Por
Ângela Rodrigues.Recebi um e-mail, enviado por minha cunhada Sunally, que inspirou esta crônica. Lendo-o, me identifiquei em várias passagens com a autora do texto e descobri que nunca fui, não sou e nunca serei exemplo para ninguém.
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Tenho muitas limitações, que somadas as minhas tantas imperfeições, poderiam me render o título de “Miss Incompletude”, ou qualquer coisa do gênero. Mas sou uma pessoa (quase) normal, apesar de não servir de exemplo para nada. Tenho minhas manias, algumas bem estranhas, melhor nem contar (não quero assustar vocês), mas faço quase tudo que se espera de uma mulher/mãe/dona-de-casa.
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Sei lavar, passar, cozinhar, arrumar casa (mas prefiro ter alguém que faça isso por mim) e vejo novela (raramente, mas vejo), cantarolo músicas que racionalmente detesto, vou ao supermercado, procuro as promoções, gosto de ir à feira-livre, mas confesso que prefiro as livrarias e/ou sebos.
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Sou vaidosa, mas deixo fios de cabelo brancos à mostra até o dia que me dá coragem de disfarçá-los. Gosto dos meus cabelos cacheados e raramente tenho coragem de fazer uma escova. Fico dias sem fazer as unhas (sem a menor culpa), mas não deixo de passar a lixa nos pés; não consigo entrar numa loja de calçados sem experimentar vários pares e levar pelo menos um.
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Gosto de preto, mas visto todas as cores, independente se é ou não a cor da estação. Adoro uma boa produção, mas saio numa boa de short e sandálias. Só não dispenso o batom, que só comecei a usar depois dos vinte anos.
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Fico horas na cama sem coragem de levantar, adoro uma rede e um bom livro (parceria perfeita), como de tudo e não estou nem ai para os quilinhos (eufemismo) a mais, não faço atividades físicas, mesmo sabendo que preciso. Já me esqueci de fazer exames regulares, tenho horror de mamografia e dentistas, tenho medo de injeção, mas dôo sangue.
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Tinha pavor de direção, só aprendi a dirigir aos quarenta (meu sobrinho diz que tirei a carteira, dirigir é outra história), mas continuo preferindo o banco de passageiros; adoro filme e detesto cinema (prefiro assistir deitada em minha cama), sou apaixonada por música, mas às vezes me dou conta que estou há dias sem ouvir meus cantores favoritos.
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Adoro sair com os amigos, embora tenha saído pouquíssimo ultimamente; sou viciada no almoço de domingo na casa de mamãe, mas por pura preguiça tem domingos que fico em casa. Nunca perdi uma reunião no colégio de meus filhos, mas já os esqueci na escola. Nunca cheguei atrasada a um compromisso, mas já deixei de ir a encontros importantes.
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Procuro ser disciplinada e organizada, mas às vezes me pego procurando coisas que não sei onde coloquei. E não sinto culpa por ser assim. Retirei esta palavrinha de meu vocabulário há séculos, prefiro “responsabilidade”. Assumo meus erros e peço perdão com humildade, tento acertar e vou seguindo em frente.
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Sou feliz assim. Sei que posso melhorar cem por cento, mas nunca atingirei a perfeição, esta não é minha meta, minha meta é ter tempo para fazer tudo que me dar prazer ou simplesmente não fazer nada.
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É viver e ser feliz!
.Foto principal: varanda do Hotel Caravelle em Ipueiras (Ceará). Acervo do blog.
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Ângela M. Rodrigues de Oliveira P. Gurgel, poetisa, nasceu em Mossoró-RN, tendo vivido em outras cidades do Rio Grande do Norte (Almino Afonso, Caraúbas, Caicó e Natal) e do Pará (Tucuruí e Marabá). Atualmente mora em Mossoró-RN. Graduada em Ciências Sociais, cursa atualmente Filosofia na UERN (Universidade do Estado do RN) e Direito na UnP (Universidade Potiguar). Já exerceu o cargo de Secretária de Educação em Caráubas, onde também foi Diretora de uma escola de Ensino Médio.
4 Comentários:
Ângela, novamente em prosa. O estilo inconfundível. O mesmo apelo existencial e questionador. Leitura agradável. Identificação fácil com o leitor.Desfrutem.
Ângela, adorei a sua crônica e em muitos aspectos me identifiquei com ela. E tem mais, é uma leitura muito agradável, só podia ser de uma nordestina, seja do RN, CE, BA, PE etc, os nordestinos quando resolvem escrever são demais. Abraços, de uma nova fã
Tereza Mourão
Oi Ângela,
Bem legal seu relato.
Não me atrevo a fazer o meu.
Mas adoro ficar bem gata borralheira e um belo dia virar cinderela. Não suporto ficar montada feito árvore de natal 24 horas por dia.
Um abraço,
dalinha
Professor eu tenho um orgulho enorme de ver meus textos postados aqui e quando leio os comentários fico sem graça diante de tanta generosidade. Obrigada, de coração, a cada um de vocês, a quem já aprendi a gostar e respeitar. Abraços e boa noite!
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