Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

1.7.08

SOU DO CEARÁ

Por
Ricardo Gondim.
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Ser do Ceará é mais do que nascer no Ceará, é conseguir reconhecer, à distância, uma cabecinha redonda, um sotaque cantado, uma orelha de abano, um jeito maroto de encarar a vida.
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Ser do Ceará é saber a estação certa de colher um sapoti, conhecer os vários tipos de manga e nunca comprar ata verde demais; é dar sabor a um baião de dois com queijo coalho.
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Ser do Ceará é gostar de cocada, de suco de tamarindo, de sirigüela vermelha, de água de coco docinha.
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Ser do Ceará é engolir o final dos diminutivos - cafezinho vira cafezim; Antônio vira Toim; bonzinho vira bonzim. Lá se fala aperreio na hora do sufoco; o apressado é avexado; o triste fica de lundu; quem cria problemas, bota boneco.
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Ser do Ceará é morar onde os muros são baixos; quer dizer, lá todo mundo sabe dos outros. A melhor conversa entre cearense é fofocar sobre a vida alheia. Aparecer em coluna social é o máximo; os que pertencem a uma família com pedigree, fazem parte dos eleitos. Os Studarts, os Frotas, os Távoras, os Jeiressatis são considerados o supra-sumo.
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No Ceará não se compra casa do lado do sol; isto é, ninguém valoriza uma propriedade com a frente voltada para o poente. O sol não perdoa; é inclemente, ardido, feroz, cansativo. Lá quem não souber lidar com o astro rei, não dura muito tempo. Entre dez da manhã e cinco da tarde, o sol deixa todo mundo melado; não existem peles secas no Ceará, todas são oleosas.
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Ser do Ceará é aprender a dormir de rede, a gostar do cheiro de lençol limpo, a tomar banho frio, a valorizar a brisa do mar. Lá o perfume de sabonete tem outro valor. No Ceará as mulheres não usam meias finas, os homens não toleram gravatas e as crianças não sabem o que é uma blusa de lã.
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Ser do Ceará é ter orgulho de afirmar que pertence à terra de José de Alencar, Patativa do Assaré, Fagner, Eleazar de Carvalho, Clóvis Bevilácqua. Lá amam-se as artes; cria-se repente com facilidade, conversa-se com rima.
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Ser do Ceará é lidar com umidade, com camisas molhadas de suor, com mofo, com moscas aos milhões, com muriçocas impertinentes, com baratas avantajadas, com viroses brabas, com desidratações súbitas. Lá os fracos morrem rapidamente; o darwinismo com sua teoria da sobrevivência dos mais fortes se prova com facilidade. No Ceará nuvens negras são prenúncio de bom tempo e relâmpago, uma bênção. Em dia chuvoso ninguém gosta de sair de casa.
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Ser do Ceará é rir por tudo. E tudo vira piada; lá sobra humor até para vaiar o sol quando interrompe a chuva. Os cearenses são antes de tudo uns fortes; ao mesmo tempo deliciosamente bons e perversamente maus. Lá é terra de pistoleiro e de santo; de revolucionário e de coronel caudilho; de guerreiro e de preguiçoso.
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Sou cearense. E por mais que tenha tentado, não consegui apagar o meu amor por esse chão que me acolheu no mundo. Lá nasci, casei e tive filhos. No Ceará despertei para o mundo e infelizmente, sepultei o restim de esperança que nutria pela humanidade. O Ceará foi o meu ninho e é o meu túmulo; maior alegria e pior desgraça.
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Contudo, apesar de tudo, continuo enamorado do meu berço. Não consigo desvencilhar-me de ti, loira desposada do sol.
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Soli Deo Gloria.
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Foto da praia: site visitfortaleza.com
Foto Ricardo Gondim: site koynonia.multiply.com
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RICARDO GONDIM- Nasceu em Fortaleza (CE) em 1954 e passou a maior parte de sua infância em Londrina (PR). Formou-se em Administração de Empresas e cursou Teologia no Gênesis Training Center, nos EUA. Residiu em São Paulo onde implantou uma filial da Igreja Assembléia de Deus Betesda na cidade. É formado em Administração de Empresas. Evangelista, conferencista e escritor, é autor de diversos livros, entre eles "É Proibido", obra indicada ao prêmio Jabuti, de literatura brasileira. Recebeu em 2006 o título de Cidadão Paulistano dado pela Câmara Municipal de São Paulo. É maratonista e torcedor do Corínthians.

2 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Primeiro eu me encantei com o texto que, Zequinha Bento, meu confrade de Ipueiras, enviou para o grupo. Depois, ao fazer contato solicitando permissão para publicá-lo, conhecí uma pessoa especial. Simples, fraterno e bem humorado, Ricardo Gondim nos acolheu com grandeza. Eis o seu texto sobre ser do Caerá. Para mim, simplesmente fantástico. Obrigado, Pastor.

1.7.08  
Anonymous Anônimo disse...

No aniversário de Fortaleza, fiz um texto que o blog Suaveolens deu-me o prazer de publicar. Este texto "Sou do Ceará" contém a mesma gana, o mesmo amor que o cearense tem pelo seu chão, pela sua terra, pela sua gente.Não gosto de um só lugar do Ceará, todo o Ceará é sagrado para o verdadeiro cearense. Parabéns ao autor pelo belo texto.

1.7.08  

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