LIVROS, SE NÃO OS TEMOS, COMO SABE-LOS?
Tive a sorte de morar, na minha infância, perto de uma biblioteca pública. Ia para lá quase que diariamente, após as aulas, a pé, pois eram apenas alguns quarteirões; minha mãe deixava eu ir sozinho, pois sabia que iria para estudar. Era um lugar bem agradável, tranqüilo, com um jardim interno arborizado, gostoso de se ficar. E ficava, horas e horas, a folhear os livros, aventura, romance, histórias em quadrinhos, literaturas diversas, que me levavam a um mundo fantástico, a imaginação alçando vôos mais longínquos, e que me incentivavam a fazer novamente outras viagens.
Na adolescência, fui sócio de clubes de livros, comprava os livros em edições de capa dura ou nem tanto, regularmente. Minha família sempre foi “devoradora” de livros, minha mãe a puxar a fila, com edições chinesas e japonesas (ela era fluente em ambas as línguas, pena que não herdei essa habilidade, lamento hoje). Durante a faculdade, gastava parte de minha bolsa de iniciação científica em livros técnicos, idem depois de formado, desta vez com o salário. Hoje tenho uma biblioteca pessoal com acervo razoável, na área técnica em que atuo. Está disponível em minha sala para quem quiser utilizar.
Desenvolvi, ao longo do tempo, o gosto em ser “rato de biblioteca”, isto é, de ficar fuçando as estantes das bibliotecas, folheando livros e periódicos, em busca de novas informações e pensamentos. Não me esqueço nunca a felicidade e a ótima sensação em ter manuseado algumas obras raras, originais, que infelizmente poucas bibliotecas possuem.
Hoje, o acesso a informações já pode ser feito pela Internet e outros meios eletrônicos. A facilidade e velocidade para se ter novas informações está absurdamente mais rápida do que antigamente. Nunca me acostumei a esse tipo de fontes. Não me habituei a ler textos na tela do computador, prefiro os textos impressos em papel. Anos atrás, quando os meios digitais estavam começando a fazer sucesso, li sobre uma idéia, ainda não efetivamente realizada, de se fazer um livro eletrônico, isto é, uma tela onde a gente poderia escolher os diversos títulos e ficar lendo, como em um lap-top. Achei a idéia um tanto esquisita, mas acho que isso já existe, eu é que fiquei pra trás.
Os alunos têm, hoje, a possibilidade de fazer busca de referências de literatura em bases de dados eletrônicos, uma facilidade e tanto. Lembro-me quando fazia Mestrado e o começo do Doutorado, que a busca das bibliografias era feita folheando diretamente nas edições dos diversos “Abstracts”, página a página, tentando encontrar o assunto ou texto que queria, em volumes que facilmente passavam dos milhares de páginas, naquelas folhas finas do tipo dicionário. Sentado, ali, na biblioteca, folheando e lendo as letras miúdas dos textos, concentrado, na solidão dos livros, as informações abriam a mente.
Temos que nos adaptar aos novos tempos. A informação digital veio para ficar, é inegável sua utilidade e importância, mas o prazer em ler um livro, um bom livro, em “carne e osso”, isto é, impresso em papel, é insubstituível, parodiando nosso poetinha camarada.
3 Comentários:
Os livros são mestres mudos. Desde minha infância ouço esta frase.A internet não trouxe a extinção do livro. Há uma relação de prazer em manusear e ler um livro. Professor Lin a descreve muito bem. Parabéns.
Mesmo com toda a tecnologia disponível hoje, no que tange até mesmo ler livros pela internet, concordo com o autor, nada substitui o prazer palpável de dobrar uma folha depois de concluída para chegar a seguinte. Artigo de clara e fina sobriedade.
Bérgson Frota
O livro guarda um mistério que a máquina jamais terá. Valeu lembrar o prazer da leitura de página a pagina, nada que o computador supere.
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