Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

2.3.18

MEMÓRIAS CAPITULO 3 : DESTAQUE AGRONÔMICO E OUTROS BABADOS



DESTAQUE AGRONÔMICO
Por
Jean Kleber Mattos

Procurou-me certo dia meu colega Donizete Tokarski trazendo uma sugestão: porque você não concorre ao troféu Destaque Agronômico? – falou. “Seria interessante alguém da área de plantas medicinais, concorrer. Basta enviar o currículo e um manuscrito ou trabalho publicado recente. Há uma comissão composta de elementos da UnB, da Embrapa e da Associação do Engenheiros Agrônomos do Distrito Federal. Eles vão selecionar candidatos”. Aceitei a sugestão e enviei os documentos à Associação. O prêmio era concedido por um convênio entre a Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos e o Grupo Luxma-Adubos Trêvo, empresa gaúcha. Cada estado escolheria um agrônomo. A entrega do troféu se daria no Teatro São Pedro em Porto Alegre no dia 01 de julho de 1986. Eu não fazia muita fé. Havia concorrente forte na parada. Decorridos alguns dias a professora Tereza Parente, da UnB, procurou-me para devolver os documentos que eu enviara.
- Já sei, não deu... – falei
- Deu, sim. Você ganhou.
Pelo menos vinte agrônomos estariam em Porto alegre recebendo o troféu representando seus estados. Um fotógrafo procurou-me alguns dias depois em minha residência para as fotos do quadro de homenageados.
Na data marcada um vôo Boeing “charter” com os escolhidos fez as escalas devidas e levou a todos para Porto Alegre. Um baita hotel. No dia seguinte começaria a programação. Pela manhã, encontrei uma revista VEJA que havia sido colocada por baixo da porta do apartamento, trazendo a notícia com as fotos dos agraciados e informações sobre sua especialidade.
À tarde houve a primeira reunião formal dos premiados com os convidados ilustres. Entre os colegas de prêmio reconheci de pronto o Clibas Vieira, de Minas Gerais, famoso melhorista vegetal da Universidade de Viçosa, de quem eu fora aluno um ano antes num curso de extensão em Brasília. Também encontrei o Hiroshi Noda, do Amazonas, com quem eu tinha grande afinidade por conta de nossas linhas de pesquisa, que eram semelhantes. Reconheci também Bernardo Van Raij, de São Paulo, que desenvolvera um novo sistema de análise do solo. Senti-me orgulhoso de estar em tão boa companhia. Os demais eram desconhecidos para mim. O clímax da reunião, porém, estava por vir. Foi quando fui apresentado ao fitopatologista e melhorista Doutor Norman Borlaug, que fora agraciado com o Prêmio Nobel da Paz e que ali estava como convidado para prestigiar o evento. Norman Borlaug foi o único agrônomo na historia do Prêmio Nobel da Paz.
Um colega nos chamou para o ensaio no teatro. Foi quando vi quem seria o mestre de cerimônias. Nada menos que Sérgio Chapelain, um dos mais prestigiados apresentadores da televisão brasileira.
À noite ocorreu a entrega solene no Teatro São Pedro. Roteiro de cerimônia copiado do “Oscar” do cinema americano, com “spot-light” e tudo, com a presença de diversas autoridades, entre elas o ministro da justiça Paulo Brossard, um agropecuarista. O filme da cerimônia viria a ser apresentado no Congresso Brasileiro de Agronomia que sucederia ao evento. Chamou-me a atenção o peso do troféu. Não daria para comemorar na hora da entrega, erguendo-o com fazem os atletas olímpicos, a não ser com as duas mãos. Era uma peça de metal maciço, cortada com secção formando um trevo, exatamente o logotipo da empresa.
No dia seguinte viajamos para um porto no interior do estado, onde funcionava a parte industrial da empresa, para visitarmos as instalações e recebermos brindes.
Um dia depois retornamos às nossas bases. Em Brasília compareci a uma reunião da associação dos agrônomos para apresentação do troféu. Terminava ali mais uma maratona.

