Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

Minha foto
Nome:
Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

27.2.18

MEMÓRIAS CAPÍTULO 1: AS PLANTAS E NOSSOS TEMPOS MÁGICOS - OS COMEÇOS


AS PLANTAS E NOSSOS TEMPOS MÁGICOS - CAPITULO PRIMEIRO
Por
Jean Kleber de Abreu Mattos

A COLEÇÃO DE “ZINHA”. O COMEÇO DE TUDO

Para concluir o curso de agronomia, o estudante precisa submeter a uma banca de profissionais um trabalho de pesquisa, tipo banco de dados, experimental de campo, estufa ou levantamento. O aluno procura um professor para orientá-lo na disciplina denominada Estágio Supervisionado. Procurou-me em 1980, uma aluna dizendo que gostaria de trabalhar com plantas medicinais. MARIA ÂNGELA DAS GRAÇAS, carinhosamente apelidada de “Zinha”, por seus familiares. Naquela época eu ainda não trabalhava com o assunto. Meu campo de trabalho eram hortaliças convencionais. – Não sei quase nada sobre plantas medicinais- disse. Ela pareceu decepcionada. Tudo bem -falei - que tal aprendermos juntos? Ela topou. Daí eu perguntei: você tem avó? – Tenho sim e ela sabe muito de plantas medicinais. – Traga sua avó, então. Vamos começar a aprender com ela...
Dito e feito, alguns dias depois ela compareceu com a avó. Fomos à fazenda experimental da universidade para já iniciar o plantio da coleção, pois a avó trouxera mudas de aproximadamente quinze espécies. Manjerona, hortelã, manjericão, salvia, alecrim, tomilho, capuchinha e outras. Recuperamos o nome botânico de cada uma e iniciamos a revisão bibliográfica. Anunciamos que estávamos fazendo a coleção de forma que quem quisesse colaborar, trazendo mudas das mais diversas possíveis, seria de grande ajuda. Não demorou e estávamos com trinta espécies no campo. Zinha apresentou o trabalho e obteve a menção máxima. A coleção prosperou e começou a receber visitas de colegas de Brasília e de outras estados. Um amigo meu, farmacêutico José Maria, radicado na Paraíba nos visitou um dia e relatou que estava conduzindo um projeto semelhante em uma comunidade daquele estado, tipo horto medicinal comunitário. Levou algumas mudas. Combinamos que faríamos intercãmbio. Um amigo, o agrônomo Donizete Tokarski lá esteve. O irmão dele Rogério Tokarski empresário do ramo, mantinha uma produção no Núcleo Rural de Vagem Bonita. Era, portanto, vizinho nosso. Começava ali um intercâmbio produtivo que teria muitos desdobramentos felizes. A coleção de Zinha começava sua história e nos traria muitas surpresas, obviamente agradáveis.

GLOBO RURAL
Montei uma coleção viva de plantas medicinais na Fazenda Experimental Água Limpa, da Universidade de Brasília. Um amigo meu farmacêutico, o José Maria, certo dia visitou a área e ficou entusiasmado com o projeto. Ele conduzia um projeto de fitoterapia e medicina popular no interior da Paraíba. A equipe do Globo Rural procurou-o para filmar a experiência. Ele recusou e recomendou aos repórteres que me procurassem para filmar a coleção da UnB. Fomos então filmados e “saímos” no Globo Rural do dia 16 de julho de 1984, com o repórter Hamilton Ribeiro. Depois fiquei sabendo que aquele repórter era um herói de guerra tendo sido atingido por uma mina ao cobrir a Guerra do Vietnam. Somos amigos até hoje. Aquela exposição deu grande popularidade ao projeto. Recebemos mais de dez mil cartas em busca de apostilas e informações diversas. Vieram também convites para que proferíssemos palestras em congressos e semanas agronômicas promovidas por centros acadêmicos. Começava ali a maratona universitária que duraria vários anos.

DEPRESSÃO
Em 1982 fui acometido de uma forte depressão, também chamada de obsessão na nomenclatura de meus colegas espíritas. Para manter a mente ocupada, eu lia compulsivamente o livro “Plantas Daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas, tóxicas e medicinais.” de Harri Lorenzi. Lendo-o, aprendi muito no período, embora sofrendo com a situação. Minha noiva levou-me à Comunhão Espírita de Brasília para fazer uma consulta. O médium recomendou-me um tratamento à base de passes magnéticos (às quartas feiras, após a palestra) e orações diárias matinais. Dentro de dois meses ocorreu a cura. Eu voltava do Congresso de Fitopatologia em Fortaleza num ônibus, e quando chegamos se bem me lembro à cidade de Bom Jesus da Lapa, senti vontade de comer macarronada, o que era inusitado, pois eu não tinha fome e dormia mal há bastante tempo. Minha magreza era visível. Desci com minha noiva, entramos no restaurante e fizemos o pedido. Após a macarronada senti-me curado. A sensação era de que algo estava indo embora de mim. Nunca mais tive aquela depressão. Já se passaram quarenta anos.

ACCORSI
Eu estava proferindo uma palestra no Congresso Brasileiro de Olericultura em julho de 1984 em Jaboticabal, no interior de São Paulo. No meio da palestra entrou na sala um senhor idoso, orientado por uma recepcionista. Sentou-se ao fundo e ficou atento. Terminada a palestra a recepcionista apresentou-se o tal senhor:
- Este é o professor Accorsi !
Tomei um susto. Estava eu ali diante do maior líder da medicina herbárea do Brasil.
- Eu o ouviria com prazer por mais duas horas! -disse-me ele.
Aquela frase teve em mim o efeito de uma unção. A partir dali ficamos grande amigos. Por coincidência, vários centros acadêmicos do Centro-Sul, ao promoverem encontros sobre plantas medicinais, convidavam a mim e a ele e nos alojavam sempre no mesmo apartamento no hotel. Trocávamos ideias até altas horas. Foi quando descobri que o professor Accorsi era espírita como eu, e que recém escrevera um livro sobre Jesus. Tenho-o até hoje, autografado. Na ultima vez que o vi com vida, tomamos um café com pão de queijo no aeroporto de Brasília, em companhia de sua filha farmacêutica Walterli, momentos antes de seu embarque para São Paulo. Ao despedir-se abraçou-me e disse:
- Nunca abandone as plantas medicinais!
Ele tinha então 90 anos naquele momento. Dr. Walter Radamés Accorsi faleceu dois anos mais tarde.

ECO-92
Recebi um e-mail de um jovem chamado Marco Antônio, convidando-me para um seminário sobre plantas medicinais onde eu seria um dos palestrantes. O seminário ocorreria dentro da famosa ECO-92, evento internacional a realizar-se no Rio de Janeiro. Eu não conhecia o Marco. Conhecia sim, de ver, na TV, o pai dele, Carlos Imperial, artista famoso da televisão e do cinema. Cheguei ao Rio na data aprazada. Entre os convidados reconheci logo alguns amigos. Outros, contudo, eu estava vendo pela primeira vez. Era o caso do pesquisador Silvio Panizza, de quem eu lia os livros, e da apresentadora Maly Caran, que aparecia no quadro "Cheiro de Mato" sobre plantas medicinais na TV Bandeirantes, assim como Silvio Panizza que a sucedeu.
- Eu li seus artigos ! Você é meu ídolo! – disse Maly Caran no momento em que fomos apresentados, enquanto me abraçava.
Ficamos todos juntos hospedados numa mansão em Pedra de Guaratiba. Nossos papos prolongavam-se noite adentro. Nossa anfitriã era Vera Fróes, conferencista conhecida pelo enfoque místico de sua abordagem sobre plantas medicinais. Aliás, o apelo mediúnico de quem trabalha com plantas medicinais é bastante comum. Nossas conversas extra seminário exploravam as diferentes visões no trato com as plantas, do enfoque indígena ao africano, passando pelo oriental-místico. Um período enriquecedor. Na noite anterior à minha partida, numa reunião informal com Vera Fróes e uma amiga, cada uma cantou um mantra relacionado ao Santo Daime. Pediram-me que cantasse algo. Eu não conhecia mantras. “Serve o que você conhecer”, disseram. Cantei então um hino a Santo Antônio recitado em procissões de beatas no interior do Nordeste:
“Se queres milagre
Busca Antonio Santo
Que por natureza
É da Graça encanto”.

