Jean Kleber Mattos
Uma esquina da rua J. da Penha
Fortaleza Ceará, idos dos anos sessenta, século
vinte. Mudamos para a rua J. da Penha em 1960, se bem me lembro. Eu completara
recentemente 16 anos. Era uma rua um tanto acanhada em comparação com a que
morávamos antes, a Avenida Heráclito Graça. Eu já conhecia alguns habitantes de
lá, pois éramos colegas da Congregação Mariana da Igreja do Cristo Rei que ficava numa
praça, há alguns poucos quarteirões de distância. Alguns eram meus colegas do
Colégio São João que funcionava não muito longe dali.
Aos poucos fui me enturmando e me extasiando com a
beleza das meninas daquela comunidade. Uma delas encantava a todos de modo
especial por sua beleza e simpatia. Chamava-se Neuma. Era namorada de um colega
meu de colégio, o Marcos. Casal constante, todos diziam que se casariam em
futuro próximo.
Neuma tinha uma irmã, a primogênita de nome
complicado. Chamava-se Neuilly. Eram filhas de um conceituado médico, Dr. Macambira.
Foi a primeira família de nossa quadra a comprar
aparelho de televisão. Todas as noites íamos ver televisão na casa de Dr.
Macambira. Cerca de doze adolescentes. Ocupávamos a sala de visitas sentados em
cadeiras individuais e de lá saímos depois da novela das dez. A família nos
acolhia com carinho, especialmente Neuma e Neuilly.
Depois da programação da TV sentávamos no meio fio da
calçada para conter casos e piadas durante algum tempo, não muito, pois as
famílias, vigilantes, chamavam as moças para dormir.
Ingresso na universidade, encantei-me com as ideias revolucionárias
que galvanizavam os jovens na época, plena vigência da guerra fria Ocidente x
Oriente. Assunto que parecia não interessar às minhas amigas Neuma e Neuilly. Percebi
muito mais tarde que tal se devia à sua natureza universalista. Elas não se
interessavam por matérias que dividiam os humanos.
Nossos encontros foram escasseando. Eu estava me
enturmando novamente, alhures...
Fui embora do Ceará em seguida, em janeiro de 1965, transferido,
para me formar em agronomia em Recife em 1966.
Quarenta e três anos depois via Facebook, por
intermédio de uma amiga comum, Olga, reencontrei Neuma e Neuilly. Olga fora
colega de ensino fundamental das duas, no Instituto Monsenhor Luiz Rocha, que
tinha sede na mesma rua J. da Penha.
Aspecto de um dos encontros: à esquerda Olga e na extrema
direita Neuma, ao lado da irmã Neuilly. Ao centro, Vanessa, Heloísa e Jean.
O tempo parecia não ter passado para elas. A mesma
beleza e doçura. A partir de então, sempre que eu ia a Fortaleza com minha
família, nos reuníamos. Momentos de grande felicidade.
Mas a vida é, às vezes, cruel. Em 2015 perdemos
Neuilly, o que muito nos traumatizou. Restava a Neuma, como mais uma referência
daqueles bons tempos, além da Olga. Imaginei que o próximo encontro seria apenas com Olga e Neuma.
Não deu tempo. Ontem faleceu a Neuma.
Nessa quadra de minha vida (tenho 73 anos), as
noticias de desencarnes de amigos surgem com uma frequência assustadora.
Aspecto do encontro mais recente. Sentadas, Neuilly, Neuma e Olga. Em pé Jean, Heloísa e Ivan
Resta-nos recordar os bons momentos e, pelo menos no
que me toca, pois sou espírita, esperar o reencontro.
Como elas estão no Céu, caso eu não tenha tal
merecimento quando chegar a minha hora, estou certo que elas serão boas
advogadas em meu favor, bondosas que sempre foram...
***
2 Comentários:
Saudade !!!
Instante fugaz das nossas vidas marcado pela amizade verdadeira,como um quadro retratando a suavidade alegre das irmãs Neuma e Neuilly. Muita saudade!
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial