Baile infantilPor
Dalinha Catunda
*
Ipueiras nos bons tempos viveu, memoráveis carnavais. Carnavais esses, que eram prestigiados por uma sociedade festeira e bem participante.
*
Figuras renomadas, como: Seu Camaral e Simão Matos, ficaram eternizados na lembrança dos ipueirenses que durante muitos anos foram testemunhas das peraltices desses dois distintos foliões, nos carnavais de salão.
*
Ao primeiro: tam... tam, tam, tam, tam... tam, tam, tam....Estavam lá os dois, seu Camaral, animado feito criança, puxando seus incansáveis cordões. E, Simãozinho dançando uma dança bem singular inventada por ele mesmo. Era a dança da cobrinha. Quem não ouviu Simão falar dessa dança? Nós, meninas-moças, vestidas de havaianas com colares coloridos e roupas estampadas. Ou, fantasiadas de gregas. Vestido de laquê preto, um lado maior do que o outro, com alça apenas de um lado. Algumas se vestiam de índia , outras improvisavam fantasia e assim se apresentava a juventude sadia dos velhos tempos nos alegres bailes de carnaval na cidade de Ipueiras.
*
Nas tardes que antecediam os bailes carnavalescos, os rapazes começavam a beber cedo e improvisavam um carnaval de rua. Onde Maisena, araruta, talco e água, eram jogados nas pessoas que passavam, num autêntico mela-mela com direito a ovo e tudo. Num pinico zerado, eles colocavam cerveja e lingüiças e saiam bebendo e tirando o gosto rua à cima e rua a baixo, numa animação que contagiava a população da cidade que aos poucos ia se juntando aos foliões. Nesse time, Vavá, Moraisinho, Antônio Manoel, encabeçavam o bloco.
*
José Arimatéa Catunda, nosso Dedé, quebrava a rotina da Rádio Vale do Jatobá tocando marchinhas típicas de carnaval, como: Me da um dinheiro aí, Taí, Você pensa que cachaça é água, Bandeira Branca, Picolé de Cachaça e tantas outras, que agora me fogem a memória.
*
A cidade inteira entrava no clima, até vesperal para a criançada existia e era animada. Os adultos levavam as crianças e já aproveitavam para esquentar os motores para noite.
*
Sinto saudades dos antigos carnavais. Da animação, das marchinhas, das fantasias, dos blocos e do grande encontro social que nos oferecia o Carnaval de salão. Esse tipo de carnaval em Ipueiras, infelizmente, está morto e sepultado.
*
Um hábito antigo, conserva a cidade, na quarta feira após o carnaval, grande parte da população, que é católica, continua indo a igreja para receber cinzas.
*
Hoje, não só em Ipueiras, como em todo Brasil, a grande pedida, são os trios elétricos, que arrastam multidões com sua musica baiana, sufocando assim, as velhas e graciosas marchinhas e a beleza do frevo, e por que não dizer, enterrando de vez a beleza dos antigos Carnavais.
Foto 1: Baile Infantil: site rbranco.com.breventos2008005carnavalfundcapa.jpg
Foto 2: Ipueiras no site hjo.brasil.com
___________________________________________
Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).
2 Comentários:
Magnifico relato do carnaval da Ipueiras dos anos 50-60, por Dalinha Catunda. Textos como esse merecem figurar nos anais históricos da cidade como peça inestimável. Parabéns!
Dalinha seja na poesia ou na prosa sempre a nos enriquecer com trabalhos ricos e alegres. Agora nos lembra um carnaval de outros tempos, mais ingênuo mas nem por isso alegre. Parabéns pelo texto.
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial