NATAL E A ESPERANÇA
Fortaleza -CE
Naquela mesma velha noite amiga, noite cristã, berço do Nazareno, um homem busca repetir, no soneto de Machado de Assis, a beleza espiritual que todos buscamos repetir agora. Sobra-lhe confusão na pergunta:Mudaria o Natal, ou mudei eu?
Porque estamos sem saber o que é Natal e o que somos, na passagem do aniversário do filho de Maria de Nazaré.
A propaganda consumista impõe enganos desse entendimento: arquiteta presépios, arruma jogos de luzes para o deslumbramento dos compradores.
Mas desestimula as perguntas sobre os extravios humanos, em tantas encruzilhadas mal sinalizadas.
Os magos procuraram rumo nas estrelas para o encontro do Natal. Trouxeram ouro, incenso e mirra para o Menino, nascido na manjedoura porque os pais não conseguiram lugar nas hospedarias de Belém. E nós não precisamos de rumos?
Uma busca orientada exige que pensemos.
E tudo nos induz a não pensar. Consumismo é isto.A ilusão de evitar a angústia é afundar no aturdimento. Para isso, as prateleiras das lojas estão repletas de uísques e champanhe vencedores das barreiras alfandegárias. Porque vêm do trabalho distante de outros povos, dão prestígios aos bebedores, além dos desejados desmontes da reflexão. E dirão: Jesus Cristo gostava também de festas, também bebia o seu vinho...
Sim. Ele assumiu a natureza humana, exceto o pecado. Participava de festas. Aceitou o banquete oferecido por Zaqueu, o cobrador de impostos. Agradeceu as comidas especiais que lhe preparavam em amizade as irmãs Marta e Maria de Betânia. No entanto, não deixava de ir ao deserto, para as meditações que resgatam a verdade humana, em dias como estes, quando se adensa fumaceiro dos noticiários e há o risco de que as esperanças também anoiteçam.
Ele não ficou insensível aos dramas dos pobres. As multidões o seguiam, sem comer por três dias. E lá estão, nos Evangelhos de Mateus e de Marcos, estas palavras da segunda multiplicação dos pães: Eu tenho pena dessa gente. E ordenou que se multiplicassem os sete pães e alguns peixinhos. Comeram quatro mil, sem contar as mulheres e as crianças...
Mudaria o Natal, ou mudei eu?
As filosofias dos últimos séculos mudaram a humanidade. Centraram as formas de vida na substituição de Deus por muitos deuses. E hoje são deuses a conta bancária; o apartamento de cobertura; o automóvel de luxo; o computador que desemprega operários; o prestígio da imagem na televisão...
O esquecimento de Deus amesquinhou o significado do Natal. O vazio de Deus nas almas se povoou de medos. Medos, muitos pavores. Séculos antes de Cristo, Isaías falava dos direitos humanos à alegria, com o futuro nascimento do Nazareno. Um retorno à leitura do Profeta do Advento renova o entendimento do Natal como festa do espírito. Porque o Natal vivido apenas com uísque e champanhe e presentes não orienta a viagem da raça humana no tempo.
Mas é possível mudar a direção da mídia.
Mudar o pensamento criativo. Mudar a luz negra pavorosamente fixa nas imaginações. Leão Magno, papa de 440 a 461, falou da teofania de Jesus Cristo:
Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida, uma vida que destrói o temor da morte.
José Costa Matos, ipueirense, poeta, escritor, expoente da literatura cearense escreveu esta crônica bem antes de seu falecimento. O filho Carlito Matos nos enviou hoje. Um verdadeiro presente de Natal!
1 Comentários:
Uma honra, meu caro Carlitto, ter esta magnífica crônica de meu padrinho Costa Matos no Natal do Suaveolens! Obrigado!
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