A DANÇA MIDIÁTICA DO MÊS DE ABRIL
José do Vale Pinheiro Feitosa
Os meios de comunicação escolheram um par de notícias para agitar o mês de abril. Há quem diga que a mídia não escolhe, ela é escolhida pela notícia que mais vende. Mas este argumento não cola. A mídia dançou com um casal de gênero distinto. Um para ser apedrejado e um outro para amedrontar. O primeiro o casal Ana Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni e o segundo a Crise Americana.
LINCHA!
O fio condutor do linchamento do casal Ana Carolina e Alexandre Nardoni começa no governo de São Paulo e parece encerrar-se na disputa eleitoral para a prefeitura da capital.
O governo deixou a polícia agindo de modo destemperado: sucessivas perícias ao local; o espancamento de Ana Carolina por outras presas e os anúncios marqueteiros diários dos policiais, já se esclareceu 70%, depois 90%. Parecia um falho que vinculava o linchamento do casal aos números dos índices do IBOPE que demonstraram o sucesso da mídia. De modo espetacular, a polícia anuncia os resultados da perícia e das investigações, justamente no dia do aniversário de Isabella, caso ainda estivesse viva. Foi uma insensatez que, inclusive, confunde o devido processo. Por último os políticos em disputa pegam carona no linchamento, indo assistir à missa do Padre Marcello Rossi, com a presença de 700 mil pessoas. Anotem os políticos em pleno aproveitamento de clamor público: Governador José Serra, Prefeito Kassab e Lu Alckmin. Agora os surfistas do prestígio público: Padre Marcello Rossi, Xuxa, Ivete Sangalo e Hebe Camargo.
A sociedade nacional assistiu perplexa, raivosa e assustada ao que no dia-a-dia se revelou nos noticiários. Tudo para provocar emoção, para turvar a claridade do dia e para fazer que surgissem os instintos mais primitivos da alma humana. Resultado, no dia do espetáculo policial e midiático e nos dias subseqüentes, desesperados e vítimas da sociedade, buscam exorcizar a própria desgraça com o ódio sobre o outro. Esta é a matriz do fascismo, o verdadeiro ovo da serpente.
CRISE DO MUNDO UMA OVA: CRISE AMERICANA
Os americanos já fizeram de tudo para se manter na crista após a segunda guerra mundial. Quem não sabe que a crise imobiliária é uma crise deles? Todos sabemos, mas isso durará pouco, daqui a pouco a crise será de todos e provocada por outros que não os americanos.
Em primeiro ato transformam as conseqüências em causa e apontam o dedo para uma origem global. Com a premissa de uma crise estrutural da própria civilização já estão pregando a tachinhas na mente de cada um. A primeira é que a crise, tanto de inflação de alimentos (ou seja, falta comida para os que estão vivos neste momento) quanto a de energia, metais ou outras commodities depende do mercado futuro especulador. A segunda diz que a crise decorre do consumo crescente de países como a China e o terceiro que o planeta está no seu limite em relação à civilização.
Esse é o modo torto com que os americanos se vêem e vêem os outros. Aliás, é até compreensível, todo mundo vê a crise como se fosse o centro do mundo. A lição é: ninguém é o centro, mas todos têm um centro. Agora faz sentido toda a imensa pressão pelo aquecimento global e o filme de Al Gore: sentido político para os americanos. Faz sentido o medo que outras nações, especialmente aquelas em desenvolvimento, atinjam patamares mais elevados de vida. Faz sentido para os especuladores cobrarem mais dos americanos pelo que têm, os especuladores, de vida boa.
Isso tudo só não faz sentido para o Brasil. Agora é encontrar quem encontre o nosso centro neste clima do Tio Sam com dedo apontado para nós.
Foto: belo cartaz da FAO sobre o Dia Mundial da Alimentação de 2007.
José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003, assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura. Colabora no Blog da Cidade do Crato.
2 Comentários:
Seja bem vindo mais uma vez, Dr. José do Vale. Com sua inteligência, com sua universalidade. Um abraço.
Um artigo atual, inovador e porque não dizer pioneiro na forma de narrar. Senti inveja de não ter eu escrito.
Bérgson Frota
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