Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

23.6.07

CAMINHANDO PELO CERRADO

Por
Carlos R. Spehar

Sem compreendermos como funciona a dinâmica de interações com seres vivos, não logramos estabelecer equilíbrio duradouro. Início de caminhada. Ambiente insólito. Árvores tortas, dando a impressão de haverem sofrido escaramuças na luta pela sobrevivência. Algumas, vigorosas, como o carvoeiro, crescem rapidamente, para depois morrer.

Deixam um ambiente modificado, onde outras espécies se beneficiam. Parece que, por pertencerem à família das fabáceas, contribuem nitrogênio às plantas sucessoras. Esse elemento, que antes estivera no ar, foi passado à planta hospedeira que em troca, forneceu produtos da fotossíntese às bactérias simbiontes conhecidas como rizóbio. Durante a caminhada são vistas tantas outras plantas, com características peculiares.

Em uma análise mais profunda percebe-se que estão inter-relacionadas, como esse exemplo que acabamos de relatar. Algumas, já se sabe, são acumuladoras de silício, elemento pouco abundante nos solos ácidos do Cerrado. Certamente, suas folhas, ao se decomporem liberam o elemento, trazido das camadas mais profundas do solo, às plantas que habitam um ambiente mais próximo à superfície.

Outras plantas acumulam alumínio que pode ser tóxico a muitas outras, principalmente as cultivadas. O provável é que, ao ciclarem apenas nutrientes, criam um ambiente menos hostil à sua volta, trazendo para o seu interior, o elemento tóxico. Dessa forma permitem que outras espécies se associem a elas. Estas, por sua vez, retêm alguns nutrientes em seus detritos, os mesmos que estariam sujeitos à lavagem pelas chuvas torrenciais, caso livres no solo. Parece que a mistura de espécies é uma necessidade recíproca.

Cada qual ocupa seu nicho, porém não se isola. Abrem espaço para a diversidade, pois dela dependem, numa combinação imensa de possibilidades, das quais aventamos apenas alguns casos. Muitos outros estão por ser desvendados, não apenas com o intuito de conservar amostras de tão exuberante vida em um ambiente aparentemente hostil.

Quando se pratica agricultura em tal domínio, modificando-o, com adição de nutrientes e corretivos do solo deixa-se a impressão que os problemas estão resolvidos. Contudo, não é o que se presencia. Por mais que haja ciência auxiliando na solução de problemas inerentes ao ambiente. Sem compreendermos como funciona a dinâmica de interações com seres vivos, não logramos estabelecer equilíbrio duradouro.

Estaríamos reavivando Darwin ao afirmarmos que nossa percepção, ainda que ampliada com lente de aumento em relação ao seu tempo, ainda é estreita. Em sua época ele reclamava a necessidade de se aperfeiçoarem os estudos geológicos. Hoje, com todas as ferramentas modernas da biotecnologia, ainda arranhamos, patinamos, esperneamos.

Só nos faz lembrar da máxima atribuída a Sócrates, quando lhe chamaram de sábio. Ao que ele respondeu “só sei que nada sei”. Portanto, na caminhada pelo Cerrado, redescobrimos o gosto de buscar, indagar, num processo em que não vale a pena relacionar com a cronologia humana. Não pode haver desânimo, diante de tanto que falta saber.

O mais importante é conscientizar as gerações novas sobre a importância daquilo que ainda não se conhece. A caminhada no Cerrado permite apreciar o tamanho de nossa ignorância e ao mesmo tempo ousadia. Num desespero de sobrevivência, modificamos o meio, criando prosperidade temporária. Isso, à custa de reduzir a diversidade.

A ameaça não tarda a chegar, dinâmica como a vida ao redor, propiciada pela abundância de luz e calor. Entretanto, vem desenfreada, em franco desequilíbrio. Não dá para ignorar o apelo da natureza, que cobra com juros por nossa solução simplista. Vejam-se os exemplos de epidemias, ameaças crescentes aos cultivos que sustentam grandes contingentes de humanos. Portanto, antes que o Cerrado seja extinto sem que o conheçamos, caminhemos por ele, para começar.

Quem sabe ele nos inspire a buscar entender aquilo que por desconhecermos, nos atinge mortalmente.

Obs.: Artigo enviado originalmente pelo autor ao “JC e-mail”
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Foto do Campo Cerrado:
www.cnpm.embrapa.br/projects/grshop_us/373.html
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Dr. Carlos Roberto Spehar é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Lavras (1973), tem mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas pela University of Wisconsin - Madison (1977) e doutorado em Genética Melhoramento e Nutrição de Plantas pela University of Cambridge (1989). Pesquisador aposentado da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, participa hoje como orientador, do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias da Universidade de Brasília.

1 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Enfim a estréia de Carlos Spehar no blog Suaveolens com um artigo elegante e atraente.Damos efusivas
boas vindas ao professor.

23.6.07  

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