Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

27.4.08

FICAMOS MAIS POBRES

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Ao re-editar o artigo de Fábio Campos, o blog Suaveolens presta uma homenagem a Demócrito Rocha Dummar presidente do Grupo de Comunicação O Povo, que nos deixou nesta ultima semana.
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Por
Fábio Campos
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O POVO, em 26/04/2008
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Era um sábado pela manhã. Chegava em Mulungu com meus filhos. Meu primeiro roteiro é sempre a mercearia de meu pai. Deparei-me com a cena que ficou marcada em minha retina. Demócrito Dummar sentado no balcão a tirar prosa com meu pai. Fiquei observando de longe por um bom tempo. Estava ali a síntese de minha vida. Meu pai me fez livre. Demócrito me deu asas para exercer a liberdade.
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Demócrito e dona Wânia têm uma casa na Serra. Era o cantinho amado. Geograficamente, tem localização em Guaramiranga, mas ele dizia que era cidadão de Mulungu. "Por que", perguntei. "Meu filho, muitos gostam de dizer que têm casa em Guaramiranga. Prefiro dizer que tenho em Mulungu". Percebi ali a manifestação de uma das principais características dele. Um ato de resistência. Contra a corrente. A rebeldia inteligente contida em um pequeno detalhe. Dona Wânia sorria confirmando, cúmplice de uma deliciosa e inconseqüente atitude. Que dor. Nos falamos na noite de quinta-feira. Ligou para mim às 11 horas da manhã de ontem. Fizemos o que fazíamos costumeiramente. Conversamos. Fez perguntas. Pouco mais de uma hora depois, a tragédia.
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Era um homem generoso. Ensinou-me a qualidade da ponderação. Minha relação com o Demócrito havia, há anos, superado a fronteira profissional. Trocávamos confidências. Dividíamos garrafas de tintos na serra. Uma casa linda, pensada em cada detalhe pelo casal. Uma casa com cheiro de gente, de frente para a floresta e um pequeno riacho. Patos, coelhos, papagaios. Nada em gaiolas.
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Meus filhos o adoravam. O chamavam de o "homem do papagaio". Mas Demócrito gostava mesmo era de conversar com meu pai, um homem simples e sábio. Costumava dizer pra mim que passou a entender-me depois que conheceu o "seu Ivanildo". "Agora eu sei de onde vem a tua força", dizia. Eu sorria meio sem graça por causa do elogio sem nenhum disfarce. Um homem extremamente carinhoso, um gentleman, um pai dedicado. Demócrito e Wânia formavam um casal que se transformou em referência para mim. Uma elegância serena e um amor que nos alimentava a idéia de que, sim, é possível o ideal. Assumi a Coluna Política do jornal em janeiro de 1996.
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Só conhecia Demócrito de vista. Nunca tinha nem sequer tido a oportunidade de cumprimentá-lo. Eu já escrevia a versão da Coluna das segundas-feiras. Um dia, fui chamado ao comando da redação. Fui comunicado da decisão da presidência para que eu assumisse a Coluna. "Como assim? Nem me conhecem lá em cima". Assumi assim. Sem padrinhos. Sem padrinhos, passei a escrevê-la.
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O legado de Demócrito para a sociedade cearense é plural. Os grandes temas do Ceará passam pelas páginas do O POVO. Quando não passam é como se não acontecessem. Demócrito assumiu o comando do jornal justamente no ano em que o País realizava a primeira eleição de Capital após a ditadura militar. Era 1985 e vinha pela frente a primeira grande prova de fogo. Nascia junto com a nova democracia brasileira um novo jornal. Um jornal sem padrinhos. Um jornal que não apadrinhava. E o melhor, um jornal que aprendia a conviver com o erro com a mesma elegância com que se relacionava com os grandes acertos.
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Demócrito se foi, mas o que deixou entre nós se multiplica. Liberdade com ponderação. Responsabilidade no trato das pequenas e grandes questões. Certa vez, Alberto Dines, um respeitado veterano do jornalismo brasileiro, nos fez uma visita. Passou um dia na redação. Confidenciou-me que nunca havia conhecido um dono de jornal como Demócrito. Não havia imposições à redação. Tudo era negociado. Demócrito percebeu que a melhor maneira de fazer com que o jornal sobrevivesse às gerações futuras era deixar que o jornalismo se impusesse.
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Todos os jornalistas sérios que conheceram Demócrito de perto sentem-se órfãos. O jornal O POVO está órfão, o jornalismo cearense está órfão.
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O Ceará perdeu um de seus mais notáveis empreendedores sociais. Um grande animador do nosso processo sócio, político e econômico. Ficamos mais pobres.
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Foto: Demócrito Rocha Dummar (E), presidente do Grupo de Comunicação O Povo, quando recebia, em 2007, do presidente do Sindiodonto, Leopoldo Menezes, a Comenda Demócrito Rocha.
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Fábio Campos é um conceituado jornalista. Escreve na coluna "Política" do jornal O POVO, em Fortaleza- Ceará

3 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Eu posso dizer que O POVO é o jornal da minha infância. Viví em Fortaleza dos oito aos 18 anos. Hoje, colaboradores do nosso blog Suaveolens são articulistas do jornal O POVO. São eles Bérgson Frota, Dalinha Catunda e Marcondes Rosa, para citar apenas os "tradicionais" do blog. Somos solidários com os conterrâneos por esta perda e assim, prestamos nossa homenagem a Demócrito Dummar.

27.4.08  
Anonymous Anônimo disse...

Homenagem digna ao grande Demócrito Dummar, neto de Demócrito Rocha fundador do jornal O Povo.Este grande cearense era presidente do jornal O Povo desde de 1985 e durante sua gestão trouxe muitas novidades e melhorias a todo o grupo de comunicação O Povo. Oportuna e feliz homenagem do blog Suaveolens a esta ilustre personalidade que nos deixou.

27.4.08  
Anonymous Anônimo disse...

Excelente trabalho sobre a grande figura de Demócrito Dummar, neto do fundador do jornal Demócrito Rocha. A forma brusca com que partiu deixou a todos os cearenses chocados, levando em conta o excelente trabalho que este grande visionário vinha desempenhando não só no jornal O Povo mas em toda fundação jornalísta de O Povo desde de 1985. Parabéns ao autor pelo excelente e tocante trabalho e novamente ao gestor pela sensibilidade e agudeza de espírito, tornando o Suaveolens um blog antenado e sempre presente a abordar temas importantes e atuais.

27.4.08  

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