Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

Minha foto
Nome:
Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

4.9.08

VAI PASSAR

Nas cantinas, ouço estudantes universitários confessando-se estupefatos. Ao aplicarem testes para nacional avaliação de nosso ensino básico, uma surpresa. Alunos de oitava série não conseguiram literalmente "ler" as questões. Analfabetos apesar de escolarizados.

O fato nos chama à reflexão. Por todo o País, toca-nos o apelo do "todos pela educação de qualidade para todos". Mas é o "todos" - ponto-de-partida e destino - que parece mais envolver-nos, fazendo-nos passar por cima da qualidade, atropelando-a até.

Nesse clima, o verbo "passar" e seus cognatos tornam-se palavras-de-ordem. A escola se vê como mera passagem, onde crianças se abrigam, em stand by para a vida. A educação não mais "processo formativo" (Art. 1º. da LDB), mas, ao invés, inoperante impressão de folhas em branco. E o ensino, por vezes, a tentativa de "segurar" os alunos pela ação de bem-intencionadas figuras que, na prática, se tomam caricatas "seduções do passar": - organização curricular em ciclos (por mais amplos) do período escolar, classes de aceleração da aprendizagem, sistema de promoção automática e avaliação mais abrangente.

Entre pais menos letrados, a reação similar à de Bernadete, que, sem rodeios e em seu dialeto, reclama-me, ao me pôr à mesa o café-da-manhã, sobre o tratamento dado ao filho na escola: "0 Robson vai passar! É "cicIo", "aceleração não sei de que", "satisfatório/não satisfatório" ... Ele não sabe de nada (estou lhe avisando!) e,assim mesmo, vai passar". E, num sorriso de canto de boca, destila: "Estão dizendo que é o Governo e até o senhor que querem assim ..."

Nas oposições mais letradas, o tom não é diferente. O combate à evasão escolar estaria se fazendo a qualquer preço, os olhos fitos sobretudo no ilusionismo das estatísticas e no fulgor dos out doors.

Paixões a parte, sejamos sensatos. Elogios sim a "todos", ativos e passivos, no afã de universalizar o ensino. Mas, aos que pecam pelo açodar-se, o conselho do Pe. Sadoc, honorário membro do CEC: "É o freio e não o acelerador que põe o carro para correr". No caso, é conjugar freio e acelerador. Pé no chão, "na tábua" e no "breque", sem, no entanto, perder de vista a estrada e, sobretudo, a chegada. Educação é meio, não fim. Seu porto, a inclusão social, a cidadania e a construção econômica da vida, onde títulos sem crédito e cheques sem fundo não têm valor.

Sem lastro, é desperdício. Onda! Vai passar!...
.
(O Povo, Fortaleza, 14/06/2000)
______________________________
Referência: (Marcondes Rosa de Sousa. Educação: Insistências e Mutações – Coletânea de Artigos Publicados nos Jornais de Fortaleza (1995 a 2001). Sobral. Edições Uva. pp. 208-209
______________________________
Foto: capa do CD de Chico Buarque "Vai passar", no site images.americanas.com.br/
____________________________
NOTA DO BLOG: escrito em 2000, oito anos passados, este artigo de Marcondes Rosa de Sousa apresenta inquestionável atualidade tendo-se em vista as questões da educação no Brasil de hoje.
___________________________
Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

4 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Escrito em 2000, oito anos passados, este artigo de Marcondes Rosa de Sousa apresenta inquestionável atualidade tendo-se em vista as questões da educação no Brasil de hoje."Educação é meio, não fim. Seu porto, a inclusão social, a cidadania e a construção econômica da vida, onde títulos sem crédito e cheques sem fundo não têm valor".É isso aí. Parabéns, mestre!

4.9.08  
Anonymous Anônimo disse...

Excelente. Infelizmente este artigo continua atual, nada mudou, talvez tenha piorado em alguns aspectos. Educação de qualidade ainda é um sonho... distante! Abraços.

6.9.08  
Anonymous Anônimo disse...

O texto retrata a sobriedade e ampla visão crítica que um mestre da educação como Sr. Marcondes Rosa tem pelo atual ensino no nosso país. Muito deve-se mudar, e a mudança é gestada neste e em outros trabalhos do gênero que nos fazem refletir e depois agir.

7.9.08  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Marcondes Rosa, é uma voz que desde sempre clama por melhores dias no ensino. Critica, aponta caminhos, mas carece de outras vozes que unidas a sua poderão fazer acontecer o milagre do ensino responsavél, onde os direitos e deveres de alunos e professores falem mais alto que os interesses do governo.

8.9.08  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial