Junto com Kadhafi quem mais morre?
Por
José do Vale Pinheiro Feitosa
De todas as conveniências e soluções que o assassinato de Muammar Kadhafi resultar, uma é inegável. Existe uma população armada pelas potências ocidentais, Europa, mais a Inglaterra e os EUA. A morte de Kadhafi foi uma ação de intervenção estrangeira na Líbia.
A intervenção estrangeira foi executada pelos povos mais envolvidos neste tipo de ação desde o século XV. A base do colonialismo é Européia e a estrutura do imperialismo é da junção pós-segunda guerra dos EUA com a Europa ocidental, até o fim da União Soviética.
A destruição física da Líbia promovida pela OTAN e com o armamento entregue aos rebeldes por ela não é um capítulo terminal de uma ditadura. Pelo contrário é o capítulo mais evidente do princípio de guerras em consequência da crise do capitalismo. Quem acompanhou o fim das colônias na África e os movimentos de libertação da Ásia bem sabe o quanto são processos destrutivos e pendulares. Situações políticas contraditórias se sucedem em hegemonia em questão de horas.
A morte de Kadhafi já deu o réquiem deste momento: o assassinato dos inimigos políticos do império. Só em 2011 os EUA e a Europa estiveram envolvidos em três grandes e evidentes assassinatos. Esta prática pode se ampliar de modo a tornar a política algo parecido com as máfias em luta. Nada impede, por exemplo, que um presidente americano ou europeu sofra atentado.
O outro lado é o cinismo que todo assassinato “mafioso” trás e o quanto afasta a sociedade da democracia e da construção de síntese nos ambientes contraditórios. Ora a morte comemorada do inimigo é a mesma comemorada pelo inimigo sobre nossos mortos. Quem não tem medida para evitar tais assassinatos, sabe disso tudo, resta-lhe o cinismo.
Querem observar algo cínico? A Arábia Saudita e o Marrocos, alguém tem visto alguma catilinária televisiva ou jornalista contra tais regimes? Está bem podem alegar que o povo não se encontra nas ruas, mas o Yemen? Qual a razão da sobrevivência do regime? Há uma aliança entre EUA e o regime, tai a morte eleitoral daquele líder da Al Qaeda. As imagens na televisão são absolutamente cínicas: a multidão na rua e o presidente restabelecido dos tiros levados, cercado por uma enorme assembléia de membros do regime.
Retornando ao efeito pendular e instável desta ordem. Como ficam os interesses da China, do Brasil e de muitos outros países que foram estimulados a investir na unidade territorial e produtiva da Líbia? Vão ter que pagar pedágio para Europeus e Americanos? E aí todo mundo vai aceitar barato tais medidas?
Quem acompanhou toda emergência do fim destes regimes fechados e a longo prazo, especialmente em populações ávidas por uma boa qualidade de consumo, sabe o quanto são instáveis. Existe em todo o norte da África, a rondar as forças em luta, a possibilidade que desta primavera logo surja um outono, com o crescimento de regimes religiosos fundamentalistas. A possibilidade de regimes autoritários de viés fascista aumenta muito nestes momentos. Além, é claro, uma desagregação nacional como ocorreu na Somália, por exemplo.
José do Vale Pinheiro Feitosa – nascido na cidade de Crato, Ceará, em dezembro de 1948, morando no Rio de Janeiro há 34 anos. Médico do Ministério da Saúde. Publicou o Romance Paracuru em 2003. Assina matérias em alguns blogs e jornais. Em literatura agita crônicas, contos, poesia e ensaios de temas variados. Gosta de pintar e tem alguns trabalhos de escultura. Colabora no Blog da Cidade do Crato.
1 Comentários:
De volta Dr. José do Vale com mais uma excelente crônica. Desfrutem.
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