ANTÔNIO DE LISBOA MOURÃO - AVENTURA E SOLIDARIEDADE NO PLANALTO CENTRAL

(Esta é uma parte da saga do Ipueirense Antonio de Lisboa Mourão, pioneiro na construção de Brasília e já falecido . O texto foi Colhido do Correio Braziliense por Jean Kleber Mattos, em fotocópia e escaneado por Marcondes Rosa de Sousa, filho de Wencery Félix de Sousa, a essa época, ocupando posto em importante ministério, morando na “cidade livre” e ajudando na alocação da força de trabalho dos cearenses, a construir a Novacap, prestou ajuda nesse processo de dar apoio aos “candangos”, em Brasília, tendo convivido com o pioneiro Antonio de Lisboa Mourão. Filho de Wencery, após inaugurada Brasília, passaria eu lá uns tempos, quando a Cidade ganhava feições urbanas e junto aos candangos, em apoio a eles, passaria eu uns tempos participando das cenas descritas por Lisboa).
ESPECIAL PARA O CORREIO
O resultado foi que o pioneiro partiu do Ceará depois de organizar um comboio formado por dois caminhões Fenemê (ou FNM) repletos de conterrâneos querendo um emprego na nova capital. “Era um jeito de ajudar quem não tivesse emprego na minha cidade e, ao mesmo tempo, ajudar na construção da capital do meu país, onde eu sabia que estavam precisando de gente disposta a trabalhar”, afirma Antonio. “Como as estradas ainda não eram asfaltadas, a viagem demorou 16 dias. Para não perdermos muito tempo, eu, que era o único solteiro da turma, vim primeiro, de avião”, completa.
Para ajudar os amigos cearenses,Antonio não mediu esforços: foi morar no armazém e bar Maringá, na Cidade Livre (Núcleo Bandeirante), de onde era mais fácil controlar a chegada e partida dos paus-de-arara que vinham e voltavam para o Ceará. Além disso, o clima da cidade também era uma adversidade para aqueles que estavam acostumados a ter sol o ano todo. “O frio e a chuva eram, na cidade, eram muito grandes. As plantas ficavam cobertas de gelo (granizo) e tínhamos que andar sempre de botas por causa da lama que a chuva causava”, conta o pioneiro. Dessa forma, Antonio acabou se tornando uma espécie de agente de empregos de cerca de dois mil conterrâneos. “Eu ia de construtora em construtora verificando de quais especialidades eles estavam precisando mais. Se era pedreiro, mestre-de-obras, marceneiro ou outras coisas. Assim, quando os caminhões chegaram já estava tudo mais ou menos encaminhado”, afirma o pioneiro.
Saudade
A saudade era tanta que às vezes a vontade que Antonio tinha era de chorar, mas nunca de desistir de Brasília e voltar para Ipueiras.
O jeito era escrever cartas e visitar a terra natal pelo menos vezes ao ano para aliviar a que sentia de sua família. Os outros pioneiros que vieram com Antonio também tinham muitas saudades do Ceará, mas vários deles não sabiam escrever “Quando eu chegava ao alojamento era uma festa, Tinha que fazer carta de toda espécie, de amor, de tristeza, de tudo. Tinha até que apaziguar brigas de colegas”, lembra, com ares paternais. Antonio destaca a evolução que esses trabalhadores que ele trouxe para cá tiveram: “os operários chegavam subnutridos, fracos e, em poucos meses, já havia uma mudança e eles estavam mais corados e fortes por causa do trabalho braçal intenso”
Apesar de ser hoje um grande entusiasta de Brasília, nem sempre o pioneiro acreditou na eficiência da interiorização da capital. Tanto que ele não foi um dos eleitores de Juscelino Kubitschek, que um dia ficou sabendo disso: “Era aniversário dele e muita gente da cidade queria cumprimentá-lo. Ele e dona Sara formaram una fila para poderem receber as congratulações. Eu e cinco amigos entramos na fila e quando chegou a minha vez um deles falou para o presidente que eu nem havia votado nele nas eleições”, conta o pioneiro, que não perdeu o rebolado diante da saia justa “Disse ao presidente que realmente tinha votado no marechal Juarez Távora, e ele, como grande estadista que era, me disse que minha opção era acertada porque o marechal era um grande brasileiro. Saímos de lá todos juscelinistas”, completa.Até 1960, Antonio morou onde hoje é o Núcleo Bandeirante.
