POLÍTICA EM TOM MAIOR
Marcondes Rosa de Sousa
Do jornal O POVO de Fortaleza Ceará em 16 Fev 2009
Política, entre nós, é vocábulo de várias faces. Desde a Grécia antiga, tem sido ela vista como a arte de bem governar, nascida com o próprio homem, que, por natureza, tem sido visto como animal político.
“Neste País”, no entanto, ela se ostenta “coisa suja”, ao toma-lá-dá-cá. Nessa linha, os dicionários registram-nos, a título de figuradas, acepções como “astúcia, ardil, artifício, esperteza” (Aurélio). E até os que, em nossa política, voltam os olhos para a utopia de um longo amanhecer, “para além do capital”, convertem-na na hipérbole do “fora a política”...
Na Web, tento, coordenar discussões sobre nossa vida política, em tom maior. Obstáculos múltiplos. Desde a vacuidade dos bordões e das palavras-de-ordem de nossas facções, até a postura crescente dos muitos que se esquivam num “estou noutra”, da indiferença e da abulia. Nisso, me chega do economista Cláudio Ferreira Lima, o artigo “Os indiferentes”, de Gramsci (1917) com o incentivo em tom de apresentação e socorro: “Para você, que sempre tem um lado, mas sabe respeitar os outros lados - até mesmo o dos indiferentes - e conviver bem com todos eles.”
Gramsci, em “Os indiferentes”, diz odiar a estes, e que “viver significa tomar partido”. Indiferença, para ele, é “abulia, parasitismo, covardia, não é vida”. Daí, seu ódio a quem não toma partido.
E aí, ocorre-me o Poema das Sete Faces, de Drummond, nosso poeta maior: “Quando nasci, um anjo torto/ desses que vivem na sombra/ disse: ‘Vai, Carlos, ser gauche na vida”. E o olhar à esquerda (gauche) aponta-nos amanhãs. Um amanhã, no entanto, sob a pauta dos versos: “Mundo, mundo, vasto mundo/ Se eu me chamasse Raimundo/ seria uma rima, não seria uma solução./ Mundo, mundo, vasto mundo,/ mais vasto é meu coração”.
Solução, o olhar mais alto que todos esperam de nós! _____________________________________
Foto: site images.ig.com.brpublicadorultimosegundooli...
4 Comentários:
Mais um artigo de professor Marcondes com a densidade que lhe é peculiar ao tratar os temas relevantes de nossa política pública. Aproveitemos.
O professor Marcondes Rosa é incansável em suas provocações e na busca do diálogo.
Muitas vezes não somos indiferentes.
Revoltamos-nos, porém mesmo indignados
Nossa impotência fala mais alto.
Já ouvi em algum lugar que: “contra a maquina do poder e enchentes de rios não há quem possa”
Devo, porém admitir que cada artigo que ele escreve é uma semente plantada que um dia eclodirá.
A lucidez e profundidade com que o professor Marcondes ataca os desvios tanto da nossa educação como da nossa política faz com que possamos ter a certeza que nem tudo está perdido, aqui e ali gritos de protestos e sanidade como este ainda são ouvidos. Um excelente trabalho.
A arte de bem governar nunca definiu tão mal a "nossa política" tão desgovernada e mal administrada. Apesar de tudo é preciso continuar lutando... Belo artigo. Abraço.
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