HARMONIZAÇÃO
O Doutor Marcos Burigo, sub-secretário de vigilância sanitária do Ministério da Saúde para medicina natural em 1991, precisava formar um grupo na Secretaria que cuidasse de estudos relacionados ao tema. Chegou à Brasília e palmilhou o mesmo caminho usual para encontrar os pesquisadores da área. Consultar Dra. Cyrene dos Santos Alves, que coordenava um grupo semelhante na Central de Medicamentos (CEME). Como primeiro contato, reuniu-se com os integrantes de Brasília. Atendemos ao convite e ao perguntarmos qual era a pauta da reunião ele nos falou que era apenas para nos conhecer. Budista, doutor Marcos Burigo primava pela polidez e serenidade. Nós não o conhecíamos até então e dava para prever que ele teria alguns problemas de relacionamento, pois havíamos formado um grupo de fitoterapia no serviço público, composto de professores de várias universidades e pesquisadores, que já havia realizado várias reuniões e congressos. Certamente rolaria a demanda de que o cargo dele tivesse sido preenchido por alguém do grupo especializado.
Algum tempo depois ele convocou uma reunião ampla incluindo os demais membros de nosso grupo, para discutir a política da medicina natural no Brasil. Conforme eu previra, na primeira reunião, logo no início, uma pesquisadora falou de chofre: “Nós não aceitamos você!” Serenamente, Marcos Burigo falou: “toda colaboração será bem vinda!”. Estavam presentes Marly Perosin, Francisco José de Abreu Matos, Antonio José Lapa, outros pesquisadores universitários e Marcos Terena, este representando a medicina indígena. A reunião começou e não demorou muito para percebermos que não chegaríamos a nenhum lugar pois não estávamos nos entendendo. Foi quando Marcos solicitou um intervalo. Dispersamos, tomamos café e quando regressamos, Marcos convidou-nos a nos harmonizar. Antes de sentarmos devíamos dar-nos as mãos e formar um grande círculo tipo corrente e mentalizar um bom rendimento dos trabalhos. Coincidência ou não, o segundo período rendeu e concluímos com êxito os trabalhos, que duraram dois dias.
Depois daquela reunião, Marcos providenciou o plantio de uma coleção de plantas medicinais no jardim do Ministério da Saúde, na Esplanada. Visitando-o certo dia, convidou-me para passear no jardim e eventualmente identificar botanicamente alguns exemplares. De cada planta identificada, ele coletava uma pequena peça. Subímos depois para sua sala e ao lá chegarmos, ele entregou à moça da copa o molho de raminhos que havia coletado, dizendo: “por favor, faça um chazinho para nós”. Eu fiquei preocupado, pois uma recomendação básica da ANVISA para o consumo de plantas era não misturar as ervas. Algumas interações desfavoráveis já haviam sido pesquisadas. 
A moça voltou-se com um sorriso e perguntou: “como é o nome desse chá?” – “Tentativa de suicídio”- respondi.  

O SENHOR CONHECE A ROSE?
A Reunião Brasileira para Fitoterapia no Serviço público ocorria a cada dois anos, casada com o Simpósio Brasileiro de Plantas Medicinais. Os dois primeiros dias do evento eram dedicados à Reunião e os demais ao Simpósio. Um dos primeiros a que compareci foi em Curitiba. Levei minha mulher e minha filha, esta ainda criança, com cinco anos. Nos dois primeiros dias, os da Reunião, hospedamo-nos num hotel do centro da cidade. No terceiro dia os colegas da organização do simpósio nos convidaram a mudar de hotel, pois a partir daquele momento, como eu era palestrante convidado, tinha hospedagem paga, devendo transferir-me para o hotel conveniado pelo segundo evento.
Transferência feita, gostei bastante do hotel. O atendimento era de primeira, como soe acontecer em Curitiba. Como éramos três, o gerente achou por bem mudar-nos para um apartamento maior, com cama extra. Esta transferência causaria mais tarde um equívoco inusitado. Hilário até. Após o término dos trabalhos do simpósio no primeiro dia, fomos dormir. Lá pelas tantas o telefone tocou. Atendi e participei do seguinte diálogo:
-Boa noite ! – era uma voz feminina.
-Boa noite !
- Foi o senhor que solicitou companhia?
- Não. Com certeza, não.
- É um engano, então. Queira desculpar. Mas não estaria o senhor interessado?
- Que nada, minha filha. Meu tempo já passou.
- Que é isso. Debaixo da cinza ainda tem muita brasa !
- Agradeço mas não vai dar.
- Certo. Caso o senhor mude de idéia, meu nome é Rose. Fale com o rapaz da portaria.
- Obrigado. Boa noite.
Desliguei o telefone. Nesse momento minha mulher acordou e perguntou:
- Quem era ?
- Você não vai acreditar...
Chegamos a pensar que era alguma pegadinha dos colegas. No dia seguinte perguntamos a todos do grupo. Ninguém sabia.
Rose tinha existência real...e carnal...

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