MARCELO MEZEL
Eu estava em Recife e havia marcado um encontro com meu amigo Marcelo Mezel, médico acupunturista, no centro de Recife, nas proximidades do Centro de Turismo, antiga Cadeia Pública. Uma amiga que me acompanhava encantou-se com a conversa que então mantivemos, num bar próximo escolhido por Marcelo, ao dizer: “Vamos conversar ali, tomando uma cachacinha”. “Meu consultório fica numa casa com jardim e playground – dizia ele – “meus pacientes se sentem em casa e ainda levam as crianças que ficam a brincar. Eu abraço e cheiro meus pacientes. Esse envolvimento afetivo faz parte do processo de cura”. ‘Cheiro’, no Nordeste, é uma forma de carinho menor que um beijo porém maior que um abraço. Marcelo Mezel era Secretário de Saúde da Prefeitura de Olinda.

O SENHOR CONHECE O ROCHA ?
O Jardim Botânico de Brasília estava promovendo uma semana de palestras sobre plantas medicinais. Eu seria o palestrante do sábado. Na véspera, um jornal da cidade publicou uma reportagem sobre um simpático casal que cultivava as plantas em casa, na região de Sobradinho. Era 1996. Eu havia publicado um pequeno livro sobre a matéria e pretendia disponibiliza-lo durante o evento. Palestra iniciada,  identifiquei na plateia o casal que vira na reportagem. Ao final, algumas pessoas acercaram-se da mesa. Ex-alunos, amigos e pessoas que eu ainda não conhecia. Eu ainda autografava alguns exemplares do livro quando o referido casal chegou à mesa. A senhora disse-me: “tenho uma pergunta a lhe fazer, mas somente ao final”. Acenei que sim com a cabeça. Quando finalmente ficamos somente eu e o casal ela perguntou:
- O senhor conhece alguém de sobrenome Rocha ?
-Tenho um aluno com esse sobrenome – respondi.
-É desencarnado... – ela falou.
Percebi então que estava diante de uma vidente.
Ela continuou: “ele estava ao seu lado o tempo todo e parecia estar na torcida, acenando positivamente com a cabeça cada vez que o senhor concluía um raciocínio”...
- Não estou lembrando ninguém no momento, mas vou verificar – respondi.
Já em casa, eu estava mexendo na minha estante quando encontrei um de meus livros de cabeceira, escrito em 1947: “Formulário Terapêutico do Doutor Dias da ROCHA”...

ACONTECEU EM RECIFE
Em 1987 eu recebi um convite para dar uma semana de aulas, juntamente com um colega do Paraná, num curso de pós-graduação que aconteceria na sede da EMATER-Pe na cidade de Carpina. Cheguei à Recife e encontrei os coordenadores. Disseram-me que seriam 32 horas de aula. Perguntei se seriam 16 minhas mais 16 de meu colega. Confirmaram-me que seriam 32 horas para cada um. Fiquei preocupado. Naquela época eu não tinha a experiência de dar um curso intensivo. - Será que tenho papo para 32 horas? Pensei...
À noite no hotel, liguei para minha mulher, Heloísa, que ficara em Brasília. Relatei minha preocupação. Ela ficou em silêncio por alguns segundos e depois falou: “Vai dar tudo certo. Vejo um auditório. Também pessoas aplaudindo, algumas emocionadas. Você vai ser chamado para dar um segundo módulo mais tarde”. Estava evidente que se tratava de um flash premonitório. Enfim, tudo correu bem. Terminado o módulo, os coordenadores me chamaram numa sala. –“Queremos mais um módulo”- disseram. Combinamos então para dois ou três meses depois. Dalí fomos todos para o auditório para a solenidade de encerramento do período. Na minha vez de falar disse que me formara em Recife e que a experiência do curso havia sido para mim um precioso reencontro. A audiência aplaudiu e notei nas primeiras filas algumas pessoas visivelmente emocionadas... 

