Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

17.5.07

MEMORÁVEIS LEMBRANÇAS E DOCES RECORDAÇÕES.


Por
Luiz Alpiano Viana

"... Eu devia ter escrito, eu devia ter pensado, eu devia não dizer nada ..." Foram essas as palavras usadas inicialmente por Costa Matos, no discurso de inauguração da Praça Sebastião Matos, seu genitor, em frente ao Colégio Estadual Otacílio Mota.

Era noite e ainda me lembro como se fosse hoje. A praça estava completamente tomada pelo público para ouvir o discurso de um dos mais ilustres ipueirenses. Culto, inteligente e admirado por todos, Costa Matos é sinônimo de cultura e referência para seu povo. Ele estava atrasado para a solenidade de inauguração. Finalmente chegou, e foi direto para junto do busto de seu pai. Via-se, então, no semblante das pessoas um ar de expectativa.

O povo se acotovelava cuidando para ficar mais perto do orador, por se tratar de uma oportunidade rara. Suas palavras soavam num ritmo cadenciado e afetivo, como se tivesse vivendo o melhor dia de sua vida. Era um momento de glória, sem dúvida! Atentas, as pessoas só cochichavam e ao mesmo tempo afinavam o ouvido num comportamento primoroso de atenção e respeito para melhor ouvi-lo. O silêncio era tangível; sabia ele que ali se encontravam todos os estudantes do Colégio de que já fora diretor, bem como políticos e admiradores de todas as idades. Professor Antônio Simões ficou bem distante, de braços cruzados, isolado, com aspecto de ansiedade como um fã apaixonado que quer ver seu ídolo em ação. Quando alguém falava mais alto havia sempre quem pedisse silêncio. Que delícia!

O evento inaugural durou pouco menos de uma hora. Foi um deleite para todos os presentes e um ato inesquecível para a cidade. Quando a festa terminou, ouviam-se grupinhos aqui, ali e acolá, elogiando o poeta e escritor. Os comentários eram sobre a invejável oratória que acabavam de ouvir.

A Praça foi realmente inaugurada. Naquela mesma noite os alunos do Colégio fizeram festa de comemoração por terem adquirido mais um ponto de encontro e lazer por que já reclamavam há muito tempo.

Fecho os olhos e vejo Zacarias, Telogo, e meus mestres de ginásio: Antônio Simões, Padre Belarmino, Dr. Célio Marrocos Aragão, Rosinha Belém, Costa Matos, Prof. Dario, Prof. Gilson (Juiz), D. Helena Falcão, Maria Simões, D. Ruth Catunda... Mas que saudade que tenho! Esses anos não voltam mais. Registrar esses incidentes significa não deixar morrerem a saudade e os momentos felizes de infância.

Tadeu do Zeca Bento, Chico do Mariano, Véi Zé Lira, Cazuzinha, Pedro Silita, Furi, Pantico, Gerardo e Domingos Morais são algumas das pessoas com quem convivi boa parte de minha juventude.

Digo muito obrigado a Ipueiras não só por ser meu berço, mas também pelo povo hospitaleiro que tem. Minha maior satisfação é falar das coisas boas que lá existem. Honro-me muito com isso! Na próxima reencarnação quero de novo estar no meio dessa gente!

Finalmente vejo hoje em Ipueiras grupos de jovens que ontem eram meninos de pés descalços montados num talo de carnaúba, correndo pelas ruas e calçadas, fazendo uma racha nos bancos-de-areia do rio Jatobá, ou subindo nos muros dos vizinhos para roubar manga... Hoje são homens e cidadãos. Chamo-os de meninos porque é uma forma carinhosa de tratá-los. Pois eu sou também ainda uma criança! Meu lado infantil permanece inalterado, não se desenvolveu quase nada porque a caminhada é longa, e o crescimento espiritual do ser humano é quase imperceptível.

As crônicas de Jeremias e as obras de Costa Matos inspiraram-me a soletrar as primeiras sílabas. Quando eu era menino, agia como menino, vivia como menino que estudava como menino. Eu sonhava com ser uma criança bem sucedida igual às que eu já conhecia. Eu tinha inveja das pessoas cultas; eu queria escrever, falar alguma coisa sobre meu povo era um desejo insaciável.

