DESTAQUE AGRONÔMICO
Por
Jean Kleber Mattos
Procurou-me certo dia meu colega
Donizete Tokarski trazendo uma sugestão: porque você não concorre ao troféu
Destaque Agronômico? – falou. “Seria interessante alguém da área de plantas
medicinais, concorrer. Basta enviar o currículo e um manuscrito ou trabalho
publicado recente. Há uma comissão composta de elementos da UnB, da Embrapa e
da Associação do Engenheiros Agrônomos do Distrito Federal. Eles vão selecionar
candidatos”. Aceitei a sugestão e enviei os documentos à Associação. O prêmio
era concedido por um convênio entre a Federação das Associações de Engenheiros
Agrônomos e o Grupo Luxma-Adubos Trêvo, empresa gaúcha. Cada estado escolheria
um agrônomo. A entrega do troféu se daria no Teatro São Pedro em Porto Alegre no
dia 01 de julho de 1986. Eu não fazia muita fé. Havia concorrente forte na
parada. Decorridos alguns dias a professora Tereza Parente, da UnB, procurou-me
para devolver os documentos que eu enviara.
- Já sei, não deu... – falei
- Deu, sim. Você ganhou.
Pelo menos vinte agrônomos estariam em
Porto alegre recebendo o troféu representando seus estados. Um fotógrafo
procurou-me alguns dias depois em minha residência para as fotos do quadro de
homenageados.
Na data marcada um vôo Boeing “charter”
com os escolhidos fez as escalas devidas e levou a todos para Porto Alegre. Um
baita hotel. No dia seguinte começaria a programação. Pela manhã, encontrei uma
revista VEJA que havia sido colocada por baixo da porta do apartamento,
trazendo a notícia com as fotos dos agraciados e informações sobre sua
especialidade.
À tarde houve a primeira reunião formal
dos premiados com os convidados ilustres. Entre os colegas de prêmio reconheci
de pronto o Clibas Vieira, de Minas Gerais, famoso melhorista vegetal da
Universidade de Viçosa, de quem eu fora aluno um ano antes num curso de
extensão em Brasília. Também encontrei o Hiroshi Noda, do Amazonas, com quem eu
tinha grande afinidade por conta de nossas linhas de pesquisa, que eram semelhantes.
Reconheci também Bernardo Van Raij, de São Paulo, que desenvolvera um novo
sistema de análise do solo. Senti-me orgulhoso de estar em tão boa companhia. Os
demais eram desconhecidos para mim. O clímax da reunião, porém, estava por vir.
Foi quando fui apresentado ao fitopatologista e melhorista Doutor Norman
Borlaug, que fora agraciado com o Prêmio Nobel da Paz e que ali estava como
convidado para prestigiar o evento. Norman Borlaug foi o único agrônomo na
historia do Prêmio Nobel da Paz.
Um colega nos chamou para o ensaio no
teatro. Foi quando vi quem seria o mestre de cerimônias. Nada menos que Sérgio
Chapelain, um dos mais prestigiados apresentadores da televisão brasileira.
À noite ocorreu a entrega solene no Teatro
São Pedro. Roteiro de cerimônia copiado do “Oscar” do cinema americano, com “spot-light”
e tudo, com a presença de diversas autoridades, entre elas o ministro da justiça
Paulo Brossard, um agropecuarista. O filme da cerimônia viria a ser apresentado
no Congresso Brasileiro de Agronomia que sucederia ao evento. Chamou-me a atenção
o peso do troféu. Não daria para comemorar na hora da entrega, erguendo-o com fazem
os atletas olímpicos, a não ser com as duas mãos. Era uma peça de metal maciço,
cortada com secção formando um trevo, exatamente o logotipo da empresa.
No dia seguinte viajamos para um porto no
interior do estado, onde funcionava a parte industrial da empresa, para visitarmos
as instalações e recebermos brindes.
Um dia depois retornamos às nossas bases.
Em Brasília compareci a uma reunião da associação dos agrônomos para apresentação
do troféu. Terminava ali mais uma maratona.
