Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

31.5.07

DOIS DIAS A REVISITAR IPUEIRAS - PAPOS E REFLEXÕES NA ESTRADA


Introdução do blog:
O relato de recente viagem do professor Marcondes Rosa de Sousa a Ipueiras é relativamento extenso e rico em reflexões de grande significado social. O blog "Suaveolens" ousou dividi-lo em pequenos capítulos, objetivando a própria finalidade do relato: "reflexões".

CAPÍTULO I
Cinco da manhã. Nas principais artérias, Fortaleza permitia que, rápido, o trânsito escoasse. E, assim, em pouco tempo, estávamos na estrada a nos levar às “retiradas águas”, onde prevíamos tudo resolver em dois já programados dias. No carro, Solange , eu e, a convite nosso, Expedito “Clara”, perito na estrada – a da Matriz inclusive. Walmir, o de nos irmãos nascido em Ipueiras, cumpria programação em Porto Ale gre , acompanhando tudo pelo celular...

Para nós, era um retorno, após nossa estada lá, em agosto de 2.003, quando a imagem de Nossa Senhora de Fátima, havia voltado a Fortaleza (Ce), desde quando lá estivera. Dessa época, eu menino, fizera o papel de Jacinto, o pastorzinho a quem, além das irmãs, teria aparecido a Virgem. Isso, na noite quando ali se dariam vários milagres. Não pude presenciá-los. Cansado, fui para casa dormir e, dia seguinte, ouvir eufóricos relatos em toda a cidade. Solange , á época, era interna no Ipu e, naquele dia, ali não esteve presente. Depois, na inauguração do Arco do Triunfo, seria, sim, uma das princesas (ela e Miraugusta ao lado de Elisa Maria Mourão, a rainha), registrada hoje nas fotos do “site” de Ipueiras e nos relatos de Bérgson Frota.

Nossa missão, transferir para a Associação Grupo União Familiar de Lagoa dos Tavares (AGUF-LT), presidida por Antônio Rodrigues da Silva, conhecido como “Antônio Otávio”, costume na serra a expressar “filho de Seu Otávio” (conheci até um “Luiz Luiz...), o Sítio Buriti. Tudo financiado por programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio da Secretária do Desenvolvimento Agrário, responsável pela gestão do Fundo de Terras, em articulação com órgãos do Estado do Ceará e Banco do Brasil.

O entorno a evocar “releituras” ...

Na estrada, papos, a troca de impressões, entre os três. Tudo em mim, porém, a evocar “releituras”. Estrada, a de Canindé, a nos evocar os baiões de Luís Gonzaga: “quem é rico anda em burrico, quem é pobre anda a pé”. Progressos, sem dúvida. Não se vêem mais ali burricos, nem os pobres andando a pé. Bom asfalto, o veículo desliza, comodamente, por volta dos 110 quilômetros . À margem da estrada, a anteceder o sol, forte garoa, cerração, a nos embaçar, do carro, o pára-brisa. Mesmo assim, a paisagem é, ao contrário da ocorrente em outras épocas, de forte e contínuo verde.

Quantas vezes, ao por ali passarmos, tudo seco. Tempos esses, os de verão, lembrados pela canção de Gonzaga:

Acauã vive cantando,
Durante o tempo do verão,
No silêncio das tardes agourando,
Chamando a seca p’ro sertão.

(...) Na alegria do inverno,
Canta sapo, jia e rã,
Mas, na tristeza da seca,
Só se ouve o acauã”

À nossa frente, vai surgindo, aos poucos, a Basílica de São Francisco, em Canindé. E a paisagem, em mim, desperta as muitas vezes que lá estive: a) pró-reitor de extensão da UFC, a acompanhar os trabalhos de pesquisadores sobre o imaginário de nosso povo, expresso nas promessas e ex-votos, e do agradecer das esmolas com a tríade “Deus lhe dê saúde, fortuna e felicidade”; b) o pagar das promessas de minha mãe Adaísa, em agradecimento a São Francisco por me ter poupado, garantia ela, o ir-me daqui para a outra vida, quando de meu primeiro enfarto; c) em homenagem que, por sugestão de Dona Violeta Arraes Gervaiseau (irmã de Miguel Arraes), prestávamos, ali, a Dom Hélder Câmara, quando eu a cuidar de meios de comunicação áudio-visual, integrava comissão mista (francesa e brasileira), na captação de imagens com vistas à divulgação, pelo País e Europa, da grande festa. E tantas outras, que não mais me vêm à lembrança...

Sol, enfim, a brilhar. Expedito nos chama a atenção, à margem da estrada, para a pouca utilização das terras destinadas, como outrora, à agricultura e à produção de alimentos. À nossa frente, improvisados barracos, postados ante uma visível área de fazenda ou sítio destinada à produção agrícola.

Expedito explica-nos: “È o MST!”. Solange estranha, logo, a sujeira, o desconforto das barracas. Expedito faz críticas ao movimento. E tece, saudoso, elogios a Dom Fragoso, com quem trabalhou. Para ele, agentes do MST hoje são itinerantes em todo o País, para promover a baderna. Não se assentam...

Para Dom Fragoso, a reforma agrária tinha um destino: assentar os trabalhadores numa dada área. O bispo de Crateús, testemunha-nos Expedito, queria os agricultores literalmente “assentados”. Era contra as atitudes de violência, ora estourando. Apostava na dignidade do mandamento divino do “comerás o pão com o suor de teu rosto”. E a terra havia de ser usada para a produção de alimentos.

Nessa esteira, conclui-nos Expedito, é que viria navegando a Associação Grupo União Familiar de Lagoa dos Tavares (AGUF-LT), assentando-se no Buriti e na Lagoa dos Tavares, com vista à exploração ali, da serra úmida, na histórica Matriz da Serra dos Cocos, para a exploração da agricultura familiar e a produção de alimentos. “Não à esmola! Mas sim ao trabalho”, concluí comigo, novamente Gonzaga e Zé Dantas, com o baião “Vozes da Seca” a me voltar à mente...

Esmola, a um homem que é são
ou lhe mata de vergonha
ou vicia o cidadão.
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Foto estrada: www.senado.gov.br
Foto acampamento: www.vitruvius.com.br
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

30.5.07

ERA NOITE DE LUA CHEIA

Por
BÉRGSON FROTA

Era noite de lua cheia, havia acabado de escrever um artigo e debrucei-me na sacada do apartamento. Estava cansado pois o dia havia sido cheio, mas deparei com a imagem da lua, brilhando sobre Fortaleza.
A luz era tão forte que não permitia ver o contorno do belo astro.
Então lembrei de uma promessa.
Prometi a uma amiga do Rio que um dia, quando as “musas” me inspirassem faria um conto sobre sua vida. Lembrei da lua cheia que ela tanto gostava, não titubeei e fui correndo buscar caneta e papel.

Olhava para o céu, e depois escrevia lembrando de trechos a mim confessados por ela de sua vida. E assim o texto foi sendo feito, era setembro de 2003.

Naquela noite inspirado concluí “A última lua cheia”, conto dedicado à uma notável ipueirense, e depois deixei o tempo passar para na primeira oportunidade lhe entregar em mãos.
Mas com desencontros havidos, mudei de idéia e resolvi fazer uma surpresa que certamente lhe agradaria mais.

Já era 2004, março precisamente, ela estava em Ipueiras e sabendo eu que chegaria sexta, voltando ao Rio domingo, levei o trabalho à redação do Diário do Nordeste e sábado à noite lhe liguei avisando que sairia um conto meu no dia seguinte, para que ela não deixasse de ler e dar sua opinião, coisa que sempre estimei.

Assim chegou às suas mãos o texto que fiz para ela.
“A última lua cheia”, um conto de dor e conquista, de queda e superação. Mas acima de tudo de gratidão a quem antes muito me apoiou em cada trabalho e muito me estimulou a continuar. No conto recebe o nome de uma flor, arquétipo perfeito do feminino, de natureza bela e agradável. Assim é o conto que segue ...

