CABRA DA PESTE
Dalinha Catunda
Longe do meu Nordeste.
Eu, que sou cabra da peste,
Chorei que nem criança.
Muitas vezes entediado,
Com jeito de abestado,
Puxava pela lembrança.
Entre um trago e um cigarro,
Sozinho e sem esperança.
Ruminava... matutava...
Oh vida de retirante!
É melhor morrer de fome,
Do que viver como errante.
Ah!... saudade...
Eu quero o meu roçado,
Eu quero minha Maria.
Meu cheiro de mato queimado,
E as noites de cantoria.
Oh Deus! Por favor, me alumia!
O álcool falava mais alto,
E eu, já quase dormia...
Mamãe trás minha rede,
Que eu quero me balançar.
Prepare meu pão de milho,
E capriche no mungunzá.
Se me trouxer tapioca,
Não esqueça o aluá.
Eeeeeeta, porre!
Foi o último que tomei,
Distante do Ceará.
Quando acordei no outro dia,
A única coisa que eu via,
Era o caminho de volta.
E me mandei pro Nordeste,
Pois lá, sou cabra da peste,
E aqui não passo de um bosta.
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FOTO: pioneiros na construção de Brasília: Arquivo Público do DF. Autor desconhecido. Digitalização: Augusto Areal.
3 Comentários:
Quem viveu no interior simplesmente revive cenas costumes e valores lendo estes versos de Dalinha. Simplesmente fantástico!
Dalinha consegue muito bem descrever a vida dos retirantes nordestinos e a saudade que o nordestino tem de sua terra mãe, e agora me veio a lembrança de nosso grande amigo Joseph, o menino do Pacoti que tendo saido tanto tempo de sua terra e indo morar no estrangeiro e mesmo tendo se dado muito bem em todos os sentidos, nunca esqueceu seus amigos nordestinos, sua vida em cidade de interior e seu amigo Ben Lira. Que os anjos cantem Hosana para eles.
A Srª Tereza Mourão escreveu bem, gostaria de acrescentar que não só nosso amigo Joseph, mas muitos outros nordestinos que para o mundo saem,de si não conseguem tirar a saudade e o amor por uma terra tão sofrida mas talvez por isso muito amada. Dalinha como sempre se supera em sentimento e talento.Parabéns.
Bérgson Frota
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