Por
Luiz Alpiano Viana
Durante os dias da maior festa carnavalesca do mundo, você enfeitou-se, usou máscara, pintou o rosto, virou palhaço. Bebeu, fumou e dançou. Pulou como nunca tinha feito na vida. Na verdade, se foi sua primeira vez e está feliz, certamente já pensa no próximo ano fazer tudo de novo.
Se nesses dias você paquerou e até namorou garotas que cruzaram seu caminho, custa-me crer que tenha sido sem camisinha. Torço que se tenha protegido e não esteja arrependido de seus atos. Resta-lhe, portanto, assumir as conseqüências. Espero que não mais esteja perdido na multidão dos sonhos, nem no colorido das alegorias.
Mas sei que está cansado! Bebeu muito, alimentou-se mal. Deve estar desidratado, sonolento e também com saudade. No meio desse oceano de folião, o barulho do carro de som e o grito insaciável da multidão ainda fazem ecos nos tímpanos. E a bebida como o principal combustível levou-o ao delírio de mais um uma noite, colocando-o no mais alto degrau do prazer. É por isso que você mesmo diz que o carnaval é uma loucura gostosa e até sacrificante!
Sabe de uma coisa? Eu também concordo com você! Pois para quem gosta desse tipo de festa, não há com que comparar esses dias de fevereiro, véspera de quarta feira de cinzas. Em todos os cantos deste País rufaram-se os tambores. E logo, brasileiros e estrangeiros uniram-se com o mesmo objetivo, dançando ou pulando do jeito que sabem.
Ainda bem que você voltou! Parabéns! Onde ficou mesmo o seu amigo! E aquela garota com quem você ficou na primeira noite? Nem sabe de onde ela veio, nem para onde foi. Será que ela voltou inteirinha para casa como você? Sabe-se que as estradas por onde andou, estavam repletas de pessoas dirigindo alcoolizadas, ressacadas e sem a mínima condição de conduzir um veículo com responsabilidade. Se dormir ao volante um acidente é inevitável e fatal.
O bom é que você se realizou, esbaldou-se. Entre mortos e feridos salvaram-se todos. Outros milhares de foliões não tiveram a mesma sorte. Muitos ficaram pelas estradas da tristeza, e outros, em suítes de hospitais.
Deu para ver que a fantasia que vestiu hoje não é colorida como a de ontem, porém o transforma noutro personagem. Sabe de uma coisa, meu amigo! Todo dia você viverá mais um personagem diferente na passarela da vida. Há dia que será um pai exemplar ou um excelente profissional no que faz. E dia haverá que não passará de um simples pierrô, perdido no meio da multidão como agora no carnaval.
Mesmo vendo as estatísticas alarmantes de mortos e feridos nas estradas que cortam o Brasil, você não se trancou em casa com medo dos acontecimentos negativos, como muitas pessoas fizeram. Se a vida passa como um raio e se tem uma máscara escondida no cós, a tendência nessa época de carnaval é colocá-la nem que seja por alguns minutos. E assim, em determinados momentos você engana, por alguns instantes, as decepções que a vida se lhe reservou.
O carnaval é isso: a maioria dos foliões não lembra com detalhe as loucuras que aprontou ao longo desses dias. O que leva em conta são as grandes emoções vividas, mesmo que na manhã de quarta feira, envergonhe-se do que fez.
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Foto: site semdemora.com/data-carnaval-2010.html
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O ipueirense
Luiz Alpiano Viana, é uma apaixonado por sua terra natal. As suas memórias e saudades de Ipueiras estão sempre presentes em suas crônicas, a exemplo de “Saudade” e “O astuto cirurgião”, narrativas que trazem de volta velhas e boas recordações. Tendo morado na cidade de Crateús/CE e em Brasília/DF, atualmente reside em Forteleza/CE e é funcionário aposentado do Banco do Brasil.