A ÚLTIMA LUA CHEIA


Por
BÉRGSON FROTA

Ela chegou-se à janela, dos olhos desciam lágrimas, chorava, doía-se por dentro.
Moça mal-falada eram o que diziam. Levava uma vida no ventre. Vida que recusou apagar, luz que trazia tesouro que poucos percebiam.
A cidade como uma imperiosa juíza, serva de uma sociedade hipócrita, exigia sangue. Assim como ela outras já tinha sido. Mas cederam e preferiram matar que dar à vida.
Foge ! Foge para bem longe --- grita-lhe o medo que pesa sobre seus poucos anos. E que peso Deus se pode ter tal desespero.
Feito alma sem rumo adentra a estrada do mundo, tão nova tão cedo, deixa sua família, seu povo, sua cidade.
Com os dias que se seguem só mágoas. Só lamentos, como se o ventre fecundado fosse obra satânica.
E que ternura diante de tão grande desespero, abrigar um ser que em seus primeiros momentos só tem a mãe para se apegar.
Naquela noite Dália olhava o céu. E entre as nuvens via a lua cheia, pintada de um amarelo pérola. Queria gritar sua dor, queria ser mais forte e então auto-socorrer-se. Mas não resistiu e decidiu partir.
Deixou um lar que tanto amava e um tempo que não se lhe restituiu.
Durante os anos que passaram, deitada na poesia reclamava com dor sua calada inocência. Era para o filho parido pai e mãe ao mesmo tempo.
E sucediam-se os anos,lá longe, distante, lembrava da sua Sarieupi. Sonhava com as tardes frescas de inverno, onde o rio corria para banhar a mocidade de seu tempo. Sonhava com seus amores, suas secretas paixões encobertas do amor genuíno qual flor se dá ao colibri.
Antes que chegue o dia, a lua já pálida no céu, ela amamenta o filho e pela janela, vê sumir o astro noturno que iluminou a noite, também da sua tão distante cidade.
Quer regressar à terra. A mesma terra que antes lhe expulsou.
Mas a terra não tem nada a lhe dar, porque também é mãe, não pecou, conhece todos seus filhos, muitos dos quais já deitou.
Pesa então a consciência dos que lhe apontaram o pudor.
Talvez já tão opacados que atos ou gestos hoje nem contem.
De quem é a vitória ? Há de se perguntar.
Daquela que deu a vida ou da que se negou procriar?
O céu claro ilumina a cidade, ela contempla a imagem do Cristo no alto do morro, caminha entre os seus, leva consigo lembranças. Dobra e depara-se com o arco da Virgem, também mãe como ela, também fugitiva, e seu espírito se apascenta.
Ambas fugiram, uma para parir distante outra para proteger sua cria.
O sol escaldante a leva às areias finas do Jatobá. Com um murmúrio baixo a água doce desce em direção ao mar. Molha quase que ritualmente os pés naquela fresca correnteza, e de súbito lhe vêem imagens de sua adolescência, fatos que só o coração faz a mente criar.
Então Dália se entrega a um torpor, a um mundo perdido, que com esforço vai construindo até chegar novamente a sua época. E lá contempla os que expulsam a jovem grávida. Vê-os mas agora sem ódio. Tem pena. A cena é como a de um filme, ela percebe o quanto cresceu, o quanto o sofrimento lhe ensinou. Mas vê também que venceu. Nada foi em vão. Qualquer rancor ou ódio agora, seria como um sentimento estéril diante da íntima felicidade que desfruta.
Recolhe-se à fazenda, uma pequena chácara próxima da cidade. Pensa na vida, põe-se a escrever, e no inseparável caderno começam a jorrar poesias alegres, tristes, sonhadoras, provocantes, mas todas contendo no íntimo uma alegria secreta.
Um vento frio percorre-lhe o corpo, o cheiro de um companheiro fiel que nunca lhe faltou. Foi amada, amou-se, e nessa relação sincera construiu sua vida.
A noite é de lua cheia, repleta de lembranças.

( Diário do Nordeste – 14.03.2004 )
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Bérgson Frota, formado em Filosofia/Licenciatura pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR),é um prestigiado cronista ipueirense e pesquisador da história e da geografia da cidade de Ipueiras, no Ceará. É professor visitante da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professor de Grego Clássico no Seminário da Prainha - Fortaleza.

PROCURA-SE




Por
Nilze Costa e Silva


Havia um silêncio sobre todas as palavras não ditas. Esperava muito mais abraços, um apagar de velas, um parabéns pra você entre vozes desafinadas. Ninguém falava, quase. Tardinha. Pouco mais a noite viria. O vento balançava as folhas dos mangueirais de cujos galhos pendiam lâmpadas que logo mais seriam acesas. Sob a copa da mangueira mais frondosa, estirava-se uma mesa comprida, forrada com uma toalha branca e bordada, que parecia de linho branco. Mas era de plástico, logo notei ao me aproximar melhor. O plástico tira a pureza das coisas, a beleza, a ternura. Pelo menos as flores que enfeitavam a mesa eram naturais, ajustando-se ao ambiente bucólico onde nos encontrávamos.

Contrariando o quadro, havia uma expressão sombria nos rostos das pessoas, o que poluía a beleza da tarde-quase-noite. Os rostos, sim, eram nitidamente de plástico, considerava eu naquele momento. O convite era para um festa de aniversário. Sonhara eu? Iludira-me com as palavras baixinhas ditas dentro de um cinema? Talvez nem tivesse prestando atenção. O Bebê de Rosemary me tomava olhos e ouvidos. Nunca consegui namorar apaixonado num filme do Polanski. Mas qualquer coisa me soou ao ouvido como um convite a uma festa de aniversário de um sobrinho. Sim, sim, claro. Nós iríamos. Uma dor terrível inundando a vida de Rosemary. O grito do bebê era pavoroso e demoníaco. À noite, eu sabia, iria ter pesadelos.

Dia seguinte o aniversário. Não lembra? Distraía-me sempre, vivia com a cabeça nas nuvens. Lia tanto nos livros, nas pessoas e em mim, e no entanto abstraía-me de cenas concretas, por demais terrenas. Chegamos de ônibus, mãos dadas. Conversando, gesticulando. A casa ficava num sítio, num bairro afastado. Todos os que se encontravam davam-se as mãos, cerimoniosamente e logo sentavam-se ao redor da mesa. Os convidados eram na sua maioria homens. O sítio era grande, mas a casa era pobre. As pessoas tinham um aspecto sombrio, sorriso enrugado. A fumaça dos cigarros nublava o ambiente. Todos pareciam refletir antes de falar, os homens cofiando a barba ou o bigode. Não, aquilo não seria uma festa de aniversário! Parecia mais uma missa campal!

Havia, porém o bolo simples no centro da mesa. Pratos e copos de papel ordinário eram dispostos ao longo da mesa, por uma mulher de vestido curto de algodão. Olhei para Jorge, como a pedir-lhe explicação. Afinal o convite tinha partido dele. Limitou-se a apertar-me o braço e sorrir levemente. Os homens e as poucas mulheres, entre um silêncio e outro, trocavam frases banais. Pareciam esperar o começo de algum evento.

O aniversário? Enquanto a noite caía, minhas pálpebras começavam também a despencar. Fiquei apreensiva. Como podia eu cochilar numa festa de aniversário? O certo é que comecei a bocejar. Minha curiosidade ia arrefecendo aos poucos, cedendo lugar a um sono incontrolável. Tinha tido insônia na noite anterior. Encostei a cabeça no ombro quente de Jorge e adormeci, não sei se por segundos ou minutos. Creio ter sonhado um pouco. Via-me ajoelhada numa igreja, vestida de domingo, um terço rolando entre os dedos. Nem tanto rezava. Muito mais refletia sobre os meus erros, meus pequeninos erros infantis, sem no entanto pensar em pedir perdão. Depois da missa me via correndo na rua imensa, esquecida de todas as orações e de todos os pecados do mundo.

