A SAGA DE GERARDO:
Marcondes Rosa de Sousa
Tudo fiz. Não poderia deixar de ir á noite de autógrafos do livro “A Saga de Gerardo: um Mello Mourão”, do acadêmico e professor José Luís Lira, que pessoalmente me convidou.
Ontem, o Centro Cultural Oboé estava pleno de personalidades: acadêmicas, políticas, das Guaraciabas e Ipueiras. Reencontros com os de Ipueiras, desde os dos tempos da Escola de Dona Ester, a relembrar palmatórias (não vi Lelete, por causa de quem levei os primeiros bolos, mas a Elisa Maria, irmã dela. contemporânea mais direta de Solange, minha irmã, estava lá). Lá estavam contemporâneos como Nagib – a pregar a união entre Ipu e Ipueiras, a sonhada por ele “grande metrópole” (a perguntar por Walmir, meu irmão, o único de nós, a ser admitido como “ipueirense”) outras e outros mais antigos que eu, a me reconhecerem, em meio a outros mais ligados com o Walmir, como Vavá Mourão, entre o mais jovens de hoje).
A meu lado, o mais velho do clã dos “Dólar(e)s” – assim que se escreveria? - (o Zé, meu vizinho) e Silvana Frota, a jornalista.. Na fila em frente, prefeitos (de Ipueiras e Guaraciaba), o já octogerário Paes de Andrade. Do outro lado, a família dos Mello Mourões – que depois soube que haviam sido registrados, os filhos, como nascidos em Ipueiras, pelo próprio Gerardo...
A apresentar o escritor, um grande nome, um octogenário escritor, com nome mundial, Antonio Olinto, da Academia Brasileira de Letras. Após os emocionantes e descontraídos falares, fotos e papos no coquetel.
No livro, um cartão, com fotos de Gerardo a abraçar o Prof. José Luís Lima.
Ao fim, uma “Nota”:
“Pretendíamos homenagear o Poeta, por seus noventa anos, com a edição do livro – A Saga de Gerardo: um Mello Mourão, cujos originais ele chegou a ler e deu sua aprovação. A homenagem, agora, se faz celebração plena de saudade.
Até um dia, Poeta!”
A encimar tal nota, o Poema de José Luís Lira:
Lentamente o sol se põe.
Vai, pouco-a-pouco, perdendo sua majestade
E se encontra com o mar,
Dando a impressão de um mergulho.
Até chega a lembrar Exupéry:
Quando estamos tristes, gostamos do pôr-do-sol.
Tal qual o sol, o poeta vai se pondo, partindo
E não posso dizer-lhe adeus.
A província, a Terra-da-Luz,,
Perdeu seu Capitão-Mor nascido
No País dos Mourões do Siarah Grande.
Sem o tropel dos cavalos, longe do tilintar das espadas,
Gerardo partiu, deixando, na saudade, as marcas de sua Saga,
Em olhos vermelhos pôr-do-sol.
***
No posfácio do livro, Gonçalo de Barros Carvalho e Mello Mourão, embaixador e diretor do Departamento da América Central e Caribe, no Itamarati, deixou sua visão, como filho, do escritor. Desse posfácio, consta na contracapa do livro:
“... esteve bem José Luís Lira ao intitular seu livro ‘A saga de Gerardo: um Mello Mourão’. Na verdade, Gerardo não é Gerardo, é um Mello Mourão. Mas,como a própria obra poética que ele criou nos mostra, ser Mello Mourão, ali, significa muito mais do que pertencer a uma vasta família do Ceará Grande: significa legar para o mundo este quinhão de aventura humana que meu paiinventou, por que cantou e vem cantando” (Embaixador Gonçalo Mourão).
O livro em apresentado, sob a forma de poema, por Artur Eduardo Benevides –Príncipe dos Poetas Cearenses e presidente de honra da Academia Cearense de Letras e da Academia Fortalezense de Letras – “Em louvor de Gerardo Mello Mourão, poeta das Ipueiras e do Mundo”. E prefaciado por José Teodoro Soares, ex-reitor da UVA e ora deputado estadual pelo Ceará.
Na contracapa, o simpático, sensível e inteligente Embaixador Gonçalo Mourão, que, horas antes, em solenidade na Assembléia Legislativa, já falara, em nome da família.
Ao se ajeitar meu computador pessoal – estou num de empréstimo – mais informações sobre o lançamento do livro e dos papos.
