O SOM DA CHEGADINHA
Bérgson Frota
De longe o som metálico do triângulo sempre a ser batido com uma pequena varinha do mesmo material, anunciava a vinda da chegadinha, para muitos do chegadinho.
Quando na infância, de férias em Fortaleza, não deixava de apreciar aquelas folhas adocicadas feitas com farinha de trigo, goma, água e açúcar. Amarronzadas e quase dobradas com o formato de um cone bem aberto.
Naquela época eram garotos a vender tal iguaria.
Muitos a levar nas costas um cilindro quase à metade de seus tamanhos, onde estava o produto.
Nas mãos o triângulo e a varinha a tocar.
Hoje poucos a vender se avistam, e se vêem são adultos, a se pensar, seriam aqueles garotos que ao crescerem estão hoje a continuar seu antigo ofício de infância ?
A chegadinha, ou o chegadinho parava a meninada em geral em blocos de apartamentos, antes não murados, nas calçadas, pracinhas, o lugar era onde tivesse o freguês, o que não faltava.
Numa tarde destas, já descendo em direção à praia, passei por um vendedor. Disse-me que desde criança vendia o produto, e que a chegadinha ou chegadinho, quem dava o nome era o freguês, para ele a renda era o que importava.
Com certa alegria me vendeu uma farta porção.
Pedi para fotografá-lo e assim, de boa vontade posou.
Despedimo-nos como velhos amigos que haviam se encontrado.
Olhei afastar-se lentamente, como a lembrar de quando criança, saboreando a casca fina e doce, acompanhava com a vista, curiosamente, o garoto que partia, até sumir, tocando para todos o seu instrumento.
Ao ouvir novamente aquele som até ficar fraco e distante, certa nostalgia me veio, era como se o tilintar, o cheiro e o sabor daquela iguaria, momentaneamente me tivesse reportado aos bons e doces tempos da infância.
Foto do vendedor: acervo do autor.
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6 Comentários:
Mais uma cena do cotidiano de Fortaleza, captada magistralmente pelo cronista Bérgson Frota. São temas como esse, caro Bérgson, que fazem a riqueza de seu trabalho! Parabéns!
Olá Jean parabéns por postar os significantes escritos de Bérgson.
Olá Bérgson,
Fiquei com água na boca. É dificil ler seu texto sem sentir vontade de repetir os sabores do passado.
Meu abraço
Dalinha Catunda
Um gostosos tempo ao som do tilintar.
Essa iguaria remanesce até os dias de hoje com o mesmo ritual! Fantástico!Parabéns pela matéria, professor!
Um doce de artigo, que bom ter vivido minha infância e nela saboreado com gosto a chegadinha.
Parabéns pelo artigo amigo, sua cultura e curiosidade sempre me fizeram admirá-lo.
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