O NATAL DO BODE IOIÔ
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Naquela noite não havia lua, e se houvesse estava encoberta por grossas nuvens a se intimidar.
Nos bairros da periferia também se sentia a alegria e o piscar multicor das milhares de luzes, bem como por toda cidade, principalmente nas grandes praças aonde árvores natalinas gigantescas decoravam num mar de luzes piscantes aqueles lugares.
No centro antigo, no prédio onde outrora foi a Assembléia do Estado e hoje é o Museu do Ceará, aquele brilho mágico também entrava por frestas, pois noite era, e lá ele estava fechado.
Entre estas luzes que piscavam multicoloridas com seus raios, uma muito forte atingiu os olhos vítreos do bode Ioiô, que empalhado há décadas, passou a receber uma mágica energia a tomar-lhe o corpo inerte e como um milagre lhe passou a dar lentamente movimento.
Aos poucos Ioiô voltou à vida e passou a caminhar pelo museu, sacudindo a poeira acumulada por anos de imobilidade. De repente as portas do museu abriram-se e ele dirigiu-se para fora, transpondo a porta.
Ioiô caminhou por bairros novos que nunca havia visto, e sua alegria mais aumentava, pois o sentimento natalino lhe tocava, e seu amor e saudades pela cidade lhe faziam o coração bater mais forte. Grossas lágrimas lhe desciam do rosto.
Fortaleza estava linda no Natal, pensou, viu o ano, 2011, e percebeu que muito tempo havia passado.
Depois de tanto se deslumbrar, sua alegria não tinha tamanho. O sentimento natalino lhe fazia agradecer a força mágica que lhe permitiu este fantástico presente.
Tornou o famoso bode a caminhar alegre e curioso como sempre pelas ruas, como no passado fazia, sem perceber que a fantasiosa aventura que vivia saíra do bico de uma caneta que num papel riscara em letras um texto a trazer-lhe vida, numa crônica natalina, presenteando-lhe com um Natal que jamais esperou.
O autor foi generoso, lhe deu toda à noite para perambular como no passado fazia e agora pela nova Fortaleza, era Natal, e tudo era possível e permitido.
Assim foi o Natal mágico do bode Ioiô, que durou até o fim da noite, e quando pelas frestas das portas e janelas do museu, as luzes coloridas deixaram de entrar, lá no mesmo lugar estava o bode Ioiô, empalhado, imóvel, porém os olhos vítreos pareciam diferentes, como a agradecer aquele feliz presente, sem perceber que recebera-o de um escritor que ao dele lembrar-se resolveu oferecer-lhe este fantasioso e rico conto.
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
1 Comentários:
Bem vindo professor Bérgson com sua valiosa crônica de Natal, evocando um personagem inesquecível da história de Fortaleza! Obrigado!
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