No tempo em que se via jumento
De repente passam a riscar as pequenas ruas uma, duas e três motos. É dia, e logo param na rua central do mercado, próximo à calçada, juntando-se a outras mais, lá já estacionadas.
Bicicletas poucas são vistas. Artigo raro de outros tempos.
Agora se anda de moto, para onde quer que se vá.
Antes se via jumentos. O homem trazia os seus produtos neles, ou puxados por carroças por eles. Eram em grande quantidade, apinhando há tempos atrás às feiras sempre com cangalhas abarrotadas de frutas e outros produtos.
Hoje tudo se difere. O povo precavido pensa com cuidado ao atravessar uma rua. O ronco das motos parece um som ameaçador na vinda, no passar e na ida, até sumir em alta velocidade.
As cidades do interior já se habituaram aos carros e motos, muitas, diria mais a motos do que a carros.
Deste moderno meio de transporte se multiplicam em cada cidade mais e mais “pilotos” quase todos os dias. As motos servem como táxis se da rodoviária o passageiro levar pouca bagagem, e se muito, duas viagens. O transporte é feito de várias maneiras, criatividade é o que não falta.
É o “progresso”, talvez, mas preferia ainda ver pelo menos um jumentinho que no meu tempo de criança não raro se deparava com um, dois ou três, a trazer ou levar lenha, leite, palha ou mesmo a transportar pessoas indo e vindo da serra grande ou para qualquer outro lugar.
Hoje a bucólica imagem daquele ingênuo e pitoresco interior, que não conhecia parabólicas, que enchia as calçadas à noite de cadeiras para as conversas a varar madrugadas, some rápido.
E aquela gente que sabia na calma enganar o relógio, esticando o dia e alargando à noite, ah! Meu amigo, não verás jamais, é como se diz e ouve hoje, “isso era no tempo em que se via jumento”.
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
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NOTA DO BLOG: a foto que ilustra a crônica do ipueirense Bérgson Frota mostra uma figura folclórica da Ipueiras antiga, o Famoso Santu e seus jumentos de carga, ditos amestrados. A foto foi colhida no Facebook Ipueiras-Ceará .
2 Comentários:
Uma preciosa crônica sobre um tempo que deixou saudades. Parabéns professor Bérgson!
Gostei da crônica, as motos são uma peste hoje nas cidades do interior, é uma pena, mas temos que constatar que o jumentinho está sendo atropelado pelo progresso, se é este o termo certo para tal fato.
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