Maharishi Mahesh Yogi , o guru dos beatles
O professor Fernando Lo Iacono em seu blog descreveu os eventos ocorridos em Brasília em março de 1985 quando o “Maharishi Mahesh Yogi  e os médicos hindus (Vaidyas) realizaram o primeiro congresso de Ayurveda no Brasil,  em Brasília, no Hotel Nacional, com participantes de toda América Latina, USA, Europa, Canadá e do Brasil! ... A idéia era a de se fundar uma Faculdade de Naturopatia em Brasília - DF e oferecer ao governo brasileiro o know-how da utilização correta das plantas medicinais locais, regionais”.
A Sociedade Maharishi fez contato com a CEME-MS para obter a lista dos pesquisadores de plantas medicinais para convida-los. Como cadastrado, fui convidado por telefone, se bem me lembro. Cheguei ao Hotel Nacional ainda parcialmente desinformado sobre a natureza do congresso e seus participantes. Ao chegar à noite para a abertura, em companhia da minha esposa Heloísa, o meu colega Donizetti Tokarski estava na portaria. Estava havendo um coquetel farto, quase um jantar. Já viu o guru? Ele me perguntou. Que guru? Perguntei. O guru do Beatles ! Ele está aí...em pessoa!
Estava mesmo. Era o Maharishi Mahesh Yogi. Depois de cumprimentar meus colegas Rogerio Tokarski, Dr. Vinhólis, Dr. Fernando Hoissel, Dra. Maria Elizabeth Van Den Berg, e mais alguns convidados, compareci à sala de reuniões para a sessão inaugural orientado pelo mestre de cerimônia e intérprete, Benjamim. Na sessão, cada um expôs a titulação, o que fazia e onde trabalhava.
No segundo dia Benjamim chamou-me e também minha esposa, bem como um colega da UnB paquistanês, para uma sala onde teríamos uma audiência particular com o guru. Minha mulher impressionou-se com o ritual. Precedendo a entrada do Maharishi, havia um pequeno cortejo de acólitos tocando um pequeno sino, espargindo fumaça de incenso e entoando mântras. O ambiente todo ornamentado com flores naturais, especialmente o trono do guru. Não dava para crer que em seguida dialogaríamos com uma pessoa simples e bem humorada. O Maharishi era assim. Conversamos então sobre o comércio de fitoterápicos no Brasil.
No terceiro dia houve uma ampla reunião onde recebi, juntamente com meus colegas, o convite para integrar o corpo docente da Faculdade de Naturopatia que a Sociedade pretendia inaugurar em Brasília. Compromissos com a UnB me impediram de aceitar. Posamos então para a posteridade. Tiramos fotos sentados numa cadeira ricamente ornamentada de flores naturais. Parecia que nosso encontro terminava ali. Não demoraria muito porém, e eu interagiria novamente com a Sociedade Maharishi num outro evento, o Primeiro Encontro nacional de Pajés. Mas isso é outra historia...

2 Comentários:

Blogger Os Recantos de Tereza disse...

Que Maravilha! Vou aprender muito com este seu livro, pois já na 1° parte adorei. Não foi atoa que seus filhos o seguiram na Agronomia, pois com tanto conhecimento, tantas histórias e tanto amor no que faz, que é difícil não sentir vontade de lhe acompanhar. Parabéns e sucesso no seu livro. Abraços a você e sua linda família. Tereza Mourão

27.2.18  
Blogger Vanessa da Silva Mattos disse...

Que legal, pai! Muito bom ler as histórias e poder divulga-las ;) esperando os outros capítulos

27.2.18  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial