O LATENTE PRECONCEITO
Bérgson Frota
No curso de Filosofia, precisamente no 3º semestre, aconteceu um fato triste, não sei se desencadeado pelo meu nome somado a forma apaixonante do tema que escolhi e expus.
Como chefe de equipe, fiz então uma longa explanação sobre o nascimento e perseguição do povo hebreu, citando nomes de destaque nas ciências, política e literatura, e como um lapso, inconsciente, devo relatar só depois me dado conta, omiti a figura de Cristo, ao mesmo tempo em que falei do grande legislador Moisés.
O fato é que notei certa mudança no tratamento a mim reservado a partir de então pela mestra. Antes atenciosa passou a ser alguém distante a meus questionamentos, coisa que pouco me fazia entender o porquê da atitude.
Passaram-se várias semanas e um dia, ainda no pátio, antes de entrarmos em sala de aula, acerquei-me dela e fiz-lhe uma pergunta. Ela disparou quase me fuzilando com os olhos.
- Você é judeu ?
Fiquei sem ter chão para pisar.
- Não, sou católico, sou de uma família católica praticante.
Ela me olhou como se tivesse tirado uma tonelada de cima de si, e notei seu olhar mudado em minha direção.
- Então por que defende tanto os judeus?
Aquilo era demais, estava lá, latente o preconceito.
Perdi-me, falei que explanei meu ponto de vista e o da equipe, assim como defenderia se fosse a exploração do povo negro ou indígena.
Depois daquela pequena conversa tudo voltou ao “normal”, para ela, quanto a mim, enchi-me de pena ao ver numa docente de universidade, a estreiteza do sentimento humano tão arraigado numa criatura.
Na UECE o curso de filosofia prosseguiu.
E muito tempo depois de formar-me, lembrei deste triste fato, que relato não para divulgar o papel de “vítima inocente” o qual passei, mas como uma denúncia ao mais nocivo preconceito que nos prende e rebaixa sempre que nos quedamos em estreitas definições de respeito ao ser humano.
6 Comentários:
Um blog se firma pela qualidade dos temas e de seus colaboradores. Professor Bérgson sempre nos brinda com temas importantes e muito bem colocados. Parabéns.
A narrativa de Bérgson Frota nos faz ficar de alerta, porque, mesmo não sendo judeu como foi o seu caso, sentiu e pôde constatar o que é o preconceito. Algo mesquinho que se sustenta no NADA,e as pessoas que assim agem, muitas de forma ingênua, por formação outras por maldade devem estar ciêntes das consequências de seus atos.
Marcos Lutz
O preconceito contra os judeus é uma doença, assim como todo tipo de preconceito seja contra negros, índio e mulçulmanos, este trabalho é louvável por expor de forma clara e crítica esta doença.
O preconceito é sempre uma mancha se o temos em nosso caráter, cultivá-lo é tornar-se pior. Louvemos os que em textos e palavras o denunciam. Valeu amigo.
Gostei do trabalho, sou judeu, tenho orgulho da minha religião e da história do meu povo, sou brasileiro também, amo meu País, e são atitudes como essa de intolerância gratuita que infelizmente às vezes me decepcionam, mas ainda bem que tem muito compatriota sensato e são. Valeu irmão.
Quem � crist�o de verdade aceita seu semelhante como ele � n�o o julga por credo, ra�a nem op�o sexual. Quem faz restri�o faz tamb�m a si mesmo.
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