A noite desceu de vez e as luzes já estavam todas acesas. Ninguém sabia do aniversariante. Comecei a prestar atenção na conversa. Falava-se agora com mais fluência e o calor da discussão acentuava-se gradativamente. Os oradores revezavam-se e eram contestados ou aplaudidos com um estalar de dedos. Falava-se da situação política do País, formavam-se grupos, armavam-se estratégias de lutas como forma de enfrentar o sistema de governo vigente. Senti-me um tanto alienada diante das discussões. Agora entendia o porquê do convite. Jorge era militante de uma facção clandestina e não admitia estar apaixonado por uma companheira que não fosse ativa e contestadora da situação caótica em que se encontrava o País àquela época. Por isso me convidara para aquele “aniversário”. O bolo, os pratinhos e os copos com guaraná eram só para disfarçar a reunião clandestina.

Ouvi todas as discussões. Eles tinham razão. Queriam me roubar dos meus livros, dos discos e escritos que não se comprometiam com a luta do povo. No entanto, saí da reunião triste e decepcionada com Jorge. Por que me mentira?

Voltamos em silêncio e nos perdemos numa parada de ônibus. Vi-o ainda uma vez mais e para sempre. A foto era nítida, com um número trágico a enfeitar-lhe o peito. A barba continuava cerrada e muito negra, como quando nos vimos pela última vez. Os olhos fitavam-me. Fitavam-me longa e profundamente. Uns olhos parados, inquisidores. Uns olhos secos que afogaram os meus em lágrimas. Ao redor dele, outros retratos penduravam-se no painel.

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Foto do procurado: www.babooforum.com.br

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Nilze Costa e Silva nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, tendo vindo morar no Ceará com alguns meses de idade. Graduou-se em Administração de Empresas e logo após especializou-se em Teoria da Literatura (1986), pela Universidade de Fortaleza UNIFOR). Iniciou na Literatura com o livro Viagem – Contos e Crônicas, que teve prefácio do consagrado poeta Francisco Carvalho. Sagrou-se em 1° lugar no Prêmio Estado do Ceará, com a novela no Fundo do Poço (com apresentação do contista Moreira Campos). Em 2001 fundou o grupo Poemas Violados. Promove sistematicamente a oficina de Escrita Criativa: “Palavras não são vãs”. Integra a Rede de Escritoras Brasileiras (REBRA). É colaboradora do Jornal O Povo, de Fortaleza, e conselheira do Conselho de Cultura do Estado do Ceará. No cotidiano, dedica-se a questões relacionadas aos direitos humanos. Recentemente lançou o livro de sua autoria, Fortaleza Encantada.

27.5.07

ADRIANA







Por
Tereza Mourão

Sobre a Sessão do Senado Federal em homenagem póstuma a Gerardo Mello Mourão, quero destacar que o requerimento para a sessão e liberação da Biblioteca para lançamento do livro foi elaborado por Adriana Mourão Romero, minha sobrinha, Assessora Técnica do Senado há 9 anos, e que coordenou o evento.

O requerimento contou com a assinatura de 09 (nove) Senadores, dentre eles: Arthur Virgilio, Cesar Borges, Mão Santa, etc.

Destaco o apoio do Deputado Mauro Benevides uma vez que divulgou o evento na Voz do Brasil e fez a apresentação do livro.

Finalmente, ainda em homenagem à memória de Gerardo, a Adriana conseguiu que fosse gravado um programa na TV SENADO entre o Embaixador Gonçalo e o Senador Marco Marciel, intitulado “Vida e Obra de Gerardo Mello Mourão”, além de um documentário.

Quero também destacar o belo discurso do Senador Cristovam Buarque e lembrar que todas as falas de Plenário dos Senadores que participaram: Inácio Arruda; Paulo Paim; Cristovam Buarque e José Nery estão no site do Senado - http://www.senado.gov.br/ (basta abrir em Senadores e clicar nos nomes e, em seguida, pronunciamentos). Há inclusive, o discurso que não foi pronunciado, por problemas de agenda, do Presidente do Senado: Renan Calheiros.

É importante enaltecer a boa vontade e a profundidade da apresentação do livro feita pelo Deputado Mauro Benevides, que teceu grandes elogios a Ipueiras, nossa terra natal.

DOCUMENTÁRIO FOTOGRÁFICO

Destaque-se no presente documentário fotográfico sobre a sessão do Senado Federal de homenagem póstuma a Gerardo Mello Mourão, a presença do ex-portavoz da Presidência da República, Frota Neto, da poetisa Dalinha Catunda, da empresária Maria Inês Fontenele, do ex-embaixador e parlamentar Paes de Andrade, dos familiares e parentes de Gerardo Mello Mourão incluindo seu filho o Embaixador Gonçalo de Barros Mello Mourão, e dos descendentes do histórico ipueirense Edmundo Medeiros.



UMA SEMANA MEMORÁVEL

Por
Tereza Mourão


No dia 12 de maio de 2007 foi realizado O Primeiro Encontro dos Ipueirenses em Brasília, no Restaurante e Bar “Box 16” do conhecido empresário João Miranda Lima, ganhador do prêmio Empresário
do Ano 2007 aqui em Brasilia, situado na Multifeira da CEASA
(http://www.box16.com.br/).
Presentes ao evento estavam os seguintes convidados:
Embaixador Gonçalo de Barros Mello Mourão e sua esposa Maria Lúcia,
Francisco Braga Barbosa e esposa, criador do site www.ipueiras.com,
Jean Kleber Mattos, da UnB
Dalinha Catunda, poetisa ipueirense
Raimundo Nonato de Lima, o nosso “fireman”.
Raimundo Nonato Cordeiro
Carmen Mello Mourão (irmã de Tereza Mourão)
Benedita Ditosa Soares Mourão (prima de Tereza Mourão) e sua filha Ana Paula Mourão Pontes.
Lígia Maria Miranda Lima (esposa do empresário João Miranda).
Maria Raquel Paiva (minha amiga e fotógrafa oficial do evento).
Eliésio Belém Lima e esposa Maria do Socorro de Oliveira Lima.
Eu, Tereza Melo Mourão, meu filho Inácio Emiliano Melo Mourão Pinto e sua namorada Aline Ohara.
Quatro dias após, na quarta-feira, dia 16, o Senado Federal prestou homenagem póstuma ao escritor Gerardo Mello Mourão, falecido em 9 de março de 2007. O requerimento para realização da sessão foi feito pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). O evento foi acompanhado pelo filho do escritor, o embaixador e diretor do Departamento da América Central e Caribe do Itamaraty, Gonçalo Mourão além de representantes do corpo diplomático de México, Chile, Zâmbia, Japão e Portugal. Fizeram parte da Mesa os ex-senadores Abdias Nascimento e Mauro Benevides, além do ex-deputado Paes de Andrade.
Discursaram os senadores Inácio Arruda, José Nery , Paulo Paim e Cristovam Buarque.
Foi ressaltado que o homenageado, nascido em Ipueiras (CE), em 1917, e autor de livros como País dos Mourões e A Invenção do Mar, chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 1979. Também que obra mereceu a reverência de Carlos Drummond de Andrade, que chegou a afirmar que Gerardo foi o maior poeta brasileiro de todos os tempos. Além de poeta e escritor, ele também foi correspondente internacional, trabalhando na China, entre 1980 e 1982, e deputado federal.
Expressivo contingente de ipueirenses compareceu à solenidade, tomando assento no plenário no senado.
Na mesma tarde, às 18 horas, foi lançado na Biblioteca Luís Viana Filho do Senado Federal, o livro A Saga de Gerardo,Um Mello Mourão, do escritor cearense José Luís Lira. A obra constitui um relato biográfico do poeta, escritor, jornalista e político brasileiro Gerardo Mello Mourão que faleceu aos90 anos.
O autor tem marcado sua carreira por biografias de outros escritores, entre eles, Rachel de Queiroz, falecida em 2003, cujas obras caracterizam-se pela identidade com suas origens nordestinas.
Compareceram ao lançamento os senadores Inácio Arruda (PCdoB), Patrícia Saboya Gomes (PSBCE), Marco Maciel (DEM-PE), ex-senadores e deputados federais, o embaixador Gonçalo de Mello Mourão filho do escritor biografado, além de amigos e parentes de Gerardo Mello Mourão.
Coletei o depoimento de Dalinha Catunda, ilustre poetisa ipueirense, que veio do Rio de Janeiro onde reside, especialmente para participar dos eventos da inesquecível semana:

DALINHA CATUNDA: Cheguei a Brasília dia 16 de maio a convite de Tereza Mourão para as homenagens que seriam prestadas a Gerardo Mello Mourão.Dizer que fiquei contente é pouco, muito pouco. Na realidade me senti orgulhosa, de estar ali, na condição de ipueirense, lisonjeada em participar da história de minha terra, que ganhou o mundo no canto deste poeta que soube tão bem propagar nossa cidade: Gerardo Mello Mourão.

