JOVEM GUARDA
Luiz Alpiano Viana
Os olhos, as mãos, os gestos e o coração falam mais alto, entre si, quando a voz emudece. Pois há momentos em nossa vida que a voz some, não sai, fica perdida. E só o coração esperneia como um burro bravo! Isso é o amor em demasia. Lembrança das tertúlias de domingo!
O velho estafeta dedilha na caixa de correspondência um batuque, um som, uma modinha. A nota musical bem audível lembra Wanderleia, Roberto e Celi Campelo quando estavam no auge de sua carreira.
As músicas daquele tempo são muito diferentes das de hoje. As canções que cantam agora não têm a poesia, nem o romantismo das dos anos 60. Naquela época a letra era um poema dos mais lindos.
A juventude tinha o sorriso nos lábios e o coração era o lugar próprio onde se guardavam do amor eterno às grandes paixões. Dançava-se agarradinho! A dama era uma princesa e o príncipe, o Rei. Para se aproximar da namorada, obedecia-se a um ritual sagrado. Pegar na mão, beijar, leva-se muito tempo. E por isso a gente se apaixonava cada vez mais um pelo outro.
Quantas vezes um seresteiro, à luz da lua, à porta de sua amada, cantava na voz de Altemar Dutra, Brigas! E os pais da moça - no estilo valentão em defesa de suas crias, - expulsava-os sem pensar que o luar era seu guia.
Suspirava de desejo o apaixonado mancebo; ela, do lado de dentro, chorava de saudade à noite inteira, querendo sair de lá para ficar ao vento. Só se ouviam os murmúrios e os esbarrar de cadeiras e nada dela sair...
Era amor de verdade que do coração brotava. Nunca pensou em ficar, o jovem daquela época, como fazem os de cá, criticando os de lá! Os homes daquele tempo são muito experientes. Usam da psicologia para entender o segredo que só o amor produz.
Os casais se respeitavam, queriam-se sem medida e sem alarde, mas tudo em pratos sagrados. Os filhos que ali nasciam, eram fiéis, amáveis e disciplinados. Muitos deles se criavam do mesmo jeitinho dos pais: obedientes e sem droga pelo resto da vida.
As pessoas deste século não se falam, só se negam; não têm Deus nem têm botica, e a verdade onde fica?
A doença deste século – que parece sem remédio – é não ter um grande amor. As pessoas vivem sós, principalmente as mais velhas. O estresse é o velho companheiro das multidões na mais intransitável avenida do destino.
Fidelidade e paixão não mais existem como era antigamente! Então, o que se tem para dar, se não for amor, se não for carinho! Não tem outra solução. Precisa-se de amar muito mais.
O homem dos anos sessenta é atencioso e amável. Experiente no amor, cuida com mais atenção de quem estiver ao seu lado. São qualidades intrínsecas de quem viveu um belo e iluminado passado.
Discorda o homem de hoje da forma como amavámos: educados, corteses, justos e soberanos. São esses os frutos do passado, dos anos da Jovem Guarda.
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Luiz Alpiano Viana, é um ipueirense apaixonado por sua terra natal. As suas memórias e saudades de Ipueiras estão sempre presentes em suas crônicas, a exemplo de “Saudade” e “O astuto cirurgião”, narrativas que trazem de volta velhas e boas recordações. Tendo morado na cidade de Crateús/CE e em Brasília/DF, atualmente reside em Forteleza/CE e é funcionário aposentado do Banco do Brasil.
2 Comentários:
Bem vindo de volta, amigo Alpiano. Mais uma vez nossos leitores terão a oportunidade de ler mais uma de suas crõnicas plenas de romantismo e boa nostalgia. Valeu.
Meu caro Alpiano. Você, na sensibilidade comum aos poetas, sempre trazendo belas recordações. As músicas que tanto curtimos continuam nas tertúlias e serenatas de nossas vidas. Abraços do Tadeu Fontenele.
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