“BRASILIA ERA A CIDADE LIVRE. O PLANO PILOTO NÃO TINHA NADA AINDA. ERA INCRÍVEL VER O MONTE DE TERRA FORMADO PELA CONSTRUÇÃO DA RODOVIÁRIA. ERA DO TAMANHO DO CONJUNTO NACIONAL”
Mudança
A mudança da Cidade Livre para Taguatinga se deu por motivos de amor. “A Cidade Livre era uma bagunça, com mercados a céu aberto e os produtos expostos no chão mesmo. Minha noiva, que morava no Rio de Janeiro, não gostava e me avisou que para lá ela não iria”, conta o pioneiro, que, por não ter condições de ter uma casa no Plano Piloto, acabou optando por Taguatinga. “Dona Sara Kubitschek falava que Taguatinga seria uma cidade dormitório, mas eu via nela uma grande possibilidade de progresso”, afirma. Vontade da noiva, Maria Inês, feita, o casamento já podia ser marcado e a festa foi no Rio de Janeiro. Para se manter, o pioneiro virou empresário e montou um armazém de secos e molhados para fornecer às indústrias que começavam a aparecer pela nova capital. “Era tudo mais difícil em Taguatinga. A água era puxada de bomba, e a luz, de gambiarra”, conta.
O entusiasmo de Antonio com a satélite era tão grande que ele chegou a estar à frente do programa de rádio transmitido pela Rádio Planalto. “Era uma espécie de programa que tem de tudo, desde calouros até reportagens com prestação de serviços”, explica, acrescentando que só faltava mesmo o progresso do título. Mas com o tempo, o progresso veio não só para Taguatinga como para Brasília como um todo. E hoje as lembranças só fazem encher Antonio de orgulho e felicidade.
“Considero todas as pessoas que nasceram em Brasília meus netos porque a cidade é como se fosse minha filha mais velha”, afirma o orgulhoso pioneiro.
Origem: Ipueiras, Ceará
Ano de chegada a Brasília: 1958
Profissão: Comerciante aposentado
5 Comentários:
Uma singela homenagem do "Suaveolens" ao valoroso pioneiro ipueirense Antônio de Lisboa Mourão e sua saga na construção de Brasília. Conheçam-no.
Olá Jean Kleber,
Um relato e tanto! e uma justa homenagem ao Saudoso Lisboa Mourão.
Um abraço,
Dalinha
Jean Kleber,
Senti, de perto, a importância, para a história da Novacap, de pessoas, de ação e visão pioneiras, como Lisboa.
Senti, de perto, esse dueto "ação e visão". E nordestinos, por outro lado, sem pessoas com essa "ação e visão" não teriam, em massa, conseguido emprego, sustento, participação em nossa capital, sonhos de Juscelino.
Nota 10 para os encômios de sua parte, ao tratar desta matéria.
Parabéns!
marcondesrosa@terra.com.br
Quando das divulgações do evento dos 50 anos de aniversário de Brasília,pela televisão, acompanhei com muito interesse. E enquanto observava a sequência histórica da grande obra de Juscelino, incluía no meu pensamento pessoas que deixaram importante contribuição para que a Capital do Brasil atingisse este grande marco. Esses personagens são o meu irmão Raimundo Catunda, o meu cunhado Lisboa Mourão, os conterrâneos Gonçalo Miranda, José Soares Lima e Sr. Chico Manteiga. Kleber, cumprimento você pela homenagem ao Lisboa como pioneiro de Brasília. Abraços do Tadeu Fontenele.
Marcondes e Tadeu, naquela época muita gente de Ipueiras veio para Brasília. Um deles foi meu avô, João Gomes de Matos , o popular "João da Mata". Aqui, ele montou uma minimercearia (uma "venda" como se diz por aqui). Depois de algum tempo voltou ao Ceará.
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