Tereza Mourão como toda boa anfitriã, organizou um encontro de ipueirenses no Box 16, Bar e Restaurante, do não menos ipueirense, o empresário Miranda, que acompanhado de sua esposa, a jornalista Lígia, faziam as honras da casa com uma alegria contagiante. Tereza foi a fada madrinha com sua varinha de condão a proporcionar-me momentos mágicos. A ela meus incansáveis agradecimentos.

Como prato principal foi servido um baião-de-dois acompanhado de carne seca e paçoca. Outras iguarias tão saborosas quanto o prato principal, faziam a alegria dos que prestigiavam o inusitado encontro. Neste encontro que antecedeu os encontros oficiais tinha, desde de simples mortais, a pessoas de renome, mas ali, em volta daquela mesa, "palestrando", comendo baião, éramos simplesmente cearenses na mais perfeita confraternização.

A simplicidade de todos abafou cargos e patentes que, por ventura pudessem, fazer a diferença. Membros do grupo http://www.ipueiras.com/ do qual participamos Tereza e eu, o criador e coordenador Braga, lá esteve com sua bela esposa. Por lá também passou o Raimundo Nonato e o Jean Kleber.

Atencioso, o embaixador Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão acompanhado de sua elegante e educada esposa, conversava com todos numa simplicidade que. não tenho dúvidas, é genética.

Não tenho como citar todos os mourões que lá estiveram, mas não poderia deixar de citar a presença de Inácio, filho de Terezinha com sua graciosa namorada, e outra filha de Tim Mourão, a Carmen Mourão ao lado de sua prima Ditosa.

Marcou presença também, Raquel, uma paulista que se apaixonou pelo Ceará, o casal Eliéser e Maria e tantos outros que certamente serão relembrados nos demais comentários.

Quero agradecer a Tereza Mourão pela hospitalidade, pelo carinho, pela atenção e a Jean Kleber, estendendo os agradecimentos a sua formidável família que me encanta a cada novo contato, aos amigos e amigas que me abraçaram, enfim, a todos os que de alguma forma contribuíram para que este meu passeio se tornasse inesquecível para mim.
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Foto 1: Jantar de Confraternização no Box 16
Foto2: Ipueirenses convidados na Sessão do Senado, com assento nas cadeiras dos senadores.
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Tereza Mello Mourão é funcionária aposentada do INSS. Pertence à nobreza ipueirense, lá sendo nascida filha do histórico e saudoso prefeito Tim Mourão. Tereza é uma grande incentivadora da união dos ipueirenses dispersos no planeta. Sua ação se dá sempre no sentido de aproximar os conterrâneos e promover os valores da Ipueiras-Ceará.

25.5.07

LIXO DO LUXO, LUXO DO LIXO

Por
Lin Chau Ming

Bueiros entupidos, garrafas pet, sujeira, copos plásticos e outros materiais impedindo o escoamento da água suja, que continua a se acumular em todos os lugares... Não, não estou falando das inundações da cidade de São Paulo, na época do verão, as águas de março fechando essa estação. Estou falando de Nova York, alguns dias após a nevasca que saiu por aqui.

A neve tem um aspecto tranqüilizador, uma brancura que dá uma sensação de paz à alma, lembrando um silêncio absoluto, paisagem inebriante, que nem algumas fotos de painéis. Mas isso se for em um ambiente mais campestre, pois na cidade, principalmente uma grande cidade, a neve é um transtorno.

Como diz muita gente, neve é boa para se sentir somente a primeira vez. E antes que derreta no pescoço. Aqui, após a nevasca, a neve acumulou em todas as partes da cidade. Para derreter a neve, as pessoas jogam sal (cloreto de cálcio) nas calçadas ou outros locais de passagem mais intensa. Ou ainda retiram, com uma pá, formando uma trilha, que varia de largura, permitindo uma passagem mais segura. E se tira de algum lugar, tem que colocar em outro, normalmente na beira da calçada ou no meio-fio. Como o frio intenso, com temperaturas abaixo de zero, continuou após a nevasca, a neve continuava acumulada, e desta vez piorando, transformando-se em gelo.

Não sei exatamente por que razão, ou se isso mesmo acontece em outras épocas do ano, mas a impressão que tive nessa experiência subzero, é que o novayorkino aproveita esses momentos e faz alguns pequenos delitos, como jogar lixo pelas ruas e calçadas, sem se importar com o esquema de coleta seletiva e de reciclagem do lixo, existente em toda a cidade e que me parece bastante eficiente.

E o americano consome e desperdiça demais. Nunca vi tanta energia jogada fora, em poucos segundos após o uso. São milhares de toneladas de plástico, papel, madeira, vidro, tinta e outros materiais. Recicla-se bastante, sim, mas a partir de materiais que poderiam ser melhor utilizados. Quase tudo é descartável nesta cidade.

Como nessas situações a prefeitura não tem condições de realizar a coleta a contento (e talvez nem nos dias certos), se vê muita sujeira pelas ruas, junto com a neve. Além disso, as pessoas que têm cachorro saem com elas pelas ruas e quando o bicho faz suas necessidades sólidas, muitos de seus donos não recolhem esse material, conforme estipula a lei. Há uma multa de 50 dólares se o dono do animal não recolhe, na hora, o resultado fisiológico de seu animal de estimação. Ou seja, uma alteração no comportamento do bicho-homem urbano.

Esse conjunto neve-endurecida/lixo-acumulado recebe ainda o reforço da fuligem, poeira e outros componentes da poluição aérea ou mesmo líquida (gasolina, óleo diesel e outros solventes) e essa situação perdurou por cerca de 9 dias, quando a temperatura aumentava e a neve, aos poucos, começava a derreter, devagarinho.

Por causa do lixo que tampava os bueiros, a água negra, retinta pela poluição, se acumulava pelos meio-fios, pretejando tudo e deixando com odores desagradáveis.

Lembro-me de uma discussão sobre quem jogava lixo na cidade, e alguns novayorkinos diziam, com doses racistas de raciocínio, que eram, em sua maioria, os descendentes de imigrantes latinos, que eram ignorantes no tocante a reciclagem de lixo e de manutenção da cidade limpa.

Mas eu encontrei lixo pelas ruas em vários bairros da cidade, não apenas nos bairros de periferia, como o Bronx, Harlem, Washington Heights, que têm população majoritariamente latina, como também em bairros onde a população branca americana predomina e em bairros tradicionais, mais abastados. Ou seja, cocô de cachorro de madame pelas ruas também.

Muitos políticos americanos querem modificar os programas de assistência pública americana aos imigrantes, em especial os ilegais, em vários estados daqui. Os estados que fazem fronteira com o México são os mais visados, como a Califórnia e o Texas. As estatísticas dizem que em poucos anos, o número de imigrantes latinos, naqueles estados, será maior do que o número de americanos natos.

Não sei se na cidade de Nova York a situação é mesma, mas há muitos imigrantes latinos por aqui também. Por causa disso, os políticos mais conservadores querem desestimular a entrada desse contingente de imigrantes, que chegam aqui com o sonho de ganhar dinheiro para sustento da família e trabalham em atividades que os americanos já não querem mais fazer.

