LIXO DO LUXO, LUXO DO LIXO

A neve tem um aspecto tranqüilizador, uma brancura que dá uma sensação de paz à alma, lembrando um silêncio absoluto, paisagem inebriante, que nem algumas fotos de painéis. Mas isso se for em um ambiente mais campestre, pois na cidade, principalmente uma grande cidade, a neve é um transtorno.

Não sei exatamente por que razão, ou se isso mesmo acontece em outras épocas do ano, mas a impressão que tive nessa experiência subzero, é que o novayorkino aproveita esses momentos e faz alguns pequenos delitos, como jogar lixo pelas ruas e calçadas, sem se importar com o esquema de coleta seletiva e de reciclagem do lixo, existente em toda a cidade e que me parece bastante eficiente.
E o americano consome e desperdiça demais. Nunca vi tanta energia jogada fora, em poucos segundos após o uso. São milhares de toneladas de plástico, papel, madeira, vidro, tinta e outros materiais. Recicla-se bastante, sim, mas a partir de materiais que poderiam ser melhor utilizados. Quase tudo é descartável nesta cidade.
Como nessas situações a prefeitura não tem condições de realizar a coleta a contento (e talvez nem nos dias certos), se vê muita sujeira pelas ruas, junto com a neve. Além disso, as pessoas que têm cachorro saem com elas pelas ruas e quando o bicho faz suas necessidades sólidas, muitos de seus donos não recolhem esse material, conforme estipula a lei. Há uma multa de 50 dólares se o dono do animal não recolhe, na hora, o resultado fisiológico de seu animal de estimação. Ou seja, uma alteração no comportamento do bicho-homem urbano.
Esse conjunto neve-endurecida/lixo-acumulado recebe ainda o reforço da fuligem, poeira e outros componentes da poluição aérea ou mesmo líquida (gasolina, óleo diesel e outros solventes) e essa situação perdurou por cerca de 9 dias, quando a temperatura aumentava e a neve, aos poucos, começava a derreter, devagarinho.
Por causa do lixo que tampava os bueiros, a água negra, retinta pela poluição, se acumulava pelos meio-fios, pretejando tudo e deixando com odores desagradáveis.
Lembro-me de uma discussão sobre quem jogava lixo na cidade, e alguns novayorkinos diziam, com doses racistas de raciocínio, que eram, em sua maioria, os descendentes de imigrantes latinos, que eram ignorantes no tocante a reciclagem de lixo e de manutenção da cidade limpa.
Mas eu encontrei lixo pelas ruas em vários bairros da cidade, não apenas nos bairros de periferia, como o Bronx, Harlem, Washington Heights, que têm população majoritariamente latina, como também em bairros onde a população branca americana predomina e em bairros tradicionais, mais abastados. Ou seja, cocô de cachorro de madame pelas ruas também.
Muitos políticos americanos querem modificar os programas de assistência pública americana aos imigrantes, em especial os ilegais, em vários estados daqui. Os estados que fazem fronteira com o México são os mais visados, como a Califórnia e o Texas. As estatísticas dizem que em poucos anos, o número de imigrantes latinos, naqueles estados, será maior do que o número de americanos natos.
Não sei se na cidade de Nova York a situação é mesma, mas há muitos imigrantes latinos por aqui também. Por causa disso, os políticos mais conservadores querem desestimular a entrada desse contingente de imigrantes, que chegam aqui com o sonho de ganhar dinheiro para sustento da família e trabalham em atividades que os americanos já não querem mais fazer.
Quem irá recolher o lixo da cidade? Os imigrantes latinos, que os americanos não querem mais, que cheguem. Até o lixo do luxo está ameaçado.
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Foto lixo: www.sescsp.org.br/.../pb/Images/1lixo344.jpg
Foto nevasca :

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