UM HERÓI CEARENSE
Nascido em Fortaleza a 24 de novembro de 1941, João Nogueira Jucá foi um jovem que como muitos de sua época e idade tiveram seus sonhos, queria ser Oficial da Marinha, e para isso preparava-se, cursando na época o Científico no Colégio São João e freqüentando com dedicação uma academia de ginástica, fato que lhe dava um físico forte combinado à altura que tinha.
Mas para ele reservava o destino outro caminho, que deixaria para sempre seu nome na nossa história, o nobre sacrifício de sua vida em prol de outras tantas.
Na tarde de 04 de agosto de 1959, precisamente às 14h:20m, uma grande explosão se deu na Maternidade Dr. César Cals.
A seguir, começou com estrondos um grande incêndio e também a enorme correria da população local em busca de afastar-se o mais rápido possível do lugar, pois as labaredas em poucos segundos já iam altas.
Um jovem de porte atlético, que junto a outros amigos passava próximo, ao contrário dos que com medo, afastavam-se ante os gritos lancinantes por socorro que se ouvia de dentro da maternidade, lançou-se sem pensar junto a vários outros abnegados para dentro do hospital que já ardia.
De lá saíam trazendo recém-nascidos nos braços e parturientes feridas.
Outras grandes explosões eram ouvidas e a maternidade transformava-se agora numa dantesca sala de grandes labaredas.
O tempo em minutos parecia uma eternidade diante do poder destrutivo do fogo que alimentado por estoques de balões de oxigênio só fazia aumentar.
Dos que laboravam naquele socorro, não se poderia omitir a coragem daquele jovem que vinha e voltava rápido, trazendo crianças e mulheres, o corpo já queimado parecia não ser empecilho para a coragem e o heroísmo daquela grande alma.
Gritavam alguns para que parasse, pois no corpo já se via fogo. Suas vestes carcomidas deixavam a carne viva transparecer, e a quem assistia na tamanha confusão mais comovido ficava diante daquele ato nobre e corajoso.
O número de vidas que salvou este jovem herói nunca foi ao certo calculada, entre recém-nascidos e parturientes estima-se 25 pessoas, da tragédia que resultou em quatro mortes e inúmeros feridos.
Na última tentativa de mais uma investida para dentro das labaredas, foi fortemente detido e caiu desfalecido. O corpo deformado, as queimaduras de terceiro grau lhe tomavam 80% de todo o corpo, mas pareciam não deter sua ânsia de salvar quantos fossem. As forças porém já não mais respondiam a sua férrea vontade.
Em 11 de agosto de 1959, na Assistência Municipal, depois de muita agonia e sofrimento, intercalando lucidez e delírio, sem nunca ter se arrependido do que fez, veio a falecer aos 17 anos este grande cearense.
O exemplo de João Nogueira Jucá, moço de personalidade altiva e grande amor ao próximo ficou-nos, e são como marcos eternos na terra, e marcas indeléveis nas almas de quem os praticou, presenciou ou escutou tais feitos, não deixando de transparecer com isso a tênue, mas conflitante divisão perene entre o divino e humano latente e por vezes exposto nos grandes atos de altruísmo raros mas presente pela natureza humana praticados.
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(Foto do busto de João Nogueira Jucá, situado na Praça da Lagoinha (Capistrano de Abreu) – Arquivo do autor)
Publicado no O POVO (Fortaleza-CE) em 12.09.2009.
5 Comentários:
Oportuníssimo e elogiável o presente artigo do escritor, contista e cronista Bérgson Frota. Com ele o autor perpetua na internet a memória de um ser humano admirável por sua solidariedade e deprendimento, tendo dado a própria vida para salvar outras vidas.Parabéns, professor Bérgson!
É sempre bom conhecer histórias de heróis, principalmente quando estamos carentes deles.
Hoje o que mais se vê é a violência. Pessoas que matam a torto e a direito. E a covardia tomando conta de todos, que quando muito, querem salvar apenas sua pele.
Bérgson tem nos presenteado com textos de grande importancia.
Um abraço,
Dalinha
Um homenagem justa a um grande cearense. (Gostaria de deixar claro que o que foi exposto no discurso na coluna Brito e Suplicy, feito pelo senador ele ao invés de se referir ao guerrilheiro Bérgson Gurjão, referiu-se a Bérgson Frota que terá seus restos mortais sepultados no Ceará.)
Essa foi demais, Bérgson!!!. Um equívoco desses pode ter consequências graves...rsrs
Abraço.
Só não é trágico por que é cômico,é lamentável que Bergson Gurjão depois de morto sequer tenha seu nome citado de forma clara. Em boa hora meu nome foi uma homenagem ao filósofo francês Henri Bergson. Ao professor Jean Kleber um pensamento : quem será que dá assenssoria de pesquisa aos nossos políticos ?
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