Por enquanto, apenas o clima de festas, abraços, relembranças, até com Paes de Andrade, e o Embaixador Gonçalo Mourão e seus irmãos, sobre os “bolos de Dona Ester”, o artigo “O retrato que dói” e a restaurar o clima de paz, quem é de fato (Braga poderia lá estar) filho das “ipueiras”: Gerardo teria registrado seus filhos a habitar o clã dos mourões? Sim, o que lá da família ouvi. Jean Kleber, hoje na UNB, filho de meus professores “Dona Mundita, que para lá foi cuidar, com “Seu” Neném Mattos” – que reencontrei hoje nonagenário, em Fortaleza - nossos pais, meus irmãos e muita gente... Eu, tal como Moreira Franco, que governou o Estado do Rio, que teria se registrado em Teresina (meu caso, contrário, Seu Zeca Bento me registrou em Ipueiras – quando tive de levar documentos para Petrópolis (RJ) mesmo mencionando o local Santa Quitéria, onde a tabeliã da época, em rixas com meu pai, argumentara que um incêndio destruíra o livro) e coisas assim. Quem afinal é das ... “ipueiras”, hoje espalhados no País e no Planeta até.
Lá, fotos com ipueirenses, sobretudo, com o prefeito e os cazuzas. E a promessa minha de, em poucos dias - se os médicos não forem contra de dar um pulo lá, com Solange, para resolvermos problemas relacionados com a sucessão (heranças) de Wencery Félix de Sousa e Adaísa Rosa de Sousa.
Lá, quem sabe, quem sabe, uma subida ao Corcovado da Caatinga – onde as torres, numa ignorância literalmente dos diabos (concordam comigo Neném Cazuza, o prefeito, que promete, com a população, lutar pela transposição das tais torres, hoje a arranhar o Cristo (há artigo meu desde quando, do retorno de N. S. de Fátima – 50 anos atrás era eu “Jacinto”, pouco antes dos milagres) e ali voltava para rever a Virgem de Fátima...
Muita coisa a me lavar a alma: os papos com Nenen, que teve a gentileza de me deixar de volta em casa, quando me viu a procurar um táxi. Papos sobre Ipueiras – eu em francos elogios escutados sobre a administração dele. E, no livro, o poema “São Gonçalo da Serra dos Cocos”, do meu amigo “Pe. Geraldo Oliveira Lima”, que justo nessa matriz, um dia me saudou, com citações em grego e latim. Eu, como diria Cláudio, meu filho, a “me matar de vergonha”.
Mas foi aí que vi o velho Joaquim Alves a vibrar e todos com ele: “E você entendeu alguma coisa?”. E ele: “Não, mas fiquei todo arrupiado. Parecia música”. Tal frase, revolucionaria toda a minha visão sobre linguagem literária, a ter a música como backgroud e buscar-nos as forças do inconsciente.
***
Aqui, pois, numa homenagem a Geralinho, que foi para Sobral enquanto rumávamos Frota e eu para Petrópolis) e de quem recebi notícias positivas a este talento ipueirense por vezes esquecido, o poema, afinal e, por enquanto, “ao final” desta mensagem:
São Gonçalo da Matriz
Achado ao pé da palmeira,
Por caçadores famosos,
Na grande serra altaneira.
Levaram o São Gonçalinho
Com grande empenho e carinho,
Todo mundo bem alegre,
Com o pequeno santinho.
Quando foi no outro dia,
O povo com alarido
Foi rezar no oratório:
O santo tinha fugido.
Procuram por todo canto.
Correm ao pé da palmeira...
Pois no mato estava o Santo
Bem simpático e prazenteiro.
***
E sobre essa visão de nosso folclore, conclui-nos Gerardo Mello Mourão (à pág. 32, do livro lançado):
“Não sou um poeta nordestino. Sou um nordestino poeta. É outra coisa. Por isto sou fiel às substâncias líricas de minhas ribeiras da Ibiapaba. Com licença dos folcloristas e do folclore em geral, não estou aqui para fazer folclore. Não sou um tipo folclórico. Mesmo as letras de Humberto Teixeira, nas antologias de Luís Gonzaga, ou os poemas de Ascenço Ferreira, não são propriamente folclóricos, embora não percam nada de sua grandeza quando a lira do povo (folk-lore) as absorve e chegam a ser repetidas como cantos anônimos. Passam a existir além de seus autores. Como se dizia da “Ode a uma Urna Grega”, de Keats, quando feito e perfeito, o poema sabe mais do que o poeta. No dia em que meu poema souber mais do que eu, então sim, terei a glória de ser nordestino poeta, isto é,de ter o sopro dos próprios ventos da terra, de crescer de suas entranhas como um ser que dela recebeu a vida, uma serpente, um pé de juazeiro”.
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Foto de Gerardo Mourão: blog grupos.com.br/blog/ipueiras/permalink/ 18028.html
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.
2 Comentários:
Mais um artigo do professor Marcondes Rosa de Sousa. Um misto de depoimento, documentário e testemunho. Um excelente trabalho sobre o tema em epígrafe, o poeta ipueirense Gerardo Mello Mourão, patrimônio nacional.
Olá Jean Kleber,
Eu diria que Marcondes fez uma cobertura e tanto. Faltando apenas as fotos.Mas ele descreveu tudo tão bem, que mesmo sem fotografias deu para sentir o ambiente.
O Livro do José Luis Lira é um achado, vale a pena ler e saber mais um pouco sobre Gerardo Mello Mourão.
Um abraço,
Dalinha
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