O DIA SEGUINTE
Luiz Alpiano Viana
As flores, no dia seguinte, são frutos...
As rosas serão, para sempre, o símbolo da pureza;
A oração é meio de comunicação.
Entre quem, então? Todos sabem...
Nas matas, cantam os pássaros belas sinfonias!
No fim das águas secam-se os córregos;
Pétalas de rosas caem quando o vento açoita
E morrem as mudas quando a chuva escassa.
O jardineiro varre as folhas que caem,
Não deixa uma solta, sequer.
E novamente o vento as espalha,
Xingando quem limpou o chalé.
Vez há que o sol chega ressacado,
E, aos poucos, da bruta farra se refaz.
Abre o olho, ainda meio sonolento,
inundando de luzes e cores, campos e pomares.
Chama o sapo sua companheira,
Para, durante a noite, não morrer de saudade.
Ela, como fêmea vaidosa se apressa,
E retoca cuidadosa a maquillage.
O sol se vai a busca de outro dia,
E, de volta, traz a noite para o deleite dos casais.
As garças se acomodam nos galhos secos das velhas oiticicas
que sem pincel pintam a noite de branco, e, o sol, o entardecer de doirado.
Com ternura os casais se aconchegam,
E sem medo, se tocam, se olham e se beijam.
A coruja caça uma caça apressada,
Pois seu filho não tardará a acordar.
O ronco do vento amedronta!
Até os cabritos em alvoroço se juntam.
E, no meio da noite, um bebezinho chora,
E a mãe como santa, dá-lhe o conforto da mama,
E desse modo o consola.
A luz da cidade é fosca
E aumenta a insegurança que reina como quer.
As ruas estão quase vazias,
Mas ficam intransitáveis assim mesmo desertas.
Os pratos nunca mais foram usados;
A ferrugem deu roupa nova aos talhares.
Infeliz época vive o miserável,
Que o próximo não vê e o deixa sem fé.
O café não tem doce, é amargo!
As pernas tremem, não podem andar;
É assim que nosso veleiro navega:
Excluído, não sabe aonde chegar.
Promete o pastor que Cristo tem hora!
Quem nele acredita, tem mais esperança;
Quem dele descorda, não verá da Aurora a chegada.
