Por Lin Chau Ming
Acontece com todos, homens e mulheres, jovens e outros não tão jovens assim. E quem não ficou totalmente nervoso e excitado quando teve essa experiência pela primeira vez?
.
Em uma pesquisa realizada em nível mundial, deu Grécia na cabeça, ou melhor, na cama. Sim, os casais daquele país dos Bálcãs são os campeões de freqüência do ato sexual. Nós estamos um pouco atrás, mas bem na frente dos japoneses, que parecem que não gostam muito daquilo. Outros preferem comer chocolate, há gosto para tudo..
.
Mas o que quase todos gostam, e muito, é receber o salário. Bom ter aquele dinheirinho, suado, ganho com o esforço do dia a dia, físico ou intelectual. E poder fazer o que quiser com ele, principalmente, pagar as contas.
.
Minha excitação, sim, foi enorme quando recebi pela primeira vez um envelope com o meu salário. Era coisa pouca, menos que um salário mínimo da época, não me lembro quanto que era, afinal, tinha meus 13 ou 14 anos apenas; já se passou muito tempo. Trabalhava como auxiliar de serviços gerais em uma fábrica de camisas.
.
Depois de um tempo, encarei uma de office-boy e então, finalmente, uma promoção, auxiliar de escritório. O salário vinha todo o mês, religiosamente. Aprendi a dar valor ao dinheiro, ao salário, desde jovem, tinha que ajudar na casa, perdera meu pai havia pouco tempo.
.
Fiquei trabalhando em escritório até às vésperas do vestibular, o meu primeiro também (e único, na época, ainda bem). Depois disso, trabalhei em outras atividades, em Piracicaba, como auxiliar de desenhista de publicidade, até abrir, numa iniciativa empreendedora, minha própria agência de publicidade.
.
Pouca gente sabe, mas eu me enveredei na área de desenho publicitário e de cartoons enquanto estudava Agronomia e, pasmem, após formado, nunca mais peguei em um pincel ou lápis de desenho. Uma mudança radical, de um dia para o outro, que nem eu consigo explicar.
.
A minha empresa (na verdade, era no meu quarto na Casa do Estudante Universitário, onde morava), como a grande maioria das pequenas empresas, hoje, não durou um ano. Poucos meses depois, após realizar apenas três serviços, tive que fechar, por falta de pedidos. Mas o dinheiro ganho me permitiu comprar uma moto nova, de 125 cilindradas. Um bom começo, devo reconhecer.
.
Segui em outra atividade, desta vez acadêmica. Tinha uma bolsa de Iniciação Científica, do CNPq, que vinha todo o mês. Isso me garantiu o sustento para concluir o curso.
.
Agora, também do CNPq, recebo minha bolsa de pós-doutorado. Porém, diferentemente da bolsa de PIBIC, recebo o valor acumulado de três em três meses, sendo que o primeiro pagamento ocorreu quase depois de um mês de minha chegada por aqui. Não sei por que o CNPq adota essa estratégia, pois obriga o bolsista a organizar muito melhor, e de uma maneira diferente da habitual, suas despesas e/ou da família. Se gastar errado, complica, pois terá que esperar mais três meses até chegar mais uma remessa das bolsas.
.
Não foi uma experiência boa para mim, pois não estou acostumado a receber apenas depois de tão longo período. Além do mais, o custo de vida em Nova York é muito alto. Trata-se de uma das cinco cidades mais caras do mundo. Deveria receber uma bolsa maior, mas a regra é igual para todos, no caso de bolsistas. Acho que a CAPES e a FAPESP, no que se refere a valores de diárias pagas a pesquisadores, oferecem valores maiores para Nova York, não tenho certeza, posso verificar.
.
Até acho justo, pois apenas com o valor da bolsa, não é possível sustentar a contento a família aqui na Big Apple. Em qualquer outra cidade americana, menor, o custo de vida é bem mais baixo.
.
Esse sistema de pagamento trimestral por aqui não existe. Os salários são pagos em períodos de tempo diferentes, conforme a situação. A maioria dos trabalhadores recebe o salário semanalmente. Todas as sexta-feiras, os envelopes com os cheques são distribuídos para os empregados.
.
Mesmo os empregados informais, ou ainda os indocumentados (como são chamados aqui os imigrantes ilegais), que também recebem assim. O mercado informal aqui, apesar da fiscalização do governo, é enorme. Pequenas empresas contratam esses trabalhadores na maior parte das vagas.
.
Perguntei na Columbia como era. O empregado pode fazer opção por receber seu salário mensalmente ou quinzenalmente. Vou verificar essa situação em outras empresas, maiores, e também em outras atividades do serviço público, depois conto os resultados. No Brasil, existem empresas que também pagam em períodos menores, talvez copiando a situação americana. Gostaria de saber como é em outros países, alguém sabe?
.
Parece-me que, se os trabalhadores recebem o dinheiro toda a semana, gastam toda semana também, mantendo um giro mais rápido do montante recebido. Não sou economista, mas isso faz a economia ser mais ativa, pois há sempre dinheiro em movimento, dentro de atividades que não são especulativas (mas podendo haver também), ajudando a fortalecer a economia do lugar.
.
Será que isso não é um dos motivos do desenvolvimento da economia americana? Não sei fazer essa análise, mas perguntarei a algum economista amigo.
.
Claro que existem vozes discordantes, argüindo que esse dinheiro, nas mãos das pessoas em tempos mais curtos, pode ser usado de forma equivocada, em coisas supérfluas, comprometendo o balanço financeiro familiar. Mas cada um faz o que bem entender com o dinheiro de seu salário e deve saber se adaptar às suas necessidades.
.
Se eu pudesse, gostaria de receber o meu salário em períodos mais curtos, saberia organizar financeiramente o orçamento familiar. Talvez uma vez por semana seria legal, bem dentro de minhas necessidades.
.
E você, como é? Uma vez por semana é pouco? Não preferiria todos os dias?
__________________________________
__________________________________

Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor adjunto da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas medicinais. Este ano (2007), está em Nova York, na Columbia University, fazendo pós-doutorado na área de Etnobotânica.