Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

25.3.09

DESI(ÁGUA)LDADE - PARTE I

Por
Lin Chau Ming

Tenho, desde pequeno, uma questão na minha cabeça. Porquê consumimos água engarrafada?

Meu avô tinha um restaurante na cidade de São Paulo, servia comida chinesa. Íamos com freqüência para lá, visitar os avós e tios, além de comermos por lá mesmo, outra coisa boa. No salão do restaurante, havia uma geladeira com propaganda da Coca-Cola (sim, desde aquela época havia esse esquema publicitário) para resfriar os refrigerantes e outras bebidas. Não era igual a essas geladeiras atuais, as garrafas ficavam imersas em um água gelada, na verdade, esse equipamento mais se parecia a uma grande bacia com água gelada.

No meio das garrafas geladas, misturadas entre as de guaraná Antarctica, Pepsi, Crush, Coca, Grapete e algumas marcas de cerveja (lembro-me da Antarctica, Caracu e Malzebier), encontrava garrafas de água mineral Lindoya. Suas garrafas não apresentavam um padrão definido, ora eram azuis, ora verdes, brancas, variando também no formato. Um rótulo em papel, que acabava se desprendendo por causa da água da geladeira, dava as informações sobre o produto.

Na minha cabeça de menino, achava estranho beber uma água que estivesse engarrafada, pois estava acostumado a beber água da torneira fervida, bebida morna, hábito chinês durante as refeições. Outras bebidas eu ainda aceitava serem engarrafadas, afinal, passaram por um processo industrial, sendo-lhes acrescentados outros produtos, não eram apenas água.

E então, água, que poderia ser obtida nas torneiras das casas, potável, porquê comprar uma coisa tão facilmente disponível, praticamente de graça? Não entrava na minha cabeça o fato de ter que pagar por uma garrafa de água. E venho com isso desde então nos meus pensamentos.

Passados uns tantos anos dessa época, me lembro claramente quando houve uma notícia de que a água mineral Lindoya, obtida de fontes da cidade de mesmo nome no estado, estava contaminada por coliformes fecais, levando ao hospital diversas pessoas que haviam tomado dela. A venda dessa água despencou, por motivos óbvios.

Semanas depois, aconteceu o lançamento de uma outra água mineral, a Minalba, pertencente à Nestlé, sim, a empresa suíça de alimentos. Bastou algum tempo de mídia impressa e televisiva e esta nova marca abocanhou um naco considerável do volume de vendas de água mineral. Uma bela estratégia, pensei, na época, já ressabiado com as ações das empresas transnacionais. Nem sei se era verdade a informação sobre a água Lindoya, fico na dúvida até hoje.

Há também uma estratégia, bem montada por sinal, para tentar desqualificar a água de torneira, dizer que não é boa para beber, não por causa da qualidade do tratamento, mas pelo caminho que ela toma, desde as estações de captação até as torneiras de nossa casa. Mas, limpando adequadamente as caixas d’água, porque não bebê-la? Na minha opinião, e das companhias públicas de água domiciliar (por dever institucional), a qualidade dessa água é plenamente aceitável para consumo humano.

Fico pensando: todas as águas não são iguais, não são todas H20? Muita gente diz que não, que além desses elementos, há outros minerais dissolvidos, dando-lhes outras características, tanto físicas quanto químicas ou de sabor. Até concordo com isso, pois eu nunca aceitei a definição da água dada na escola primária, de que água é incolor, inodora e insípida.

Mas, apesar dessas diferenças, a água de torneira é potável e saudável. E eu a bebo rotineiramente, sem maiores pudores, matando minha sede e economizando no bolso.

Tento colocar esse pensamento na cabeça de minha família, com sucesso parcial. Tenho em casa um filtro de barro, desses que têm uma vela em seu interior, a qual lavo de tempos em tempos, com açúcar, esfregando bem para tirar a crosta de sujeira nela impregnada, sinal que está fazendo um bom trabalho. Gosto do sabor da água quando fica nesse tipo de filtro, é diferente, não acham?

Pelo interior do Brasil, visitei várias famílias com tipo de potes diferentes para armazenar água. Os que mais me atraíram atenção foram os que encontrei entre os posseiros da região do rio Araguaia, fabricados com barro da região. De tamanho médio, uma boca grande, com cerca de 15 cm de diâmetro, normalmente era colocada em algum canto da sala da casa de pau a pique, à sombra, suspensa por uma forquilha de árvore com três pontas. Um prato de ferro esmaltado servia-lhe como tampa, encimado por um caneco de alumínio, para todos poderem beber o valioso líquido, usando o mesmo caneco.

Realmente, após uma caminhada pelo cerrado calorento, uns bons goles d’água daquela tina não tinham preço.
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Foto: açude de Ipueiras "sangrando". site ipueiras.ce.gov.br/www/
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

3 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Nada melhor para comemorar o "Dia da Água" que um artigo bem urdido e espirituoso como este, do professor Lin. Desfrutem.

25.3.09  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Olá Jean
Eu amei o texto o professor Lin.
Concordo com ele em relação a água da bica, e também sobre o gosto da água de filtro de barro.
Ainda tenho grandes intimidades com com potes e quartinhas em minhas andanças pelo Ceará.
Um abraço,
Dalinha

25.3.09  
Anonymous Anônimo disse...

Lamentável. Água de torneira é tão boa quanto água mineral de Lindoya? Já bebeu água da torneira em São Paulo, caro Professor? Confia plenamente na empresa distribuidora de águas? Na China e na Índia - conforme o local - você pode ficar muito doente ao beber qualquer água, bem como em nossa região Nordeste. Me parece mais uma opinião política do que de um "cientista". Porque pagar a uma empresa capitalista se você pode beber da torneira, não é mesmo?

3.5.09  

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