HARMONIZAÇÃO
O Doutor Marcos Burigo, sub-secretário de vigilância
sanitária do Ministério da Saúde para medicina natural em 1991, precisava formar um
grupo na Secretaria que cuidasse de estudos relacionados ao tema. Chegou à
Brasília e palmilhou o mesmo caminho usual para encontrar os pesquisadores da
área. Consultar Dra. Cyrene dos Santos Alves, que coordenava um grupo
semelhante na Central de Medicamentos (CEME). Como primeiro contato, reuniu-se
com os integrantes de Brasília. Atendemos ao convite e ao perguntarmos qual era
a pauta da reunião ele nos falou que era apenas para nos conhecer. Budista,
doutor Marcos Burigo primava pela polidez e serenidade. Nós não o conhecíamos
até então e dava para prever que ele teria alguns problemas de relacionamento,
pois havíamos formado um grupo de fitoterapia no serviço público, composto de
professores de várias universidades e pesquisadores, que já havia realizado
várias reuniões e congressos. Certamente rolaria a demanda de que o cargo dele tivesse
sido preenchido por alguém do grupo especializado.
Algum tempo
depois ele convocou uma reunião ampla incluindo os demais membros de nosso
grupo, para discutir a política da medicina natural no Brasil. Conforme eu
previra, na primeira reunião, logo no início, uma pesquisadora falou de chofre:
“Nós não aceitamos você!” Serenamente, Marcos Burigo falou: “toda colaboração
será bem vinda!”. Estavam presentes Marly Perosin, Francisco José de Abreu
Matos, Antonio José Lapa, outros pesquisadores universitários e Marcos Terena, este
representando a medicina indígena. A reunião começou e não demorou muito para
percebermos que não chegaríamos a nenhum lugar pois não estávamos nos
entendendo. Foi quando Marcos solicitou um intervalo. Dispersamos, tomamos café
e quando regressamos, Marcos convidou-nos a nos harmonizar. Antes de sentarmos
devíamos dar-nos as mãos e formar um grande círculo tipo corrente e mentalizar
um bom rendimento dos trabalhos. Coincidência ou não, o segundo período rendeu
e concluímos com êxito os trabalhos, que duraram dois dias.
Depois daquela
reunião, Marcos providenciou o plantio de uma coleção de plantas medicinais no
jardim do Ministério da Saúde, na Esplanada. Visitando-o certo dia, convidou-me
para passear no jardim e eventualmente identificar botanicamente alguns
exemplares. De cada planta identificada, ele coletava uma pequena peça. Subímos
depois para sua sala e ao lá chegarmos, ele entregou à moça da copa o molho de
raminhos que havia coletado, dizendo: “por favor, faça um chazinho para nós”.
Eu fiquei preocupado, pois uma recomendação básica da ANVISA para o consumo de
plantas era não misturar as ervas. Algumas interações desfavoráveis já haviam
sido pesquisadas.
A moça voltou-se com um sorriso e perguntou: “como é o nome
desse chá?” – “Tentativa de suicídio”- respondi.
O SENHOR
CONHECE A ROSE?
A Reunião
Brasileira para Fitoterapia no Serviço público ocorria a cada dois anos, casada
com o Simpósio Brasileiro de Plantas Medicinais. Os dois primeiros dias do
evento eram dedicados à Reunião e os demais ao Simpósio. Um dos primeiros a que
compareci foi em Curitiba. Levei minha mulher e minha filha, esta ainda
criança, com cinco anos. Nos dois primeiros dias, os da Reunião, hospedamo-nos
num hotel do centro da cidade. No terceiro dia os colegas da organização do
simpósio nos convidaram a mudar de hotel, pois a partir daquele momento, como
eu era palestrante convidado, tinha hospedagem paga, devendo transferir-me para
o hotel conveniado pelo segundo evento.
Transferência feita,
gostei bastante do hotel. O atendimento era de primeira, como soe acontecer em
Curitiba. Como éramos três, o gerente achou por bem mudar-nos para um
apartamento maior, com cama extra. Esta transferência causaria mais tarde um
equívoco inusitado. Hilário até. Após o término dos trabalhos do simpósio no
primeiro dia, fomos dormir. Lá pelas tantas o telefone tocou. Atendi e
participei do seguinte diálogo:
-Boa noite ! –
era uma voz feminina.
-Boa noite !
- Foi o senhor
que solicitou companhia?
- Não. Com
certeza, não.
- É um engano,
então. Queira desculpar. Mas não estaria o senhor interessado?
- Que nada,
minha filha. Meu tempo já passou.
- Que é isso.
Debaixo da cinza ainda tem muita brasa !
- Agradeço mas
não vai dar.
- Certo. Caso
o senhor mude de idéia, meu nome é Rose. Fale com o rapaz da portaria.
- Obrigado.
Boa noite.
Desliguei o
telefone. Nesse momento minha mulher acordou e perguntou:
- Quem era ?
- Você não vai
acreditar...
Chegamos a
pensar que era alguma pegadinha dos colegas. No dia seguinte perguntamos a
todos do grupo. Ninguém sabia.
Rose tinha
existência real...e carnal...
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