É TEMPO DE FÉRIAS
Bérgson Frota
As férias foram e ainda continuam a ser um tempo de alegria, diversão e descobertas para estudantes de todas as épocas e idades.
Quando criança, em Ipueiras, não era diferente.
O inverno havia deixado açudes cheios e a vegetação, mesmo já começando a tornar-se verde-cinza, dava ao ambiente uma sensação de estação atípica, como se temperada.
Tomávamos longos banhos no açude da Cadeia, o maior e mais central. Percorríamos várias trilhas pelo leito seco, arenoso e sinuante do rio Jatobá, até descer ao Lamarão, o lugarejo mais distante na época.
No caminho cacimbas e poços, de onde ainda até se podia pegar com tarrafas e landuás as famosas piabas e alguns peixes grandes que haviam ficado presos pela rápida queda que sempre se dava no nível do rio.
Do meio dia em diante estávamos na praça, brincando com o vento seco e forte que cercado pelos morros, voltava-se para a cidade, varrendo ruas, levantando ondas de poeira e desfolhando pés de castanholas, fazendo balançar a copa das ainda remanescentes carnaubeiras e no céu rodar nossos papagaios.
Nas Crôas, região fértil próxima ao leito do rio, mas já distante da ponte, havia vários pés de manga. Era o “oásis das mangueiras”, lugar que costumávamos ir e arriscarmos-nos, subindo nos mais altos e finos galhos, porém os mais carregados, para tirar os cachos de manga, em sua maior parte, ainda verdes.
Não raro caía um, dois ou três, e lá íamos nós ajudar. Alguns passavam o restante do mês a se recuperar de uma perna ou braço fraturado, mas das tais quedas, nunca houve morte a se registrar.
Quando chegava à noite, tinha o parque, sempre a ocupar terrenos baldios, mas ainda dentro da cidade.
Desfrutávamos nós, garotos, da animação. Nos acercando de vendedores de pipoca, picolés, pirulitos, estes sempre a serem levados em pranchas de madeira, algodão-doce e a famosa garapa de cana, feita na hora.
Era muito a desejar e pouco pra se gastar.
Tínhamos rodas-gigantes, balançadores, carrosséis e canoas que faziam e ainda fazem hoje a alegria da garotada.
Assim as noites de férias seguiam, com músicas, brincadeiras, risos e gargalhadas. No fundo, o contínuo e mecânico som dos aparelhos de diversão em movimento.
Restos eternos de tempos livres e despreocupados, tempos estes que nos fazem lembrar e sempre saudar como um dia antes fizemos, os tempos de férias, todos os que vivemos, e os que ainda vamos nos permitir viver.
(Publicado no jornal O Povo, em Forteleza-CE, em 15.07.2007)
8 Comentários:
Tempo bom este né, tempo que a gente levava a vida sem pensar no amanhã. Mas tudo passa e o bom é continuar vivendo com o mesmo espírito juvenil de sempre. Valeu.
Disse-o bem Miltone: "continuar vivendo com o mesmo espírito juvenil de sempre". É isso!A Ipueiras de nossa infância, as imagens em nós impregnadas, são fonte de força e equilíbrio. É só chamar. Parabéns pelo agradável relato, Bérgson.
Bérgson, trabalhos de memória que tocam nossa alma pelo sentimento e a maneira bonita que narra, são suas crônicas que nos fazem viver o que viveu tão bem narrado nelas, é como se nós estivéssemos naquele tempo. Parabéns e um grande beijo.
Lembro-me das crôas, era cheio de mangueiras, tinha muita sombra e mangas maduras no chão, também tinha uns galhos baixos que a gente se balançava. Não sei se ainda existe mas foi bom lembrar lendo neste trabalho.
Aí Bérgson, aqui no Rio madrugando e te encontrei neste blog, cara texto legal e apesar de um pouquinho grande não cansa. Só coisa da terra né,temos mais é que valorizar, parabéns e um abraço.
PS. Estou em Ipueiras na passagem de ano.
Este artigo é uma bela narrativa de infância, apesar de não conhecer a cidade nem o autor, estão ambos de parabéns.
Queria dizer que este trabalho é muito bem feito e bem escrito. Ipueiras tá toda aí, a antiga. Eta saudade daqueles tempos.
Bergson, me vi agora nessa linda narrativa, nascido e criado nesse municipio, quantas vezes fiz algumas dessas suas narrativas, parabéns são mais que verdadeiras, como fui criado naquela parte da praça da Estação, Vila Saboia e Vamos Ver, era por lá que tomavamos banho de rio, jogavamos bola e etc...
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