Por Bérgson Frota
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O cavalo de carnaúba, feito da haste e ampla folha desta árvore foi antes, quando a indústria de brinquedos não se fazia tão presente no interior nordestino, e em especial no Ceará, um dos brinquedos que a garotada mais apreciava.
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Eu tive o meu, e junto aos outros garotos formávamos bandos descendo da cidade ao leito seco do rio Jatobá, e daí nos embrenhávamos nas matas que na época em abundância cercavam o município.
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A poeira subia quando as folhas feito leques a fazer de conta o rabo do cavalo riscavam a areia quente. Quanto maior era a palma da folha, mais poeira levantava.
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Alguns destes “cavalos” eram comprados, outros nós mesmos fazíamos, subindo em pés carnaúbas e cortando quantas fossem preciso.
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Outras vezes na feira, que na época era aos dias de sábado, comprávamos o nosso alazão, já mais elaborado, com chicote, arreio, pintura, mas ainda feitos da haste da folha de carnaúba. Fruto da necessidade e acima de tudo da criatividade dos vendedores.
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Montados tornávamos heróis bandoleiros, ainda a lembrar os feitos do banditismo cangaceiro, e depois das façanhas do Zorro americano.
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Nas tardes de férias, nossa imaginação como mágica, fazia daquelas hastes com folhas longas feito rabos de vassouras, verdadeiros garanhões, e corríamos em batalha contra outros grupos. O sol quente não era empecilho, não havia calor, mas uma mágica adrenalina.
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Parávamos numa cacimba para dar de beber àqueles fantasiosos cavalos, depois voltávamos a correr e batalhar, como se fosse verdade aquele faz de conta que só as crianças vivem e sabem bem usufruírem. Chegávamos em casa ao pôr do sol. Sujos, às vezes feridos, trazendo cada um o seu cavalo.
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Bronca dos pais pela sujeira do corpo e banho obrigatório. Guardávamos no quintal, num abrigo natural, embaixo de uma árvore ou onde uma madeira desse cobertura a nossa preciosa montaria.
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O cavalo lá ficava, pensando ser de verdade, calado, imóvel, talvez a esperar quem sabe num novo dia, e mais aventuras viver.
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Foto da Carnaubeira: blog jornalismo-em.blogspot.com/
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.
6 Comentários:
AMIGOS,COM A CRÔNICA "O CAVALO DE CARNAÚBA",NOSSO CONTERRÂNEO ESCRITOR BÉRGSON FROTA NOS OFERECE MAIS UMA IMPECÁVEL PÁGINA DE RECORDAÇÃO DE NOSSA INFÂNCIA.
DESFRUTEM!
Ei Bergson,é seu irmão mais novo embora mais velho. Já não tinhamos os cavalos de canaúbas más confesso ter usado o seu enquanto você estudava. Como você escreve bem. Parece que todos estavam no mesmo bando. Na verdade aprendi a cavalgar no seu cavalo, depois nos jumentos do senhor Santu, grande almocreve. Em seguida nos burros amansados do centáuro Chico Terto. Eu devia ter mesmo era estudado. Tanta história.Parabéns pelo seu cavalo.
Carlson frota.
Um comentário inesperado e fiquei feliz, depois de tanto tempo o primeiro seu. Nunca é tarde para se avaliar o que se fez ou pode fazer, você é formado em Sociologia, tem Especialização e logo terminará Direito. Portanto parabéns pelo progresso trilhado.
Parabéns pelo excelente trabalho ao nos fazer recordar os bons tempos da infância. Eu também tive meu alazão de carnaúba.
Achei legal este artigo, nunca pensei que se fazia cavalo de pau de carnaúba.Parabéns pelo trabalho e informação.
Bergson Frota, um forte abraço.
Hoje resolvi dar uma olhada nos escritos sobre nosso povo e me deparei com seu escrito sobre os cavalinhos de carnauba. Também tive o meu à época, voce descreveu tão bem que me senti criança outra vez. Lembrei-me, Bergson, dos carrinhos de madeira que nós mesmos os fabricávamos; rodas revestidas de cama de ar de bicicleta, como se fossem os pneus, molas de arco de amarrar cachas lá na estação (como era difícil conseguir um pedaço para fazer as molas). Então, o raly no inverno era contornar o quarteirão...e por incrivel que pareça, ainda atolava algum, precisava ser rebocado. Beleza, Bergson Frota, continue resgatando estas coisas, nos fazer ter a certeza de que realmente éramos felizes e sabíamos. Everardo Mourão
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