Quem irá recolher o lixo da cidade? Os imigrantes latinos, que os americanos não querem mais, que cheguem. Até o lixo do luxo está ameaçado.
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Foto lixo: www.sescsp.org.br/.../pb/Images/1lixo344.jpg
Foto nevasca :
viomundo.globo.com/imagens/9168362_nevemiriam.jpg
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Prof. Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995) e doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela mesma universidade (1996). Atualmente é professor adjunto da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Está hoje em Nova York, na Columbia University, fazendo pós-doutorado na área de Etnobotânica.

24.5.07

PEDRO MARTINS ARAGÃO. Depoimento.

Por
Tadeu Fontenele

Geralmente, quem mais demora para partir deixa mais histórias para se contar. E o Seu Pedro Aragão foi um dos ipueirenses que viveu muito e deixou para minha geração aquela identificação de um homem rico, com casa grande e bonita, fazendas, gado, carros, comerciante destacado e com atuação política (Prefeito por 2 vezes), líder político que recebia, em sua casa, autoridades governamentais que visitavam a cidade.
Era um pé-de-valsa. Presença marcante nas festas dançantes nos salões da Prefeitura e do Grêmio Cultural e Diversional Ipueirense. Elegante, predominante no uso de roupa de linho branco, impecavelmente engomada, passos firmes diários no caminho de casa ao trabalho, metodicamente em horários iguais.
Destacava-se como um assíduo fiel das missas de domingo na igreja matriz. Sua majestosa casa dispunha de muitas bicas e, nas invernadas, me juntei muito à molecada, pulando a muradinha, para gozar das delícias de um banho de chuva. Foi também em sua casa onde assisti pela primeira vez a exibição de uma imagem de televisão, pois ele foi o primeiro a trazer o televisor para Ipueiras.
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Foto Pedro Martins Aragão: Comunidade "Pedro Aragão Homem de Fibra", fundada por sua neta Dolores M. Aragão no ORKUT.
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Tadeu Fontenele é um ipueirense histórico da nova geração. Filho de D. Ineizita, professora, e de Seu Zeca Bento, tabelião, referenciais históricos e culturais de Ipueiras. Nasceu em 28 de outubro de 1952. Inicialmente bancário da Caixa Econômica Federal, é hoje empresário do ramo de essências em Fortaleza-Ce. É membro destacado de comitês e conselhos relativos a Ipueiras, como o Instituto Frota Neto e o site Ipueiras.com.

23.5.07

TÔ VENDO TUDO



Por
Marcondes Rosa

O Povo - 23/05/2007 02:09

Repisei artigos, feitos bordões, em prol dos sofridos docentes. Mas desses, só: "tô vendo tudo (...), mas fico calado, faz de conta que estou mudo"; "apreço ao diretor"; "tempos de murici: cada um cuide de si".

Nisso, a Anpae, em seus 25 anos, aqui sedia encontro nacional em busca de "pedagogia da convivência", entre os agentes sociais de nossa educação: famílias, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, manifestações culturais (LDB).

E elege-nos amigos - ícones em abraço na cadeia histórica em busca de horizonte mais largo em tal convivência, dando voz, por nós, mais franca e jovial (77 anos), a Adísia Sá.

Artigo de Walter Garcia, "Enfim, temos Fundeb", daria o tom de tal busca. Nem tanto a "euforia governamental e de alguns educadores ao feito maior destes 20 últimos anos", nem o desânimo pela "situação extremamente desconfortável": o País "abaixo do 60º lugar", em qualidade.

O artigo, pelo apelo ao táctil das cifras e a contenção de grotescos just in times, mostra-nos um alcançável amanhã, na contra-mão dos ora fabulados à sombra da(o)s mangabeiras, para um futuro "quando todos estivermos mortos" (Keynes).

Ao abrir o encontro, Maria Luíza Leite Barbosa envolve-nos nessa "pedagogia da convivência", ao repensar escolas e necessidades sociais de agora. Escolas que, por si sós, não fecham prisões, já que hoje abrigam gangues (nas periferias) e tribos (entre as elites) até.

Na saída, sondam-me sobre o affaire "ronda de quarteirão e uso dos símbolos" (farda e veículos). Falo do poder do simbólico para o imaginário do povo. Sim, dar um banho estético, em nossas indignas e feias escolas.

Salários dignos a retirar, desse imaginário, o velho fusca com o "hei de vencer, mesmo professor", no pára-choque.
E esperar que se irrigue de crédito a oca retórica dos governantes. ___________________________________________
Foto do olho: www.alma.blogger.com.br/2006_11_01_archive.html
Foto do fusca: www.ibge.gov.br
Foto do policial: canais.rpc.com.br
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

PARTE PEDRO ARAGÃO


Por
Dalinha Catunda


Ipueiras acordou mais triste...

Depois de uma queda, e alguns dias de hospital, morre Pedro Aragão. E assim, Ipueiras vai ficando órfã dos filhos que ajudaram a construir a cidade e marcaram sua história.

O povo de Ipueiras por muito tempo se lembrará, daquele homem elegante, de panos passados, com a carteira embaixo do braço, passando todo santo dia para o seu comércio, mesmo quando o comércio já não mais existia.

Quem pensa que ele não viveu, por não ter feito grandes viagens, se engana. Ele viveu, sim, do seu jeito. Era um dançador de primeira. Junto com os sobrinhos, freqüentavas festas e forrós no interior da cidade e vizinhanças, fazendo o ele gostava.

Meu olhar de criança, sempre se encantou com o castelo do seu Pedro. A casa de altos e baixos, denunciava a riqueza comentada. Sempre se ouvia: Pedro Aragão é o homem mais rico de Ipueiras.

E era sim, rico em simpatia, elegância, sem o pedantismo de muitos, e logicamente em dinheiro. Seu nome sempre foi sinônimo de riqueza. A casa era, antigamente, cercada de uma amurada baixinha.
Hoje um muro alto esconde um pouco da beleza do casarão. Ali era o lugar predileto dos namorados. Quem do passado não levou uns amassos na "muradinha" do Pedro Aragão?

As histórias de Pedro Aragão, são muitas:

Contam que um agregado de sua casa, muito gordo, sentado à mesa na hora do almoço comentou: --- Não sei o que é que faço para emagrecer...

Seu Pedro no ato respondeu:

- É só comer às suas custas...!.

E como essa são muitas!

Ele sofria de uma sinceridade crônica. Deixou tantas histórias que certamente serão lembradas por muitas gerações.

Ipueiras inevitavelmente, hoje, fica mais pobre, pois perde um filho que ao longo dos anos enriqueceu sua história.

À dona Dolores, Carlos, Dolores Maria e demais familiares, meus mais sinceros sentimentos

Ipueiras 23 de maio de 2007.
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Foto da praça da Matriz: Ipueiras.com
Foto de Pedro Aragão: Comunidade "Pedro Aragão Homem de Fibra" (Orkut)
Foto da Casa de Pedro Aragão: Blog Suaveolens
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, escritora e cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens.

21.5.07

IPUEIRAS, PRAGAS E PLANTAS


Por
Dalinha Catunda

Ipueiras durante muito tempo nos encantou com seus pés de fícus. Árvore frondosa de copa ampla que arborizavam ruas e praças dando um colorido especial a graciosa cidade.

Era debaixo dos fícus que a galera de tempos atrás se reunia para namorar, conversar, tocar violão, brincar de lado esquerdo e passar o anel, entre outras coisas. Antes e depois das missas e das festas era o "point" preferido da rapaziada para o comentário geral.

Eis que um dia apareceu para desgraça da árvore e a infelicidade de seus apreciadores o tal lacerdinha. A cidade literalmente chorou, pois o minúsculo inseto ao cair nos olhos dos incautos, ardia tanto quanto pimenta. Assim, o fícus antes tão amado passou a ser visto com maus olhos pela população agastada com a situação.

A peste do lacerdinha foi maior que a grandeza do fícus que tendo as folhas enroladas, perdendo sua graça e utilidade em conseqüência da praga, aos poucos foram sendo cortados,até saírem por completo de circulação.

Não sei por que cargas d'água os pés de algarobas também se foram, sumiram do mapa, talvez queima de arquivo.

