Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

10.9.08

MOBILIANDO O APARTAMENTO

Por
Lin Chau Ming
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Meses atrás, em Botucatu, fui a uma loja de móveis usados procurar por algumas peças para levar à casa que alugo no vale do Ribeira, que funciona como base de apoio para minhas pesquisas acadêmicas na área de Etnobotânica e também como suporte aos alunos que fazem seus trabalhos por lá. Precisava de uma mesa, cadeiras, e outros itens do mobiliário, uma vez que estava saindo do aluguel de uma casa mobiliada para uma não mobiliada. Fui a uma perto de minha casa, a do Luiz Macedo. Conheço outras pela cidade, mas por facilidade e amizade com o dono, escolhi a do bairro. Não achei tudo que precisava, pois a loja não tinha um estoque grande e diversificado.
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Aluguei um apartamento no Harlem, tradicional bairro em Manhattan, com mais de 250 anos, conhecido pela predominância de afrodescendentes americanos entre seus habitantes. Hoje a situação está um tanto alterada, pois a população latina tem aumentado bastante nessa região.
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Antes de viajar, entrei no site da Columbia University em busca de apartamentos para alugar. Ela possui mais de 1500 deles para alugar a estudantes e pesquisadores, todos dentro ou perto do campus. Nenhum vago e a lista de espera é de mais de um ano. Impossível, então. Ela tem ainda, complementarmente, uma lista de apartamentos fora do campus, não de sua propriedade, para ajudar aos que irão estudar na Columbia. Fui a essa lista e tinha apenas 3 opções, todas fora de meu orçamento, aliás, fora das condições permitidas pelo valor da bolsa de pós-doutorado que recebo. Não poderia, como era meu desejo, morar no centro de Manhattan, teria que me contentar em algum bairro mais afastado.
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Aqui em Nova York, como em qualquer parte do mundo, o aluguel de imóveis é feito prioritariamente através de imobiliárias. Diferentemente no Brasil, aqui se paga de 50 a 100 dólares para que sua ficha cadastral seja feita, por imóvel pretendido e depois aprovada ou não. Não se devolve esse valor, independentemente do resultado. Procurei um apartamento mobiliado, porque não queria gastar dinheiro comprando móveis que seriam utilizados apenas durante o meu período de estadia aqui nos EUA. A grande maioria dos apartamentos não era mobiliada.
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Não tive outra escolha, aluguei este apartamento não mobiliado, situado no sexto andar de um prédio antigo, sem elevador, de antes da Segunda Guerra Mundial, daqueles de tijolinhos vermelhos à vista, com aquelas tradicionais escadas contra incêndios de ferro, do lado de fora do prédio. Aliás, é uma característica de muitos dos prédios da cidade, o que lhe dá essa marca peculiar, interessante por sinal. Nos processos de restauração dos prédios, mantém-se essa característica de sua arquitetura.
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Como eu viera a Nova York apenas com livros, roupas e outros utensílios pessoais, e não com móveis, tinha que arrumar, o quanto antes, os itens essenciais. Vou dizer uma coisa que talvez não acreditem: em menos de uma semana no apartamento, mobiliei toda a casa, no essencial. E não gastei rios de dinheiro para isso. Apenas utilizei ou re-aproveitei materiais que encontrei no lixo das calçadas. Sim, consegui camas, estantes, mesas, cadeiras, televisão, micro-ondas, computador, armários, prateleiras e outros. Com um punhado de pregos e parafusos, ferramentas emprestadas ou adquiridas nas casas de 99 cents e um pouco de experiência de carpinteiro autodidata, fiz os móveis “sob-medida” do apartamento, que é pequeno, mas aconchegante, apesar das escadarias que tenho que subir e descer todos os dias.
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É incrível como os americanos jogam fora tudo. Acho isso um absurdo. Mas acho que eles estão acostumados a entender que as coisas são descartáveis, mesmo os móveis. O primeiro produto que catei nas ruas foi uma dessas cadeiras giratórias para uso em mesa de computador, com apoio para os braços, que custam vocês sabem quanto aí no Brasil. Estava praticamente novo. A segunda peça que eu encontrei foi uma escrivaninha, com aquela parte deslizante para acomodar o teclado de um computador. Zero bala também. Junto com um monitor da Apple, este não tão zerado.
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E assim fui completando o mobiliário. Existe um dia específico para que os lixeiros passem nas ruas, dependendo do bairro. Basta sair à noite, antes dos lixeiros e pronto, você pode escolher vários produtos que ainda estão bons. Nesta semana, em frente a uma escola primária, junto com uma porção de materiais jogados fora, algumas coisas me chamaram atenção. Dezenas e dezenas de baldes, lixeiras, caixas plásticas e recipientes tipo tupperware, além de livros, muitos livros.
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Apesar de não ter vergonha de ficar pegando essas coisas nas ruas, naquele momento não iria ficar fuçando todos os sacos plásticos à procura de livros que pudessem ser interessantes para mim, além de estar quase escurecendo e fazia muito frio. Peguei apenas três dicionários da Webster, de inglês, espanhol e francês. E muitas das caixas, baldes e objetos de plástico, todos praticamente novos.
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Com essa situação, ocorreu-me uma coisa. Aqui nesta cidade não existe loja de móveis usados. Talvez o Luiz Macedo fizesse a festa por aqui, dado o grande número de móveis jogados fora e que poderiam ser reaproveitados. Ou fosse à falência em pouco tempo pois não conseguiria vender para ninguém, pois pode-se catar do lixo.
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Foto: site litoralvirtual.com.br/.../fotos/moveis01
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

2 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Esse artigo é inquietante e ao mesmo tempo fantástico pela simplicidade e despojamento de sua narrativa. Dá o que pensar. Professor Lin sempre surpreendendo. Parabéns, irmão!

10.9.08  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Muito bonita a atitude de um professor que abre mão da vaidade, do orgulho e literalmente põe a mão na massa. Veste a roupa da sabedoria e alcança seus objetivos.
Já estávamos com saudades do professor Lin e de seu olhar captador e diferente.
Um abraço,
Dalinha

11.9.08  

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