MEMORÁVEIS LEMBRANÇAS E DOCES RECORDAÇÕES.
Luiz Alpiano Viana
"... Eu devia ter escrito, eu devia ter pensado, eu devia não dizer nada ..." Foram essas as palavras usadas inicialmente por Costa Matos, no discurso de inauguração da Praça Sebastião Matos, seu genitor, em frente ao Colégio Estadual Otacílio Mota.
Era noite e ainda me lembro como se fosse hoje. A praça estava completamente tomada pelo público para ouvir o discurso de um dos mais ilustres ipueirenses. Culto, inteligente e admirado por todos, Costa Matos é sinônimo de cultura e referência para seu povo. Ele estava atrasado para a solenidade de inauguração. Finalmente chegou, e foi direto para junto do busto de seu pai. Via-se, então, no semblante das pessoas um ar de expectativa.
O evento inaugural durou pouco menos de uma hora. Foi um deleite para todos os presentes e um ato inesquecível para a cidade. Quando a festa terminou, ouviam-se grupinhos aqui, ali e acolá, elogiando o poeta e escritor. Os comentários eram sobre a invejável oratória que acabavam de ouvir.

Fecho os olhos e vejo Zacarias, Telogo, e meus mestres de ginásio: Antônio Simões, Padre Belarmino, Dr. Célio Marrocos Aragão, Rosinha Belém, Costa Matos, Prof. Dario, Prof. Gilson (Juiz), D. Helena Falcão, Maria Simões, D. Ruth Catunda... Mas que saudade que tenho! Esses anos não voltam mais. Registrar esses incidentes significa não deixar morrerem a saudade e os momentos felizes de infância.
Tadeu do Zeca Bento, Chico do Mariano, Véi Zé Lira, Cazuzinha, Pedro Silita, Furi, Pantico, Gerardo e Domingos Morais são algumas das pessoas com quem convivi boa parte de minha juventude.
Digo muito obrigado a Ipueiras não só por ser meu berço, mas também pelo povo hospitaleiro que tem. Minha maior satisfação é falar das coisas boas que lá existem. Honro-me muito com isso! Na próxima reencarnação quero de novo estar no meio dessa gente!
Finalmente vejo hoje em Ipueiras grupos de jovens que ontem eram meninos de pés descalços montados num talo de carnaúba, correndo pelas ruas e calçadas, fazendo uma racha nos bancos-de-areia do rio Jatobá, ou subindo nos muros dos vizinhos para roubar manga... Hoje são homens e cidadãos. Chamo-os de meninos porque é uma forma carinhosa de tratá-los. Pois eu sou também ainda uma criança! Meu lado infantil permanece inalterado, não se desenvolveu quase nada porque a caminhada é longa, e o crescimento espiritual do ser humano é quase imperceptível.
As crônicas de Jeremias e as obras de Costa Matos inspiraram-me a soletrar as primeiras sílabas. Quando eu era menino, agia como menino, vivia como menino que estudava como menino. Eu sonhava com ser uma criança bem sucedida igual às que eu já conhecia. Eu tinha inveja das pessoas cultas; eu queria escrever, falar alguma coisa sobre meu povo era um desejo insaciável.
A vontade de escrever estórias que a história de Ipueiras não conta, nunca saiu de minha mente. Somente agora entendo que cultura é sinônimo de leitura! Os monstros sagrados da cultura universal estão aí para provar que é lendo que se adquire conhecimento. É um vício gostoso que todos deveriam ter. É preciso fazer alguma coisa para estimular à leitura, em todos os níveis, essa gente pequenina. Ler faz muito bem e os filhos de minha terra são severos e assíduos leitores.
Cortaram as carnaúbas de frente a farmácia de Dr. Idálio, e as do Guarani até bem pouco tempo lá estavam. Lembro-me de duas carnaúbas que tinha de frente ao Zé Lima que pareciam um casal de namorados apaixonados. Por que as cortaram? Que maldade! Elas contavam a história da vila que cresceu, emancipou-se e tornou-se cidade. Dizem que foi o progresso que fez isso! Jeremias escreveu naquela época uma belíssima crônica sobre o corte desses monumentos históricos vivos. Essa crônica foi lida na Rádio Vale do Jatobá numa noite em que todos os ocupantes da Praça Getúlio Vargas, inclusive os casais de namorados, pararam para ouvi-la. Lances como esses, - de minha cidade, recordando minha infância que não volta mais, - não vou esquecer.
Não quero que cortem mais nada de minha cidade, nem interrompam a caminhada da juventude que, com zelo e perseverança, são os homens de amanhã. A esperança de dias melhores está consubstanciada na cultura da garotada que ontem eram meninos peraltas, enlouquecendo os que esmolavam pelas ruas. Dizem até que os filhos de Luiz Aragão eram exemplos típicos de acanalhados.
Só sei que o site da cidade está cheio de crônicas e poesias de gente da terra. Alguns são escritores ou jornalistas de nomeada, como Costa Matos, Gerardo Mello Mourão, Frota Neto e tem também professor de grandes universidades como a UnB – Universidade de Brasília. Formam outra lista, escritores novos, cujos trabalhos literários, dentro em breve, serão destaques no cenário cultural do país. Vale à pena conhecer nossa história. Observar o crescimento da cidade é compartilhar o mundo da cultura, do progresso, e isso será, sem dúvida, uma honra para todos nós. Em nível de Ipueiras, observa-se, todavia, grande progresso nas letras.
_________________________________________
Foto 4: Prof. Dario Catunda site www.ipueiras.ce.gov.br
2 Comentários:
Os elogios a meu padrinho Costa Matos me orgulham. Alpiano mostra que conhece e acompanhou muito bem, como filho que é, a história de Ipueiras, em momentos decisivos e emocionantes. Fatos e personalidades, nada escapa à observação deste cronista saudoso de sua adolescência na terrinha. Parabéns.
O relato de Alpiano é um novelo de lembranças, que desenrolado se torna maior ainda, pois a ele, juntamos nossas, também, recordações.
Li tudo com atenção, mas me prendi a foto da casa de Sebastião Matos. No meu relembrar, procurei o bougari que caia em cascata por sobre as duas colunas que premdem o portão de entrada, perfumando as noites do meu pequeno sertão. Não achei também os bancos que em frente ao casarão acolhiam sonhadores namorados. Faltou Carlitto,faltou Lalú, faltou Anastácio que continuam presentes em meu eterno lembrar.
Dalinha Catunda
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial