Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

15.4.08

PROVA DOS “BODES FORA”

Por
Marcondes Rosa
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Esta história me foi passada por Walmir Rosa de Sousa, da Assembléia Legislativa do Ceará, meu irmão, que a ouviu de Pontes Neto, em roda bem-humorada de amigos, tempos atrás.
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Pontes Neto, notório médico e político de nossa história (a cearense), diz que, certa feita, acompanhava Luís Carlos Prestes, em suas pregações em prol do comunismo, pelos sertões da Paraíba. Nessa peregrinação, seguia-os, por onde fossem, um velho caboclo.
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Uma noite, nas conversas de alpendre, o caboclo, já quase discípulo, confessa-se seduzido pela “boa nova”. Mas antes desejava ter a certeza de que havia compreendido a idéia. E, prático, foi ao ponto, direto: “O coronel ali em frente! Muita terra, muito gado e muito dinheiro. Quer dizer, se o comunismo vem, tudo isso é nosso, dos pobres?” Ante a afirmativa de Prestes, animou-se: “Hum! Bom, muito bom, esse comunismo!”
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Mas cauteloso, avançou: “O dono do terreno ao lado! Terra e umas cabeças de gado não lá essas coisas...” Tudo seria dividido com os que nada teriam. O caboclo se entusiasma. Desconfiado, faz o teste final: “Agora, meu caso. Não tenho nada. Moro na terra dos outros. De meu, só filhos, a mulher... Umas cabrinhas e uns bodinhos, pro mode ter o leite e uns queijinhos pra matar a fome da gente. Também tenho que dividir?” Tinha, lamentou o velho líder comunista. Aí, entre inconformação e protesto, propõe: “Home, vamos fazer um negócio? Deixe os meus bodes de fora que eu entro pr’esse tal de comunismo!”
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Nos tempos de agora, de tantos programas “zero” ainda na estaca zero, a história de Pontes Neto viria a calhar. Dividir é verbo que pressupõe multiplicar os pães, operação resultante da soma de nosso trabalho para diminuir a pobreza. Sem isso, é tarefa difícil, sujeita à prova dos nossos ... “bodes fora”, reclamada por todos!
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Artigo publicado no jornal O Povo, de Fortaleza-Ce, em 16.04.2003
Foto: caprinos do Hotel Caravelle, de Ipueiras, fotografados por Ivan Mattos.
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

3 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Texto bem humorado e sério ao mesmo tempo. Para rir e refletir. Vai fundo. Mestre Marcondes, um grande prazer publicar tão interessante contribuição. Valeu.

15.4.08  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Geralmente os textos do professor Marcondes dizem muito mais do que na verdade se encontra escrito.
Numa leitura mais atenta é que captamos o sugerido nas entrelinhas.É sempre muito gratificante saborear os seus textos.
Um abraço,
Dalinha Catunda

15.4.08  
Anonymous Anônimo disse...

Dalinha e Jean Kleber,

Fico sem jeito. A crônica reflete o jeito e a graça de onde ela veio. Na verdade, de Pontes Neto, do Walmir, que a reproduziu tal qual ouviu de Pontes Neto... Mas merito mesmo, do velho caboclo e sua pragmática filosofia.

Vocês dois, afeitos aos contos populares, sobretudo Dalinha, agora, reconhecida pela Academia a nos flagar o saber do povo, sabem disso.

Fico só satisfeito em minha pena ter podido captar a sabedoria de nosso povo.

O grato abraço a todos,
Marcondes Rosa

17.4.08  

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