“Ipueiras é rodeada por uma cadeia de morros e serrotes com a perfeita forma de uma ferradura, assim distribuída : inicia-se no leste com o “Morro do Açude”, seguido pelo dos “Frios”, “Saquinho” (o mais alto de todos) e o do “Cristo”, onde se assenta a estátua do Redentor”.
O texto acima, retirado do artigo “Ipueiras antes, lagoas e carnaubal” do jornalista Jeremias Catunda, atesta de forma concisa o poder que a imagem do Cristo exerce no imaginário coletivo do povo ipueirense.
O início de sua construção deu-se no final de 1942 sendo concluído em 1943, para comemorar os sessenta anos da criação do município, portanto treze anos após a inauguração da colossal estátua do Corcovado. Guarda porém o Cristo ipueirense certas particularidades que o distinguem do ícone carioca.
O planejamento requereu do engenheiro prático Pedro Frutuoso do Vale, um trabalho de pesquisa e técnica não só de conhecimento do solo, que teve como fundação 15 metros de profundidade, como moldes precisos para concentrar o concreto e transferir na época, materiais para o topo de um morro, que foi escolhido não por ser o mais alto, mas por ser o mais próximo do centro do município.
Uma estrada que contornava as costas do morro de 120 metros de altura foi aberta, e assim começou-se o transporte do material para a base na qual se assentaria o monumento.
Pedro Frutuoso, concebeu para a criação da obra um desenho que de forma clara distanciaria o Cristo de Ipueiras de outros já construídos. Se a idéia por si só não era original, já que a construção inspirou-se na da imagem feita no Rio, tendo então a mesma posição, de braços abertos abençoando a cidade, não teria no entanto, o estilo art-deco no qual foi trabalhado o primeiro.
O engenheiro tirou como modelo, traços do ícone da tradição bizantina feito no século XV. O Cristo Pantocrator (do grego Todo-Poderoso).
Seus traços podem ser definidos como : rosto alongado, sobrancelhas arqueadas, olhos grandes e abertos,

voltados para o espectador, pois não somente nós o contemplamos mas Ele também nos contempla. Nariz longo e delicado, a barba comprida terminando em ponta arredondada. Seu pescoço é grosso e forte simbolizando que Cristo quer soprar seu Espírito, sua cabeleira é vasta, representando sua sabedoria. A boca pequena indica o silêncio, o que acentua a divindade do Verbo encarnado.
No que toca as vestimentas, o imation (manto), cobre-lhe todo o corpo, representa sua humanidade, já que até os pés são cobertos (o manto arrasta-se pela terra), o chiton (túnica) cobre-lhe os ombros, e oculta junto com o manto o peito, fazendo com que o coração, embora não visível, seja percebido pela expressão facial.
A cor da estátua é e sempre foi branca, tendo como altura 12 metros, distanciando entre os extremos dos dedos 7 metros. Assenta-se sobre um pedestal em forma de morro de 2 metros, de cor cinza escura.
O monumento à noite é iluminado por fortes luzes de tonalidade azul, lembrando uma presença divina a velar por toda cidade.
Durante o dia, pode-se ver, contornando-o, um vasto canteiro de plantas de diversas espécies, que dão um colorido especial à obra. É conhecido como o horto do Cristo.
Ergue-se portanto no sertão cearense há sessenta e dois anos, um belo monumento em homenagem à religiosidade ipueirense, símbolo da cidade que neste ano comemora seus 122 anos de municipalidade, recebendo a todos de braços abertos, coroando com o esmero da benção o povo cearense, convertendo-se no Cristo dos sertanejos, o Cristo do morro, o Cristo da Caatinga.