O CENTENÁRIO DO AÇUDE CEDRO
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Há exatamente 100 anos era inaugurado o açude Cedro, obra prima da engenharia brasileira do final do século XIX. Este colossal açude retrata as esperanças do governo central na época para minimizar o sofrimento do nordestino, em especial o cearense que muito havia sofrido na grande seca de 1877 e que durou até 1879, custando ao Ceará, segundo o historiador Barão de Studart, 119 mil mortos e expatriados 5.500, bem como o desaparecimento total da indústria criadora.
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A obra foi encomendada pelo imperador Pedro II, monarca sensível ao sofrimento de seu povo e que conforme a lenda histórica, ao ouvir os relatos de vários retirantes teria dito que venderia “até o último brilhante da coroa” para que nunca mais os cearenses morressem de inanição.
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Enviou ao Nordeste uma missão científica, especialmente ao Ceará, para estudar a questão da seca. Dela participaram os maiores expoentes da engenharia brasileira na época como o professor Raja Gabaglia, o Barão de Capanema e outros grandes nomes.
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Determinada a construção do açude, escolheu-se a região semi-árida de Quixadá.
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As obras da barragem foram iniciadas em 1881 (ou 1888, segundo outras fontes), foi quando começou o levantamento da monumental parede de pedra, engenho de arte e beleza, que veio em 1977 a ser tombada pelo Patrimônio Nacional.
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A obra prosseguiu por quase 25 anos, e depois da abolição da escravatura teve como força o braço livre dos agricultores da região.
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A conclusão do grande açude se deu já na República, em fevereiro de 1906, no governo de Afonso Pena.
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O Cedro foi o primeiro açude público do Nordeste, símbolo maior da luta do nordestino pela sobrevivência contra as adversidades da seca. Possui um reservatório com a capacidade para 125.694.200 metros cúbicos, com uma profundidade máxima de 16 metros e uma bacia hidrográfica de 120 km quadrados.
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Da parede do açude, feita artesanalmente de pedra, vê-se a bela formação rochosa que é o símbolo da cidade de Quixadá : a pedra da Galinha Choca.
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A construção do Cedro foi um grande desafio, não só pelas difíceis condições da região na época mas também a prova de que o nordestino não se acomoda perante a maior das adversidades que tem enfrentado : a seca.
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Ao finalizar, fica a frase concisa mas grandiosa que melhor define o grande açude dita pelo biólogo paranaense Fábio Angeoletto : “Pergaminho pétreo que nos conta a história evolutiva de um animal cujas armas não são garras ou mandíbulas poderosas, mas a capacidade de criar e disseminar cultura”.
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(Publicado no jornal O POVO de Fortaleza-Ce, em 19.03.2006)
Foto 01 – site panoramio.com/photo
Foto 02 – site skyscrapercity.com/showthread
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
10 Comentários:
Mais um importante artigo resultante do trabalho de pesquisa de Bérgson Frota, que assim contribui para um maior conhecimento sobre os ícones do Ceará. Aproveitem.
Um trabalho lindo, as fotos também com a "galinha choca" muito conhecida, mais uma vez parabéns meu lindo como diz o professor seus trabalhos aumentam nossos conhecimentos.Beijos.
Parabéns amigo pela publicação, seus trabalhos de pesquisa são ótimos, vê se responde meus e-mails, caso tenha mudado me manda o seu novo endereço. Abraço do amigo "caixeiro viajante", rsrsr.
Professor novamente a nos brindar com suas pesquisas, lí com muito interesse seu trabalho e imprimi também. Na verdade nós aqui no Ceará temos muitas coisas lindas e muitas histórias a contar. Parabéns.
Gostaria de agradecer o destaque dado ao açude de minha amada Quixadá, faz muito tempo que eu deixei minha terra e estas imagens me tocaram o coração. Sim, a história verdadeira é esta e as belezas são muito maiores para quem visita pessoalmente. Obrigado de coração.
Um artigo completo, nota mil. Parabéns ao autor.
Bérgson tem prestado ao Ceará um grande serviço. Suas pesquisas são de grande importância na divulgação desta terra iluminada por um sol incansável.
O centenário do açude do Cedro, realmente me encantou e me trouxe junto a Pedra da Galinha Choca, Um dos principais pontos turisticos de Quixada.
Até o começo do século xx A Pedra da Galinha Choca era conhecida como Pedra da Arara.
Existe também um lenda indígena que diz que todas as outras pedras que existem na região são filhas da Galinha Choca e que ele nem sempre esteve no mesmo lugar.
São certas curiosidades que cercam este belo cartão postal.
Parabéns ao Jean pela postagem, e ao Bérgson pela qualidade do trabalho.
Meu abraço a vocês,
Dalinha
Um texto maravilhoso com duas fotos lindas. Parabéns.
Gostei deste texto e de ter revisto um pedaço lindo da minha terra Quixadá. Parabéns.
Este açude tem toda esta beleza porque começou a ser construído no tempo do império, naquela época cada obra tinha uma arquitetura ímpar, hoje se vê a praticidade das obras esqueçe-se a beleza que ela pode ter descartando-a como um supérfluo.Parabéns ao autor pela pesquiza, as fotos são de pimeira.
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