Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

14.5.09

DESI(ÁGUA)LDADE - PARTE II

Por
Lin Chau Ming

O Brasil possui a maior reserva de água doce potável do mundo, acho que detém cerca de vinte e tantos por cento, incluído aí o Aqüífero Guarani, uma coisa assombrosa de boa.

Boa parte desse manancial encontra-se na Amazônia. Porém, a despeito desse mar de água doce, no Acre, por exemplo, no interior daquele estado amazônico, as populações seringueiras não contam com água potável de boa qualidade. Cada família obtém uma melhor água das cacimbas, locais onde brotam do chão pequenas fontes e são protegidas dos animais para garantir sua pureza. Essa proteção, contudo, não é tão eficiente, pois não consegue evitar a entrada de insetos, pequenos animais e também de outros elementos biológicos da floresta.

À semelhança com os posseiros do Mato Grosso, os seringueiros também usam as tinas de barro para armazenar água dentro das casas. Ajudei a conservar e limpar duas cacimbas. Uma era formada por um pequeno olho d’água, que brotava do chão, perto de um igarapé. A terra era bem barrenta, clara, e se misturava facilmente com a água, deixando-a turva. Quatro pedaços de madeira serrada, grossa, delimitavam seu tamanho e ela tampada com folhas de açaí. Não tinha muita água, mas mesmo na época de seca, mantinha sempre volume parecido, dava para o consumo da casa. O banho era tomado no igarapé, para economizar a água boa. Não era cercada porque ficava no meio da floresta, animais domésticos não iam até ela.

Já a segunda cacimba era bem maior, mais água, que brotava de uma pequena nascente com mais força. A família do seringueiro fez um pequeno dique com um tronco com cerne e controlou as frestas com barro. De tão boa que era a fonte, até alguns pés de pachiúba tinham crescido das sementes plantadas por eles. Era cercada com três fios de arame farpado, para evitar a entrada de animais domésticos, pois ficava ao lado do caminho que chegava na casa. O banho era tomado ali mesmo, ao lado do tronco, com uma pequena panela velha de alumínio servindo de cuia. Refrescante e maravilhoso após um dia de trabalho, ninguém duvida.

No Nordeste brasileiro, somente há poucos anos atrás tive contato com um leito de rio seco, visto na caatinga bahiana. Acostumado a andar em ambientes úmidos amazônicos, causou-me espanto ver apenas pedra e areia em um lugar que deveria também ter água. Nesses lugares, a luta para se conseguir água potável é imensa, a partir de locais improváveis e todas as estratégias são utilizadas para se obter o líquido vital.

Tecnologias adaptadas são essenciais nesses locais. Como garantir água de boa qualidade e em quantidade necessária para a família? Vi algumas iniciativas interessantes, como a captação de água de chuva, abertura de pequenas cacimbas nos leitos dos rios, dessalinização de águas subterrâneas. Para a agricultura, a construção de mini-diques ao longo de pequenos cursos d’água ajuda a conservar esse precioso líquido e a instalação de sistemas de irrigação via “potejamento” pode ser alternativa para pequenos agricultores.

Por incrível que pareça, encontrei também em outros estados brasileiros, não nordestinos, o sistema de captação de água de chuva, como nos estados do Rio Grande do Sul e Amazonas. No primeiro, a desertificação é um fenômeno real, se nada for feito, teremos terra inóspita nas planícies sulinas, e, no segundo caso, a falta de saneamento nas casas afeta diretamente a qualidade da água disponível, apesar de estarem cercadas por um mar de água doce.

Em São Paulo, a SABESP faz um cálculo rápido: cada pessoa consome cerca de 200 litros de água por dia, para todas as necessidades. Você já fez o cálculo de quanto você gasta? Poderia ser menos? Claro que sim, desperdiçamos muita água. No inverno fica sempre aquela situação de alerta: pode faltar água.

Além disso, as nascentes de água em Botucatu estão secando, os rios estão sendo contaminados por resíduos de agrotóxicos e poluídos por esgoto doméstico e industrial. O assoreamento dos leitos dos rios altera irremediavelmente o ciclo de vida, nós humanos incluídos. As famosas cachoeiras da região estão em perigo. Das mais de oitenta existentes, muitas delas já estão secas e em outras a poluição impede qualquer atividade de lazer em seu entorno, pois ninguém agüenta o fedor. Uma pena, pois sempre gostei de rios e cachoeiras.

Sinais dos tempos, sinais de tempo ruim que se avizinha, no país que tem a maior reserva de água doce do mundo....
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Foto: Queda d'água abaixo do Pinga de São Gonçalo no município de Ipueiras-Ce.
Site: ipueiras.ce.gov.br/wwwfotos/matriz/atuais/fotos/foto038.htm
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

1 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Esta é segunda parte da matéria do professor Lin Chau Ming sobre a água no planeta terra. Desfrutem.

14.5.09  

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