Percebi que era imperativo ter saber como o Professor Dario. Eu ficava olhando de longe sua biblioteca. Ele estava sempre na sala, deitado numa rede branca de varanda, lendo alguma coisa. E, Dona Otília Sabóia, num canto da sala, fazia o acabamento das redes que cosia. Eu tinha vontade de parar na calçada para ver os livros, aquelas coleções de capa dourada. Eu pensava que aqueles livros volumosos do cartório eram de leitura. Acreditava que quem já os tivesse lido sabia muito! Só depois de muitos anos descobri que os ditos cujos eram de registro de nascimento. Hoje, quando me lembro, rio! Como eu era criança de saber!

A vontade de escrever estórias que a história de Ipueiras não conta, nunca saiu de minha mente. Somente agora entendo que cultura é sinônimo de leitura! Os monstros sagrados da cultura universal estão aí para provar que é lendo que se adquire conhecimento. É um vício gostoso que todos deveriam ter. É preciso fazer alguma coisa para estimular à leitura, em todos os níveis, essa gente pequenina. Ler faz muito bem e os filhos de minha terra são severos e assíduos leitores.

Cortaram as carnaúbas de frente a farmácia de Dr. Idálio, e as do Guarani até bem pouco tempo lá estavam. Lembro-me de duas carnaúbas que tinha de frente ao Zé Lima que pareciam um casal de namorados apaixonados. Por que as cortaram? Que maldade! Elas contavam a história da vila que cresceu, emancipou-se e tornou-se cidade. Dizem que foi o progresso que fez isso! Jeremias escreveu naquela época uma belíssima crônica sobre o corte desses monumentos históricos vivos. Essa crônica foi lida na Rádio Vale do Jatobá numa noite em que todos os ocupantes da Praça Getúlio Vargas, inclusive os casais de namorados, pararam para ouvi-la. Lances como esses, - de minha cidade, recordando minha infância que não volta mais, - não vou esquecer.

Não quero que cortem mais nada de minha cidade, nem interrompam a caminhada da juventude que, com zelo e perseverança, são os homens de amanhã. A esperança de dias melhores está consubstanciada na cultura da garotada que ontem eram meninos peraltas, enlouquecendo os que esmolavam pelas ruas. Dizem até que os filhos de Luiz Aragão eram exemplos típicos de acanalhados.

Só sei que o site da cidade está cheio de crônicas e poesias de gente da terra. Alguns são escritores ou jornalistas de nomeada, como Costa Matos, Gerardo Mello Mourão, Frota Neto e tem também professor de grandes universidades como a UnB – Universidade de Brasília. Formam outra lista, escritores novos, cujos trabalhos literários, dentro em breve, serão destaques no cenário cultural do país. Vale à pena conhecer nossa história. Observar o crescimento da cidade é compartilhar o mundo da cultura, do progresso, e isso será, sem dúvida, uma honra para todos nós. Em nível de Ipueiras, observa-se, todavia, grande progresso nas letras.

É visível sua escola de escritores, ela sempre existiu e está no sangue do povo.
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Foto 1: Casa do ex-prefeito Sebastião Matos
Foto 2: Poeta José Costa Matos
Foto 3: Ex-prefeito Sebastião Matos
Foto 4: Prof. Dario Catunda site www.ipueiras.ce.gov.br
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Luiz Alpiano Viana, nascido e criado em Ipueiras, morou mais tarde em Crateús. Atualmente é funcionário aposentado do Banco do Brasil e mora da cidade de Sobradinho, no Distrito Federal.

2 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Os elogios a meu padrinho Costa Matos me orgulham. Alpiano mostra que conhece e acompanhou muito bem, como filho que é, a história de Ipueiras, em momentos decisivos e emocionantes. Fatos e personalidades, nada escapa à observação deste cronista saudoso de sua adolescência na terrinha. Parabéns.

23.5.07  
Anonymous Anônimo disse...

O relato de Alpiano é um novelo de lembranças, que desenrolado se torna maior ainda, pois a ele, juntamos nossas, também, recordações.
Li tudo com atenção, mas me prendi a foto da casa de Sebastião Matos. No meu relembrar, procurei o bougari que caia em cascata por sobre as duas colunas que premdem o portão de entrada, perfumando as noites do meu pequeno sertão. Não achei também os bancos que em frente ao casarão acolhiam sonhadores namorados. Faltou Carlitto,faltou Lalú, faltou Anastácio que continuam presentes em meu eterno lembrar.
Dalinha Catunda

24.5.07  

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