Hoje do fícus, só fotos e recordações, pois cortaram o mal pela raiz e o lacerdinha desalojado também sumiu no espaço.

Mas nem só de lacerdinha morre-se de raiva. Ipueiras de tempos em tempos, ela abriga uma praga que dá de dez a zero no lacerdinha, é o potó. Esse é cruel!

Não tenho bem certeza, mas acho que eles chegam com as chuvas. Era o terror das meninas. Pense! Dormir feliz e acordar mijada de potó, e muitas vezes véspera de festas... A consideração do inseto com o ser humano eram nenhuma, pois os lugares escolhidos para lhe servir de penico eram os piores possíveis: pescoço, axilas, olhos, braços. E mais, sendo nas juntas, o lado afetado passava para o outro.

Só quem já foi "premiado" com a mijada do potó sabe exatamente o que é passar por isso. Queimaduras que viram bolhas, depois uma mancha horrorosa escura e “haaaja” tempo para sumir de vez.

Só depois de algumas leituras vim saber que o potó ao ser esmagado contra o corpo, expele uma substância chamada pederina responsável pelo estrago feito por ele. Se afastado com um sopro ou um peteleco nada acontece. Porém, nem sempre ele é visto por sua vítima, e na calada da noite, faz sua festa.

Entre as plantas que arborizavam Ipueiras eu tinha e tenho uma paixão especial pela carnaubeira, tanto tenho que preservo um carnaubal em meu sítio. Esta não foi atacada por nenhuma praga.

É uma árvore nativa que suporta bem o nosso clima, porém foi expulsa do centro da cidade pelo progresso que inevitavelmente chega, asfaltando os verdes sonhos que ficarão apenas na memória.

Nos arredores da cidade ainda se vê a imponente palmeira, em grande numero, tirando belos acordes ao vento.

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1.Foto do Lacerdinha (Gynaikothrips ficorum (Marchal).
creatures.ifas.ufl.edu/orn/thrips/Cuban_laure
2. Foto do potó (Paederus irritans) sisbib.unmsm.edu.pe/BVRevistas/dermatologia/v...
3.Foto da lesão do potó no pescoço: sisbib.unmsm.edu.pe/BVRevistas/dermatologia/v...
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – POETISA, ESCRITORA E CORDELISTA. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens.

20.5.07

NA LEI HÁ MUITAS LACUNAS


Por
Ângela Gurgel


Na lei há muitas lacunas
E delas não podemos fugir
Mas não podemos de forma alguma
De nossos direitos desistir.

Se a lei é incompleta
Completa deve ser nossa atitude
De buscar de forma correta
Solução para essa incompletude.

Nenhuma lacuna pode ficar
Quando se trata de nossos direitos
Busquemos em qualquer lugar
Corrigir logo esse defeito.

Se a norma desfavoreceu
Aos direitos já garantidos
Há muitos meios permitidos
Para julgar o que a lei esqueceu.

Que se faça analogia,
Busque-se a hermenêutica
É preciso desfazer a aporia
E garantir que a justiça seja feita.

Nenhuma lacuna é insolúvel
Se houver desejo do magistrado
Em resolver a caso analisado
Pois ele sabe que o direito é mutável.

Seja ela própria, relevante, real
Oculta, descoberta, material,
Normativa, irrelevante, ontológica
Ou mesmo de ordem axiológica.

O direito deve garantir em toda situação
Que a justiça, independente das lacunas na lei,
Seja assegurada a quem de direito
Mesmo o sistema de normas não sendo perfeito.
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Foto do Palácio da Justiça em Brasília : guia4rodas.abril.com.br
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Ângela M. Rodrigues de Oliveira P. Gurgel, poetisa, nasceu em Mossoró-RN, tendo vivido em outras cidades do Rio Grande do Norte (Almino Afonso, Caraúbas, Caicó e Natal) e do Pará (Tucuruí e Marabá). Atualmente mora em Mossoró-RN. Graduada em Ciências Sociais, cursa atualmente Filosofia na UERN (Universidade do Estado do RN) e Direito na UnP (Universidade Potiguar). Já exerceu o cargo de Secretária de Educação em Caráubas, onde também foi Diretora de uma escola de Ensino Médio.

17.5.07

MUNICÍPIO PRODUZ REPELENTE ORGÂNICO


Do site:



Pensando sempre no bem estar e qualidade de vida dos ipueirenses, a Prefeitura Municipal de Ipueiras, por meio da Coordenação de Recursos Hídricos e Meio Ambiente está produzindo repelente orgânico.

O produto é um líquido feito à base de Neem (Azadirachta indica), uma árvore originária da Índia. O inseticida orgânico é inofensivo, podendo ser utilizado tanto em plantações como nas residências.

Seu uso é indicado no combate a insetos e pragas domésticas (mosquitos, baratas, moscas, etc.), agrícolas (lagartas, pulgões, etc.) e parasitas de pequenos e grandes animais (pulgões, carrapatos, mosca do chifre, etc.).

Com ação imediata, a formulação está pronta para uso, devendo ser borrifada diretamente no local desejado: embaixo de camas, atrás e dentro de armários, no caso de pragas domésticas; pulverizar galhos e folhas de plantas, no caso de aplicação agrícola, e, aplicar logo após o banho diretamente no pelo dos animais, deixando secar.

O produto, produzido no Banco de Mudas do Município, pelo Biólogo Flaubert Brito, que, em parceria com os agentes de endemias, estará realizando a borrifação de plantas em vias públicas com o repelente.

Assessoria Executiva de Comunicação 8-05-2007 às 16h29

MEMORÁVEIS LEMBRANÇAS E DOCES RECORDAÇÕES.


Por
Luiz Alpiano Viana

"... Eu devia ter escrito, eu devia ter pensado, eu devia não dizer nada ..." Foram essas as palavras usadas inicialmente por Costa Matos, no discurso de inauguração da Praça Sebastião Matos, seu genitor, em frente ao Colégio Estadual Otacílio Mota.

Era noite e ainda me lembro como se fosse hoje. A praça estava completamente tomada pelo público para ouvir o discurso de um dos mais ilustres ipueirenses. Culto, inteligente e admirado por todos, Costa Matos é sinônimo de cultura e referência para seu povo. Ele estava atrasado para a solenidade de inauguração. Finalmente chegou, e foi direto para junto do busto de seu pai. Via-se, então, no semblante das pessoas um ar de expectativa.

O povo se acotovelava cuidando para ficar mais perto do orador, por se tratar de uma oportunidade rara. Suas palavras soavam num ritmo cadenciado e afetivo, como se tivesse vivendo o melhor dia de sua vida. Era um momento de glória, sem dúvida! Atentas, as pessoas só cochichavam e ao mesmo tempo afinavam o ouvido num comportamento primoroso de atenção e respeito para melhor ouvi-lo. O silêncio era tangível; sabia ele que ali se encontravam todos os estudantes do Colégio de que já fora diretor, bem como políticos e admiradores de todas as idades. Professor Antônio Simões ficou bem distante, de braços cruzados, isolado, com aspecto de ansiedade como um fã apaixonado que quer ver seu ídolo em ação. Quando alguém falava mais alto havia sempre quem pedisse silêncio. Que delícia!

O evento inaugural durou pouco menos de uma hora. Foi um deleite para todos os presentes e um ato inesquecível para a cidade. Quando a festa terminou, ouviam-se grupinhos aqui, ali e acolá, elogiando o poeta e escritor. Os comentários eram sobre a invejável oratória que acabavam de ouvir.

A Praça foi realmente inaugurada. Naquela mesma noite os alunos do Colégio fizeram festa de comemoração por terem adquirido mais um ponto de encontro e lazer por que já reclamavam há muito tempo.

Fecho os olhos e vejo Zacarias, Telogo, e meus mestres de ginásio: Antônio Simões, Padre Belarmino, Dr. Célio Marrocos Aragão, Rosinha Belém, Costa Matos, Prof. Dario, Prof. Gilson (Juiz), D. Helena Falcão, Maria Simões, D. Ruth Catunda... Mas que saudade que tenho! Esses anos não voltam mais. Registrar esses incidentes significa não deixar morrerem a saudade e os momentos felizes de infância.

