas soltas no meio do tempo, até mesmo as que por necessidade pediam o corte, foram mantidas.
Sentia-se no povo um instinto antigo em preservá-las.
O progresso trouxe calçamentos, e na cidade só restaram enfim as carnaubeiras que por sorte se situavam nas nascentes pracinhas, o resto era derrubado, e somente na lembrança dos mais velhos ficou os vultos das árvores já ausentes.
Lá longe porém, onde as luzes da cidade parecem estrelas, como uma tribo de território perdido ainda restam muitas delas. E nas suas copas como no passado, aninham-se lépidas graúnas.
O tempo passa e a “árvore da vida” resiste, como se lembrando o passado distante, longe da cidade que outrora foi sua. Desafiando o sol tórrido do sertão, resistindo aguerridamente na terra mãe que lhe gerou a semente.
7 Comentários:
Importante e bem escrita crônica sobre a natureza antes e depois da "colonização" de Ipueiras. Bem vinda peça de resgate, aliviando com sua beleza estes dias tensos de agosto. Obrigado, professor Bérgson
Pois é Jean Kleber,
Seria bom não falar em mortes se mortes não existissem.
Bela a crônica, e maravilhoso o resgate, de Nosso querido amigo, Bérgson.
Só que, nossas carnaubeiras em sua grande maioria. Hoje não passam de esqueletos e cinzas. Sobrevivem nas crônicas de Bérgson, Jeremias e em meus poemas.
Temos que chorar nossos mortos, sim.
Dalinha Catunda
Dalinha, estou com você.Temos que chorar nossos mortos sim. Sobretudo homenagea-los e contar para todos os pósteros os seus feitos nessa vida. Se é poeta,escritor ou artista plástico ou do teatro,suas obras devem ser divulgadas. Assim vencemos em parte a nossa finitude. Vencemos o esquecimento. Entendí errado o incômodo da Lurdinha quanto à fase obituária do blog. Achei de imediato que era quanto ao noticiário intenso, pois tomei a iniciativa de publicar as matérias que Tereza, com muita competência, passava ao grupo. Depois ví que a crítica se dirigia às matérias de homenagem. Aí ja entendo diferente. Não devemos poupar homenagens. Estou com você. A bela matéria do Bérgson sobre as carnaúbas nos mateve em Ipueiras, desta vez chorando nossas perdas do patrimônio "natureza". Beijo.
Meu Deus, agora é a morte das carnaúbas. Gente vamos saudar a vida que nunca se apaga seja animal ou vegetal. Que tal matérias sobre o aniversário de nossa terrinha, desculpe o senhor de Portugal do comentário aí de cima , mas de Ipueiras, nossa viva e amada Ipueiras. Beijos.
Estranho as pessoas que entram em blogs para promoverem os seu, sem sequer ter a educação de comentar a matéria. Pura falta de sensibilidade.
Amigos.Os comentaristas são sumamente importantes para o blog e merecem o apreço de seus gestores. Os comentários desta quadra da vida do blog estão muito bons e os comentaristas têm demonstrado sua qualidade ao comentarem com elegância, mesmo que eventualmente polemizando. Estamos todos de parabéns e agradecemos por suas sugestões pois um blog vivo é um blog participativo. Obrigado a todos.
As carnaúbas de Ipueiras me faz lembrar minha infância em Morada Nova, lá onde vivia num sítio distante o vento fazia as carnaubeiras dançarem. Fiquei feliz porque não sei escrever de forma tão bonita uma homenagem às árvores que cercavam minha casa e que passaram a povoar minha vida.Parabéns Bérgson Frota.
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