Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

9.3.18

MEMÓRIAS CAPÍTULO 6: GILSON, O ORQUIDÓFILO TRAPALHÃO



GILSON, O ORQUIDÓFILO TRAPALHÃO

Gilson Soares da Silva é doutor em Fitopatologia e professor Adjunto IV da Universidade Estadual do Maranhão. Dentro da Fitopatologia resolveu especializar-se em Nematologia Vegetal. O famoso professor Lordello, decano da nematologia do Brasil chamava-o “o nematologista do Maranhão”. Conheci-o no inicio dos anos 1970s nos congressos de fitopatologia. Identificávamo-nos por sermos iniciantes em busca de conhecimentos e visibilidade e por gostarmos de contar piadas. Mais recentemente, sabendo de minha opção pela pesquisa com plantas medicinais, passou a me dar notícias das espécies utilizadas na medicina popular do Maranhão. Até enviou-me sementes de várias espécies de manjericão. Uma preciosidade.
Gilson é um humorista nato. Sobre as agruras que passou quando fez o doutorado dizia: “sofri mais que sovaco de aleijado na muleta !”. Quando convidado a contar piadas em um show mostrava-se tímido e se negava, mas gostava de colocar os colegas em situação constrangedora, tipo saia justa, sempre que tinha chance. Certa vez em 1994, quando estávamos indo ao  XVIII Congresso Brasileiro de Nematologia em Campinas, coincidiu que tomamos o mesmo avião. Como embarquei em Brasília, não cheguei a vê-lo ao entrar na aeronave, cujo voo partira do Maranhão. Chegados ao destino, no momento do desembarque, os passageiros levantaram-se. Neste momento ele me viu e gritou – Jean!- os passageiros voltaram-se para ele. Ele apontou para mim. Os passageiros olharam em minha direção. E ele continuou – ‘veio para o congresso?’ Acenei que sim.
- Ótimo! – gritou ele - vamos ficar no mesmo quarto!
Continuei acenando positivo...
- Um quarto para nós duas ! – ele continuou.
Neste momento todos os passageiros olharam para ele...
- Duas pessoas, pessoal ! Que é isso?
A essa altura a gargalhada foi geral.
Gilson é um orquidófilo. Mantém em São Luis, no Maranhão, um orquidário já há bastante tempo. Aonde ele vai, fica atento à paisagem em busca de exemplares de orquídeas que possam enriquecer a sua coleção.
Em 1996 encontramo-nos no XXIX Congresso Brasileiro de Fitopatologia, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Terminados os trabalhos do dia ganhávamos a cidade. Nosso hotel ficava próximo a um bairro residencial. Andávamos a pé curtindo a cidade. Passando por uma das ruas, Gilson viu, num jardim, uma bela orquídea crescendo ajustada a um tronco. Ficou tentado a colher o exemplar. Esticou o braço por sobre a cerca. Um cão Dobermann saltou em sua direção e atacou. Providencial, aquela cerca! O susto foi tal que quase o mata de um enfarto. 
–“ Eu senti o bafo do cachorro na cara!” – comentava ele.
De outra feita estava ele em um hotel quando viu num jardim interno um exemplar de orquídea que ele ainda não conhecia. Para um colecionador é o mesmo que estar vendo um pote de ouro. Desta vez resolveu comprar. Procurou o gerente e perguntou por quanto ele venderia aquele belo exemplar de orquídea. O gerente foi até ao local onde estava o aludido exemplar e com um sorriso falou: - “Pode examinar o exemplar à vontade, senhor. Vai descobrir que é uma peça de plástico muito bem elaborada...”
Em 1988 em Salvador, no quase naufrágio do barco que levava os pesquisadores do XXI Congresso Brasileiro de Fitopatologia, à ilha de Itaparica, Gilson foi o colega que comentou: "Eu pensava que era o maior machão até àquele dia...! Quase borro as calças !"
Uma história que ele gosta de contar passou-se num consultório médico. Ele estava sentindo o coração acelerado e ficou preocupado. Ao comentar com a esposa, esta sugeriu que ele marcasse uma consulta com o médico que a atendia regularmente e que era um cardiologista. Na data certa estavam os dois, Gilson e a esposa, na sala de espera do consultório. O doutor estava um pouco atrasado. A narrativa de Gilson é impagável. Um verdadeira interpretação:
“De repente entra na sala de espera aquele cara enorme com um vozeirão, desculpando-se pelo atraso. Dava até medo. Quando chegou a minha vez de consultar entramos eu e minha esposa, fechamos a porta e sentamos à mesa do lado oposto ao do doutor. Ele então tocou delicadamente na minha mão e falou: “Conte-me tudo !”
A essa altura da narrativa surgia sempre alguém que perguntava:
- E você ? O que fez ?
- Toquei na mão dele de volta e falei: vou te contar !...
Esse é o nematologista Gilson. Um repositório inestimável de causos e piadas.

PRESO TRAPALHÃO

Em nossa faculdade, por questão de segurança, a ala dos professores é isolada por uma porta e uma grade. Cada professor tem a chave central e um sistema de interfone à disposição dos alunos permite a discagem para a sala do professor de seu interesse. O professor então abre a porta do complexo para o aluno que deseja falar com ele. Eu havia emprestado minha chave central para um colega tirar cópia e fiquei trabalhando até mais tarde. Quando deixei minha sala percebi que estava sozinho na ala. Sem a chave central, estava preso. Pequei o celular e liguei para um colega que morava próximo. Ele veio e me libertou.
Dois fatos hilários contudo ocorreram na mesma faculdade no tempo em que não havia celular.
A ala era outra, havia um bloco de salas, cada uma com três professores. Podia-se sair pela porta frente que dava para o corredor onde transitavam os alunos ou pela porta de trás que dava para um corredor interno que levava à secretaria e à copa. De cima, como não havia lage, dava para ver os laboratórios no térreo. Somente a porta da frente tinha chave.
Certo dia, também por trabalhar até mais tarde e também por haver emprestado minha chave, percebi que estava preso. Sem celular, andei no corredor interno até chegar à secretaria. Fechada. Vi o guichê da copa através do qual era servido o café e não tive dúvidas. Escalei-o e ganhei a copa. A porta da copa não tinha chave. Entrei na secretaria e abri o guichê de atendimento dos alunos. Passei por ele. Estava livre.
De outra feita, trabalhei por algum tempo no laboratório do térreo e depois subi para minha sala. Na hora de ir embora, não encontrava meu molho de chaves. De cima, do corredor interno, vi lá embaixo o molho de chaves sobre a bancada do laboratório. Percebi que havia um cano que descia até o laboratório. Com a agilidade e a magreza de meus quarenta anos, segurei o cano e, apoiando os pés na parede da divisória, desci até à bancada e peguei o molho de chaves. Subi então do mesmo modo que havia descido. Era uma sexta feira.
Na segunda feira, quando cheguei ao serviço percebi um movimento diferente no laboratório. O encarregado conversava com alguns professores e uma equipe da segurança. O rapaz estava comunicando um possível assalto. O assaltante teria descido pelo cano. Prova disso eram as pegadas deixadas na parede. Tive que contar a aventura, tranquilizar a todos e atrair para mim a reprovação geral.
Certo dia comentando com um colega de sala o episódio da fuga através do guichê do café, ele comentou:
- E você acha que eu já não fiz isso?


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