Tadeu do Zeca Bento, Chico do Mariano, Véi Zé Lira, Cazuzinha, Pedro Silita, Furi, Pantico, Gerardo e Domingos Morais são algumas das pessoas com quem convivi boa parte de minha juventude.

Digo muito obrigado a Ipueiras não só por ser meu berço, mas também pelo povo hospitaleiro que tem. Minha maior satisfação é falar das coisas boas que lá existem. Honro-me muito com isso! Na próxima reencarnação quero de novo estar no meio dessa gente!

Finalmente vejo hoje em Ipueiras grupos de jovens que ontem eram meninos de pés descalços montados num talo de carnaúba, correndo pelas ruas e calçadas, fazendo uma racha nos bancos-de-areia do rio Jatobá, ou subindo nos muros dos vizinhos para roubar manga... Hoje são homens e cidadãos. Chamo-os de meninos porque é uma forma carinhosa de tratá-los. Pois eu sou também ainda uma criança! Meu lado infantil permanece inalterado, não se desenvolveu quase nada porque a caminhada é longa, e o crescimento espiritual do ser humano é quase imperceptível.

As crônicas de Jeremias e as obras de Costa Matos inspiraram-me a soletrar as primeiras sílabas. Quando eu era menino, agia como menino, vivia como menino que estudava como menino. Eu sonhava com ser uma criança bem sucedida igual às que eu já conhecia. Eu tinha inveja das pessoas cultas; eu queria escrever, falar alguma coisa sobre meu povo era um desejo insaciável.

Percebi que era imperativo ter saber como o Professor Dario. Eu ficava olhando de longe sua biblioteca. Ele estava sempre na sala, deitado numa rede branca de varanda, lendo alguma coisa. E, Dona Otília Sabóia, num canto da sala, fazia o acabamento das redes que cosia. Eu tinha vontade de parar na calçada para ver os livros, aquelas coleções de capa dourada. Eu pensava que aqueles livros volumosos do cartório eram de leitura. Acreditava que quem já os tivesse lido sabia muito! Só depois de muitos anos descobri que os ditos cujos eram de registro de nascimento. Hoje, quando me lembro, rio! Como eu era criança de saber!

A vontade de escrever estórias que a história de Ipueiras não conta, nunca saiu de minha mente. Somente agora entendo que cultura é sinônimo de leitura! Os monstros sagrados da cultura universal estão aí para provar que é lendo que se adquire conhecimento. É um vício gostoso que todos deveriam ter. É preciso fazer alguma coisa para estimular à leitura, em todos os níveis, essa gente pequenina. Ler faz muito bem e os filhos de minha terra são severos e assíduos leitores.

Cortaram as carnaúbas de frente a farmácia de Dr. Idálio, e as do Guarani até bem pouco tempo lá estavam. Lembro-me de duas carnaúbas que tinha de frente ao Zé Lima que pareciam um casal de namorados apaixonados. Por que as cortaram? Que maldade! Elas contavam a história da vila que cresceu, emancipou-se e tornou-se cidade. Dizem que foi o progresso que fez isso! Jeremias escreveu naquela época uma belíssima crônica sobre o corte desses monumentos históricos vivos. Essa crônica foi lida na Rádio Vale do Jatobá numa noite em que todos os ocupantes da Praça Getúlio Vargas, inclusive os casais de namorados, pararam para ouvi-la. Lances como esses, - de minha cidade, recordando minha infância que não volta mais, - não vou esquecer.

Não quero que cortem mais nada de minha cidade, nem interrompam a caminhada da juventude que, com zelo e perseverança, são os homens de amanhã. A esperança de dias melhores está consubstanciada na cultura da garotada que ontem eram meninos peraltas, enlouquecendo os que esmolavam pelas ruas. Dizem até que os filhos de Luiz Aragão eram exemplos típicos de acanalhados.

Só sei que o site da cidade está cheio de crônicas e poesias de gente da terra. Alguns são escritores ou jornalistas de nomeada, como Costa Matos, Gerardo Mello Mourão, Frota Neto e tem também professor de grandes universidades como a UnB – Universidade de Brasília. Formam outra lista, escritores novos, cujos trabalhos literários, dentro em breve, serão destaques no cenário cultural do país. Vale à pena conhecer nossa história. Observar o crescimento da cidade é compartilhar o mundo da cultura, do progresso, e isso será, sem dúvida, uma honra para todos nós. Em nível de Ipueiras, observa-se, todavia, grande progresso nas letras.

É visível sua escola de escritores, ela sempre existiu e está no sangue do povo.
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Foto 1: Casa do ex-prefeito Sebastião Matos
Foto 2: Poeta José Costa Matos
Foto 3: Ex-prefeito Sebastião Matos
Foto 4: Prof. Dario Catunda site www.ipueiras.ce.gov.br
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Luiz Alpiano Viana, nascido e criado em Ipueiras, morou mais tarde em Crateús. Atualmente é funcionário aposentado do Banco do Brasil e mora da cidade de Sobradinho, no Distrito Federal.

DICAS DA TEREZA


OS COMENTÁRIOS

Por

Tereza Mourão
Co-gestora


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Simples, não? Então vamos lá...

16.5.07

UM POUCO DO BAIRRO ONDE MORO, O HARLEM.




Por
Lin Chau Ming


Falar que moro no Harlem pode causar algum espanto no Brasil. Sim, a simples menção do nome deste bairro, junto com o de outros daqui de Nova York, como o Bronx, pode gerar um sentimento de medo, perigo, dada a história contada sobre esses lugares e na qual sobressaíam essas características. Verdadeiros guetos de marginais, locais de tráfico de drogas, violência, estes são alguns dos adjetivos no imaginário dos brasileiros sobre esses bairros.

Das vezes anteriores que vim a esta cidade, morei no Bronx, devido à proximidade ao Jardim Botânico de Nova York, que fica nesse bairro. Agora, estou no Harlem, próximo à Columbia University. Coincidências das necessidades de cada época de minha vinda para cá, aliada aos preços mais baixos dos aluguéis.

Todos os adjetivos mencionados são válidos, sim, os bairros mais periféricos da cidade, como em qualquer metrópole do mundo, possuem seus pontos negativos. É muito fácil ver, na esquina do prédio onde moro aqui, pessoas traficando drogas. Mas também é fácil ver, trabalhadores, famílias, gente simples e honesta, por essas paragens. Pra mim, é preciso saber conviver com essas diferenças, desde que possa morar com segurança. Algumas precauções devem ser tomadas, evidentemente.

Foi formado em 1658, em terras onde habitavam os índios Weckquaesgek e mesmo após 1811, quando o sistema de organização das ruas de Manhattan foi elaborado, a região ainda era pouco habitada. Com o tempo, recebeu diferentes contingentes étnicos, desde imigrantes italianos, alemães e irlandeses até, em épocas mais recentes, de habitantes de Porto Rico e outros países latinos e americanos afrodescendentes, bem como imigrantes de países do oeste da África.

Por ser um bairro grande, o Harlem têm algumas peculiaridades. Essa mescla é observada nas ruas dos bairros atualmente. Há determinadas ruas ou quarteirões onde se vê algumas características marcantes. Há um trecho da rua 125 chamado African Place, por acomodar diversas lojas que vendem produtos de origem africana. Nas calçadas desse lugar, africanos vendem um tipo especial de produto: óleos essenciais, incensos e produtos relacionados, dando um aroma agradável para as redondezas.

Em outro trecho, da rua 116, foi homenageado o patrono da independência da República Dominicana, Luis Muñoz Marin, e nessa região, representantes desse país são a maioria.

No meu prédio, a maioria dos apartamentos é ocupada por famílias oriundas de países africanos, conversei com alguns deles. Há outros mexicanos e também do Haiti. Americanos afrodescendentes completam a ocupação do prédio.

