OS ÓRFÃOS DA IDADE
No ritmo alucinante de vida que se vive hoje nas grandes cidades, onde o contato humano se dá quase sempre numa superficialidade não tão necessária mas já característica, assiste-se silenciosamente o drama dos idosos oriundos do interior.
Trazidos pelos filhos, sofrem no novo ambiente com a insegurança e as parcas opções de lazer. Daí perderem eles importantes pontos de identidade e referência com que se guiaram na maior parte de suas vidas.
O primeiro é a moradia, em geral apartamentos. Um estilo de vida que os faz sentir saudosos da importante convivência com os vizinhos que tinham.
O elevador transforma-se num espaço em que muitos se vêm diariamente e passam a “conhecer-se”, e deste modo frio de relacionamento, não generalizando, acabam identificados por fim pelos números de suas novas residências.
Longe da amizade mais próxima se fitam silenciosos, até findarem-se os “eternos” segundos que os levam à portaria ou ao seu andar quando se está de regresso.
A rotina que antes se fazia ao percorrer as pracinhas, ir às missas e conversar com amigos transforma-se em viagens constante a médicos e esporádicas visitas dos filhos aos domingos, estes quando aparecem, mas mesmo a presença constante destes, não impede com que os pais já idosos se tornem o que poderíamos chamar de “órfãos da idade”.
Dependentes de cuidados, muitos calam diante das contrariedades que lhes são impostas, envergonham-se de pedir o que para eles seria o lícito, mas já de forma inconsciente se consideram aos filhos um estorvo, quando assim não deveria ser.
Não se trata de acusar os filhos de insensíveis, mas alertá-los que muitas vezes em tirá-los do seu recanto interiorano, onde ficaram os velhos amigos e histórias para serem lembradas e nestas lembranças buscadas e revividas criam neles um desamparo psíquico quando não uma grande falta de perspectiva.
É necessário nestas decisões familiares muito pensar e dar espaço aos pais para manifestarem-se, pois em muitos casos a frieza da vida de um grande centro urbano é mais sentida e mais cruel para o idoso do que a temida solidão interiorana que se busca evitar.
Publicado no jornal O Povo de Fortaleza, em 13.02.2010 e no blog grupos.com.br/blog/ipueiras em 01.03.2010
10 Comentários:
Professor Bérgson Frota sempre nos toca a alma com os temas relevantes de suas excelentes crônicas. Parabéns
Valeu este artigo, a questão é quando vamos nos conscientizar para o drama dos idosos.
Todos querem viver muito mas não querem reconhecer que viver muito é também arcar com as dificuldades da idade. Parabéns pelo texto.
Gostaria que muita gente lesse este artigo e se conscientizasse do que ele aborda, trazer para morar em cidade grande pessoas idosas que moraram a vida toda no interior é uma tortura. Garoto escritor bem antenado.Bis.
Os anos passam e nós esquecemos que envelhecemos e logo vamos ter que enfrentar as cadeias da idade. Um artigo para reflexão.
Os anos passam e nós esquecemos que envelhecemos e logo vamos ter que enfrentar as cadeias da idade. Um artigo para reflexão.
Parabéns pelo excelente artigo.
Um grande artigo, um grande abraço.
Parabéns pelo trabalho, vale mil pelo assunto, gostaria de sugerir um artigo sobre os cadeirantes.
Os idosos devem merecer muito nossa atenção, principalmente nas suas vontades muitas vezes não articuladas mas percebidas por gestos. Beijos.
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