O bairro abriga alguns objetos ou locais históricos. Líderes da luta contra a escravidão nos EUA organizaram muitas das atividades em quartéis generais localizados no bairro. Conserva o último remanescente das antigas torres de observação contra incêndios da cidade, construído em 1851, nas partes mais altas da cidade, em estrutura de ferro e escada em espiral, abrigando em seu alto, um enorme sino de ferro. O ator americano Burt Lancaster cresceu no bairro, numa casa que foi demolida em 1950 para construção de uma praça. Atualmente, o bairro passa por um processo de revitalização.

Muitos dos antigos prédios estão sendo reformados ou novos prédios assumem seus lugares. Podem ser vistas muitas obras em andamento em diversos pontos do bairro. Até o ex-presidente Bill Clinton abriu um escritório político no bairro. Com isso, os preços dos imóveis subiram absurdamente nos últimos dez anos. Hoje, não se encontra um studio (kitinet, para o linguajar brasileiro) por menos que 300 mil dólares. Apartamento com 2 quartos, meio milhão de dólares. Barato, para os padrões daqui, pois no centro de Manhattan, um studio custa de 800 mil a um milhão de dólares.

A influência negra é grande no bairro. Em alguns locais daqui, a predominância dos afrodescendentes é enorme. As estatísticas mostram que hoje, cerca de 40 % dos mais de 120 mil moradores do bairro pertencem a esta categoria, seguido de perto pelos mexicanos.

É considerado um dos bairros mais influentes no desenvolvimento da música e dança. Uma das ruas do bairro se chama Duke Ellington, em homenagem ao famoso pianista de jazz americano. Há outros locais que também recebem nomes de outros nomes na área cultural

Líderes na luta dos direitos dos negros americanos também são homenageados. Há o Dr. Martin Luther King Jr. Boulevard e a Malcolm-X Avenue, este último assassinado no Harlem, em 1965.

Outra avenida se chama Frederick Douglass, nome de um negro americano, referência na luta abolicionista. Essa avenida é paralela à onde moro e também aqui perto, há a praça Jackie Robinson, jogador negro de destaque no basebol dos anos 60-70.
No bairro também esteve, nada mais do que Jesse Owens, lembram-se deste nome? Foi o atleta americano negro que nas Olimpíadas de 1936, na Alemanha, destruiu a tese de superioridade racial proposta por Hitler, ganhando quatro medalhas de ouro no atletismo.

Quando eu era adolescente, fui assistir no ginásio do Ibirapuera, a um jogo dos Harlem Globetrotters. Quem da minha geração não se lembra deste nome? Era (não sei se esse grupo ainda existe) um time de basquete, que fazia exibições de acrobacias e malabarismos com a bola cor de abóbora. Eu ficava admirado com a habilidade daqueles jogadores, talvez os antecessores dos jogadores e de algumas jogadas da NBA americana. Não sei se os jogadores dos Globetrotters eram todos do Harlem, porém, todos eram negros.

Quem sabe eu não encontre um deles por aqui, batendo ainda uma bolinha nas diversas quadras de basquete existentes no bairro?

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Foto de Nova York: site www.terra.com.br
Foto Prof. Lin: http://www.editorasaraiva.com.br/
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Prof. Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995) e doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela mesma universidade (1996). Atualmente é professor adjunto da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Está hoje em Nova York, na Columbia University, fazendo pós-doutorado na área de Etnobotânica.

12.5.07

O ANIVERSÁRIO DE TIA ISA


Por
Jean Kleber

Dia 12 de maio de 2007. Abro minha pasta de e-mails e encontro este aviso de minha amiga Tereza Mourão:

Aos ipueirenses e companhia !
"Comunico que no dia 13/5 tem uma pessoa muito importante de nossa Ipueiras, que estará a aniversariar, só completará 96 aninhos, e estou falando de D. Isa Catunda. E como esta bela data não poderia passar em branco, nossa musa e sobrinha Dalinha Catunda em seu blog http://www.cantinhodadalinha.blogspot.com/ fez uns versos lindos homenageando esta fada madrinha. Vão lá, confiram e deixem seu depoimento. Para D. Isa um beijo enorme seguido de uma braçada de flores, e comunico que muito em breve estarei em ipueiras e darei este abraço ao vivo e a cores.”

Lembrei-me então. No dia 14 de janeiro de 2007 eu voltara de minha viagem a Ipueiras e me desencontrei do Tadeu Fontenele. Havíamos combinado um encontro para que eu revisse, juntamente com meu pai, a professora Isa Catunda, então com 95 anos. Meu pai fora contemporâneo de Isa na Ipueiras dos anos 40. Ela que me encantara na infância por sua aura de santidade. Chegado a Brasília, recebo e-mail do Tadeu, cobrando o desencontro. Naquele dia 14, seu celular estava “na caixa” enquanto eu tentava localizá-lo, pois estava participando de um evento religioso.

Tadeu prometeu compensar o desencontro, e, para surpresa minha, quando liguei para meu pai no domingo seguinte, minha prima Gonçala Salete Matos atendeu e logo informou que Tadeu estava lá com a mãe dele D. Ineizita (90 anos) juntamente com D. Isa (95 anos) visitando meu pai (94 anos). Incrível. Verdadeira façanha. O encontro dos séculos!

O que dizer desses três ícones em educação da Ipueiras dos anos 40 e 50?

D. Ineizita: seu nome de solteira era Inês Ribeiro Bessa. Nasceu a 07 de janeiro de 1917. No ano de 1935, com 18 anos, deixou Barro Vermelho, cidade próxima a Fortaleza e transferiu-se para Ipueiras com a heróica tarefa de ali implantar o ensino público, acompanhada de mais quatro colegas. Foi diretora do Grupo Escolar Padre Angelim. Naquela distante cidade conheceu Zeca Bento, filho caçula do Coronel José Bento de Oliveira Fontenele e de Inocência Catunda Fontenele, com quem se casou. Hoje ainda vivos estão 11 filhos da união, entre eles, Tadeu Fontenele. São 26 netos e 19 bisnetos.

Seu Mattos: O nome é Sebastião Mattos Sobrinho. Tido e havido como um dos históricos de Ipueiras, recentemente confirmou-me que seu pai mudou-se para Ipueiras quando ele era menino. Nascera num povoado próximo, no alto da serra, chamado Campo Grande. Em Ipueiras, quando adulto, fundou, com a esposa e a sogra, o Educandário Nossa Senhora da Conceição, que habilitava meninos e meninas ipueirenses a ascender ao curso ginasial. No Educandário, estimulou a prática dos esportes, construindo uma quadra de vôlei e promovendo torneios também de futebol. Integrava sempre com entusiasmo seus alunos à parada cívica do Dia da Independência, mediante impecável desfile com farda “engomada”, “fanabô” e fanfarra.

D. Isa Catunda. Eis o que disse sua sobrinha Dalinha Catunda sobre ela: “nascida e criada na cidade de Ipueiras, em 13 de maio de 1911 carrega hoje uma imensa bagagem, de quem nas páginas dos livros viajou o mundo inteiro. Essa viagem cultural era pouco para ela, queria muito mais, e feito uma fada com seus pozinhos mágicos ela conseguia repassar esse mundo encantado, das lendas, dos contos de fadas, à meninada, que hipnotizada com as mágicas palavras, faziam rodas e mais rodas para escutarem as fantásticas histórias da Tia Isa.”

Dela tenho a recordação da catequista, da professora de escola pública, da mulher religiosa e carinhosa com todos, especialmente com as crianças. De sua idade provecta tenho apenas os retratos da Internet, dos “blogs” de Ipueiras. Estivesse eu naquele domingo especial em Fortaleza, propiciado pelo Tadeu Fontenele, certamente me desfaria em lágrimas de emoção, presenciando o encontro de três “monstros” da educação da cidade onde aprendi as primeiras letras e o código moral do cristianismo.

Vida mais longa ainda, tia Isa!

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Jean Kleber de Abreu Mattos, cearense, nascido em Fortaleza, viveu em Ipueiras dos dois aos oito anos de idade. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco. Atualmente é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.